quinta-feira, 1 de junho de 2023

Empresas estratégicas = as diferenças entre a TAP e a TSMC

Por vezes, é necessário haver apoios públicos a empresas nascentes.

Imaginemos que temos uma carruagem (cheia de passageiros) parada na estação e que a queremos juntar  ao comboio que vai passar a 120km/h (sem paragem).

Se deixarmos a carruagem parada no meio da linha, vamos ser trucidados!

A única hipótese de sucesso é pedir ao chefe da estação que nos ajude a ganhar velocidade para, quando o comboio colidir connosco, já estarmos próximos dos 120km/h.

Este é um argumento para haver ajudas de estado ao nascimento e desenvolvimento de empresas consideradas estratégicas. Por exemplo, o mercado dos automóveis é muito competitivo, tecnologicamente avançado e difícil de entrar mas o Cavaco Silva tendo achado que seria estratégico para Portugal produzir automóveis, concedeu apoios de estado para que a Autoeuropa se instalasse em Portugal.


Mas haver apoios do estado não obriga a que a empresa seja de propriedade pública.

Todos os países que apostaram numa economia centrada em empresas públicas empobreceram.

Este empobrecimento acontece por diversas razões sendo a principal a questão dos incentivos. Como o governo é eleito por maioria, não procura a eficiência económica das empresas públicas mas apenas manter-se no poder (agradar à maioria).

Ter mais votos implica sempre atacar poucos (os ricos, o grande capital, os lucros das grandes empresas e os patrões que ganham milhões que paguem a crise) e proteger muitos (os trabalhadores, os reformados, os desempregados, os velhinhos e as criancinhas não contribuíram em nada para a crise).


Vamos ver o que aconteceu com a TSMC.

Até 1987, uma empresa de processadores ou memórias desenhava o chip e, depois, ela própria, produzia esse chip. Era um mercado integrado verticalmente. O mercado era dominado pela Intel nos USA, a Sony no Japão e a Samsung na Koreia do Sul.

Nessa altura apenas a Apple e a AMD não tinham produção de chips, tendo de "pedir ajuda" às empresas concorrentes. 

Em 1987 Morris Chang teve uma ideia de negócio, produzir chips em Taiwan sem os desenhar. A empresa tinha por objectivo "desintegrar" o mercado dos chips, abrindo a possibilidade, por um lado, de aparecerem mais empresas de desenho de chips e, por outro lado, a empresa concentrar-se na eficiência do processo produtivo.


Mas a tecnologia era altamente sofisticada e o mercado muito concorrencial.

Em 1987 o processador topo de gama era o Intel 80386 que tinha 275 mil transístores num chip com 104 mm2 (por comparação, uma moeda de 1 cêntimo tem o dobro desta área).

Não seria possível uma empresa partir do nada e começar a produzir chips tão complexos, havia necessidade de grandes investimentos e de aguentar longos anos de prejuízos.



Fig. 1 - Comparação entre o tamanho da moeda de 1 cêntimo com um processador Intel 80386

Taiwan deu uma "carta de conforto" mas o dono era o Morris Chang.

Inicialmente, a empresa deu muito prejuízo mas nunca Taiwan imaginou uma "operação harmónio" (como o PS fez na TAP) para reduzir a participação do Morris a zero e o Estado ficar com a empresa.

Com muito investimento, dedicação, sagacidade e apoio, hoje a TSMC é líder de mercado na fabricação de chips.

Em 1987 a Intel conseguia meter 275 mil transístores em 104 mm2, hoje a TSMC consegue meter 30 mil milhões no mesmo chip.


O Morris Chang ficou podre de rico mas isso não interessa.

O que interessa é que a TSMC tem 70 mil trabalhadores bem remunerados, o país Taiwan, a reboque da TSMC privada, é o líder mundial na produção de chips sofisticados e é um país mais rico e seguro por essa empresa estar localizada no seu território.

Sempre que a China ameaça invadir Taiwan, logo os principais líder mundiais dizem "Temos de defender Taiwan por causa da TSMC".


Vamos ver o que aconteceu com a TAP.

A TAP não é nada estratégica para Portugal porque não é uma empresa tecnológica (a tecnologia está nos aviões que são importados), as vendas são principalmente importações (de aviões e de combustível) e não tem potencial para criar um ecossistema tecnológico (os bens e serviços adquiridos em Portugal são de baixa intensidade tecnológica).

A incorporação nacional são refeições horríveis feitas "de plástico" e os salários dos pilotos e dos assistentes de bordo que não têm qualquer potencial de desenvolvimento tecnológico. 


Um exemplo do que é estratégico para Portugal?

Temos um importante sector de bicicletas "clássicas", Portugal é mesmo o maior produtor europeu de bicicletas mas a China está a inundar o mercado com soluções tecnologicamente mais avançadas (bicicletas e trotinetes eletrificadas). 

Era aqui que se deviam investir recursos públicos, no aumento da tecnológica incorporada nas bicicletas e a expansão para as trotinetes.


O problema é a inveja esquerdista.

Os esquerdistas não aceitam que haja pessoas ricas, mesmo que essas pessoas ajudem a economia nacional.

Para os esquerdistas, o lucro é um pecado capital e, por isso, tudo o que é lucrativo tem de ser propriedade do Estado, passando a dar prejuízo porque faz "economia social".

Reparem que os esquerdistas nunca justificam a nacionalização da TAP dizendo "os privados iriam enfiar a TAP num buraco de 3200 milhões de euros que os contribuintes seriam chamados a pagar".

Não, o contribuinte meteu 3200 milhões na TAP porque havia o perigo de os privados terem lucro.

Mais vale uma TAP, EFACEC, CP, CARRIS, STCP, whatever, a dar prejuízo ao contribuinte do que ter privados a ganhar dinheiro com o negócio.


Como deveria ter sido gerido o problema da TAP.

Quando a TAP foi privatizada pelo Passos Coelho, devia 2126 milhões €  (o Estado devia pois era o seu proprietário) e o valor líquido foi avaliado em cerca de 600 milhões € NEGATIVOS.

Vamos supor que estes 600 milhões € negativos eram verdadeiros (penso que o buraco era muito maior), este dinheiro tinha de ser metidos pelo Estado porque era a situação negativa no dia da venda.

No entretanto veio a crise e todas as empresas de aviação tiveram prejuízo. 

Vamos supor que a TAP precisava dos 3200 milhões € mesmo se fosse privada. Isso não obrigava a que a TAP passasse a ser de propriedade pública.


O Estado fazia um empréstimo sem ficar proprietário.

O Estado metia na TAP 600 milhões € (para cobrir o buraco) mais um empréstimo de 2600 milhões € à taxa de juro média de remuneração da dívida pública (mais 0.5 pontos percentuais para despesas).

Anualmente, a TAP teria de amortizar o empréstimo num valor igual a 90% do lucro da empresa.


Lembram-se da Ground-Force?

Era uma empresa com problemas mas que era portuguesa, gerida por portugueses e que fazia o seu trabalho. Acontece que os esquerdistas que nos desgovernam decidiram mandar esta empresa à falência o que causou graves prejuízos aos contribuintes (via TAP que perdeu a cota e os créditos que lá tinha). E isto tudo porque o Casimiro tinha lucros e os esquerdistas não aguentam ver povo com lucros.

Tudo, tudo mas lucros não.

Agora, é uma empresa estrangeira, gerida por estrangeiros e o lucro vai para os estrangeiros.

Na mente dos esquerdistas já pode ter lucro porque são estrangeiros e os portugueses ficaram mais pobre.

Fig. 2 - Diz o esquerdista "Olha que lindo, um pobre, uma indignidade. Deita-se a barraca abaixo e dá-se-lhe um subsídio de 60€/mês para ele ter uma casa digna. E, depois, ele vota em nós."


quarta-feira, 31 de maio de 2023

Os drones em Moscovo servem para testar a resposta a um ataque nuclear russo

Os drones ucranianos conseguiram chegar a Moscovo.

A Ucrânia fabrica drones que viajam a 160km/h, carregam 75kg de carga útil e levam combustível para 1000km. Sendo veículos lentos, pouco mais rápidos do que um carro, seria de pensar que os sistemas sofisticados da Rússia os detectassem mal entrassem no espaço aéreo russo e que fossem neutralizados muito antes de chegarem a Moscovo.

Mas a verdade é que não, voaram como uma gaivota no mar, horas e horas sem fim até que chegarem a Moscovo.

Não causaram dano de monta mas chegaram lá sem ser detectados.


