quinta-feira, 19 de dezembro de 2024

Os sábios catedráticos de economia não gostam que haja opiniões diferentes

O Governador do Banco de Portugal disse umas coisas.

Alegadamente, em Portugal existe liberdade de expressão. Digo que é alegadamente porque, quando alguém diz algo que não agrada, logo lhe caiem os cães em cima.

As pessoas diminutas (e que se intitulam como sábios) pensam que a liberdade de expressão é os outros poderem dizer o que elas querem ouvir mas estão enganadas. A liberdade de expressão é podermos dizer o que entendemos mas com a obrigação de ouvir o que os outros lhes apetece dizer mesmo que contrário ao que pensamos.

Se houvesse liberdade de expressão, o governador do Banco de Portugal teria a liberdade de dizer o que lhe vai no pensamento mesmo que contrário ao que pensam outras pessoas nomeadamente o sábio catedrático em economia, passo a singular porque neste momento só sobra um.


Vamos ver o que disse o Governador do Banco de Portugal.

Posso resumir tudo ao adágio popular "Cautela e caldos de galinha nunca fizeram mal a ninguém".

Portugal não tem no orçamento de estado para 2025 qualquer verba de ajuda à Ucrânia, zero euros. Como não faz qualquer sentido serem os USA a financiar a Ucrânia, vai ser preciso Portugal meter alguns milhares de milhões de euros de parte para substituir o financiamento americano.

Claro que estou a ouvir o Montenegro afirmar que "é preciso manter o direito internacional e a integridade do território ucraniano" mas omite que a Rússia não vai aceitar isso só por bonitas palavras, que vai ser preciso muito dinheiro para forçar o Putin a respeitar a Europa. A palavra é mesmo "forçar".

Em particular, o governador disse que descer o IRC (e o IRS dos mais jovens) é um erro porque é preciso compensar a diminuição da receita fiscal com outros impostos.


Ai veio o sábio catedrático dar-se às dores.

Afirma o sábio que não é preciso compensar a descida das taxas de impostos porque a receita em impostos vai aumentar. Fundamenta esta atordoada com "é bem provável que estejamos na parte descendente da curva de Laffer no IRC".

Então um sábio não fazia um estudo, recolhia uns números, fazia umas contas para fundamentar a sua afirmação bombástica de que descer impostos aumenta impostos? 

Não, usa um achismo.

 

E depois vem com uns números totalmente errados.

Reparem bem, o crescimento do PIB é uma velocidade e, portanto, medido em percentagem por ano. Diz o governador, e estudou o assunto, que diminuir o IRC em 1 PONTO PERCENTUAL, aumenta a taxa de crescimento em 0.1%/ano.

Quer isto dizer que, se hoje a taxa de crescimento é de 2.0%/ano, passa a ser 2.1%/ano daqui para a frente. Daqui a 10 anos, a economia estará 1,0% acima do que estaria sem redução do IRC.

Não é que o crescimento está maior em 1.0%/ano (passar de 2%/ano para 3%/ano), é o PIB que está maior em 1.0%.


Por comparação, vejamos um carro.

Um carro estar a 100km de Lisboa é totalmente diferente de andar a 100km/h.

Já imaginaram serem mandados parar por um polícia e ouvirem "Vou multá-lo por excesso de velocidade porque está a 100km de Lisboa e nesta estrada só se pode circular a 50km/h"?

De igual forma, aumentar a distância em 1 km é muito diferente de aumentar a velocidade em 1 km/h.


O sábio transcreve então um estudo da  da Fundação Francisco Manuel dos Santos (FFMS) 

"O Impacto do IRC na Economia Portuguesa"

"(...) uma redução de 7,5 p.p. da taxa [do IRC induz] um aumento do PIB em cerca de 1,44% no curto prazo (dois anos após a reforma), e 1,4% no longo prazo (após dez anos)". 

Primeiro, olhemos para as unidades. O aumento é de 1.4% ao longo de 10 anos (e não +1.4%/ano no crescimento) o que quer dizer que a taxa de crescimento do PIB aumentaria 0.14%/ano, passaria de 2,0%/ano para 2,14%/ano.

