A criação e funcionamento do sistema monetário.
Esta página organiza um conjunto de postes que explicam como funciona uma zona monetária.
É imprescindível para se compreender toda a discussão em torno do BCE e a sua capacidade de resolver a Crise das Dívidas Soberanas Europeias.
Os postes não são de compreensão directa obrigando o leitor a fazer um esforço de racionalização dos movimentos contabilisticos que materializam o sistema monetário.
Como uma pessoas não pode produzir todos os bens e serviços, B&S, que precisa consumir, há necessidade de haver trocas comerciais. O dinheiro existe porque facilita essas trocas por ser uma referência do preço relativo dos B&S e "armazenar" o preço dos B&S vendidos até nos apetecer fazer uma compra. Os preços absolutos dos bens e serviços é proporcional ao valor do dinheiro em circulação. Se houver mais dinheiro em circulação, os bens e serviços ficam relativamente mais raros pelo que o nível geral de preços aumenta. É a inflação.
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O dinheiro é qualquer sistema de intermediação que proporcione uma referência do preço relativo dos B&S e que permita "armazenar" o preço dos B&S vendidos até realizarmos uma compra não havendo necessidade que existam fisicamente notas e moedas.
Ficcionando um logarejo no meio de África, um cantineiro cria o sistema monetário num caderno. Para uma pessoa abrir uma conta tem que fazer um depósito (de arroz, milho, massa, batatas, sal, etc.) ou fazer uma transferência de outra conta.
O cantineiro, que funciona como Banco Central, mantém um stock de bens com exactamente o mesmo valor que o saldo consolidado das contas do caderno. Inicialmente todas as contas têm valor positivo mas, posteriormente, o cantineiro concede crédito (há contas com saldo negativo).
Este sistema ainda era utilizado na minha aldeia na década de 1960.
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Apesar de ser compreensivel um sistema monetário com um stock físico de B&S que são a contra-parte dos saldos das contas, a "existencia" de bens no sentido de Arrow -Debreu, i.e., bens e serviços futuros, permite a existência de um sistema monetário em que o saldo das contas é zero (sem stock de bens porque há tantos créditos como débitos).
Ficciono uma aldeia no meio da Papua, o Condado da Negralhada, na qual um missionário materializa o sistema monetário apenas no caderno.
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D) A criação da banca comercial, 17/12/2011.
Como Condado da Negralhada tem dimensão física, para não obrigar os individuos a deslocarem-se à Missão sempre que fazem uma transacção, o sistema monetário é descentralizado pela introdução de "bancos comerciais" (cada banco tem um caderno). O Banco Central mantém a missão de controlar o nível geral de preços (a inflação) a que acrescem os poderes de supervisão dos bancos comerciais e de fazer a compensação de transacções intermediadas por bancos diferentes.
O BC permite que cada banco comercial possa ter um saldo negativo mas, globalmente, o saldo consolidado de todos os cadernos se mantém zero.
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A existência de contas com saldo negativo (créditos por parte do banqueiro), é necessário prever que o credor vai trabalhar e entregar valores no futuro para pagar os créditos concedidos.
Como o credor pode não pagar (pode morrer antes de poder cumprir as suas obrigações), quem concede crédito também está a fazer um seguro (de vida) pelo qual cobra um prémio que se traduz numa taxa de juro.
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Existem diversas razões para umas pessoas quererem poupar e outras precisarem de se endividar. Como os bancos comerciais são apenas intermediários entre depositantes que não querem ter risco de perder os valores depositados e devedores que podem falir, os bancos têm que cobrar uma taxa de juro que garanta os valores depósitados. Um banco que tenha prejuizos, a prazo vai à falencia não podendo devolver o dinheiro dos depositantes.
Para diminuir o risco de falência dos bancos a praticamente zero, o Banco central obriga os accionistas a depositarem 10% do total de crédito concedido, sendo o lucro principalemte a remuneração deste capital próprio (ponderado pelo risco).
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Um banco comercial apenas intermedeia créditos garantindo os depósitos (passivo) com os créditos concedidos (activos). Se as expectativas quanto à capacidade dos credores pagarem as suas dívidas forem erradas (o juro cobrado for pequeno), quando se começam a concretizar os calotes, o banco tem que ajustar as suas expectativa acontecendo uma repentina "desvalorização dos activos".
Ao longo do ciclo económico, a principal causa de todas as crises, inclusivé a do Subprime e das Dividas Soberanas Europeias, parte de um erro de análise do risco de crédito com uma consequente perda rápida de activos quando acontece o ajustamento das expectativas à realidade adversa.
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Observada a desvalorização dos activos da banca e não havendo possibilidade por parte dos accionistas de reporem o capital perdido, a estabilidade do sistema monetário obriga a que os Estado garantam o sistema.
Estas garantias não são entradas de activos (que se traduziriam em alguma parte da economia no consumo de bens e serviços) mas apenas garantias. Já o pagamento da dívida pública obrigaria a mobilizar bens e serviços o que apenas seria possível com um aumento astronómico dos impostos (para diminuirmos o nosso consumo em favor das pessoas que receberiam o dinheiro do Estado).
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Haver nossas impressas em nada altera o sistema monetário. Para isso ficar claro, as notas vão ser 7 estátuas colocadas na praça central do Condado e que se tornam dinheiro pela contabilização como tal no caderno do Banco Central.