Ficou provado que a capacidade russa antiaérea é nula.

A Rússia está sempre a ameaçar que vai usar armas nucleares tácticas (de pequena capacidade), não tendo a Ucrânia nada para se defender.

Mas a guerra nuclear não vive da defesa mas antes da garantia da destruição mútua. 

Se, alegadamente, a Ucrânia enviou 8 drones a partir de um lugar seguro e não detectado do seu território e estes drones chegaram todos a Moscovo, podem então ser usados para enviar uma carga muito mais perigosa.

Como a Ucrânia não tem cães (armas nucleares) tem de caçar com gatos (drones e resíduos nucleares).


Os resíduos nucleares.

Depois de usado, 100kg de combustível nuclear tem  cerca de 0,5kg de Estrôncio-90,  0,5kg de Césio-137 e 0,1kg de Iodo-129. Estes isótopos são difíceis de controlar porque são solúveis na água, são radioactivos durante 100 anos e são mortais porque substituem o Cálcio  nos ossos (o Estrôncio-90), o Potássio nas células (o Césio-137) e o iodo natural na tiróide (Iodo-90).


Central nuclear de Zaporijia


Vamos só imaginar!

Hora 0 = A Rússia rebenta teatros de operações com bombas nucleares tácticas.

Há grande mortandade na Ucrânia.


Hora 1 = A Ucrânia envia 100 drones, cada um com 75kg de resíduos nucleares, para Moscovo (600km de distância) e outros 100 para São Petersburgo (950km de distância).

Nada acontece.

Hora 6 = Os drones chegam a Moscovo, explodem por si ou pelos mísseis de defesa antiaérea, libertando a sua carga radioactiva.

Hora 7 = Os drones chegam a São Petersburgo, explodem por si ou pelos mísseis de defesa antiaérea, libertando a sua carga radioactiva.

No imediato, nada acontece mas logo começa a constar que os níveis de radioactividade estão elevados.


Não morre ninguém mas ...

Estão a imaginar o impacto na Rússia da deslocação dos 12 milhões de habitantes de  Moscovo e dos 5,5 milhões de São Petersburgo para outro lugar, sem poder lá viver ninguém durante 150 anos?

quinta-feira, 25 de maio de 2023

Os mísseis hipersónicos russos são um flop

Neste post vou explicar porque os mísseis hipersóicos não funcionam.

As economias são atrasadas porque investem, enterram, recursos em tecnologias que não têm pernas para andar.

No nosso Portugal, os comboios, o "hidrogénio verde" ou a dessalinização de água são exemplos claros de enterramento de milhares de milhões de euros em setores que não têm qualquer viabilidade futura.


Não sei porque ninguém fala na linha Guarda-Castelo Branco.

Metemos uns 150 milhões de euros para ter esta linha e não aparece, naturalmente, em lado nenhum quantos passageiros são transportados por ano nesta brincadeira.

Nada, já investiguei o máximo que pude mas não encontrei nada.

O que encontrei é que os passageiros pagam 170M€ e a CP recebe 90M€ de subsídios do estado (não percebo a racionalidade de deitar 90M€ pela janela fora) O preço médio 

Dividindo pelo número de passageiros, cada viagem tem 25km, o bilhete tem um preço de 1,75€ e ainda recebe um subsídio de 0,90€ (mais de 50% do preço do bilhete).

Amortizar 150M€ implicam um custo financeiro de 8 milhões € por ano. Imaginando uma margem das vendas de 50%, obrigaria a ter 8000000/0,5*1,75/365.

 

25000 passageiros por dia

Seriam necessários diariamente 50 comboios de 3 carruagens cheios como uma lata de sardinhas para atingir este número.

Conjecturo que ninguém mostra os números porque não chega sequer a 10% deste número de passageiros.

Mas sou eu que sou um malidecente.


E o TGV ainda vai ser pior.

Não há local nenhum do mundo onde o TGV seja rentável, onde sequer pague os custos de operação. Nada, zero, nicles, e vai ser rentável em Portugal!!!!!!!


Vamos aos mísseis hipersónicos.

Podemos classificar os mísseis em dois tipos, os com asas e os sem asas.

As asas fazem muito atrito com o ar pelo que apenas são usadas nos mísseis lentos (na ordem dos 1000km/h). São uma espécie de "drones kamikase", viajando com velocidade relativamente baixa, o que obriga a que viagem junto ao solo (precisam de ter capacidade para contornar os acidentes orográficos).

Os mísseis rápidos não podem ter asas (hipersónicos), sendo, por isso, difíceis de controlar. Vão numa trajectória o mais recta possível, com mudanças de trajectória causadas por pequenos furos que têm à frente e que "disparam" gás.


O Space Shuttle demorava 15 minutos a chegar a Portugal.

Arrancava em Cabo Canaveral e, passados 15 minutos, já estava a sobrevoar Portugal, Tinha então uma  velocidade de 28000km/h, 12 vezes a velocidade do som.

Mas para isso, usava uma enormidade de combustível, pesava 27,5 ton e gastava logo no arranque 2000 toneladas de combustível.

Sim, por cada kilograma, a nave gastava 73 kg de combustível no arranque.


O que dizem do hipersónico Kinzhal

Dizem que dará os 28000km/h, tem um volume de 8 m3 e pesa 4300kg. 

Se esse peso for apenas o míssil, proporcionalmente, precisa de 300 toneladas de combustível para arrancar viagem (12 camiões TIR carregadinhos).

Se for o peso total, tirando o combustível, ficam apenas 58 kg para o míssil e a ogiva o que é muito pouco, leva uma bombazita de 5 kg!!!!! 


O míssil Patriot viaja, no máximo, a 5000km/h!!!!

Então, pensam os russos e o Agostinho (aquele que comenta na TVI e que não se cansa de dizer " Oh sr.a doutora, a Rússia está a ganhar em toda a frente, quer que lhe mostre umas imagens?") que, se o Kinzhal viaja a 20000km/h e o Patriot a 5000km/h, o Kinzhan é indestrutível.

Sr.a doutora, aqui está a fotografia da arma russa que é um game changer, é o robô Kaga-lume que já vai na versão 2547, é do tamanho de um carro blindado, tem 2 olhos enormes, duas antenas e rasteja pelo solo para não ser detectado. Assim que detecta um ucraniano, frita-o com uma descarga de lume. 
E sr.a doutora, a Rússia tem centenas de Kaga-lumes.


 Parece ter lógica mas não tem.

O problema é que o míssil Patriot não vai perseguir o Kinzhan pelo trazeiro mas vai pegá-lo de frente. E, como o Kinzhal viaja a grande velocidade, não é manobrável e tem de viajar a grande altitude (onde o ar faz menos atrito) o que o torna detectável a centenas de quilómetros do alvo.


O Kinzhan é disparado e vai percorrer 500 km em 65 segundos (a 28000km/h) e ninguém o consegue apanhar.

Mas o Patriot à sua frente e vai percorrer apenas 20km até ao ponto de colisão (em 15 segundos a 5000 km/h).


Tanta tecnologia, e precisam dos drones do Irão e balas da Koreia do Norte.

Afinal investiram recursos numa tecnologia que não tem pernas para voar.

Tem-nos acontecido o mesmo.

Quantos morreram em Ceuta e que lucro tiramos dali?


segunda-feira, 15 de maio de 2023

As sanções e o desenvolvimento da África do Sul

Em 1963 começaram as sanções económicas à África do Sul.
Em 1948 a África do Sul iniciou uma política de separação dos grupos populacionais que ficou conhecido como Apartheid.
Em resposta à segregação, a comunidade internacional impôs sanções ao país com o objectivo dessa política acabar.
Em 1963, o PIB per capita sul africano era 110% da média mundial.

As sanções acabaram por fazer resultado.
O impacto das sanções na economia foram enormes, o PIB per capita caiu dos 110% (da média mundial) em 1963 para 68% em 1990.
Durante estes 27 anos, o nível de vida sul-africano esteve estagnado (cresceu 0,3%/ano) enquanto que, a nível mundial, cresceu 2,0%/ano.
Esse impacto fez com que Mandela fosse libertado, houvesse o fim da política segregacionista e a Africa do Sul passasse a ser uma democracia onde cada pessoa tem um voto.

Tudo bem, mas o que aconteceu à economia?
Os esquerdistas estão a ver o que vou dizer sobre o Apartheid. Era injusto e desumano pelo que tinha de acabar. Da mesma forma tem de acabar a "lei das castas" da Índia.
Tinha de acabar mas havia duas filosofias em discussão.