Segundo, olhemos para a magnitude, "redução de 7.5 pontos percentuais [no IRC]" quando a redução na taxa de IRC prevista no OE2025 é de 1.0 ponto percentual.

Pelo próprio estudo apresentado pelo Sábio catedrático em economia, a redução em 1 ponto percentual no IRC vai causar um aumento no crescimento no PIB, ao longo de 10 anos, de +0.02%/ano.

        Aumento na taxa de crescimento do PIB = 0.14/7.5 = +0.02%/ano

Reparemos que o resultado do estudo apresentado pelo sábio catedrático em economia é muito menor que o valor apresentado pelo governador do Banco de Portugal.

O governador diz que o impacto é de +0,1%/ano enquanto que o estudo diz +0.02%/ano.


O compadre Venâncio diz:

- Se o compadre der mais comida ao seu burro ele vai andar 3km/h mais rápido.

E o compadre Inácio responde "O compadre Venâncio não sabe o que diz, vai aumentar muito mais, tenho um estudo que garante que vai aumentar 1km/h."

Pergunta o compadre Venâncio "Mas 1km/h não é menos que 3km/h?"

E o compadre Inácio responde "Eu é que sou o sábio catedrático, o compadre Venâncio não sabe nada."


Acham que mais alguma vez vou voltar a trabalhar na UP? É que por lá só vingam os lambe cascos.


terça-feira, 17 de dezembro de 2024

Porque o Guterres, a Irlanda, a Espanha, a Noruega, a África do Sul, o Brasil, ... fecharam os olhos aos crimes do al-Assad?

Acho muito bem que defendamos as vítimas de violência mas todas.

Vamos supor que, num exame, nos colocavam a seguinte questão:

Seleccione os governos dos 2 países que nos últimos 100 anos mataram mais islâmicos.

     A) Israel      B) Irão     C) Síria    D) Rússia   E) Rússia

A resposta correta é Irão (na guerra contra o Iraque) e a Síria (nos massacres do al-Assad).

Israel está a uma distância muito grande e ainda muito abaixo da Rússia (na Chéchénia) ou do Iraque.


Porque razão a Irlanda, a Espanha, a Noruega, a África do Sul, o Brasil não reconhecem o direito à autodeterminação dos Curdos?

Curdos há só no Curdistão e árabes há em muitos países. 

Aos longos dos séculos, os Curdos têm sido vítimas de massacres pelos árabes, turcos e persas.

É neste momento, o maior povo nas vizinhanças da Europa que não tem país.

Não seria de a Irlanda, Espanha, Noruega, África do Sul, Brasil aceitarem uma embaixada do Curdistão?

Asia Ramazan Antar morreu aos 19 anos a combater pelo estado curdo e o Guterres nada disse


sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Com a ajuda de Israel, a Síria vai ser uma democracia próspera

É um pouco provocador começar por afirmar que Israel está a ajudar a Síria.

Como todos sabem, nos últimos meses, Israel tem bombardeado a Síria, destruindo equipamento militar que custou muitos milhões de euros. Em particular, nos dias a seguir à queda do al-Assad, Israel tem bombardeado dia e noite os equipamentos militares.

Afundou barcos, destruiu radares e aviões militares, aniquilou tanques, veículos de transporte militar e laboratórios, rebentou com paióis militares e quartéis. 

E também invadiu um bocado de território sírio, encostado aos Montes Golan.


O interessante é que o novo poder sírio nada disse.

Na última semana tenho estado a ouvir o canal Alzira (a palavra árabe al-jazeera quer dizer península e foi aportuguesada para Alzira) e aparece muita gente preocupada com os ataques de Israel na Síria. Até a ONU já se meteu ao barulho. 

Mas quem interessa, apesar dos pais serem originários dos Montes Golan que actualmente fazem parte de  Israel, o emir Ahmed al-Sharaa (tirou al-Julani do nome que quer dizer "dos Montes Golan") não fez uma única referência a Israel, aos palestinianos nem a Gaza.

A única coisa que disse foi exactamente o contrário, que os inimigos são as milícias do Irão e do Hezbollah que, por mero acaso, são os inimigos de estimação de Israel (ver o vídeo).

