Pergunta-me o Passos Coelho.
- O meu país está com elevado desemprego e o Seguro e o Cavaco dizem que o BC deve inundar tudo com notas.
- Será boa ideia eu também defender isto ou fico na fotografia com cara de burro?
A Curva de Phillips
Existe uma observação dos finais dos anos 1950, a Curva de Phillips, de que nos anos em que há maior inflação, a taxa de crescimento do PIB também é maior.
Como o desemprego diminue quando aumenta o PIB então, verifica-se nos anos 1940-1950 que, quando a inflação é maior, a taxa de desemprego é menor (e vice-versa).
Não havia uma teoria forte que justificasse esta relação mas, com o tempo, ela foi-se entranhando nas pessoas.
Nos anos 1960 começaram a aparecer políticos que prometiam usar a inflação para combater o desemprego e, como consequência, a inflação começou a ser usada como um instrumento de política.
A ideia seria aumentar a inflação nos anos de crise e diminuí-la nos anos de expansão económica.
O que aconteceu foi que a inflação foi aumentado e, de repente, explodiu.
Como se relaciona o crescimento com a inflação
Se pegarmos nas taxas de inflação e a taxa de crescimento do PIB dos países da OCDE nos anos disponíveis no Banco Mundial e estimarmos a relação entre as duas variáveis vemos que não existe nenhuma relação. O coeficiente de correlação linear é de apenas 0.034.
Estimei (WLS usando a população como ponderador) que
Cresc_PIB = 2.598 + 0.0202Tx.Inf, R2 = 0.12%
A relação é positiva mas muito pequena e não é estatisticamente significativa (P H0 = 24.5%)
Apenas 0.12% da variação do crescimento é explicada pela variação na taxa de inflação.- Será boa ideia eu também defender isto ou fico na fotografia com cara de burro?
A Curva de Phillips
Existe uma observação dos finais dos anos 1950, a Curva de Phillips, de que nos anos em que há maior inflação, a taxa de crescimento do PIB também é maior.
Como o desemprego diminue quando aumenta o PIB então, verifica-se nos anos 1940-1950 que, quando a inflação é maior, a taxa de desemprego é menor (e vice-versa).
Não havia uma teoria forte que justificasse esta relação mas, com o tempo, ela foi-se entranhando nas pessoas.
Nos anos 1960 começaram a aparecer políticos que prometiam usar a inflação para combater o desemprego e, como consequência, a inflação começou a ser usada como um instrumento de política.
A ideia seria aumentar a inflação nos anos de crise e diminuí-la nos anos de expansão económica.
O que aconteceu foi que a inflação foi aumentado e, de repente, explodiu.
Fig. 1 - Evolução da taxa de inflação na OCDE (fonte: Banco Mundial)
Dizem que o salto de 1973 foi por causa da crise do petróleo mas, a imposição pelos países produtores de petróleo de subidas nos preços, é antes uma resposta ao aumento da inflação dos anos 1960 sem a correspondente correcção dos preços do petróleo.
Se pegarmos nas taxas de inflação e a taxa de crescimento do PIB dos países da OCDE nos anos disponíveis no Banco Mundial e estimarmos a relação entre as duas variáveis vemos que não existe nenhuma relação. O coeficiente de correlação linear é de apenas 0.034.
Fig. 2 - Relação entre a taxa de inflação e de crescimento do PIB na OCDE (fonte: Banco Mundial)
Estimei (WLS usando a população como ponderador) que
Cresc_PIB = 2.598 + 0.0202Tx.Inf, R2 = 0.12%
A relação é positiva mas muito pequena e não é estatisticamente significativa (P H0 = 24.5%)
Se a relação fosse significativa (e não é), para aumentar a taxa de crescimento do PIB de 1% para 3% seria necessário aumentar a taxa de inflação de 2% para 102%/ano!
O Cavaco e o Seguro estão 30 anos desactualizados.
