segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A vitoria derrotante

Analisar resultados eleitorais é uma arte de adivinhação.
Como a vitória é feita de muitos votos individuais, seria preciso ter informação sobre as motivações de cada uma das pessoas (em termos estatísticos) que votou e que deixou de votar para ser possível afirmar o que traduz cada uma das vitórias e das derrotas.
No entanto, existem três regularidades a retirar:
1) Um presidente que se recandidate tem a vitória certa.
2) Um partido que ganhou nas anteriores eleições tem uma elevada probabilidade de voltar a ganhar.
3) A mudança de partido resulta muito de erros (guerras internas) na escolha do candidato.

No Porto o Meneses foi derrotado.
Isso não há qualquer dúvida mas não acontece por o Meneses ser exageradamente mau mas antes por ser bastante idêntico (em termos políticos) ao novo presidente da câmara (Rui Moreira).
Apesar de o Rui Rio querer puxar para si parte da vitória, o Moreira, contrariamente ao Rio, é uma pessoa agradável, educada e com uma imagem muito mais polida, um gentleman.
Já são anos demais em que a cidade está associada à imagem de falta de polimeto (Paulo Vallada, Fernando Gomes e Rui Rio).
Penso que o Porto só tem a ganhar com uma pessoa assim polida.

O Meneses tinha uma propostas um pouco alucinadas.
Pontes, viadutos, túneis, recuperações urbanas que nunca surgiriam do papel porque ninguém empresta dinheiro à Câmara do Porto mas aquilo não era nada para fazer. 

Fig. 1 - Está na hora de o Meneses passar a "senador".

Na minha terriola o PS perdeu.
Em Ovar, depois de 20 anos de maiorias absolutas, porque o PS escolheu uma mau candidato (as tais guerras internas) abrindo as portas a uma vitória do PSD.
Eu não tive qualquer influencia nos resultados porque nem fiz campanha nem fui votar.
Não que eu seja contra a democracia mas porque tanto me dava.

A vitória mais amarga foi a de Lisboa.
O Costa teve uma grande vitória local mas uma astronómica derrota nacional.
O Álvaro Cunhal ensinou-nos que nunca uma derrota é uma derrota (dele) nem uma vitória é uma vitória (dos outros). O Costa pode declarar-se vitorioso puxando para si o muito bom resultado que o PS teve em Lisboa mas, à escala nacional, tem que entregar a vitória ao Seguro. Agora, que adaga vai o Costa puxar para retirar o Seguro do seu caminho a caminho de uma potencial vitória nas eleições legislativas de 2015?
Não surgiu uma única voz a pedir a cabeça do Seguro.
O "recuo estratégico" do Costa de há uns meses atrás (no XIX congresso do PS pensou  que 2 anos de travessia do deserto ainda seria muito desgastante) vai-se transformar rapidamente numa aposentação pois a distancia ao plotão da frente está cada vez mais irrecuperável.

Fig. 2 - O PCP ganhou e a Direita perdeu.

Mas serão as politicas dos vencedores diferentes das dos derrotados?
Não há dinheiro, não há vícios.
Olhemos para o Pires de Lima que dizia cobras e lagartos do Álvaro Santos Pereira.
O que o homem fez até agora daquilo que disse ser errado e dever ser suspenso imediatamente?
Nada.
Com os futuros governantes, sejam autarcas, ou ministros, nunca mais haverá a liberdade de gastar sem medida e mandar para endividamento.
Sabendo o mercado que Portugal se endivida se a taxa de juro estiver abaixo dos 7%/ano então, sempre que surge alguém que parece ir-se endividar, a taxa exigida salta logo para esse valor.

Fig. 3 - Eu também prometia isso se tivesse crédito ilimitado.

Pedro Cosme Costa Vieira

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

As autárquicas são já no Domingo

Está tudo calmo.
Eu nunca fui muito praticante de eleições e muito menos das autárquicas.
Nas escolas por onde andei, nunca votei. Nas autárquicas, que me lembre, votei uma ou duas vezes mas já nem me lembro quando nem em quem. Nas presidenciais não me lembro de alguma vez ter votado. Votei umas poucas vezes nas legislativas, talvez uma vez no Sócrates e, nas últimas, foi certamente no Passos por me parecer que o nosso país (e eu incluído) estava a ser conduzido para a bancarrota.
Mas a grande diferença relativamente às anteriores eleições autárquicas é que agora tudo está calmo. Tenho presente a tremideira do Guterres que o levou, na noite das eleições, a bater a porta.
Agora já sabemos que na segunda feira o Passos continuará a sua missão faltando apenas saber se o Seguro estará seguro.