O emir Ahmed al-Sharaa afirmou que não haverá mais guerras patrocinadas pela Síria

Mas porque os bombardeamentos ajudam o poder em Damasco?

Estou a pensar no que aconteceu na Líbia.

Quando um governo tirânico cai, é mais pela resistência do povo do que pela acção militar de um grupo particular que apenas funciona como espoleta. Como os soldados fazem parte do povo, a sua vontade é voltar a casa pelo que, quando a repulsa popular é elevada, à menor  dúvida quanto à capacidade de o tirano os castigar, fogem dos quartéis, deixando tudo para trás.

Mas com os quartéis vazios de militares e cheios de armas, decorridos alguns dias aparecem grupos que se apropriam das armas e desviam o curso da revolução.

Foi isso que aconteceu na Líbia e que quase aconteceu em Portugal. Sim, já ninguém fala do desaparecimento, em 1975, das metralhadores que foi patrocinado pelo Partido Comunista Português numa tentativa de tomar o poder pela força. Além se lembra da frase do Cunhal "[As metralhadoras] estão em boas mãos"? 


O emir Ahmed al-Sharaa parece-me boa pessoa.

Não vemos pessoas armadas a bater nas mulheres como vemos no Irão, não vemos discursos inflamados contra os "inimigos do Islão", vemos o povo na rua a pedir "A paz, o pão, habitação, saúde, educação" que os portugueses pediram em 1974 pela boca do Sérgio Godinho.


O Al-Assad morreu.

É por demais evidente que o al-Assad não está na Rússia. Se lá estivesse, qual a razão para ainda não ter aparecido?

O que eu penso que aconteceu.

O Al-Assad e generais próximos andaram na escola do Marchal Agostinho pelo que tinham a certeza que nunca os rebeldes conseguiriam tomar Damasco. Se Israel, ao fim de mais de um ano de bombardeamentos, se vê aflito para avançar em Gaza, como poderiam umas dúzias de furgonetas toyota fazer cair o maior exército do médio oriente, com mísseis, aviões de combate, carros blindados e até ogivas químicas?

O poder caiu nas primeiras horas da madrugada do dia 8 de Dezembro e o último avião partiu de Damasco, um Ilyushin Il-76, às 4:55 locais.

O al-Assad só se convenceu à última da hora que Damasco caiu pelo que se meteu à pressa, som os generais que andavam por ali e os familiares, num avião que partiu rumo a Moscovo.

O problema é que os americanos (ou os israelitas, nesta parte, não sei mas desconfio mais dos americanos) sabiam que o avião que rumava a norte levava a elite do governo e  decidiram abatê-lo.

O avião desapareceu dos radares à 5:32 locais, nos arredores de Homs.


E onde estão os destroços?

Destroços é o que não falta na Síria.

Daqui a uns anos, no meio do deserto, alguém vai descobrir os destroços do avião que levava o al-Assad.

Tenho pena da bonita mulher do al-Assad que pereceu toda queimadinha.

v



segunda-feira, 9 de dezembro de 2024

O al-Assad caiu porque destruiu a Síria ao tentar destruir Israel

Como os Israelitas são humanos, têm defeitos.

Os antigos começaram por escrever que tínhamos sido criados à imagem e semelhança de Deus para logo dizerem que ganhamos defeitos porque desobedecemos a Deus.

Isto não faz sentido nenhum porque, se fomos mesmo criados à imagem e semelhança de Deus e se Deus não obedece a ninguém, não tínhamos de obedecer a quem que fosse, nem mesmo ao Criador.

Os humanos são criados já com defeitos,  a criancinha quando nasce vem com todos que existem nos animais selvagens, o ódio, a vingança, o desprezo pelo outro, a ganancia, tudo o que é mau e, cabe aos adultos encaminhar a criança para a civilização.

Devemos ouvir os mais jovens mas sempre com a consciência de que ainda não estão totalmente civilizados, são terroristas em pele de pacifistas.


E isto para falar dos israelitas.

Imagine que os meus avós eram do Algarve mas foram viver para Lisboa há 500 ou 1000 anos porque chegaram pessoas da Beira-Alta. 

Trabalhei muito e tenho muito dinheiro enquanto que a vida dos que estão pobrezinhos.

