quinta-feira, 27 de janeiro de 2022

A alegada seca na Barragem de Santa Clara - Odemira

É um discurso recorrente de que há cada vez menos chuva.

Mas não existe evidência de que isto esteja a acontecer.

Por exemplo, peguei na estação de medida de caudais de Ponte da Barca (que mede o caudal do Rio Lima) e vi os dados disponíveis pelo SNIRD desde 1/10/1990 (que é quando começa o ano hidrológico).

Escolhi esta estação porque a água do Rio Lima não é usada a montante de Ponte da Barca para rega.

Estranhamente, considerando apenas os anos em que há dados contínuos (desde 22/01/2003, últimos 6013 dias) o caudal tem aumentado 0,5%/ano, aumento significativo (t = 2,27).

Fig. 1 - Caudal do Rio Lima em Ponte da Barca (dados, SNIRH)

Onde há rega a montante ...

Antigamente não era possível bombear a água. Agora, com a descida do preço das bombas de água e das canalizações, os rios sofrem de "sangria".

Mas não é o caso da Barragem de Santa Clara pois esta encontra-se na montanha. Esta barragem está sempre com níveis relativamente baixos porque é uma barragem muito grande, capaz de armazenar a chuva de vários anos. 

Para ficar com uma ideia, o caudal médio anual do Rio Mira na entrada a albufeira é de 78 milhões m3 por ano e a barragem tem capacidade de armazenamento de 485 milhões de m3, o que traduz que a barragem é capaz de armazenar a água de 6 anos e ainda vai sobrar um bocadinho.

Desta forma, a albufeira estar sistematicamente a 40% (água correspondente a 2,5 anos) é uma gestão óptima pois diminui a evaporação.


Porque será que a barragem de Santa Clara é tão grande?

Porque foi feita no tempo do Salazar e este pensava sempre a muito longo prazo, pensava que Portugal era eterno!

A ideia do Salazar era que os futuros governantes portugueses fossem buscar água mais a jusante, mais próximo da foz do Rio Mira, mais para os lados de Vila Nova de Mil Fontes, e que bombeassem essa água para cima, para a barragem. 

Em termos de engenharia, a sua ideia era fazer um açude na confluência da Ribeira do Torgal com o Rio Mira e bombear essa água para cima, para a albufeira da Barragem de Santa Clara.

Mais tarde, talvez fosse económico bombear água ainda mais abaixo, mais próximo do mar.

Isto até pode parecer uma maluqueira mas é o que fazem na Califórnia!


A água e o crescimento da economia.

Toda a gente diz querer que a economia cresça mas, quando aparecem coisas que a podem fazer  crescer, logo dizem ser contra.

No caso em concreto, a água tem que ser utilizada onde gerar mais valor. Se, por exemplo, regar arroz produz 0,10€/m3 de valor e regar framboesas produz 0,10€/m3 de valor, temos que deixar de utilizar água no arroz (importa-se de países asiáticos) e passar a utilizar a água nas framboesas (que se exportam para o norte da Europa e, com o dinheiro, mais do que pagamos o arroz importado).

Seguindo o mesmo pensamento, se um campo de golfe gera 1,00€/m3 de valor e a agricultura gera 0,50€/m3 de valor, temos que deixar a agricultura e passar para o golfe.

Lutar contra a afectação dos recursos nas actividades que geram mais valor apenas porque não é tradicional ou, alegadamente, inimigo do ambiente, é o que condena a nossa economia à estagnação.

E com economia estagnada, o nível de vida não pode melhorar.


Parece que o povo português está confortável com a actual situação.

Se a economia portuguesa cresceu qualquer coisa a partir do fim de 2012, tal deve-se apenas às reformas impostas pela Troika.

O problema é que logo elegemos um governo porque prometeu anular tudo o que foi feito no tempo da Troika.

Não podemos ter "sol na eira" (salário mínimo como o dos países mais ricos da Europa, contratos de trabalho fortes, manutenção da tradição no uso da terra e da água) e "chuva no nabal" (maior nível de vida, menos impostos).


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