Já só faltam 18 meses para as legislaturas.
As sondagens dão vantagem ao PS pelo que, havendo alguém que ambicione a ser primeiro-ministro por essas bandas, está na hora de atacar. Depois das autárquicas já vai ser período pré-eleitoral pelo que, deixando passar este dia, vai ser difícil tirar o Seguro do lugar.

No PS está tudo muito complicado.
O António Costa tem ambição mas iniciar a campanha para primeiro-ministro no mesmo dia em que é eleito presidente da câmara de Lisboa com (previsível) maioria absoluta vai parecer  mal (pelo menos um pouco). Estará o povo de Lisboa a eleger o Fernando Medina para a câmara? Bem sei que o homem estudou na minha escola, já foi eleito deputado e foi secretário de estado do velhote do olhinho fechado mas sempre foi um pau mandado do Sócrates (que, por sua vez, lia discursos que outros lhe escreviam). É um autêntico zero à esquerda.
São pessoas que, sem guião, só sabem dizer "PEC 4".
A vitória (previsível) do Costa coloca problemas ao Seguro pois não vai poder chamar para si o mérito. Vai ser como, numa corrida, um atleta dizer que a grande velocidade de uma bala que lhe vem dirigida à cabeça o vai ajudar a ganhar a corrida. 

Fig. 1 - Lisboa vai ser a bala que vai permitir ao PS ganhar velocidade para as legislativas de 2015.  O problema é que pode acertar-me na cabeça.

O Porto-Gaia está uma confusão.
Porque há muitas guerras dentro do PSD+CDS.
No Porto há um candidato apoiado pelo PSD do Menezes e um independente apoiado pelo  PSD do Rio.
Em Gaia é ao contrário. Há um candidato apoiado pelo PSD do Rio e um independente apoiado pelo PSD do Meneses.
Já se sabe que quem terá maioria será o conjunto destas duas candidaturas faltando apenas saber quem são os presidentes.
Até pode acontecer o PS ganhar a presidência em Gaia mas vai ser com poucochinos votos.
O bom é que o Passos pôs-se fora desta guerra. Ganhe quem ganhar, não interessa a ninguém.
Estas guerras dentro do PSD + CDS não são apenas locais bastando, para ter uma pequena amostra, ouvir a Ferreira Leira para se tomar a temperatura do partido.
O Rio era o António Costa do PSD mas atolou-se de tal forma nos seus medos e compromissos eleitorais autárquicos que perdeu o comboio para o Passos. Claro que ficou danado por o Menesesez ter apoiado o Passos.

E veio o novo chumbo do TC.
Já é constitucional despedir pessoas por extinção do posto de trabalho mas tem que, de entre todos os trabalhadores com capacidades idênticas, tem que ser despedido o trabalhador mais recente. O legislador pensa que os trabalhadores são todos iguais e que o mais antigo, por learning by doing, é mais produtivos. O problema é que nem sempre é assim.
Se uma empresa tem 10 trabalhadores e quer despedir o mais antigo, é obrigada a extinguir todos os postos de trabalho (despedindo os 10). Numa hora cria outra empresa que contrata todos os trabalhadores acabados de despedir menos o tal e que faz um contracto de prestação de serviços.
Isto dá algum trabalho mas vai dar tudo ao mesmo.
Cada vez mais as pessoas estão a trabalhar num sítio, uma fábrica, hotel, ou repartição pública, mas são empregados de outra empresa qualquer, de trabalho temporário ou de prestação de serviços. Como tão bem sabemos, nos nossos hospitais o staff, desde seguranças a médicos passando pelas enfermeiras e senhoras da limpeza, é tudo pessoal de empresas de prestação de serviços contratado à hora ou à peça. 
Essas empresas, tipo Conforlimpa, têm 5000€ de capital social pelo que havendo algum problema, pumba, fecham. 

A Constituição protege os postos de trabalho.
Em teoria. Para proteger mesmo os postos de trabalho, era obrigatório que o Estado pagasse os salários das empresas abrem falência. Era possível mas teria de ser como em Cuba (um salário de 5€/mês mais uns kilos de arroz e farinha).

Fig. 2 - As últimas manifestações contra o governo têm sido tranquilas.

O povo já está convencido.
Berramos, berramos, mas já estamos convencidos que o óleo de fígado de bacalhau faz bem à saúde.
A princípio custa mas ficamos com ossos rijos.
E hoje fico-me por aqui para não vos cansar muito durante o período de reflexão.