Um  dia eu estou em Lisboa, dá-me na cabeça e arranco para o Algarve num carro do tamanho de um camião. Chegado ao Algarve, vou querer estacionar mesmo em frente ao mar. O problema é que já lá estão estacionados carros, tipo sucata, dos descendentes desses da Beira-Alta. 

O meu argumento é "Os avós destes são da Beira-Alta enquanto que os meus são daqui. Logo, eu tenho direito a este lugar". 

Reboco o carro deles, mete-o noutro sítio e estaciono lá o meu carro.

Mas isto vai dar uma guerra.


Como se pode resolve o problema?

Há duas maneiras de resolver o problema, à porrada ou a bem.

Se for à porrada, o fulano parte os vidros do meu carro, eu pego fogo ao carro dele, ele vem contra mim  com um pau, eu vou com dois, ele chama vizinhos, eu contrato seguranças de Lisboa, numa guerra em que nenhum ganha, é só destruição.

Se for a bem, eu compro-lhe o lugar de estacionamento, só temos de negociar o preço.


Os israelitas acham que aquele território lhes pertence.

É deles porque há 2000 anos era dos avós deles e, depois foram expulsos e agora querem aquilo tudo de volta.

Os que lá estavam argumentam que não têm culpa nenhuma do que fizeram os avós há 2000 anos e é muito tempo, esse direito já caducou.

E nenhum quer resolver a coisa a bem, é porrada, bombardeamentos, massacres, ora têm uns razão, ora têm os outros mas quem sofre é quem apanha com a bomba em cima da cabeça.


Nessa guerra, quem tem perdido mais é a Síria e o Irão.

Se olharmos para o nível de desenvolvimento (medido pelo PIB per capita) da Síria, Irão e Israel, em 1960 o Irão estava com 33% e a Síria com 6% do nível israelita.

Já nessa altura, já lá vão 64 anos, eram países muito mais pobres do que Israel que ainda era um país em formação (ainda só tinha 12 anos de existência). Acontece que, ao longo dos anos, mesmo tendo petróleo com fartura, afundaram as suas economias. Hoje o Irão está com 13% e a Síria está abaixo de 2% do nível de desenvolvimento de Israel.

Pior ainda é que não são directamente prejudicados já que não fazem parte do território reclamado por Israel.


O que deveriam fazer? Negociar uma compensação.

Em 1945 a Alemanha era muito maior, a Prússia Oriental era um ex-clave onde habitavam alemães há milhares de anos e esse território foi ocupado pela União Soviética e todo o alemão que lá vivia teve de ir para outro lugar ou sujeitar-se a morrer na Sibéria.

Alguém ouve os alemães a queixarem-se disso?

Não, aguentaram e seguiram a sua vida.

É como uma pessoa que tem cancro e que precisa de cortar uma perna, o importante é continuar vivo.

Lá deveria ser igual.

Em vez de gastarem dinheiro em armamento e sofrerem destruição, negociavam um preço, por exemplo, os Israelitas pagavam 10€/m2.

Poupavam o dinheiro das armas, não apanhavam com bombas na cabeça e, pegavam nesse dinheirinho, e seguiam com a vida noutro sítio.

Ficavam todos felizes.


Não foi isso que fez o ad-Assad?

A ver se ficou lá a apanhar com as bombas na cabeça. Pegou nas malas cheias de dinheiro e foi para Moscovo onde vai levar uma vida de luxo.

Fig.1 - O al-Assad não quis ter o mesmo destino dos que ele incentivou a ficar.


Fig. 2 - Evolução do PIB per capita do Irão e da Síria em relação a Israel (dados, WB)














Se Deus não obedece a ninguém, 


sexta-feira, 6 de dezembro de 2024

O Marechal Agostinho tem a certeza que não mas o Bashar al-Assad vai mesmo cair.

Em Outubro de 2024 o Irão mandou uns misseis contra Israel.

Imediatamente, o Ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, avisou que a retaliação de Israel seria letal e que os iranianos nem iriam compreender o que aconteceu nem como aconteceu.

Discuti isso com o meu amigo Paulo e surgiu-me a ideia de que Israel ia liquidar o Bashar al-Assad.

