sexta-feira, 21 de abril de 2023

O problema do Brasil é a falta de crescimento económico

O crescimento económico traduz que são produzidos mais bens e serviços.

Em termos simples, se em 2021 se produziram 100kg de batatas e se o crescimento económico em 2022 foi de 10% então, em 2022, produziram-se 110kg de batatas.

Digo que esta interpretação do crescimento económico é simples porque o verdadeiro PIB tem em consideração não só o aumento das quantidades produzidas mas também o aumento da qualidade.

Dividindo o total que se produz numa economia pelo número de pessoas temos o PIB per capita. Esta medida traduz a quantidade de bens e serviços disponíveis para cada pessoa, em média.

Se o PIB per capita aumentar, isto é, se na economia se produzirem mais bens e serviços por pessoa, haverá mais bens e serviços disponíveis para cada pessoa consumir (ou investir).

Como a felicidade das pessoas está ligada à disponibilidades de bens materiais, podemos então concluir que o nível de vida das pessoas melhora se houver crescimento da economia.


Mas existem pensamentos alternativos.

Bem sei que há quem diga que é no Butão, um país pobre, onde as pessoas dizem ser mais felizes  mas, prova de que isso não é verdade é não haver magotes de pessoas a querer ir viver para o Butão.


O Brasil está estagnado desde 1980.

Nos 20 anos entre 1960 e 1980 o Brasil teve bom crescimento económico per capita, +4,5%/ano. Nessa altura pensava-se que o Brasil se iria tornar rapidamente numa grande potência.

Depois da segunda crise petrolífera de 1979, o entusiasmo esmoreceu já que o crescimento ficou dividido por 5, passando a ser +0,9%/ano. Já lá vão 42 anos, há anos em que cresce um pouco mais (2002-2012) e anos em que cresce um pouco menos mas o Brasil não consegue fugir da média dos +0,9%/ano.

Fig. 1 - Evolução do crescimento per capita do Brasil, 1960-2022 (dados: Banco Mundial)


O que se passou em 1979?

Quando há uma crise económica, ocorrem alterações à escala global que ficam para sempre. No caso da segunda crise petrolífera de 1979, a transferência tecnológica dos países mais desenvolvidos para o Brasil diminuíram porque o foco se deslocou para a China que começou a crescer 10%/ano.

Existe uma certa tendência de os países mais pobres convergirem para os países mais ricos (os da "fronteira tecnológica") motivado pela transferência de tecnologia. 

Digamos que a convergência brasileira para a "fronteira tecnológica" terminou em 1979 e, depois dai, o crescimento deve-se apenas às capacidades internas.


E porquê a China em desfavor do Brasil?

Se conseguirmos responder a esta questão, ficamos logo a compreender o crescimento económico anémico.

Pegando em todas as variáveis económicas, há uma que mostra diferenças gritantes: a taxa de poupança líquida (a poupança mais a despesa em educação menos a depreciação do capital).

Enquanto que o Brasil está nos 10% que é a média dos países mais desenvolvidos (USA, Alemanha e Japão), a China esteve acima dos 25% até 2010 e, actualmente, ainda é o dobro da taxa de poupança do Brasil.

Fig. 2 - Evolução da taxa de poupança líquida, 1970-2020 (dados, Banco Mundial)

O Brasil tem uma estrutura económica quanto à repartição da riqueza gerada (consumo versos poupança) semelhante aos país mais desenvolvidos o que prejudica o crescimento económico que precisa de poupança interna para aumentar o investimento.


O que eu vou escrever pode chocar mas é o que está na Ciência Económica.

Aconselho que as mentes mais levesinhas não leiam o texto seguinte. Quem o ler, será à sua inteira responsabilidade.

Todos os países pensam que são pobres, não havendo forma de poupar. As pessoas têm a sua dignidade, precisando de consumir bens e serviços em quantidade e em qualidade.

Os brasileiros (e muitos mais países mas falo do Brasil porque é o foco do texto) pensam que não pode haver pobres e, por isso, as políticas públicas de combate à pobreza pela redistribuição (cobrar impostos aos mais ricos e atribuir subsídios aos mais pobres) têm de ser centrais.

Dividir o pouco que se produz por muitos não permite haver poupança e, depois, não há investimento. Sem investimento, não há transferência de tecnologia dos países mais desenvolvidos.

O que os chineses pensam é irrelevante na definição das políticas públicas chinesas e, por isso, o governo chinês decidiu que o central é haver crescimento económico. Assim, sacrifica o presente, mantendo durante os anos 1980-2000 centenas de milhões de trabalhadores fabris e rurais na pobreza para acumular capital.

As empresas dos países mais desenvolvidos vendo o capital e a mão de obra baratos na China, transferiram para lá a sua tecnologia, fazendo fábricas que hoje lideram o Mundo.

Até 1980, um brasileiro tinha disponíveis 14,3 vezes os bens que tinha disponível um chinês. Naturalmente, na China morria-se de fome e, mesmo assim, mantinha-se uma poupança líquida de 35%.

Os brasileiros combateram a pobreza e, decorridos 42 anos, um brasileiro tem disponíveis 0,7 vezes os bens que tem disponível um chinês. 

Fig. 3 - Evolução do rácio entre o PIB per capita brasileiro e o chinês (dados: Banco Mundial).


Uma economia é como a vida de um estudante.

Se o estudante gozar a juventude, faltas às aulas, álcool, noitadas, festas, vai aprender pouco o que se traduz em notas fracas. Depois, toda a sua vida profissional vai estar prejudicada (com salários baixos).

Se o estudante sacrificar a juventude, dedicando o seu tempo a estar atento nas aulas, ir para casa estudar, fazer os trabalho de grupo, vai aprender muito o que se traduz em notas boas. Depois, toda a sua vida profissional vai ficar beneficiada (com salários elevados).

O estudante aplicado investe o seu tempo presente a estudar, o que é um sacrifício, para ter uma vida futura mais confortável.

Tenha sido o presidente Tancredo Neves, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer ou Jair Bolsonaro, não compreendendo o povo que não há ganho futuro sem sacrifício presente, não saem da cepa torta.

Fig. 4 - A cepa torta não tem força para gerar varas produtivas

Mas os inimigos dos povos continuam a ser o grande capital, a exploração do trabalhador pelo capital, as multinacionais, o imperialismo americano e mais não sei quantas balelas esquerdistas.


Tenho pensado numa coisa interessante.

No princípio do Sec. XX havia muitos impérios (multi-nações) de que o português era apenas um exemplo.
Depois houve um processo de partição dos impérios em países, dizem, apoiado principalmente pelos esquerdistas encabeçados pela Rússia e pela China.
O interessante é que no Sec. XXI apenas a Rússia e a China persistem como impérios.
E os esquerdistas apoiam estes impérios.
Isto não dá que pensar?

Faz-me lembrar as lutas do CES do Boaventura Sousa Santos pela emancipação das mulheres!!!!

1 comentários:

Silva disse...


Para haver crescimento económico a níveis elevados basta implementar, rapidamente e em força, reformas estruturais, a começar pela abolição do salário mínimo, liberalização dos despedimentos e abolição dos descontos.

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