Havia vozes (mais conotadas com a direita) que defendiam que essa mudança não deveria ser imposta por sanções mas por uma politica de engajamento e de incentivos positivos.
Essas vozes diziam: "As sanções vão ter impactos negativos na economia que nunca mais poderão ser corrigidos. E, no final, os os ricos e os mais escolarizados vão-se embora e ficarão os pobres".

Hvia vozes (mais conotadas com a esquerda) que defendiam que o caminho eram as sanções e que "Assim que o Apartheid acabar, a economia vai recuperar rapidamente."


Decorridos 30 anos, é tempo de ver quem tinha razão.
Tinham razão os que diziam que as perdas económicas nunca mais seriam recuperadas.
Em 1990 o PIB per capita era de 68% da média mundial e em 2021 é de 54%.
Em 60 anos, o nível de desenvolvimento da África do Sul caiu para metade em relação à média mundial, caindo de 110% para 54%.


Fig. 1 - Rácio entre o PIB per capita da África do Sul e do Mundo (dados: WB)

Não estou a dizer que a única razão para o atraso são as sanções.
A África do Sul era vista pelos ocidentais como um bocadinho de economia liberal no meio de África onde só havia ditaduras comunistas.
E havia a ideia de que as suas matérias primas seriam um motor de desenvolvimento.
Com o fim da Guerra Fria em 1990, a AS deixou de ter interesse estratégico, tendo sido abandonada pelo ocidente.
Ainda se juntou aos BRICS, o desenvolvimento cresceu um bocadinho entre 2000 e 2008 mas, depois, voltou à trajectória de queda.

Está como o Brasil
Uma simples análise dos dados mostram que as sanções à AS foram benéficas para o Brasil (em termos de fornecedor substituto de matérias-primas e destino do investimento directo estrangeiro).
Nos anos 1980, o nível de desenvolvimento do Brasil estava acima dos 100% da média mundial. 
Mas também tem estado em queda, chegando a 2021 com 78%.
E a mania de que são a primeira letra dos BRICS não parece ajudar nada.


Fig.2 - O Brasil também se está a afundar desde 1980 (dados: WB)





quinta-feira, 11 de maio de 2023

Em 1974 o nosso nível de vida era 32% dos países mais ricos da Europa.

Usando os 8 países mais ricos da União Europeia.

Calculei o PIB per capita (que representa o nível de vida) dos 8 países mais desenvolvidos do norte da Europa (Áustria, Finlândia, França, Alemanha, Irlanda, Luxemburgo, Holanda e Suécia). 

Em 1973, nas vésperas da revolução, Portugal tinha uma economia atrasada, com um nível de vida (medido pelo PIB per capita)  de apenas 32% da média deste 8 países.

A razão para o nosso atraso era a ditadura pelo que, com o seu fim, foi prometido pelos socialistas  que nos iríamos aproximar dessas economias.


Este ano o socialismo fez 49 anos. 

Querem saber como estamos? 

No último ano em que há dados, em 2021 estávamos com 31% do nível de desenvolvimento desses países mais ricos.

Além de estarmos exactamente iguais ao que estávamos em 1973, o mais grave é que, desde 1999, estamos a piorar a uma velocidade 0,23 pontos percentuais por ano.


Evolução do nosso desenvolvimento relativo aos países mais ricos da UE (dados, Banco Mundial)


Não pode ser verdade!!!!

O Banco Mundial deve produzir fake news. 

Como pode o Banco Mundial não ter vergonha de apresentar dados falsos, afirmar sem pudor que estamos cada vez pior relativamente aos nossos parceiros mais desenvolvidos quando os nossos governantes socialistas nos garantem diariamente que estamos a crescer muito mais do que os nossos parceiros da União Europeia?


Faz-me lembrar a historieta do lucro da CP e da TAP.

Se retirarmos da contabilidade das empresas públicas tudo o que dá prejuízo, o que sobra só pode ser lucro.

Também se tirarmos dos dados da nossa economia todos os trimestres em que não há crescimento, só podemos ficar com um crescimento muito acima dos outros.

Cabecinhas pensadoras.


E porque não convergimos com os países mais desenvolvidos?

Parece uma pergunta com resposta difícil mas é fácil: 

1) Porque grande parte da nossa economia é controlada por empresas públicas.

2) Porque os gestores das empresas públicas têm que minimizar o risco de serem despedidos!


Vejamos o exemplo do Metro de Lisboa.

O cais de embarque/desembarque tem extensão para comboios com 6 carruagens e capacidade para 1000 pessoas de pé.

Como o espaçamento entre comboios é, no mínimo, de 3:30 minutos, consegue uma máximo de 17 mil passageiros por hora o que não é suficiente na hora de ponta da Linha Verde (Telheiras/Cais do Sodré).

Os comboios poderiam passar a ter 12 carruagens e parar por duas vezes (parava as primeira 6 carruagens no cais e saiam/entravam os passageiros dessas carruagens / andava mais um pouco e paravam as seguintes 6 carruagens no cais).

Porque é que isto não se faz?

Porque se acontecer alguma acidente, o responsável pela decisão será imediatamente acusado de negligência.

Então, continua-se no mesmo.


Fazendo amanhã tudo igual ao que fazemos hoje, não haverá desenvolvimento.

Para nos desenvolvermos é preciso que cada pessoa produza mais valor por cada hora de trabalho. E parece-me óbvio (mas não o parece às outras pessoas) que apenas o conseguirá se trabalhar de forma diferente.

Os governos apostaram na escolarização e hoje as pessoas são muito mais escolarizadas do que eram há 50 anos mas, como nas escolas se ensina o mesmo que se ensinava há 50 anos, isso não tem sido o grande motor do desenvolvimento que se antecipava.

Cada vez mais licenciados ganham o salário mínimo.


E porque pioramos depois de entrarmos na Zona Euro?

Por causa da "política administrativa de rendimentos do trabalho".

Os governos socialistas têm a mania de que os salários têm de aumentar em termos absolutos e relativamente ao PIB.  

O problema é que os salários nunca são suficientes.

Mas como a nossa economia não cresce e o governo quer mais e mais salários, esse aumento acontece à custa da diminuição da rentabilidade do capital (lucros, rendas e juros).

Diminuindo a remuneração do capital, o investimento diminui o que leva a ainda menor crescimento da economia.


Têm a mania que os direitos dos trabalhadores são centrais no desenvolvimento económico.

O que vou dizer vai chocar pelo que as pessoas mais sensíveis não podem ler mais.

Os trabalhadores são bons a fazer hoje o que fizeram ontem mas isso, por melhor feito que seja, é a estagnação.

Apenas quem pensa novos métodos, novos produtos, novos processos, isto é, quem é empreendedor, é que consegue fazer a economia andar para a frente.


O trabalhador é a roda da economia.

A roda pode ser muito competente, agarrar bem à estrada, não sofrer furos, poupar combustível, afastar a água nas estradas inundadas. 

Mas o empreendedor é a condutor e é quem consegue escolher viagens mais agradáveis.


Em Portugal não compreendemos isto.

Direitos, direitos e mais direitos para os trabalhadores.

A canalhada fecha universidade pelas causas mais mirabolantes, persegue quem pensa diferente e toda a gente aplaude e grita "Abaixo os reaccionários de direita, abaixo o grande capital, abaixo o lucro e abaixo a exploração do trabalhador pelo patrão". 

Depois, não saímos do buraco.


segunda-feira, 8 de maio de 2023

Amiga Margarida, bicicletas e trotinetes não são ideologia de esquerda

A Margarida Bentes Penedo escreveu no Observador.
A tese da Margarida é de que as bicicletas, trotinetes e skates não são meios de transporte de passageiros e, muito menos, são bons para a mobilidade. São muito perigosos mas a comunicação social não fala disso.
Não sendo meios de transporte, assume serem uma ideologia de esquerda woke.
Em alternativa, defende os transportes colectivos principalmente comboios e metropolitano.
Vou mostrar que não pode estar mais errada.


Nem a CMTV usa esse filão.
Eu já tive um acidente de trotinete (porque tirei as mãos do guiador).
Mas vamos supor que era verdade que havia muitos acidentes com cabeças esborrachadas.
A CMTV que passa horas e horas à procura da cabeça da vítima do Cadaval, não iria perder cabeças esborrachadas e corpos desmembrados se os houvesse.
Há uns acidentesitos mas nada de grave, levei 3 pontos no sobrolho e fiquei logo como novo.