O que vejo agora é que a ideia não era acabar com o Bashar al-Assad mas terminar em definitivo a Síria como aliado do Irão.


Mas, diz o Marechal Agostinho que Israel não está envolvido.

Pois ai está, o mensageiro do eixo do mal Irão-Rússia não compreende o que está acontecer nem como os israelitas o estão a fazer.

Os aviões sírios não levantam voo!!!!

Os mísseis sírios não saem das baterias!!!!

Os alegados 150 mil mísseis do Hezbollah continuam no chão!!!!

A chuva de fogo do Irão continua apagada!!!!

Os russos fizeram dois ou três bombardeamentos aéreos e desapareceram!!!!

Não há comunicações entre Damasco e o resto do país!!!!

As armas sírias não funcionam!!!!

O interessante é ninguém conseguir parar umas dúzias de Toyotas a circular ao longo de uma auto-estrada. 

Aumentam as portagens e o assunto está resolvido.

Então Agostinho, onde estão esses exércitos maravilhosos, com centenas de milhar de homens e armas hipersónicas que nem os americanos conseguem parar?

Se alguma vez existiram fora da imaginação dos esquerdistas, foram enviados pelo Bibi para junto do Nasrallah.

Com os brilhantes planos do Marechal Agostinho, vamos dar cabo de Israel.
Agostinho, mostra os planos à doutora, vamos inundar Israel com baba, ranho e catota.


segunda-feira, 2 de dezembro de 2024

Porque é tão difícil acabar com o Dólar Americano como referência monetária international?

É uma questão muito difícil mas vou tentar o meu melhor, passo a passo.

É muito difícil responder a esta questão porque as pessoas confundem as variáveis nominais (os euros, dólares, meticais, reais, rublos, etc.) com as variáveis reais (batatas, arroz, ovos, horas de trabalho, etc.) porque nas economias modernas as variáveis reais estão denominadas em unidades monetárias.

Por exemplo, quando perguntam "Quanto ganhas por mês?" a pessoa diz "Ganho 987.65€/mês" quando deveria dizer "Ganho bens e serviços cuja soma dos preços é 987.65€/mês".  Ao pensar sempre em unidades monetárias, passamos a pensar o salário como um punhado de notas quando é uma quantidade de bens e serviços.


1 = O nível geral de preços e a sua estabilidade.

Vou esquecer a poupança e assumir que a pessoa esgota o salário de 987.65€/mês na compra bens e serviços, 10 kg de arroz, 2 kg de massa, 8.32 kg de frango, 8 aulas de judo, um bilhete de autocarro, uma entrada num museu, etc.  

Se pegar nos 987.65€ e dividir pela quantidade de bens (10+2+8.32+8+1+1+... = 523.25un.) vou obter o preço médio dos bens que a pessoa comprou.

      Preço médio = 987.65€ / 523.25un. = 1.888€/un.

Comprando mês após mês o mesmo cabaz de bens e serviços, o preço médio pode aumentar, manter-se ou diminuir.

INFLAÇÃO = Se o preço médio aumentar de um mês para o outro temos 

DEFLAÇÃO = Se o preço médio diminuir de um mês para o outro temos 

ESTABILIDADE DE PREÇOS = Se o preço médio se mantiver de um mês para o outro


2 = Os contratos de longo prazo e a estabilidade de preços.

Vamos supor que a pessoa tem 20 anos e faz um contrato de trabalho de longo prazo:

O trabalhador não se pode despedir nem ser despedido e recebe 987.65€/mês até fazer 70 anos.

Como o contrato está em termos nominais e não pode ser revisto, não havendo estabilidade de preços, não há forma de saber a quantidade de bens que o trabalhador vai poder comprar com o seu salário.

Mais grave ainda é se o contrato é feito com a autoridade que controla a estabilidade dos preços. Por exemplo:

Empresto 1 milhão de rublos à Rússia que se compromete a devolver-me 200 milhões de rublos daqui a 50 anos.

Com a Rússia controla a inflação em rublos, se quiser, os 200 milhões daqui a 50 anos não vão valer quase nada (o banco central russo vai fazer os preços em rublos aumentar muito).


3 = Contratos noutra moeda.