Pedro Cosme Costa Vieira

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A Siria, o Meneses e o transporte "pesado"

A Siria é um problema aparentemente muito complexo.
Porque, de um lado, temos uma ditadura sanguinária que já dura desde 1971 e, do outro lado, temos uma força de combate associada a grupos islâmicos radicais, à famosa Al-Qaeda.
Apesar de ninguém ter a menor dúvida de que já morreram mais de 100 mil pessoas vitimas de bombardeamentos aéreos e matança indiscriminada levadas a cabo pelas forças do governo e que há milhões de pessoas deslocadas e reduzidas à fome e à miséria, o povo é contra fazer-se alguma coisa.

O problema está no nosso egoísmo.
O problema não está na Síria mas está dentro de cada um de nós.
Se, por aqui, quando matam um cão ou um gato fico tocado de emoção (alegadamente),  se o Al-Assad matar 10 ou 20 milhões de pessoas, isso não é problema meu. É como as matanças dos filmes, não me afligem nada. Até pode ser bom para o ambiente matar aquele gentalha toda, arrasar aquilo tudo e transformar a actual Síria numa reserva ecológica.
A Síria não tem petróleo, fala fala mas não partem dali ataques contra ninguém (leia-se Israel), não me faz mal nenhum pelo que aquele regime é bom para mim, é uma situação estável e previsível.

Mas isso também aconteceu em 1939.
Quando na Europa começou a II Guerra Mundial, os americanos borrifaram-se. Depois de terem estado a combater aqui em 1916-18, naturalmente pensavam que nós os europeus não éramos capazes de viver em paz a menos que fosse no cemitério. Por isso, a oposição da população americana a uma intervenção militar na Europa foi massiva.
Mas, vendo que a Europa se estava a auto-destruir a ponto de a União Soviética ir a caminho de a ocupar integralmente, a muito custo e com muitas dúvidas e só depois de os submarinos alemães terem afundado não sei quantos navios americanos é que o Roosevelt decidiu avançar.
Morreram centenas de milhares de soldados americanos na Europa para resolver um problema que não lhes dizia respeito.

Os da Al-Qaeda são mais perigosos que o Al-Assad.
É, mais uma vez, o nosso egoísmo a falar.
O Al-Assad mata gajos de fraldas na cabeça.
A Al-Qaeda mata dos nossos.
Como um dos nossos vale mais que 1000 dos deles, o Al-Assad matar 100 ou 200 mil dos dele e arrasar cidades inteiras lá na terra dele é muito menos grave que a Al-Qaeda ter matado nas Torres Gémeas 3500 dos nossos ou ter atacado os comboios em Madrid.
O meu pensamento enquanto estou sentado no sofá é que os da Al-Qaeda podem transformar a Síria numa zona de refúgio e, partindo dali, atacarem-me directamente e fazerem aumentar o preço da gasolina.
Quero lá saber que ele mate criancinhas, velhinhos ou mulheres gordas. Eu quero mesmo pensar que cada criancinha gaseada hoje é menos um terrorista que aparece daqui a 10 anos.

Fig. 1 - Esta é uma pena rebentar. Manda refugiada para cá.

As politicas de influência.
Mas, mesmo sendo egoísta, resultam vantagens da intervenção militar dos USA.
Primeiro, se o Al-Assad escapar, o povo de lá perto (Arábia Saudita e Koweit) vai ver que o Rússia e a China são perigosos. Então, as alianças terão tendência a alterar-se.
Segundo, acredito que, mesmo sem intervenção americana, o regime do Al-Assad vai cair.
E nesse caso, os combatentes (alegadamente da Al-Qaeda) não têm ninguém a quem agradecer e porque ganham em termos militares por mérito próprio, não precisam dar a voz aos agentes políticos.
Com a intervenção americana, os novos senhores da Síria vão-se lembrar que foram os dos USA que os ajudaram e que os Russos e Chineses os combateram. Então, mesmo que o futuro presidente da Síria venha a ser o Bin Laden ressuscitado, vai pensar duas vezes antes de voltar a atacar o Ocidente.

Fig. 2 - O teu destino vai ser o mesmo do Kadafi: um tiro.
  
Isso já aconteceu no passado.
No Japão ou na Alemanha foi entendido que, no pós-1945, apenas os USA eram capazes de fazer frente à União Soviética. Então, depois de anos de guerra feroz, de um dia para o outro o Japão e a Alemanha tornaram-se fieis aliados dos USA.
Actualmente, os USA estão a ganhar aliados contra os novos poderes.
O Vietname (e restante Ásia) porque sente o risco chinês.
O Egipto,  Arábia Saudita e o Koweit pelo risco iraniano. 
O cão pode ser muito bravo mas, se lhe dermos abrigo e comidinha quente, lentamente vai aceitando as nossas ordens.
Com os povos passa-se o mesmo. Lentamente, ficam influenciáveis em termos políticos, culturais e económicos por quem os ajudou. Como dizem os comunas "aburguesam-se".

