A Siria é um problema aparentemente muito complexo.
Porque, de um lado, temos uma ditadura sanguinária que já dura desde 1971 e, do outro lado, temos uma força de combate associada a grupos islâmicos radicais, à famosa Al-Qaeda.
Apesar de ninguém ter a menor dúvida de que já morreram mais de 100 mil pessoas vitimas de bombardeamentos aéreos e matança indiscriminada levadas a cabo pelas forças do governo e que há milhões de pessoas deslocadas e reduzidas à fome e à miséria, o povo é contra fazer-se alguma coisa.
O problema está no nosso egoísmo.
O problema não está na Síria mas está dentro de cada um de nós.
Se, por aqui, quando matam um cão ou um gato fico tocado de emoção (alegadamente), se o Al-Assad matar 10 ou 20 milhões de pessoas, isso não é problema meu. É como as matanças dos filmes, não me afligem nada. Até pode ser bom para o ambiente matar aquele gentalha toda, arrasar aquilo tudo e transformar a actual Síria numa reserva ecológica.
A Síria não tem petróleo, fala fala mas não partem dali ataques contra ninguém (leia-se Israel), não me faz mal nenhum pelo que aquele regime é bom para mim, é uma situação estável e previsível.
Mas isso também aconteceu em 1939.
Quando na Europa começou a II Guerra Mundial, os americanos borrifaram-se. Depois de terem estado a combater aqui em 1916-18, naturalmente pensavam que nós os europeus não éramos capazes de viver em paz a menos que fosse no cemitério. Por isso, a oposição da população americana a uma intervenção militar na Europa foi massiva.
Mas, vendo que a Europa se estava a auto-destruir a ponto de a União Soviética ir a caminho de a ocupar integralmente, a muito custo e com muitas dúvidas e só depois de os submarinos alemães terem afundado não sei quantos navios americanos é que o Roosevelt decidiu avançar.
Morreram centenas de milhares de soldados americanos na Europa para resolver um problema que não lhes dizia respeito.
Os da Al-Qaeda são mais perigosos que o Al-Assad.
É, mais uma vez, o nosso egoísmo a falar.
O Al-Assad mata gajos de fraldas na cabeça.
A Al-Qaeda mata dos nossos.
Como um dos nossos vale mais que 1000 dos deles, o Al-Assad matar 100 ou 200 mil dos dele e arrasar cidades inteiras lá na terra dele é muito menos grave que a Al-Qaeda ter matado nas Torres Gémeas 3500 dos nossos ou ter atacado os comboios em Madrid.
O meu pensamento enquanto estou sentado no sofá é que os da Al-Qaeda podem transformar a Síria numa zona de refúgio e, partindo dali, atacarem-me directamente e fazerem aumentar o preço da gasolina.
Quero lá saber que ele mate criancinhas, velhinhos ou mulheres gordas. Eu quero mesmo pensar que cada criancinha gaseada hoje é menos um terrorista que aparece daqui a 10 anos.
Fig. 1 - Esta é uma pena rebentar. Manda refugiada para cá.
As politicas de influência.
Mas, mesmo sendo egoísta, resultam vantagens da intervenção militar dos USA.
Primeiro, se o Al-Assad escapar, o povo de lá perto (Arábia Saudita e Koweit) vai ver que o Rússia e a China são perigosos. Então, as alianças terão tendência a alterar-se.
Segundo, acredito que, mesmo sem intervenção americana, o regime do Al-Assad vai cair.
E nesse caso, os combatentes (alegadamente da Al-Qaeda) não têm ninguém a quem agradecer e porque ganham em termos militares por mérito próprio, não precisam dar a voz aos agentes políticos.
Com a intervenção americana, os novos senhores da Síria vão-se lembrar que foram os dos USA que os ajudaram e que os Russos e Chineses os combateram. Então, mesmo que o futuro presidente da Síria venha a ser o Bin Laden ressuscitado, vai pensar duas vezes antes de voltar a atacar o Ocidente.
Fig. 2 - O teu destino vai ser o mesmo do Kadafi: um tiro.
Isso já aconteceu no passado.
No Japão ou na Alemanha foi entendido que, no pós-1945, apenas os USA eram capazes de fazer frente à União Soviética. Então, depois de anos de guerra feroz, de um dia para o outro o Japão e a Alemanha tornaram-se fieis aliados dos USA.
Actualmente, os USA estão a ganhar aliados contra os novos poderes.
O Vietname (e restante Ásia) porque sente o risco chinês.
O Egipto, Arábia Saudita e o Koweit pelo risco iraniano.
O cão pode ser muito bravo mas, se lhe dermos abrigo e comidinha quente, lentamente vai aceitando as nossas ordens.