Margarida, sabe o que é uma ideologia de esquerda?
Existe um espaço público que que é um recurso escasso que tem de ser  partilhado, em condições de igualdade, por todas as pessoas. 
Todos os portugueses têm direito a utilizar esse espaço público, andem a pé, de carro, bicicleta, trotinete, patins ou skate. 
O problema é que o uso é concorrente, isto é, uma pessoa usá-lo prejudica em parte que outra pessoa o use.

A esquerda proíbe, a direita regula.
A esquerda, proíbe a acção individual com o argumento de que se está a defender o colectivo.
As pessoas que se dizem de direita têm sempre de promover a liberdade individual.
Como o uso do espaço público é concorrente, a direita desenha regras que tornem a utilização eficiência, isto é, que a "qualidade de vida" das pessoas seja o mais elevada possível.
A primeira regra é a divisão entre as estradas (para os veículos com rodas) e os passeios (para os peões). 
A segunda regra é a regulamentação dos veículos (velocidade máxima, locais de estacionamento e regras de convivência) e dos peões (passadeiras).


O objectivo estratégico da direita é maximizar a qualidade de vida das pessoas.
Não nos podemos nunca esquecer disto.


Um carro transporte uma pessoa, uma trotinete transporta uma pessoa.
Se todos os portugueses têm o mesmo direito a usar a estrada, uma pessoa que se desloca num monstruoso Jeep Grand Cherokee  tem o mesmo direito que outra pessoa que circula numa trotinete.
Como o Jeep ocupa 10 m2 e a trotinete apenas 0,5m2, a trotinete traduz um uso vinte vezes mais eficiente do espaço público escasso. 


Serão os transportes colectivos eléctricos mais amigos do ambiente?
A Margarida deveria pegar em valores e fazer umas contas.
O Metropolitano de Lisboa gasta, por quilómetro e passageiro, 10x mais energia do que uma trotinete eléctrica e 20x mais energia do que uma bicicleta elétrica.

O metropolitano de Lisboa gasta 0,12kwh/km/passageiro (em 2018/2019).
Peguei no Relatório e Contas do Metropolitano de Lisboa e fui ver quanta energia gasta por quilometro percorrido por passageiro. 
Como o número de passageiros caiu a metade em 2020/2021, vou usar os valores de 2018/2019. O consumo médio de energia é de 102 milhões de KWh por ano para transportar 176 milhões de passageiros num percurso médio de 4,83km. Dá uma média de 0,12kwh/km por passageiro.
Em 2020/2021 gastou 0,17knh/km/passageiro.

Uma trotinete gasta 0,012Kwh/km/passageiro.
O consumo médio retirado da bateria, a uma velocidade entre os 15km/h e os 20km/h, é de 1kwh/100 km. A este consumo, é preciso somar as perdas no carregador (cerca de 20%).
Temos então um consumo que é 1/10 do consumo do metrolisboa.
E as bicicletas elétricas, por causa do pedalar, gastam metade da trotinete. 

E em termos de eficiência (económica)?
Mais uma vez, a Margarida deveria pegar em valores e fazer umas contas.
O Metropolitano de Lisboa tem um custo por km e passageiro de quase 6x o custo da trotinete eléctrica.

O metropolitano tem um custo de 0,24€/km/passageiro.
Em termos de gastos operacionais, são 0,14€/km/passageiro (120M€/ano) e em termos de custos de capital são mais 0,10€/km/passageiro (90M€/ano).
Isto é muito mais caro do que andar de automóvel.

A trotinete tem um custo de 0,043€/km/passageiro.
Vamos a uma trotinete cara, 500€ e somemos 100 euros para pneus e afinações).
Como a trotinete é capaz de fazer 15 mil km, somando as duas parcelas, dá 0,04€/km por passageiro.
A electricidade são 0,012*0,20 = 0,03€/lm/passageiro.
Somando tudo, dá 0,043€/km/passageiro.


Margarida, deixe de ser esquerdista e afirme-se como direitista.
Os transportes de passageiros colectivos públicos apenas existem porque recebem enormes subsídios públicos.
A Margarida deveria defender que essa mamadeira acabasse.
Depois, se os automóveis causam acidentes nas bicicletas e nas trotinetes, tem de se condicionar a movimentação dos automóveis e não o contrário pois ambos transportam um passageiro.

O futuro são as trotinetes pelo que proponho um algoritmo:
Actualmente, a velocidade máxima dos automóveis dentro das localidades é de 50km/h.

A) Meter radares dentro das cidades.
Não interessa ter um limite de 50km/h que ninguém cumpre. É preciso colocar radares dentro das cidades para multar os excessos de velocidade, doa a quem doer.

B) Sempre que as colisões de carros com trotinetes aumentar, diminui-se a velocidade máxima.
Quando um carro colide com uma trotinete, é um choque entre duas pessoas mas quem sofre é quem não tem chaparia para o defender.
Eu já tive um problema com um condutor de um automóvel que não parou numa passadeira e que me  agrediu (Tentou, saiu do carro, avançou para mim e apliquei-lhe logo um morote gari, deve ter ficado mal do cóccis!).
É preciso combater a cobardia de quem tem chaparia.

Enganei-me na Margarida!


sexta-feira, 28 de abril de 2023

Quando será o nosso computador tão inteligente como nós?

Com o ChatGPT a ficção passou a ser realidade.

O computador no seu fundamento é uma coisa muito simples, com transístores consegue realizar APENAS as operações AND, OR e NOT. As operações AND e OR precisam de 4 transístores e a operação NOT precisa de 2 transístores.

Na figura seguinte represento em hardware a implementação da operação lógica S1 AND S2.


A capacidade dos computadores vem de haver muitos transístores.

Com transístores conseguimos fazer AND, OR e NOT e, com várias destas operações lógicas, conseguimos fazer as operações algébricas (as somas, subtracções, multiplicações e divisões).

Na figura seguinte represento em hardware a implementação do primeiro bit da soma de três números de 1bit (precisa de 24 transístores).

Da mesma forma que os animais mais inteligentes têm mais neurónios, para o computador fazer mais operações por segundo, precisa de ter mais transístores.


A lei de Moore.

Em 1965, Gordon Moore previu que "Nos circuitos integrados, nos próximos 10 anos, o número de transístores por centímetro quadrado vai duplicar a cada 2 anos".

Em 1965 o "transístor planar" só tinha 5 anos pelo que esta previsão não tinha muita sustentação mas, passando a funcionar nas empresas como um objectivo, tem-se mantido verdadeiras até aos dias de hoje.

Por exemplo, em 1971 o processador Intel 4004 tem uma densidade de 188 transístores por mm2 (Node 10000) e, em 2023, o Node N3 consegue meter 300 milhões de transístores por mm2 (duplicou a cada 2,5 anos).


A performance aumenta ainda mais.

Mais transístores faz aumentar o número de operações por segundo mas, além disso, a velocidade do relógio também tem aumentado. Somando os dois efeitos, verifica-se que a capacidade de cálculo (o número de operações que o computador realiza por segundo) tem duplicado a cada 2 anos.

Na figura seguinte represento a evolução ao longo do tempo dos MIPS (milhões de instruções por segundo)  dos processadores 1970-2020 (dados, Wikipédia) onde se vê que duplicam a cada 2 anos. A bolinha representa que em 2050 os processadores terão 10000 vezes a capacidade dos processadores actuais (de 2023).



Será que o crescimento da capacidade do computador se vai manter para sempre?

Aqui é pura futurologia. Se se mantém há mais de 50 anos com uma regularidade impressionante, nada indica que não possa aumentar durante mais 50 anos!!!!!!!!!!!!!


Poderá uma máquina ser inteligente?

O nosso cérebro é totalmente mecânico no sentido de que que obedece às leis da física. Os nossos sentimentos, emoções, pensamentos, dúvidas, paixões, crises, criatividade e falhas resultam de reacções químicas e do movimento de correntes eléctricas. Sendo assim, o nosso cérebro não passa de uma máquina.

Como o cérebro é uma máquina, pode haver outras máquinas igualmente inteligentes, com sentimentos e consciência como a "máquina" humana.

 

O cérebro evolui muito lentamente.

Se compararmos o cérebro de um humano de hoje com o cérebro de um humano de há 10000 anos, o número de neurónios é exactamente o mesmo.

O homem moderno, o homo sapiens, aparecemos há 200000 anos algures na África Austral e nada mostra que o nosso cérebro tenha, no entretanto, aumentado de capacidade.

