As crises económicas resultam da necessidade de ajustamentos estruturais.
Ontem estive a falar sobre economia com a minha colega de judo que frequenta o 11.º ano. Interessante que o que lhe ensinam é totalmente ideológico de esquerda, a exploração do trabalhador, as crises causadas pelo excesso de produção, blá blá blá, tudo o que vem nos manuais marxistas. Meter esta catequese na cabeça dos jovens é a melhor forma de criar mentecaptos esquerdistas (é um pleonasmo pois esquerdista é sinónimo de mentecapto).
Agora percebo porque os meus alunos da faculdade de letras me odiavam, é que estavam intoxicados com essas teorias marxistas de que o capital explora o proletariado e eu pretendia mostrar-lhes a verdade, de que sempre que a pessoa está na situação A (trabalhar na agricultura) e lhe é a possibilidade de escolher entre A e uma nova situação B (trabalhar na industria), se escolhe B de forma livre e informada podendo continuar em A, obrigatoriamente fica numa situação melhor.
Pensava eu que qualquer pessoa com inteligência média veria nisto lógica mas vejo agora que não.
Vamos à alteração estrutural agricultura/industria.
Imaginemos que inicialmente 100 pessoas trabalham na agricultura de sobrevivência onde produzem 5€/dia de bens (5kg/dia a 1€/kg). De repente, surge a industria, onde cada pessoa produz 50€ de bens (10kg/dia a 5€/kg).
Para mudar da agricultura para a industria é necessário um período de aprendizagem correspondente a um ano de produção (correspondente a capital humano de 365x5€ = 1825€).
Esta mudança estrutural tem dois problemas:
A) Saber como se vão financiar os 1825€ (é preciso alguém poupar para haver esta disponibilidade).
B) A mudança das pessoas da agricultura para a industria vai reduzir a produção agrícola (o que faz aumentar os preços dos bens agrícolas) e aumentar a produção dos bens industriais (o que vai reduzir os preços dos bens industriais).
C) Menos pessoas a trabalhar na agricultura faz com que cada pessoa produza mais e mais pessoas na industria faz com que cada pessoa produza menos.
A inovação vai aumentar o rendimento dos trabalhadores.
Vamos supor que, a nova situação de equilíbrio é 50 pessoas a trabalhar na agricultura (cada pessoa produz 8kg/dia a 2,50€/kg) e 50 pessoa a trabalha na industria (cada pessoa produz 8kg/dia a 2,5€/kg).
Fig. 1 - No novo equilíbrio o PIB e o rendimento é 4 vezes o rendimento inicial.
A crise surge de haver um exagero na alteração estrutural.No processo de ajustamento, apesar de o rendimento do agricultor subir continuamente ao longo do tempo, este sente-se pobre por comparação com os trabalhadores da industria. como a decisão é individual, todos os trabalhadores querem, instantaneamente, deixar a agricultura e ingressar na industria.
Como demora tempo a aprender a nova profissão e os salários têm dificuldade a ajustar em baixa, vai haver um "overshooting" que, depois, vai cair criando uma crise de excesso de produção de bens industriais (e queda de preços e de rendimentos) e de défice de produção de bens agrícolas (e de subida de preços e de rendimentos).
Esta crise vai criar um novo ajustamento em sentido contrário e de menor intensidade.
Além disso, durante a crise, o nível de rendimento das pessoas é muito superior ao inicial mas, como nos habituamos rapidamente à boa vida, essa crise é sempre vista como "a mais grave dos últimos 100 anos".
Fig. 2 - No caminho para o novo equilíbrio, há um exagero no ajustamento o que causa uma crise económica e novo ajustamento mas em sentido contrário.
Será que o overshooting poderia ser evitado com "coordenação centralizada" (com esquerdismo)?
Seria no modelo simplificado, onde todas as pessoas são iguais nas suas capacidades, gostos e o Putin tem informação perfeita sobre cada um dos trabalhadores.
Mas como as pessoas são diferentes e isso não é conhecido pelo Putin, então a coordenação centralizada não consegue resolver o overshoting e, assim, evitar as crises.
Vamos supor que era possível. Então, nos países esquerdistas não haveria crises económicas e, tanto como sabemos, ... esquerdismo é sinónimo de pobreza!
Por exemplo, desde que em 2013 o camarada Maduro tomou o poder na Venezuela, o nível de vida (medido pelo PIB per capita em paridade de poder de compra), caiu 15% por ano, num total de 71% (ver). Se em 2013 um venezuelano tinha um poder de compra de 250€/mês, agora está nos 75€/mês.
