A Câmara do Porto anunciou vias prioritárias para bicicletes, trotinetes e peões, BTP.
Chama-se Rede 20 (ver) e pretende "criar 30 km de vias prioritárias" para os BTP.
As medidas passam por reduzir a velocidade metendo lombas nas ruas!!!!!!!!!!
Mas que câmara do Porto ninguém tem um neurónio que lhe diga que as lombas prejudicam mais as bicicletas e as trotinetas, porque não têm amortecedores, que os carros?
Não tem um neurónio que lhe diga que as ambulância e os bombeiros precisam andar a toda a velocidade para salvar vidas e combater tragédias como incêndios e que as lombas não o permitem fazer?
Não tem um neurónio que lhe diga que as pessoas com mobilidade reduzida têm de se movimentar pela rua porque os passeios são uma vergonha, interrompidos por pilares ou carros estacionados que não deixam largura para a cadeira de roda, e num empedrado altamente irregular e de pedras soltas?
Fig. 1 - Subi e desci muitas vezes esta rua central do Porto com a minha mãe de cadeira de rodas. Estão a imaginar o dano que o empedrado faz numa pessoa que anda em cadeira de rodas?
No fundo, o vereador Baganha nunca andou de trotinete (nem cadeira de rodas) pela cidade.
Eu já fiz milhares de km de trotinete, incluindo o centro do Porto, e de cadeira de rodas (a empurrar a minha mãe) e o problema das BTP não são os carros mas sim o empedrado horrível, o piso irregular da rua e dos passeios, as sarjetas, as depressões, o piso fracturado, o pilaretes e as passadeiras em empedrado cheio de buracos.
Quem anda de automóvel aguenta o empedrado na rua (e no passeio) mas, para os peões é horrível, causa uma enormidade de quedas. Basta uma pedra um bocadinho mais alta e a pessoa tropeça e cai.
Quem anda de bicicleta ou trotinete encosta-se à direita, cai numa sarjeta, menos encostado, cai num buraco de uma pedra que falta ou tropeça numa pedra mais elevada. Se se anda pelo sítio em que andam os veículos motorizados, isto é, o meio da faixa de rodagem, os automóveis não podem passar.
Os automóveis.
Estranhamente, 99,9% dos condutores dos automóveis são compreensivos, mais estranho é as mulheres (que não costumam deixar ninguém se meter à frente) e os jovens (que são cabeças no ar) serem ainda mais compreensivos do que a média. Mas há 0,1% que parece querer atropelar tudo o que não anda de automóvel.
Até já cheguei a vias de facto com um condutor que me ia atropelando numa passadeira, saiu do carro pensando que me ia acertar forte e feio. Eu baixei a cabeça e o homem pensou que seria fácil fazer-me uma guilhotina. Tentou mas a minha ideia era outra, era aplicar-lhe um morote gari (que popularmente é conhecida por "técnica do engraxador"). O cóccix deve ter-lhe ficado a doer uns dias porque a queda não foi meiga naquele empedrado grosso de que os presidentes das câmaras gostam tanto (depois da doença da rotunda, veio a doença do empedrado).
Fig. 2 - Actualmente o morote gari não se usada na competição de Judo porque agarra as pernas
Os 0.1% precisam de uma campanha de sensibilização.
É preciso dizer aos automobilistas que cada trotinete ou biciclete substitui um carro na estrada e no estacionamento. Que quantos mais destes veículos "aborrecidos para os automobilistas" houver, mais desanuviadas ficam as estradas e mais lugares de estacionamento ficam livres.
Uma trotinete precisa de 0.3 m2 para estacionamento (0,25mx1,2m) e não precisa de acesso directo à estrada (pode ficar num canteiro de uma zona verde). Um automóvel precisa de 15 m2 (2,5mx6m), com acesso à estrada. Onde se estaciona um automóvel, estacionam-se 50 trotinetes.
Fig. 3 - Só naquele relvado pequenino, no Hospital de Santo António, cabem 110 trotinetes. O problema é a estrada empedrada!!!!!!!
O que deve ser feito para tornar a cidade amiga das trotinetes e bicicletas?
Primeiro, o responsável pelo desenho das políticas "amigas dos meios suaves de locomoção" tem de sair do grande carro com motorista e lugar de estacionamento garantido pago pelo contribuinte, pegar numa trotinete, numa cadeira de rodas e em duas muletas (só pode pousar um pé no chão) e percorrer as ruas da cidade. Fazer uns 1000 kms.
Por exemplo, percorri a Circunvalação de trotinete e é muito mais amigável do que percorrer o centro da cidade. Como na Circunvalação não há "políticas de mobilidade suave", isto traduz que quem faz essas políticas no centro da cidade SÓ ESTRAGA.
Segundo, vai rapidamente concluir que a rua tem de ter o piso liso. Até pode ser empedrada, whatever, mas tem de ter uma parte, uma faixazinha, com um mínimo de 50 cm de largura, com um piso o mais liso possível. Em termos técnicos/económicos, o melhor é o cimento pintado.
Esta faixazinha não pode ser encostada à direita não só por causa das sarjetas mas principalmente porque os automóveis passarão a usá-la o que dará cabo do piso.