Se pegarmos em todos os animais que existem na natureza, não há evidência de que esteja para surgir um animal com um cérebro mais capaz do que o cérebro humano.

Em comparação, nos últimos 50 anos, a capacidade dos computadores em termos de cálculo duplicou a cada 2 anos.

Se o cérebro biológico não evolui e a capacidade do computador duplica a cada 2 anos, algures no futuro, o computador será mais inteligente do que o cérebro humano.

A questão não é "Se" mas "Quando".


E quando irá o computador ser mais inteligente que o seu dono?

Vi uma notícia de que o ChatGPT-3 tem 10000 processadores topo de gama (Nvidia A100).

Continuando a capacidade a duplicar a cada 2 anos, em 2050 o nosso computador terá a capacidade desses 10000 processadores. Este ponto é a rodinha a vermelho da figura anterior.

O servidor do ChatGPT-3 serve milhões de clientes em simultâneo e os processadores comunicam por fios. Sendo assim, o nosso computador de 2050 vai ser mais "inteligente" do que o actual ChatGPT-3 (porque terá apenas um cliente e as ligações serão muito mais rápidas porque serão feitas dentro do chip).

Além disso, haverá inovação nos algoritmos e mais dados disponíveis para a "aprendizagem" do sistema.

 

Aponto 2050 como ano provável.

Por volta desse ano, o nosso computador vai ser capaz de fazer coisas extraordinárias, não só consultar milhões de documentos em simultâneo como combinar esses documentos. Nesse ano o computador vai ser capaz de escrever uma tese de mestrado sobre qualquer tema em menos de 1 minuto.

Mas o computador ainda não vai ter sentimentos nem criatividade comparável ao cérebro humano.

A minha previsão é que teremos que esperar apenas mais 30 anos, lá para 2080, quando o nosso computador (eu já estarei morto) terá 300 milhões de vezes a capacidade do computador de hoje. Nesse ano, um computador será capaz de escrever uma tese de doutoramento em menos de 1 minuto.


E como vai ser o ensino/aprendizagem se um computador escreve uma tese em segundos?

Vai ter que sofrer grandes alterações. O problema é que o sistema de ensino enquanto parte da nossa sociedade decadente aposta mais na proibição do que na evolução.

Hoje, nas universidades ensina-se matemática como se ensinava no Século XIX. Proíbem mesmo os alunos de usar máquinas de calcular quanto mais computadores.

Por causa deste atraso na incorporação das inovações é que hoje o nosso PIB per capita é um terço do PIB per capita dos USA, ainda menos do que era no 25 de Abril de 1974 (ver)!!!!!!!!!


Vejam como a ditadura se começa a instalar.

Filmam pessoas na galhofada, Marcelo, Costa e SS, a dizer bacoradas contra os opositores políticos do PS.

A resposta é "matar" quem filmou (tenho a certeza de que vai ser despedido).

Não falta muito para que o SS expulse do parlamento todos os deputados que não sejam "fofinhos para o PS".

Alguém, alguma vez ouviu o Cavaco Silva, o Eanes ou o Passos Coelho a dizer bacoradas?

E o Presidente da República recordou ao estalinezeco que "Os deputados foram eleitos pelo Povo e não cometeram qualquer ilegalidade"?

Nada, tudo uma feira de gado.

Conto pelo menos 12.

segunda-feira, 24 de abril de 2023

Mas o que é a Fronteira Tecnológica?

Existem recursos naturais.

E a fronteira tecnológica é a forma de produzir o máximo valor possível para os consumidores a partir dos recursos naturais existentes.

Se, por exemplo, os recursos naturais são batatas, bacalhau e couves, a fronteira tecnológica é fazer o prato mais saboroso possível (e que, consequentemente, tem o maior valor para os consumidores).

Em termos micro-económicos, a fronteira tecnológica ensina-se com quantidades mas em termos macro-económicos, como o produto é a agregação de bens e serviços diferentes, ensina-se a "preços de mercado".

Em termos micro-económicos, produzem-se toneladas de batatas com terra, trabalho e água enquanto que em termos macro-económicos produzem-se milhões de euros de produtos agrícolas com terra, trabalho e água.

Em termos macro-económicos, a fronteira tecnológica traduz-se pelo nível do PIB per capita. 


Depois, temos os países.

A fronteira tecnológica aumenta ao longo do tempo por causa das descobertas. Quando a fronteira aumenta, o PIB per capita também aumenta. 

Mas as descobertas obrigam a um esforço de investigação pelo que tendem a acontecer nas regiões que estão na fronteira tecnológica. Digamos que é como uma equipa de futebol. Um jogador, mesmo que médio, tem maior probabilidade de ser campeão nacional se jogar no Porto, Benfica ou Sporting do que, mesmo que fosse o Messi ou o Ronaldo, ser campeão nacional no Arouca ou no Rio Ave. 

Até meados do Séc. XX, a fronteira tecnológica estava no Norte da Europa (Reino Unido, França, Holanda, Bélgica, Alemanha). Depois, passou para os USA.


A medição do crescimento do PIB tem "problemas" em apanhar as inovações.

O PIB é medido em quantidades ao preço de mercado pelo que tem dificuldades em incorporar melhoramentos na qualidade dos bens e serviços quando os preços e as quantidades se mantêm. Vamos supor que um computador faz 1000 operações por segundo e tem um preço de 100€. Surgindo outro computador que faz 2000 operações por segundo com o mesmo preço de 100€, o PIB não sofre alterações.

Observa-se que o crescimento americano é estável e próximo de 1,9%/ano.

Fig. 1 - Evolução do PIBpc dos USA a preços de 2015 (dados: Banco Mundial)


A convergência para a fronteira tecnológica.

Quando acontece uma inovação no país da fronteira tecnológica, há dificuldades em que esta seja copiada mas parte dela difunde-se seja nos bens importados (ao comprarmos um computador mais poderoso, incorporamos na nossa economia parte da inovação tecnologia de fabricar computadores) ou nas máquinas (com máquinas mais evoluídas, conseguimos produzir mais mesmo não dominando a tecnologia de fabrico das máquinas).

Com o tempo, a tecnologia acaba por ser copiada mas, nessa altura, o país da fronteira tecnológica já está mais à frente.

Por exemplo, em 2003 as empresas mais avançadas do mundo conseguiram (o que parecia impossível) meter num chip um milhão de transístores por mm2. Actualmente, decorridos 20 anos, qualquer país consegue produzir chips com uma densidade de 1 milhão/mm2 mas a fronteira tecnológica já vai nos 300 milhões/mm2.


Vejamos algumas convergências.

Vou usar a evolução do PIB per capita, a preços constantes, dos USA como medida da fronteira tecnológica e relativizar as outras economias a esta grandeza.
Em termos de economias desenvolvidas, o Reino Unido mantém 80% do nível americano, a Europa (Alemanha, França, Itália e Espanha) convergiu 20 pontos e o Japão convergiu 40 pontos e, desde 1990, estão a divergir (a Europa perdeu 10 pontos).
Digamos que a Europa se está a deixar ficar para trás (os países mais desenvolvidos da Europa já está abaixo de 60% do nível de desenvolvimento dos USA).
A convergência mais notável é a Koreia do Sul que passou de 5% para 53%, aproximando-se do nível do Japão de dos 4 europeus.

Fig. 2 - PIB pc relativo ao americano das maiores economias desenvolvidas (dados, Banco Mundial)


Quem "copia" fica sempre atrás.
Há a impressão de que a Alemanha, o Japão ou a Koreia do Sul estão ao nível dos USA mas não é verdade. Os USA são a locomotiva e os outros são as carruagens, ficando sempre atrás.


Vamos aos países em desenvolvimento.
Os únicos países que mostram convergência é a China e a Turquia.
A Argentina, a África do Sul e o Brasil divergiram rapidamente (caíram para metade) e o México divergiu mas mais lentamente (caiu de 20 para 15 pontos).

Fig. 3 - PIB pc relativo ao americano das maiores economias subdesenvolvidas (dados, Banco Mundial)

Se pegarmos nos países classificados pelo Banco Mundial como "Sub-Saharan Africa", vemos que não só estão muito longe do país mais produtivo mas essa distância está a aumentar.

Fig. 4 - PIB pc relativo ao americano da "Sub-Saharan Africa"(dados, Banco Mundial)



Faz 50 anos do 25 de Abril de 1974.

