A qualidade de vida
Para podermos viver temos que consumir bens e serviços, B&S, que são produzidos com recursos naturais e trabalho. Apesar de haver quem defenda que podemos aumentar a nossa qualidade de vida fazendo meditação transcendental, o mais certo é que tal aumento obrigue a que haja maior disponibilidade de B&S. Como os recursos naturais são limitados e não aumentam ao longo do tempo, parece lógico concluir não ser possível o aumento do nível de vida.
No entanto, quem tem memória sabe que agora vivemos melhor do que viviam os nossos pais porque o trabalho é mais produtivo. Os dados históricos dos últimos 30 anos confirmam esta impressão pois mostram que a produção de cada trabalhador português, a produtividade do trabalho, tem aumentado à média de 1,67%/ano. Mas o crescimento da produtividade não cai do Céu. Comparando, por exemplo, Portugal com o Brasil (de que há o mito de que é uma economia muito dinâmica), vemos que o mais natural é a estagnação:
Produtividade (PIB por trabalhador)
Progresso tecnológico
O crescimento da produtividade acontece por haver progresso tecnológico que se materializa na invenção de modos mais eficientes de produzir os B&S existentes e a criação de novos B&S com maior valor.
Se não houvesse progresso tecnológico ainda hoje viveríamos nas cavernas. Se não tivesse sido o progresso tecnológico dos últimos 30 anos, um trabalhador que ganha actualmente 1000€/mês, veria o seu salário reduzido para 665€/mês. Infelizmente, se o crescimento da produtividade foi induzido pelo endividamento externo, então será isso que vai acontecer.
Mas o progresso tecnológico também tem um lado negativo. É como aqueles medicamentos que fazem bem às dores de cabeça mas também fazem mal ao estômago. Umas pessoas só vêem o mal que o medicamento faz ao estômago enquanto que outras só vêem o bem que faz às dores de cabeça.
A radioactividade, os computadores, a internet, os transgénicos e a clonagem.
No último século houve grandes descobertas. Uma das grandes descobertas foi a radioactividade. Descoberta em 1896 por Becquerel como um fenómeno natural, decorreram apenas 50 anos até à explosão da primeira bomba nuclear e 60 anos até ao aparecimento dos primeiros reactores nucleares para a produção de electricidade.
Não existe qualquer controvérsia no uso da tecnologia nuclear nos tratamentos contra o cancro (a radioterapia) porque não existe alternativa. Foi a criação de um B&S complemente novo.
Já na produção de electricidade, a tecnologia nuclear é uma inovação na forma de produzir um B&S previamente existente, a electricidade, tendo como alternativa a anterior tecnologia: a produção à base de carvão.
Central terrmoeléctrica a carvão tipica
Se uma central nuclear tem um investimento inicial muito elevado (cerca de 5000€ por KW de potência instalada) e custos em combustível e operação muito pequenos, uma central a carvão tem um investimento inicial bastante inferior (cerca de 2000€ por KW de potência instalada) mas um custo em combustível bastante mais elevado. Com ambas as tecnologias, o custo de produção anda próximo dos 0.03€/KWh e, por terem grande inércia, apenas podem fornecer a potência eléctrica de “Vazio”.
Em termos de efeitos colaterais, as centrais nucleares produzem resíduos radioactivos e podem ocorrer acidentes com elevado impacto negativo enquanto as centrais a carvão usam um recurso natural não renovável (o carvão) e emitem CO2 para atmosfera.
Central terrmo-nuclear-eléctrica de
Quinshan
Ponderando as vantagens e as desvantagens, actualmente não existe uma resposta clara sobre qual a melhor tecnologia. Um país que não tenha em consideração a emissão de CO2 para a atmosfera e tenha pouco capital deve optar por centrais a carvão enquanto que outro que pretenda reduzir as emissões de CO2 e tenha capital para investir deve optar por centrais nucleares.
No futuro, sendo o Carvão uma tecnologia mais antiga, baseada num recurso não renovável e com elevadas emissões de CO2 para a atmosfera, é provável que a decisão penda para o lado da tecnologia nuclear.
Será o acidente de Fukushima, e a radioactividade no geral, muito perigosos?
Está claro que um nível muito elevado de radiação mata os seres vivos (frita-os como uma mosca no microondas). E em termos celulares, é sabido que destroi o DNA podendo induzir cancro. Mas é controverso o efeito de níveis baixos de radiação (até 1000x a radioactividade natural) numa população: como vamos todos morrer, os estudos têm que comparar a esperança de vida de uma população sujeita a um nível “médio” de radiação com uma população sujeita a um nível “baixo” de radiação. Comparando, por exemplo, a população de Hiroxima com a população de outras cidades japonesas, não se observam diferenças populacionais significativas.
Existem em Portugal zonas na Beira Alta (zonas de falha na região de Nelas e Mangualde) onde foram medidos níveis de radioactividade superiores aos níveis observados nas zonas de exclusão absoluta de Chernobyl, >40 curries/km2. E não parece que haja diferenças significativas na esperança de vida das populações destes concelhos em comparação com a média nacional. Também ninguém se tem preocupado muito em medir as diferenças.
É minha opinião que o medo da radioactividade libertada nos acidentes das centrais nucleares é psicológico e não tem fundamento nos dados.
Pedro Cosme Costa Vieira