Muito se tem falado do problema dos táxis.
Uns dizem que a concorrência não faz mal a ninguém, outros dizem que vai acabar com os táxis.
Uns dizem que vão acabar mais pela obsolescência tecnológica do que pela concorrência.
Neste poste vou explicar o mercado dos táxis à luz da Economia Industrial e quantificar o impacto da concorrência no negócio.
O mercado dos táxis.
Trata-se de transporte de passageiros por chamada.
Primeiro, é preciso "criar" o mercado que eu vou considerar como:
1) A cidade é quadrada com 6 km de lado.
2) Existem horas de ponta e horas de vazio (ver, Fig. 1).
3) As viagens começam num ponto e acabam noutro ponto escolhidos de forma aleatória com igual probabilidade dentro da "cidade".
4) O número de veículos garante que o tempo de espera médio na hora de ponta é entre 4 e 5 minutos.
5) Os veículos pertencem a empresas de táxis em que cada empresa cobra o mesmo preço por km em todos os seus veículos.
Fig. 1 - Evolução simulada da intensidade de tráfego ao longo do dia
Agora, o problema dos taxistas.
O rendimento dos taxistas depende de duas "restrições" impostas administrativamente:
A) O número de veículos é fixo (o contingente), não havendo possibilidade de novas entradas;
B) O preço por km é fixo para todos os veículos, não havendo possibilidade de fazer descontos.
O mecanismo económico de funcionamento destas duas restrições é diferente mas a relaxação de qualquer uma delas leva à diminuição do rendimento dos taxistas.
Se se mantiver B) e acabar A)
Vão entrar veículos no mercado o que leva a que cada vez haja menos e menos serviço para cada um. Esta quebra na procura individual leva à diminuição do rendimento até que só existem no mercado os taxistas dispostos a ganhar menos.
Como a ocupação dos táxis será muito baixa, havendo pessoas que não se importam do trabalho de esperar, prevejo eu que o rendimento do taxista cairá muito abaixo do SMN por hora.
O aumento do número de veículos é ligeiramente positivo para o consumidor (o tempo de espera e a distância do táxi chamado diminuem).
Se se mantiver A) e acabar B)
Como actualmente a taxa de ocupação dos táxis é baixa (segundo o meu amigo do judo taxista, está muito abaixo dos 50%), mesmo mantendo o actual número de veículos, a concorrência vai fazer o preço cair muito significativamente.
Sob a condição de o preço actualmente corresponder à solução de monopólio, para 10 operadores no mercado, o preço por km do transporte de passageiros vai diminuir mais de 50% e o rendimento dos motoristas ligeiramente mais do que proporcionalmente (por causa dos custos fixos).
Os consumidores melhoram substancialmente com esta situação porque as que actualmente viajam beneficiam da redução do preço e haverá mais pessoas a viajar de táxi.
Fig. 2 - Evolução do preço e do lucro dos taxistas com o fim do preço administrativo.
Agora, venha o diabo e escolha.
Supondo que a Geringonça tem que acomodar a reivindicação dos taxistas de manter A) com alguma flexibilidade e deixam relaxar B), para o consumidor fica garantido que irão ter preços mais baixos e melhores serviços.
Uma solução que estou a imaginar é uma liberalização progressiva, por exemplo, em 10 anos, em que de ano para ano o mercado fica mais liberalizado.
Contingente.
Há uma proporção entre licenças para veículos descaracterizados e táxis. Por exemplo, essa proporção seria inicialmente de 10%, aumentando a cada ano. No primeiro ano, haveria um máximo de 1500 mil licenças para veículos descaracterizados.
Estas licenças seriam como "slots" de um aeroporto.
Funcionamento do mercado das licenças.
No instante em que o veículo descaracterizado está a negociar um serviço, acede ao servidor de slots e reserva uma "slot" cujo aluguer tem um preço de 5% do preço do serviço, valor que faz parte do preço a pagar pelo cliente.
A reserva tem o preço de 0,01€ e mantém-se válida durante 60 segundos (o tempo de negociação).
Por uma questão de eficiência, se não houver "slots de classe 1" disponíveis, o veículo terá que alugar uma "slot de classe 2" (outros 10% de contingente) que tem um preço de 10% do preço base do serviço.
Pode ainda haver a "slot de classe 3" outros 10% de contingente) com um preço de 20% do preço base do serviço.
O valor recolhido pelo negócio das "slots" será usado em apoio ao rendimento dos taxistas e das suas reformas.
Uma coisa para pensar!
Em termos de eficiência económica, é sempre melhor cobrar um preço do que proibir a existência do serviço.
Seria melhor cobrar um preço elevado pelos jantares no Panteão Nacional, dinheiro a usar pelos museus, do que proibir.
Seria melhor cobrar "taxas moderadoras" do que deixar os pacientes horas e horas à espera em corredores.
Este facto é importante e justifica a Venezuela estar de pantanas.
Cuidado com os esquerdistas que, apesar de apregoarem a liberdade, apenas querem proibir o funcionamento livre da economia.