Dizem os esquerdistas que nos desenvolvimentos muito e não deixa de ser verdade, mas em termos relativos à fronteira tecnológica, estamos mais longe. Aquando da revolução o nosso PIB per capita era 35,5% do PIB per capita dos USA e em 2021 fica pelos 33,7%.

Bem sei que estou a ser invejoso, que o imperialista americano tem todo o direito a crescer mais do que nós, mas fico triste de tantos bombos e foguetório para tão poucochinho. Mas temos de nos habituar a ser pobres.

Afastamo-nos 5 pontos da fronteira tecnológica desde que o Cavaco nos deixou entregues aos esquerdistas!!!!!!!!!

Fig. 5 - PIB pc relativo ao americano de Portugal (dados, Banco Mundial). Comparação entre 2021 e 1974.


Apesar de não haver convergência, a tecnologia favorece todos.
A vida de todos melhora por causa do aumento da qualidade dos produtos. Apesar de nos países menos desenvolvidos não conseguirem produzir computadores, aviões ou telemóveis, importam estes bens de tecnologia elevada a preços relativamente reduzidos.
Também as novas tecnologias estão incluídas nos medicamentos e nas vacinas, produtos acessíveis em todo o mundo.
Por exemplo, o PIB per capita da Guiné-Bissau em 2021 é igual ao que existia em 1970!!!!!!
Parece impossível mas em 1970 a Guiné-Bissau era extremamente pobre, com um PIBpc de 619USD (ainda assim, era mais "rica" do que a China) e em 2021 ainda desceu ligeiramente para 614USD (preços constantes de 2015).
Mas vive-se hoje muito melhor na Guiné-Bissau do que se vivia em 1970 porque há acesso a computadores, telecomunicações, internet, automóveis, bicicletas eléctricas, telemóveis, televisores, geradores de electricidade, medicamentos, vacinas, novas sementes, que não estavam disponíveis em 1970.
Apesar de, em termos de "preços de mercado", o total produzido na Guiné-Bissau ser o mesmo, em termos de qualidade, aumentou sem que o PIB tenha conseguido apanhar esse aumento.

Fig. 6 - PIB pc da Guiné-Bissau (USD de 2015, dados, Banco Mundial). 



Vivemos num mundo cada vez mais perigoso.

Fui classificado como fascista porque mostrei os dados do Banco Mundial que indicam que, relativamente a 1974, a nossa economia divergiu da fronteira tecnológica.

Fui classificado como racista por mostrar os dados do Banco Mundial que indicam que os países africanos são pobres em termos do PIB per capita e não mostram evolução positiva em relação à fronteira tecnológica.

Fui classificado como xenófobo relativamente aos brasileiros por mostrar os dados do Banco Mundial que indicam que a economia brasileira tem um crescimento anémico, divergindo da fronteira tecnológica.

Mas apenas mostrei os dados disponíveis no site do Banco Mundial, não foi nenhuma opinião minha.

E estas classificações tiveram consequências graves já que fui despedido.




sexta-feira, 21 de abril de 2023

O problema do Brasil é a falta de crescimento económico

O crescimento económico traduz que são produzidos mais bens e serviços.

Em termos simples, se em 2021 se produziram 100kg de batatas e se o crescimento económico em 2022 foi de 10% então, em 2022, produziram-se 110kg de batatas.

Digo que esta interpretação do crescimento económico é simples porque o verdadeiro PIB tem em consideração não só o aumento das quantidades produzidas mas também o aumento da qualidade.

Dividindo o total que se produz numa economia pelo número de pessoas temos o PIB per capita. Esta medida traduz a quantidade de bens e serviços disponíveis para cada pessoa, em média.

Se o PIB per capita aumentar, isto é, se na economia se produzirem mais bens e serviços por pessoa, haverá mais bens e serviços disponíveis para cada pessoa consumir (ou investir).

Como a felicidade das pessoas está ligada à disponibilidades de bens materiais, podemos então concluir que o nível de vida das pessoas melhora se houver crescimento da economia.


Mas existem pensamentos alternativos.

Bem sei que há quem diga que é no Butão, um país pobre, onde as pessoas dizem ser mais felizes  mas, prova de que isso não é verdade é não haver magotes de pessoas a querer ir viver para o Butão.


O Brasil está estagnado desde 1980.

Nos 20 anos entre 1960 e 1980 o Brasil teve bom crescimento económico per capita, +4,5%/ano. Nessa altura pensava-se que o Brasil se iria tornar rapidamente numa grande potência.

Depois da segunda crise petrolífera de 1979, o entusiasmo esmoreceu já que o crescimento ficou dividido por 5, passando a ser +0,9%/ano. Já lá vão 42 anos, há anos em que cresce um pouco mais (2002-2012) e anos em que cresce um pouco menos mas o Brasil não consegue fugir da média dos +0,9%/ano.

Fig. 1 - Evolução do crescimento per capita do Brasil, 1960-2022 (dados: Banco Mundial)


O que se passou em 1979?

Quando há uma crise económica, ocorrem alterações à escala global que ficam para sempre. No caso da segunda crise petrolífera de 1979, a transferência tecnológica dos países mais desenvolvidos para o Brasil diminuíram porque o foco se deslocou para a China que começou a crescer 10%/ano.

Existe uma certa tendência de os países mais pobres convergirem para os países mais ricos (os da "fronteira tecnológica") motivado pela transferência de tecnologia. 

Digamos que a convergência brasileira para a "fronteira tecnológica" terminou em 1979 e, depois dai, o crescimento deve-se apenas às capacidades internas.


E porquê a China em desfavor do Brasil?

Se conseguirmos responder a esta questão, ficamos logo a compreender o crescimento económico anémico.

Pegando em todas as variáveis económicas, há uma que mostra diferenças gritantes: a taxa de poupança líquida (a poupança mais a despesa em educação menos a depreciação do capital).

Enquanto que o Brasil está nos 10% que é a média dos países mais desenvolvidos (USA, Alemanha e Japão), a China esteve acima dos 25% até 2010 e, actualmente, ainda é o dobro da taxa de poupança do Brasil.

Fig. 2 - Evolução da taxa de poupança líquida, 1970-2020 (dados, Banco Mundial)

O Brasil tem uma estrutura económica quanto à repartição da riqueza gerada (consumo versos poupança) semelhante aos país mais desenvolvidos o que prejudica o crescimento económico que precisa de poupança interna para aumentar o investimento.


O que eu vou escrever pode chocar mas é o que está na Ciência Económica.

Aconselho que as mentes mais levesinhas não leiam o texto seguinte. Quem o ler, será à sua inteira responsabilidade.

Todos os países pensam que são pobres, não havendo forma de poupar. As pessoas têm a sua dignidade, precisando de consumir bens e serviços em quantidade e em qualidade.

Os brasileiros (e muitos mais países mas falo do Brasil porque é o foco do texto) pensam que não pode haver pobres e, por isso, as políticas públicas de combate à pobreza pela redistribuição (cobrar impostos aos mais ricos e atribuir subsídios aos mais pobres) têm de ser centrais.

Dividir o pouco que se produz por muitos não permite haver poupança e, depois, não há investimento. Sem investimento, não há transferência de tecnologia dos países mais desenvolvidos.

O que os chineses pensam é irrelevante na definição das políticas públicas chinesas e, por isso, o governo chinês decidiu que o central é haver crescimento económico. Assim, sacrifica o presente, mantendo durante os anos 1980-2000 centenas de milhões de trabalhadores fabris e rurais na pobreza para acumular capital.

As empresas dos países mais desenvolvidos vendo o capital e a mão de obra baratos na China, transferiram para lá a sua tecnologia, fazendo fábricas que hoje lideram o Mundo.

Até 1980, um brasileiro tinha disponíveis 14,3 vezes os bens que tinha disponível um chinês. Naturalmente, na China morria-se de fome e, mesmo assim, mantinha-se uma poupança líquida de 35%.

Os brasileiros combateram a pobreza e, decorridos 42 anos, um brasileiro tem disponíveis 0,7 vezes os bens que tem disponível um chinês. 

Fig. 3 - Evolução do rácio entre o PIB per capita brasileiro e o chinês (dados: Banco Mundial).


Uma economia é como a vida de um estudante.

Se o estudante gozar a juventude, faltas às aulas, álcool, noitadas, festas, vai aprender pouco o que se traduz em notas fracas. Depois, toda a sua vida profissional vai estar prejudicada (com salários baixos).