Com os povos passa-se o mesmo. Lentamente, ficam influenciáveis em termos políticos, culturais e económicos por quem os ajudou. Como dizem os comunas "aburguesam-se".
Fig. 3 - "On behalf of President Obama and the people of the United States, I congratulate the people of Vietnam as you celebrate your National Day on September 2" (Senator Kerry) !
Alguém se lembra.
Do chavão dos anos 1970 e 1980 de "Antes vermelho e morto?" que se ouvia um pouco por toda a Europa Ocidental?
Hoje, a influência dos USA na Europa Central é enorme porque os americanos, principalmente no tempo do Reagan, lutaram sem vacilar contra o domínio soviético.
Fig. 3 - Os franceses defendiam a acomodação ao domínio soviético
Mesmo sendo egoísta, sou a favor de darem cabo do canastro do Al-Assad.
Porque é preciso estar do lado dos que vão vencer a guerra.
Lembram-se da "Paz de Bicesse" do Durão Barroso? Está-nos agora a dar bons lucros.
Agora vem o Luís Filipe Menezes.
A Lei de limitação de mandatos é caríssima quanto à impossibilidade de haver candidaturas dos dinausauros autárquicos. Mas o Tribunal Constitucional arranjou um argumento razoavelmente válido.
1) A Constituição (par. 1 - art. 50.º) diz que o acesso a cargos públicos (candidatarem-se e serem eleitas) é um direito em condições de igualdade e liberdade.
2) Diz ainda que este direito pode ser limitado (par. 3 - art. 50.º) mas apenas com o objectivo de "garantir a liberdade de escolha dos eleitores e a isenção e independência do exercício dos respectivos cargos".
A Lei proíbe a candidatura.
Mas essa proibição viola a Constituição porque não tem por fim o objectivo do par. 2.
Como os eleitores são outros, não está em perigo a "liberdade de escolha" pelo que o legislador ultrapassou o poder (a liberdade) que a Constituição lhe dá.
Seria equivalente aquela Lei em que o Sol era obrigado a andar à volta da Terra. Como o legislador ultrapassou o poder que a Natureza lhe deu, a Lei nunca foi aplicada.
O problema do transporte "pesado".
Muitos comentadores identificaram sabiamente que o transporte das pessoas é desde a porta da sua casa até a porta do seu destino. Juntando a isto que as pessoas vivem espalhadas pelo território, um sistema de grande capacidade como o metropolitano está condenado ao fracasso porque não consegue fazer o serviço porta-a-porta.
Eu fiz uma pequena simulação com uma cidade rectangular 10km x 30 km, atravessada a meio por uma linha de metro com 25 km e estações espaçadas 2.5km (11 estações).
Imaginando destinos e origens uniformemente prováveis, as pessoas precisam-se deslocar, em média, 21.1km.
Com o metro, as pessoas continuam a precisar de se deslocar 16.4 km à superfície (assumindo que a pessoa só entra no metro se o percurso à superfície diminuir mais do que 1 km) e mais 6.6 km no meio de transporte. Assim, mesmo com capacidade ilimitada, uma linha pesada e centralizado apenas capta 45% do viajantes e consegue reduzir as necessidades de outros meios de transporte das pessoas em cerca de 20%.
Fig. 4 - Os 23 milhões de Shangai estão espalhados num circulo com 100 km de diâmetro
Finalmente, as taxas de juro.
Dos 5.2% do tempo do Gasparzinho já está nos 7.2%/ano e a subir a uma velocidade maluca.
Isto antecipa que vem chumbo grosso por aí.
Traduz informação que está a ser digerida e que ainda não é do conhecimento público.
Será que o Passos se demitiu?
Será que a Troika nos tirou o tapete?
Vamos imaginar a amortização de um crédito de 150mil€ a 40 anos.
A 5.20%/ano a mensalidade seria de 731.26€.
A 7.20%/ano a mensalidade é de 929.18€.
A nossa divida pública é totalmente insustentável a esta taxa.
Reduzir a nossa divida pública a 60% do PIB em 50 anos, com um crescimento de 2%/ano é preciso um superávite primário de 4.75% do PIB para fazer face a uma taxa de juro de 7.2%/ano, o que é impossível.
O máximo que aguentamos é 4.0%/ano (um superávite primário de 1.5% do PIB).
Estamos novamente na bancarrota, totalmente na mão dos nossos credores.
Já não tenho esperança de receber o Subsídio de Férias
Cada vez mais penso que vai ser preciso declarar o Estado de Emergência.
E aí vai ser mesmo cortar a doer.
Fig. 5 - As subidas das taxas de juro ultrapassam as notícias conhecidas (O PIB estar a crescer e o desemprego a cair)
Pedro Cosme Vieira