Vamos supor que vou comprar  30 mil toneladas de soja a uma empresa brasileira para entrega em 2030 no porto de Paranaguá.

Posso fazer o contrato em reais brasileiros:

30 mil toneladas de soja no porto de Paranaguá, dia 15/06/2030, a 2425 reais/tonelada.

Em alternativa posso fazer o contrato em dólares americanos:

30 mil toneladas de soja no porto de Paranaguá, dia 15/06/2030, a 400 usd/tonelada.

Qual será o contrato que tem mais risco?

Se o contrato fosse de curto prazo, isto é, a compra, o pagamento e a carga eram feitos hoje, não havia qualquer diferença em fazer o contrato em reais ou em dólares porque 2425 reais têm exactamente o mesmo poder de compra que 400 usd. O problema está nos contratos de longo prazo e, para isso, é preciso ver, nas séries históricas, a capacidade dos governos dos países manterem a estabilidade dos preços e a consequente estabilidade cambial.

Eu, enquanto vendedor, não faria o contrato em reais porque em 2019 bastavam 4 reais para ter um dólar e hoje são precisos mais do que 6 reais!

Fig. 1 = Quantidade de reais brasileiros necessários para ter um dólar americano

4 = Concorrência entre moedas pelo mercado internacional.

O povinho tem de fazer contratos na moeda local mas os agentes que operam nos mercados internacionais podem escolher a moeda dos contratos. Por exemplo, a soja de uma empresa brasileira pode ser vendida a um comprador de Hong Kong usando o metical moçambicano como moeda!

A questão está no rico cambial.

Se olharmos para a evolução histórica da taxa de inflação em dólares, tem oscilado ao longo do tempo mas com tendência abaixo de 5%/ano (ver figura seguinte). Já o metical é uma montanha russa dependente de vontades administrativa e nada garante que, de um momento para o outro, não desvalorize 90%.

Fig. 2 = Evolução da taxa de inflação americana nos últimos 90 anos

No pós-1945 foi decidido que a moeda internacional seria o dólar americano.

Mostrava estabilidade ao longo do tempo, os USA eram a economia mais forte do mundo e tinha ganho a guerra sofrendo pouca destruição. Além disso o Reino Unido, que tinha a Libra, estava muito endividado, havendo dúvida que conseguisse liderar o sistema financeiro internacional.

Foi então decidido que o FMI, uma organização internacional e não americana, teria o dólar como referência.

O FMI pertence tanto aos americanos como pertence aos portugueses.


Porque não se decidiu criar uma moeda internacional usando um cabaz de moedas?

Vamos imaginar que se criava uma moeda, o FMI, cujo valor/cotação era uma média das moedas das 10 maiores economias.

Isto foi feito na criação do Euro e, como sabemos, tem problema na governação das moedas. Como os eleitores não sabem bem como funciona a moeda (pensam que a inflação é uma coisa boa, até lhes ir ao bolso), mesmo que acreditando que os políticos percebem do assunto (não percebem), iria criar muitas tensões na governação das moedas.

O mais fácil e estável é escolher a "melhor moeda" e no pós-1945 foi decidido que essa moeda seria o dólar americano.


Há alguma vantagem para a América em o dólar ser usado como referência?

Há quem diga que sim, principalmente os esquerdistas, mas não.

É que qualquer pessoa, em qualquer parte do mundo, pode fazer um contrato denominado em dólares sem haver notas em jogo. No dia em que o contrato se cumpre, vê-se a cotação do dólar e realiza-se a transacção.

Mesmo as reservas em dólares dos bancos centrais, apesar de serem notas físicas, são emprestadas sem juros pelo FMI, não havendo qualquer lucro para o tesouro americano (havendo lucro ou prejuízo é para o FMI) 

E se um pais decidir passar a usar o dólar americano como moeda circulante, não tem de "comprar" as notas pois o FMI também as empresta sem juros (e ainda dá paga as compensações devidas à inflação).


Então, porque será que os esquerdistas do Sul querem uma nova moeda?

Porque são uma cambada de ignorantes.

Alguém acredita que o Lula sabe seja o que for de economia?


Fig. 2 = Já cheira a bacalhau, já cheira a Natal



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