Se o estudante sacrificar a juventude, dedicando o seu tempo a estar atento nas aulas, ir para casa estudar, fazer os trabalho de grupo, vai aprender muito o que se traduz em notas boas. Depois, toda a sua vida profissional vai ficar beneficiada (com salários elevados).

O estudante aplicado investe o seu tempo presente a estudar, o que é um sacrifício, para ter uma vida futura mais confortável.

Tenha sido o presidente Tancredo Neves, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco, Fernando Henrique Cardoso, Lula da Silva, Dilma Rousseff, Michel Temer ou Jair Bolsonaro, não compreendendo o povo que não há ganho futuro sem sacrifício presente, não saem da cepa torta.

Fig. 4 - A cepa torta não tem força para gerar varas produtivas

Mas os inimigos dos povos continuam a ser o grande capital, a exploração do trabalhador pelo capital, as multinacionais, o imperialismo americano e mais não sei quantas balelas esquerdistas.


Tenho pensado numa coisa interessante.

No princípio do Sec. XX havia muitos impérios (multi-nações) de que o português era apenas um exemplo.
Depois houve um processo de partição dos impérios em países, dizem, apoiado principalmente pelos esquerdistas encabeçados pela Rússia e pela China.
O interessante é que no Sec. XXI apenas a Rússia e a China persistem como impérios.
E os esquerdistas apoiam estes impérios.
Isto não dá que pensar?

Faz-me lembrar as lutas do CES do Boaventura Sousa Santos pela emancipação das mulheres!!!!

quarta-feira, 19 de abril de 2023

O prejuízo da CP de 83 milhões e as trotinetes.

A CP anuncia para 2022 um lucro de 8 milhões!

Mas esqueceram-se de dizer que tudo o que dava prejuízo foi pago pelo OE - Orçamento do Estado, no total de 89 milhões de euros.

Além desses 89 milhões, o Estado, como não poderia deixar de ser, passou para o seu saco, dívidas de 1800 milhões. E já entre 2015 e 2019, o Estado já tinha assumido 2309 Milhões.

Somando tudo o que a CP já custou aos contribuintes, estamos a falar de 6000 milhões (ver)!!!!!!!!!!!!!!! 

E vai continuar a custar 89 milhões por ano para "financiar as ligações que dão prejuízo".

O prejuízo da CP é cerca de 30% da facturação, por cada viagem vendida por 1,00€, o contribuinte mete mais 0,30€. 

Qualquer empresa pública  tem lucro se tudo o que der prejuízo for coberto pelo OE, até a EFACEC!!!



Em média, cada passagem deu um prejuízo de 0,56€.

Diz a CP que em 2022 transportou 148 milhões de passageiros, melhor dizendo, cada português fez em média 14,3 passagens. Pensando que os portugueses fazem duas viagens por dia (730 no ano), 2% das viagens são feitas de comboio. 

Grande enormidade!!!!!!!

Dividindo 83 milhões € por 148 passagens, temos um prejuízo de 0,56€/passagem.

Fui ao Relatório e Contas e calculei que cada viagem tem uma média de 25km, tem um preço do bilhete de 1,80€ e dá um prejuízo de 0,56€.

Está em muito bom estado, só precisa de uns pequenos trabalhos de chaparia e pintura


Falei da CP mas poderia falar de qualquer outra empresa pública de transporte de passageiros.

Tudo dá enormes prejuízos o que traduz que destroem valor. 

Aqui é que entram as trotinetes, como alternativa aos transportes públicos, e que sofrem ataques de todos aqueles que querem mais e mais transportes públicos deficitários.

Li uma opinião interessante para justificar que devem ser proibidas.

1) Os trotiniteiros não cumprem o Código da Estrada. Não cumprem nem faz que cumpram pois mais não são que "peões acelerados".

Os peões também não cumprem o CE, atravessam fora das passadeiras, não respeitam o sinal vermelho para os peões, atendem chamadas enquanto atravessam a rua, andam sob a influência do álcool e de drogas e não é por isso que vamos proibir os peões de circular.

2) É perigoso. Mas essa avaliação deve ser feita por cada um.

Também é perigoso ir à praia (morrem muito mais pessoas afogadas do que trotineteiros) e não me consta que alguém peça a sua proibição. É o risco de estar vivo.

Eventualmente, até pode ser obrigatório usar capacete e ter seguro mas mais do que isso é estalinismo.


As trotinetes são imbatíveis em viagens curtas na cidade.

Uma viagem em Lisboa ou no Porto tem cerca de 1 km a pé, 7 km de veículo e demora 50 minutos. Esses 8 km de trotinete, incluindo o veículo e a energia,  tem um custo na ordem dos 0,30€ e demora 30 minutos (a uma velocidade conservadora de 16km/h).

A trotinete é mais rápida, mais prática (vai desde a nossa porta até à porta do destino) e mais barata do que apanhar transporte colectivo.

Se alguém teve um acidente porque caiu num buraco com a rodita, não é proibir as roditas, é preciso garantir ciclovias sem buracos!!!!!

As autarquias têm de pensar temos de ter cuidado porque vão passar por aqui roditas".


Eu aumentava o limite da velocidade para 35km/h, a potência para 500W e 2 passageiros.

O limite legal são 25km/h, o que é mais do que suficiente, mas em pistas partilhadas com automóveis é pouco, estorva os automobilistas.

Em pistas partilhadas, com piso bom, sem pedras nem buracos, a velocidade deveria passar para 35 km/h para comodidade de todos. 

Já andei várias vezes na minha trotinete a 35km/h e é uma velocidade em que se anda bem, não tem perigo nenhum.

Também a potência deveria aumentar para 500W para facilitar a entrada em rotundas, o arranque nos semáforos e as subidas.

Também não tem qualquer perigo transportar 2 pessoas.


Se eu mandasse.

Enviava umas quantas trotinetes para as escolas, universidades e politécnicos para que os alunos pudessem experimentar. Compradas por junto, 3 milhões € dá para 10000 trotinetes.

Investia "cuidado redobrado" numa faixa das estradas com cerca de 50cm de largura por onde as roditas pudessem passar sem pedras nem buracos.

Criava um plano de leasing de trotinetes para as pessoas carenciadas.


domingo, 16 de abril de 2023

Cientístas que nos ajudam todos os dias e que ninguém conhece.

Ontem falei com o meu amigo no algoritmo de Reed-Solomon de correcção do erro.

O telemóvel, o multibanco, a televisão digital, a comunicação em fibra óptica ou por satélite, os discos rígidos e os SSD, as pendrives, e muita mais coisas seriam pelo menos 10 vezes mais caros se não houvesse algoritmos de correcção do erro e haveria mesmo coisas, como os satélites de exploração do espaço profundo, que não existiriam.

E, no entanto, aposto que nunca ouviu falar destes nomes.  

A questão foi "Sendo que o seu algoritmo é usado por todas as pessoas todos os dias, como é possível que ninguém ouça falar destes dois cientistas?

Chama-se a isto "ingratidão da humanidade". 

Mas vamos ao problema e à forma como estes cientistas o resolveram.


Tudo tem erro.

Uma das leis da "ciência da informação" é que quando gravamos ou enviamos informação, nunca temos 100% de rigor. A diferença entre o que queremos e o que temos é o erro que, em termos físicos, é um ruído.

Se a informação for "analógica" (isto é, um número real), o erro é quantificado como o desvio padrão. Para diminuirmos o erro precisamos enviar várias cópias e usar a média. Podemos diminuir o erro (para diminuir o erro padrão de 0,1 para 0,01, é necessário repetir 100 vezes a mensagem) mas nunca podemos ter erro zero.

A vantagem de termos números binários é que podemos corrigir integralmente os erros. O erro no número binário é a probabilidade de um bit ser alterado, um zero passar a um ou um um passar a zero. 

Imagem guardada com erros

Reduzir o erro de 1/100 para 1/1000000000.

Guardo bits num disco e a gravação tem um erro de 1/100 (isto é, em cada 100 bits, 1 está errado). O que pretendo é ler a informação, corrigi-la e, depois, ficar com um erro de 1/10000 000000 (um em dez mil milhões). Aplica-se o mesmo raciocínio à transmissão de informação com ruído.

A forma intuitiva de fazer o sistema capaz de corrigir os erros é ter várias cópias da informação. Para reduzir o erro na proporção pretendida tenho de ter 11 cópias da mensagem e, depois, usar como valor correcto o mais frequente (que pode ser 0 ou 1). Desta forma, apenas 9% do disco poderá ser usado (os outros 91% são para as cópias de segurança).