Fig. 3 - "On behalf of President Obama and the people of the United States, I congratulate the people of Vietnam as you celebrate your National Day on September 2" (Senator Kerry) !

Alguém se lembra.
Do chavão dos anos 1970 e 1980 de "Antes vermelho e morto?" que se ouvia um pouco por toda a Europa Ocidental?
Hoje, a influência dos USA na Europa Central é enorme porque os americanos, principalmente no tempo do Reagan, lutaram sem vacilar contra o domínio soviético.

Fig. 3 - Os franceses defendiam a acomodação ao domínio soviético

Mesmo sendo egoísta, sou a favor de darem cabo do canastro do Al-Assad.
Porque é preciso estar do lado dos que vão vencer a guerra.
Lembram-se da "Paz de Bicesse" do Durão Barroso? Está-nos agora a dar bons lucros.

Agora vem o Luís Filipe Menezes.
A Lei de limitação de mandatos é caríssima quanto à impossibilidade de haver candidaturas dos dinausauros autárquicos. Mas o Tribunal Constitucional arranjou um argumento razoavelmente válido.
1) A Constituição (par. 1 - art. 50.º) diz que o acesso a cargos públicos (candidatarem-se e serem eleitas) é um direito em condições de igualdade e liberdade.
2) Diz ainda que este direito pode ser limitado (par. 3 - art. 50.º) mas apenas com o objectivo de "garantir a liberdade de escolha dos eleitores e a isenção e independência do exercício dos respectivos cargos".

A Lei proíbe a candidatura.
Mas essa proibição viola a Constituição porque não tem por fim o objectivo do par. 2.
Como os eleitores são outros, não está em perigo a "liberdade de escolha" pelo que o legislador ultrapassou o poder (a liberdade) que a Constituição lhe dá.
Seria equivalente aquela Lei em que o Sol era obrigado a andar à volta da Terra. Como o legislador ultrapassou o poder que a Natureza lhe deu, a Lei nunca foi aplicada.

O problema do transporte "pesado".
Muitos comentadores identificaram sabiamente que o transporte das pessoas é desde a porta da sua casa até a porta do seu destino. Juntando a isto que as pessoas vivem espalhadas pelo território, um sistema de grande capacidade como o metropolitano está condenado ao fracasso porque não consegue fazer o serviço porta-a-porta.
Eu fiz uma pequena simulação com uma cidade rectangular 10km x 30 km, atravessada a meio por uma linha de metro com 25 km e estações espaçadas 2.5km (11 estações).
Imaginando destinos e origens uniformemente prováveis, as pessoas precisam-se deslocar, em média, 21.1km.
Com o metro, as pessoas continuam a precisar de se deslocar 16.4 km à  superfície (assumindo que a pessoa só entra no metro se o percurso à superfície diminuir mais do que 1 km) e mais 6.6 km no meio de transporte. Assim, mesmo com capacidade ilimitada, uma linha pesada e centralizado apenas capta 45% do viajantes e consegue reduzir as necessidades de outros meios de transporte das pessoas em cerca de 20%.

Fig. 4 - Os 23  milhões de Shangai estão espalhados num circulo com 100 km de diâmetro

Finalmente, as taxas de juro.
Dos 5.2% do tempo do Gasparzinho já está nos 7.2%/ano e a subir a uma velocidade maluca.
Isto antecipa que vem chumbo grosso por aí.
Traduz informação que está a ser digerida e que ainda não é do conhecimento público.
Será que o Passos se demitiu?
Será que a Troika nos tirou o tapete?

Vamos imaginar a amortização de um crédito de 150mil€ a 40 anos.
A 5.20%/ano a mensalidade seria de 731.26€.
A 7.20%/ano a mensalidade é de 929.18€.
A nossa divida pública é totalmente insustentável a esta taxa.
Reduzir a nossa divida pública a 60% do PIB em 50 anos, com um crescimento de 2%/ano é preciso um superávite primário de 4.75% do PIB para fazer face a uma taxa de juro de 7.2%/ano, o que é impossível.
O máximo que aguentamos é 4.0%/ano (um superávite primário de 1.5% do PIB).
Estamos novamente na bancarrota, totalmente na mão dos nossos credores.

Já não tenho esperança de receber o Subsídio de Férias
Cada vez mais penso que vai ser preciso declarar o Estado de Emergência.
E aí vai ser mesmo cortar a doer.
  
Fig. 5 - As subidas das taxas de juro ultrapassam as notícias conhecidas (O PIB estar a crescer e o desemprego a cair)

Pedro Cosme Vieira

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