É o esquerdismo a funcionar no seu melhor, aquele que os camaradas Jerónimo, Catarina, Louçã, etc. querem implementado em Portugal.
Voltemos a Portugal.
Toda a gente já ouviu dizer que a nossa economia não cresce desde 2000, isto é, dentro que entramos na Zona Euro! Se pegarmos nos dados, vemos que o PIB tem crescido uns ténues 0,7%/ano.
Fig. 3 - Na evolução do PIB vemos que, desde 2000, o crescimento é de 0,7%/ano e que sofremos 2 crises, a do Sub-prime e a do Covid-19 (dados, INE).
Bem o Costa grita que temos crescido muito mas não é verdade, estamos agora na tendência de longo prazo de 0,7%/ano que tinha sido interrompida com o Crise do Sub-prime.
O Costa terá razão se conseguir fazer com que Portugal cresça nos próximos 4 anos tanto como cresceu entre 2016 e 2020, isto é, 2,9%/ano.
O problema é que a Crise Assassina Russa está a bater à porta e tudo assobia para o lado.
É uma crise porque a Rússia vai ser "desligada" do comércio internacional e isso é uma importante alteração estrutural na economia mundial.
Tudo o que se importa da Rússia, principalmente energia, vai ter de ser encontrado noutras paragens e isso obriga a investimentos que já estavam feitos na Rússia e que vão ser deitados fora.
Tudo o que se exporta para a Rússia vai ter de ser colocado em mercados alternativos e isso também obriga a investimentos porque, por exemplo, os bens que Moçambique vai importar se desenvolver a sua industria de gás natural não são os mesmos que hoje a Rússia importa. Por exemplo, onde hoje se vêem turistas russos não se passará a ver turistas moçambicanos.
Tudo isto vai levar tempo e vai reduzir o nível de vida não só dos russos como de todos os outros.
E se o PIB crescer como o Costa diz?
Vamos supor que nos próximos 3 anos o nosso PIB vai aumentar um total de 10%. Mesmo assim, vamos ficar mais pobres por causa do aumento do preço das importações.
Vejamos com um exemplo numérico.
O nosso PIB é 100€/ano, exportamos 40€/ano e importamos 40€/ano (podemos consumir 100€/ano).
Consumo = 100€/ano + 40€/ano - 40€/ano = 100€/ano.
Estes valores são obtidos multiplicando as quantidades pelos preços. Vamos supor que os preços de todos os bens é 1€/unidade. Então, produzimos 100kg/ano, exportamos 40kg/ano e importamos 40kg/ano (e consumimos 100kg/ano).
Consumo = 100kg/ano + 40kg/ano - 40kg/ano = 100kg/ano.
Daqui a 3 anos estaremos a produzir 110kg/ano mas, como os preços das importações aumentaram para 1,5€/kg, o que teremos disponíveis para consumir fica menor porque temos de exportar mais para podermos pagar as importações (exportações = 40*1,5€/1€ = 60kg).
O consumo vai reduzir para 90kg/ano
Consumo = 110kg/ano + 40kg/ano - 60kg/ano = 90kg.
Se temos de consumir menos porque as importações estão mais caras, não há forma de dar volta à crise que ai vem.
Recordando o estadista Passos Coelho, temos de aguentar com valentia.
A minha situação?
Está boa, continuo activo (a receber) e penso que assim ficarei até me aposentar, com 70 anos.
É a coisa boa dos esquerdistas, não é assim fácil despedir um trabalhador mesmo que não preste para nada.
No entretanto, tenho feito passeios de trotineta.
Já fiz 370 km na minha AOVO e estou a gostar da experiência.
A autonomia é pequena para turismo (20km a velocidade de 12km/h e de 14km a 25km/h) mas é mais do que suficiente para as movimentações dentro da cidade, principalmente se o utilizador conseguir carregar "no emprego".
Apesar de parecer um meio de locomoção lento e frágil, na cidade conseguem-se facilmente fazer viagens de forma mais rápida do que nos transportes públicos. Por exemplo, uma carga dá para fazerem 45 minutos desde Massamá e 25 minutos desde a Amadora até ao Rossio (centro de Lisboa).
As únicas falhas são:
1) Não haver locais onde recarregar
2) Não haver locais de estacionamento seguras
3) A nova moda das os autarcas que é meterem pavimento de paralelos nos cruzamentos. É um cancro, nem a pé se pode andar.
4) Não haver trotivias (têm de ser mais lisas do que as ciclovias mas podem ser mais estreitas).
Escolhendo "caminhar", o Google manda para lugares impossíveis (toca a carregar)!
São precisas mais trotivias (bermas de piso liso com 50 cm).
Uma razoável trotivia no meio do empedrado.