Em vez de reduzir a velocidade de todos os automóveis a 20km/h, o que é impossível de implementar porque terá de haver um polícia para cada carro, mete-se a faixazinha no meio da faixa de rodagem e os automóveis que aguentem atrás das trotinetes e bicicletes.
É impossível buzinar para insultar os outros. Nos últimos 100 anos, quantos automobilistas já buzinaram para insultar outros? Milhões. E quantos desses foram multados? Nenhum.
Terceiro, é preciso identificar os "pontos especiais".
Os pontos especiais são locais onde, potencialmente e no futuro, terá origem e destino um grande número de pessoas com trotinete.
Como origem temos as estações de comboio de Geral Torre, São Bento, Campanhã e Contumil e os terminais rodoviários de passageiros.
Como destino temos os hospitais, as faculdades e as zonas comerciais e de serviços.
A ligação entre as "origens" e os "destinos" tem de ser de qualidade, com piso liso.
Essas políticas restritivas enterram dinheiro e não resolvem nada, só pioram.
As bicicletas a pedal e as trotinetes sem motor têm, dentro das localidades, 50km/h como velocidade máxima. Claro que podem dizer que isso apenas acontece a descer mas é este o limite.
Porque razão estão agora a falar nos 20km/h para as trotinetes e bicicletas elétricas?
Não é preciso meter limites especiais a estes veículos "suaves". Em termos médios, com bom piso, consigo fazer na cidade do Porto 16km/h que é um bocadinho acima da velocidade média dos autocarros!!!!!!!! Sim, em média, na cidade do Porto os autocarros andam a menos de 15km/h.
Mas no centro, com aquele paralelo irregular, tenho de ir pelo passeio e não consigo nem 5km/h.
Pedi que ligassem a travessia para peões da Ponte da Arrábida ao Shopping.
Era uma coisa simples, só fazer um pequeno caminho de terra batida a ligar à Rua Manuel Moreira Barros, mas nada foi feito.
E agora anunciam obras milionárias!!!!
Demagogia barata.
O TGV é o maior erro económico a que estamos a assistir.
É outro exemplo de enterrar dinheiro sem tino.
Dizem que o TGV serve para ligar Lisboa ao Porto a uma velocidade média de 230km/h. O TGV vai reduzir o actual tempo de viagem das actuais 2:50 para 1:15.
O comboio que liga, pela Linha do Norte, a minha terriola ao Porto, percorre 38km a uma velocidade entre 40km/h e 50km/h.
O TGV vai transportar meia dúzia de pessoas enquanto que os comboios suburbanos transportam milhões de pessoas.
Tenho aqui um neurónio que me diz que, se os comboios suburbanos aumentassem a velocidade de 40km/h para 80km/h, o que não obriga a fazer linhas novas nem a comprar comboios novos todos kitados, é apenas um problema de gestão, em termos globais, o tempo gasto em viagens pelos portugueses diminuiria muito mais, sem custos, do que enterrando milhares de milhões num TGV que ninguém vai usar e que será um fardo todos os anos que vai ser preciso pagar.
Os líderes que resolveram os grandes problemas da humanidade não ficaram na História.
Pergunto-me porque os políticos preferem obras espalhafatosas que não resolvem nenhum problema do que coisas discretas que resolvem os problemas. É que a história não regista as obras discretas.
Se perguntarmos ao 100 pessoas "Quem foi o conquistador que trouxe mais riqueza das Américas, aquelas riquezas que, sem elas, a humanidade viveria muito pior do que vive"?
Nenhuma vai acertar. Falarão de quem trouxe Ouro e mais nada.
A maior riqueza foi o Milho, a Batata, o Feijão, a Batata Doce, a Mandioca e o Tabaco (apesar de fazer mal à saúde). Também veio o melão, a cabaça, o pepino, o pimento, o piripiri, o cacau, a árvore da borracha, ...
Produzem-se 1200 milhões de toneladas de milho por ano o que dá 150 kg/ano por cada pessoa que existe à face da Terra. São 1600 kcal/dia por cada pessoa da Terra.
Produzem-se 340 milhões de toneladas de batata e outro tanto de mandioca, 42 kg/ano por cada pessoa na Terra.
Produzem-se 40 milhões de toneladas de feijão (vagem e grau).
Quem foi o herói que trouxe essas planta das Américas?
Fala-se dos heróis que mataram muitas pessoas, que fizeram obras sem qualquer utilidade e, a grande maioria das pessoas, nem vê que o que permite a humanidade ser o que é, quem de facto resolveu os grandes problemas, são as plantas, as "pequenas soluções".
Nada existe nos livros de história sobre quem identificou e trouxe o milho ou a batata da América.
E nada se diz sobre os índios que domesticaram essas plantas. Nos filmes, os índios não têm qualquer actividade produtiva, apenas andam a matar "brancos" inocentes com requintes de crueldade.
Fala-se da "exploração dos africanos" mas ninguém fala da "exploração dos índios".
É por isso que se anunciam grandes feitos que não vão resolver nenhum problema.
Fig. 4 - Se tivessem um neurónio, bastava um, saberiam que não é com empedrado que se facilita a vida às trotinetes, bicicletas e peões.