O que Irving S. Reed e Gustave Solomon criaram em 1960 foi um algoritmo que consegue reduzir o erro sem a necessidade de ter 11 cópias.

Vejamos a simplicidade da ideia. A implementação do algoritmo não é bem como vou explicar mas consegue dar uma intuição do seu funcionamento.


1 = Vou partir a mensagem em blocos.

A minha informação é uma sequência com milhares de milhões de zeros e uns e vou dividir esta sequência em grupos. A implementação mais popular (nas pendrives e nos CDs) é o RS(255, 223) de 8 bits em que a parte "útil" são 223 bytes / 1784 bits e a parte redundante são 32 bytes/ 256 bits. 

Esta implementação permite corrigir, em média, até 30 erros em 223 bytes.

Cada número vai ser um ponto (x; y), por exemplo, (1; 10100100), (2; 01001110), ...


2 = Calculo o polinómio de grau 223 que passa pelos 223 pontos de 8 bits (a informação).

Este polinómio é único. É necessário muito poder de cálculo para obter este polinómio mas, como é uma operação repetida, é implementado em hardware (o que torna a operação muito rápida).


3 = Calculo pontos adicionais.

Tenho de calcular informação redundante que consiste nos 32 pontos seguintes do polinómio. Os 32 pontos redundantes permite reduzir o erro de 1/28 = 3,6% em 1/10^9 (cálculos estatísticos que fiz).


4 = Melhorei substancialmente o processo.

Para reduzir o erro de 3,6% para 1/10^9 precisaria de 15 cópias repetidas (o bloco de 223 bytes precisa de 3345 bytes). Com o RS apenas preciso guardar 255 bytes. Desta forma, o algoritmo aumenta a capacidade útil do disco ou da transmissão de 6,67% para 87,45%.


E como conseguimos corrigir os erros?

Leio os 255 bytes e vou ajustar um polinómio de grau 223 aos 255 números. 

Se não houver nenhum erro, o ajustamento é perfeito (todos os 255 pontos "caiem" no polinómio).

Se o ajustamento não for perfeito, há erros. Tenho então de os corrigir.

     Retiro os 32 números que se afastam mais do ajustamento (estão ai os erros).

     Calculo o polinómio de grau 223 que passam pelos 223 pontos restantes. Estes pontos não são apenas pontos dos primeiros 223 bytes pois os erros também acontecem na informação redundante.

     Substituímos os 32 pontos que excluímos pelos valores obtidos a partir do polinómio e recuperamos os primeiros 223 bytes.

E já está tudo corrigido.

-
Imagem depois de os erros serem corrigidos


Por exemplo.

Imaginem que o chip de memória de 1Tb da Micron TCL tem nas células de 3 bits um erro de escrita de 10% (1 erro em cada 10 células escritas). Esta taxa de erro torna o chip totalmente inútil (os ficheiros terão uma enormidade de erros). 

Vamos supor que a Micron pretende garantir  um erro de leitura menor do que 1 num milhão de bits.

O chip com um erro de 1/10 é extraordinariamente mais barato do que outro chip com um erro de 1/1000000. 

Micron pretende usar, por questões de custo baixo, o chip com um nível elevado de erro de escrita e, mesmo assim, garantir  um erro de leitura menor do que 1 num milhão de bits.

Neste caso, usando o Reed-Solomon com números de 3 bits, é necessário aumentar a capacidade em 13% para guardar a informação redundante necessária para corrigir os erros (em vez de 1000Gb terá de ter  1130Gb). 

Haverá um incremento no custo por causa da área de reserva e do controlador (que calcula o Reed-Solomon) mas, mesmo assim, é um incremento extraordinariamente menor do que fazer um chip com um erro de 1/1000000.


Álgebra modular.

Vamos supor que temos números inteiros positivos com 4 bits (0 a 15) e que realizamos operações algébricas (somas, subtracções, multiplicações e divisões) com vários destes números. 

Por exemplo (15+7+2)*12 + 13= 301 tem 9 bits.

O mais certo é que o resultado tenha mais do que 4 bits (301 tem 9 bits).

A álgebra modular tem propriedades, por exemplo, 

    resto(resto(X, 15) + resto(Y, 15), 15) = resto(X+Y, 15)

    resto(resto(X, 15)*resto(Y, 15), 15) = resto(X*Y, 15)

Naturalmente, quando guardamos informação redundante usando o algoritmo de Reed-Solomon, os pontos vão ter mais bits do que os números considerados.

Temos então de reduzir o tamanho dos números trocando-os pelo resto da divisão inteira com o valor máximo possível. Por exemplo, se temos números de 4 bits, vamos dividir por 15. No exemplo,  o resto da divisão de 301 por 15 é o valor 1.

O "bit de paridade" é o caso limite da redução e o conhecido "noves fora" (que reduz qualquer número a apenas um dígito) é a aplicação do conceito à numeração decimal.

Aplicando esta transformação há diminuição da informação mas, escolhendo o número de bits adequado (e com poder de cálculo), conseguimos manter uma quantidade suficiente de informação.


Vejamos um exemplo com 4 bits. 

Tenho um sector de 16 bits, 4 números de 4 bits (1; 5), (2; 7), (3; 6), (4; 8) em que a ordenada é a ordem em que aparecem os números. Ajusto o polinómio que passa por estes pontos, V = 1x3 - 7,5x2 + 17,5x - 6.

Agora, vou usar o polinómio para calcular três pontos de informação redundante e que são, (5; 19), (6; 45), (7; 92). Estes números têm mais do que 4 bits, pelo que vou guardar apenas o resto da divisão por 15,  (5; 4), (6; 0), (7; 2). 

Vou ter no disco, ou transmitir, a mensagem (1; 5)(2; 7)(3; 6)(4; 8), (5; 4), (6; 0), (7; 2).

Os pontos redundantes deixam de estar na linha do polinómio que passa pelos pontos originais

Quando recebo a informação, determino se os valores têm erro resolvendo a equação da regressão linear pelo método dos mínimos quadrado (que é cálculo matricial).

A matriz X é uma "constante", (1, 1, 1, 1); (1, 2, 4, 8); (1, 3, 9, 27); (1, 4, 16, 64); ...

Desta forma, M = (X^T.X)^(-1) também é uma constante calculada apenas uma vez na "vida". 

Então, determino o polinómio com apenas duas multiplicações matriciais:

    ^b = M.(X^T.Y)

A implementação RS(255, 223) usa matrizes 223x223.


Quando acontece um erro.

Se não tivesse "reduzido" os números, era muito fácil identificar e corrigir os erros, bastava ajustar  um polinómio de grau 3 aos 7 pontos e excluir os pontos mais distantes.
Na figura seguinte em vez de (1; 5), (2; 7), (3; 6), (4; 8), (5; 4), (6; 0), (7; 2) tenho três erros marcados a vermelho, (1; 5), (2; 9), (3; 6), (4; 6), (5; 4), (6; 2), (7; 2), sendo um erro nos pontos redundantes.

Sem redução de bits é muito fácil descobrir os 2 erros nos dados

Ao "reduzir" os bits dos números redundantes, torna-se computacionalmente mais fácil identificar e corrigir os erros mas mantém-se possível.
Os pontos passam a ser, em que k1, k2 e k3 são números inteiros (em que 15 é o divisor de 4 bits):

(1; 5), (2; 9), (3; 6), (4; 6), (5; 15.k1+ 4), (6; 15.k2+2), (7; 15.k3 + 2)

Agora, determinam-se os valores para k1, k2 e k3 que maximizam o R2 da regressão.

Depois, usamos o polinómio "óptimo" para identificar e corrigir os erros. 

Com o ajustamento melhor (k1=1, k2=3 e k3=6), detectamos facilmente os 3 erros (a amarelo)

Se substituísse os "valores errados" pelo arredondamento dos valores estimados  já tinha os verdadeiros valores mas, para haver mais certeza, retiro os 3 pontos com maior erro (fico com 4 pontos), calculo o polinómio e, depois, uso-o para calcular os valores dos pontos que exclui.

Se usar números de 1 bit.

Se tivermos 4 bits, na estimação do polinómio "óptimo" saltamos de 15 em 15 mas se tivermos apenas 1bit, temos de experimentar muitos mais valores (saltamos de 1 em 1).

Números com mais bits obriga a mais bits redundantes mas diminui o tempo de cálculo.


Aplicando a álgebra modular reduzimos e uniformizamos a informação gravada mas precisamos de mais poder de cálculo quando precisamos identificar e corrigir os erros.

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