O Rui Rio pensava que ganhava sem fazer oposição.
Bastava aguentar firme no sítio certo, vencer as batalhas internas do PSD como se fosse um boneco-sempre-em-pé, para logo o PS perder e a vitória cair no seu regaço caída do Céu. E com a vitória caída do Céu viria o cargo de primeiro ministro de Portugal.
O desgraçado até já tinha nomes para os ministros. Até tive pena dele e imaginei quanto se riram aqueles que ele, internamente, derrotou. Pensaram para com os seus botões "Fogo, livrei-me de boa! Esta derrota estava reservada para mim. E eu que nem percebo alemão!"
O Rui Rio até criou o Conselho Estratégico Nacional com pompa e circunstância
Mas nunca o deixou funcionar.
Lembro-me bem dos membros do "CEN - Economia e Empresas" quererem pelejar mas o Rui aplicou-lhes a pena do silêncio e meteu lá outros, bem caladinhos.
Até tive, agora, curiosidade em ver os nomes que lá estão, Rui Vinhas da Silva, Francisco Catalão e Afonso Oliveira. Têm bom aspecto e são pessoas de muito valor mas nunca os vi na comunicação social. Alguém já ouviu estes senhores dizerem alguma coisa crítica às políticas económicas do Costa? Eu nunca ouvi nada.
Se nunca apareceu ninguém a apontar erros das políticas económicas do Costa, como pode algum eleitor pensar que o Costa estava a fazer um mau trabalho?
O Rio nunca se preocupou em arranjar argumentação. Deixou o Costa fazer o que quis e pôde para acreditar que, no fim, ganharia as eleições com a ajuda do gato.
Vou dar 2 exemplos.
1) O Costa prometeu que vai subir o Salário Mínimo para não sei quanto. O Rio veio dizer outra coisa qualquer. Apareceu alguém ligado ao PSD a explicar porque razão a política do Costa está errada? É que, para a generalidade dos mais pobres, a subida do SMN parece uma boa ideia.
Sem convencer os eleitores de que é uma má ideia subir o SMN, ao dizer "não garanto nada" apenas está a mandar votos pela janela fora.
Se o Rio pensa que a política "subir o salário mínimo 6%/ano" é errada e causa prejuízo às pessoas, tem que estudar uma argumentação capaz de convencer os eleitores disso.
2) O Costa prometeu descer o IRS e, no futuro, o IRC. O Rio prometeu descer o IRC e, no futuro, o IRS. A descida do IRS afecta mais eleitores (foi a promessa da IL em descer o IRS para 15% que lhe deu os 8 deputados) pelo que o Rio teria que convencer os eleitores que a prioridade do Costa estava errada.
Nada fez, apenas repetiu "Comigo será assim ..."
O Costa é "político"
As contrário do Passos Coelho ou do Cavaco Silva que se concentravam no "bem do pais" (fosse lá isso o que fosse), o Costa pensa que "o povo é quem mal ordena" e, por isso, apenas implementa políticas que agradem ao povo.
Vamos supor que o Costa sabe que subir o salário mínimo 6%/ano é mau para a economia mas não consegue convencer os eleitores disso. Então, vai subir o SMN ao mesmo tempo que faz algo discreto que compense o "prejuízo", por exemplo, vai dar um subsídio aos empregadores.
O Rio errou em não fazer coligações à direita.
Bem, agora é fácil dizer isto mas, como propus, faziam listas juntas (PSD, CDS, CHEGA, IL, PPM e mais quem quisesse) e, no final, distribuía os deputados a partir de uma sondagem à boca das urnas.
O Rio pensava que ia absorver os votos todos da direita dizendo que é da esquerda. Digamos que as pessoas estavam obrigados a votar nele, o discurso foi apenas "Eu ou o Costa" como se isso fosse uma grande ameaça.
Se fosse assim, não havia pessoas adeptas de equipas que perdem sempre! Aquele adepto do Arouca que, ouvindo "Se o Arouca vencer o Porto, o Benfica ganha o campeonato" está-se a borrifar para isso, quer ver é o seu Arouca a ganhar ao Porto.
Quem votou no CHEGA não foi para o André Ventura ganhar, foi porque gosta deste "pequeno clube".
E algum dos 22553 que votaram no Tino pensou que ele ia ser eleito deputado? Não, gosta dessa personagem.
Em agora, PSD?
O CDS, tenho pena do coitado Xicão porque se esforçou, lutou para, no final, se passar um esquadrão de cavalaria à desfiada na sua cabeça não encontrar um único deputado! Dizer isto ao André Ventura foi baixo já que nunca disse nada parecido aos da extrema esquerda. E logo ao André Ventura que, tal como ele, nunca perde a Santa Missa Dominical.
O PSD, digamos que me posso enganar, mas vai ter tempos difíceis. Que nome tem o PSD para líder? Está tudo morto, o Rio afogou toda a gente.
A menos que venha por ai uma crise grave, vamos ter Costa por muitos e muitos anos.
Sendo assim, só posso desejar ao Costa "Bom trabalho".
Finalmente, o ERRO das sondagens.
As sondagens nunca erram, quem erra são os comentadores.
Perguntam a 150 pessoas em quem vão votar e, a partir dai, passam horas e horas de análise nas televisões. Reparemos bem, havia 9 milhões 298 mil e 390 eleitores dos quais votaram 5 milhões 389 mil e 705 pessoas e discutem-se previsões como se fossem a verdade telefonando a 150 dos 9 milhões. Mesmo que sejam 1200 pessoas inquiridas, cada telefonema vai representar 7750 eleitores!
Alguém no seu juízo perfeito acha que sairá dali uma previsão com um erro tão pequeno que se consigam descortinar os resultados finais?
Nem pensar, qualquer resultado eleitoral é, estatisticamente compatível com as sondagens apresentadas.
Mesmo assim.
Se pegarmos em todas as sondagens entre Outubro de 2019 e meados de Novembro de 2021 (um total de 59636 inquiridos), a diferença entre o PS e o PSD é de 11,9 pp, sendo que o nível de confiança de 95% indica um intervalo entre 6,6 pp e 17,2 pp.
A diferença no resultado final das eleições foi de 13,9 pp, bem dentro do intervalo de confiança.
O problema é que, prevendo o conjunto das sondagens usando 59636 inquiridos um intervalo tão grande, qual o erro de perguntar apenas a 600 pessoas?
E é muito diferente a diferença ser 6,6 pp ou 17,2 pp.
Voltamos aos clubes.
Fala-se nas TVs horas e horas sobre um simples lance de futebol. Naturalmente, também se falam horas e horas sobre uma sondagem que não contém quase nenhuma informação.
Se for barato meter 4 pessoas num estúdio e isso tiver espectadores, avança-se com esse "balde de plástico".