No principio dos anos 1980 concluiu-se que a Curva de Phillips existe mas que não é um instrumento de política.
Se o BC tiver uma política rigorosa de controlo da inflação, nos anos de crise a inflação desce significativamente o que faz com que exista, uma relação positiva entre taxa de inflação e crescimento.
O BC não consegue controlar perfeitamente a inflação quando há crises.
Fig. 4 - Relação entre as crise de 2007 e a quebra na taxa de inflação (fonte: BCE)
Fig. 5 - Curva de Phillips na Zona Euro (fonte: BCE)
No entanto, o BC não pode usar esta relação invertendo a causalidade.
Se emitir moeda nos períodos de crise, isso não tem qualquer efeito no crescimento do PIB ou no combate do desemprego e descontrola a taxa de inflação.
A Hiper-inflação alemã 1914-1923.
É repetidamente dito que a Alemanha não quer inflação porque teve um período de hiperinflação que levou o Hitler ao Poder.
Na minha opinião as razões estão mais próximas, na década de 1970, em que os alemães verificaram que a inflação apenas leva a nada mais inflação e impossibilita a emissão de dívida pública de longo prazo.
Por exemplo, o Japão que hoje tem um objectivo de inflação de 1%/ano, em 1973 tentou responder à estagnação com 23% de inflação e não de em nada.
Pedro Cosme Costa Vieira
3 comentários:
Falta uma foto sexy para a falácia do QE ficar demonstrada plenamente...
Precupa-me uma coisa: a propensão para importar altíssima na Eurolandia (exceto Alemanha), USA e UK parece ser um óbice ao crescimento desejável. Que política económica (ou outra) pode contrariar esta hipótese?
Se o Professor tiver alguma luz sobre esta questão, que terá, ficar-lhe-ia grato (eu e muita gente).
Um abraço
Fernando P. Duarte
Quando se abstrai demais cometem-se erros deste tipo. A relação entre inflação e PIB não é direita: é mediada pelo crédito. Sem crédito não há investimento - o PIB mantém-se estável. Mas demasiado crédito leva a inflação porque existem maus investimentos e a inflação é resultado deles.
Assim, não se trata de aumentar o PIB com a inflação. Trata-se de saber quanta inflação estamos dispostos a tolerar para haver crescimento!
Por outro lado, a inflação desvaloriza o dinheiro, isto é, reduz o valor real da dívida.
Isto poderia ser uma coisa injusta não fosse 11 duodécimos da dívida resultar de jogos contabilístico (alavangem financeira) e apenas um duodécimo ser efectivamente poupança de alguém.
Agora bem, e que fazemos com a hperinflação? Calma meus caros, uma inflação e 6% (o que tem sido recomendado para a Europa) não é hiperinflação e é perfeitamente controlável. É a inflação atual da China e do Brasil e as economias desses países não parecem estar a sofrer com isso.
Aliás, não é por acaso que o "medo" da inflação surgiu na década de 1980. Não só a inflação anual andava na casa dos 400% (na América Latina) como os bancos - maiores perdedores com a inflação - tornaram-se "donos do mundo".
Estimado falaferreira,
em Maio a inflação no Brasil foi5.0%/ano, os privados pagaram 8.5%/ano de taxa de juro e o Estado 12.6%/ano (o Estado tem maior risco que as pessoas).
Na China a inflação ficou nos 3.4%/ano, as pessoas pagaram 6.6%/ano de taxa de juro e o Estado 3.35%/ano.
Na Zona euro a inflação foi de 2.6%/ano e o crescimento -0.1%/ano.
No último ano a Brasil teve um crescimento de 0.8% e a China 8.1%.
(fonte, tradingeconomics).
Assim, nem me parece que a inflação na China esteja nos 6%/ano nem que uma inflação maior (o Brasil) traga vantagens.
Quem tem mais inflação, paga mais juros.
E porquê 6%/ano e não 25%/ano como na Venezuela?
pc
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