sábado, 9 de novembro de 2013

O Salário Mínimo tem que descer e não subir

Estão sempre a sair notícias interessantes.
A primeira é que os tiranosauros rex não se extinguiram mas evoluiram até se trasformarem nas nossas galinhas. Esta tem lógica.
A segunda é que a OIT - Organização Internacional do Trabalho defende que a solução para acabar com o nosso desemprego é subir o SMN. Esta já me parece totalmente alucinada.

Fig. 1 - Os dentes confirmam que a galinha é um micro-tiranosauros rex

Para que serve o SMN?
Todos sabemos que uma empresa monopolista cobra um preço mais elevado, produz menos e tem lucros mais elevados que uma empresa sujeita à concorrência.
Sendo a procura de mercado decrescente com o preço (e.g., D = 100-P) e o custo de produção crescente com a quantidade (e.g., C = Q^2),
=> O monopolista cobra o preço de 75€/u., produz 25u. e tem 1250€ de lucro.
=> Em concorrência o preço é 67€/u., no total são produzidas 33u. e o lucro é 1111€ (a dividir por todos os produtores).
Então, se todas as empresas combinarem entre si a adopção do preço de monopólio (pasando de 67€/u. para 75€/u.), os  lucros das empresas aumentam 11.4%.

Mas há prejudicados.
Exactamente. Os prejudicados pelo monopólio são os consumidores (pagarão um preço mais elevado e consumirão menor quatidade) e o nível de emprego (menor produção implica menos trabalhadores).
É por haver prejudicados que a Lei proibe não só a existencia de monopólios como também a concertação de preços (cartelização).
Se, pelo contrário, os consumidores se reunissem num clube de compras passando-se a comportar como um monopolista (monopsónio), os produtores seriam prejudicados (e o nível de emprego também).
A situação em que ambas as partes ficam justamente satisfeitas é quando o mercado é concorrencial.

A lógica do SMN é a mesma da cartelização de produtores .
Como existem muito trabalhadores e várias empresas, o mercado de trabalho é, por natureza, uma mercado concorrencial. Mas se houver cartelização dos trabalhadores, o salário será maior mas lucro das empresas (a remuneração do capital) será menor e também o nível de emprego será menor.
Em democracia, como há milhões de trabalhadores e apenas milhares de empresas, os trabalhadores têm mais poder eleitoral que os empresários ilegendo os politicos que prometem regular o mercado de trabalho de forma a puxar esse mercado para o lado dos trabalhadores (aumentar os salários À custa da redução do emprego e da remuneração do capital).
É por isso que, mesmo sabendo-se que o SMN prejudica mais do que beneficia, a generalidade dos países democráticos tem salário minimo.

O Salário Mínimo aumenta o desemprego.
Não existe qualquer dúvida que o objectivo do SMN é aumentar o salário médio dos trabalhadores à custa da diminuição do nível de emprego e da remuneração do capital. É exactamente o mesmo fenómeno económico do monopolista que tem que diminuir a produção para cobrar um preço mais elevado.
A cartelização de um mercado tem obrigatoriamente que se traduzir pela redução das quantidades transaccionadas no mercado. Obrigatoriamente.
Fig. 2 - Eu era gorda mas segui a recomendação da OIT de comer mais para emagrecer.
Argumentam que, como comer gasta calorias a mastigar e a digerir a comida, comer mais faz emagrecer.

Mas o aumento dos salários não aumentará o consumo?
Esta afirmação está totalmente errada porque o aumento do rendimento dos trabalhadores (salários) vai acontecer à custa dos que ficam desempregados (menor nível de emprego) e dos que recebem rendimentos do capital.
Vamos ver as diversas fases da transmissão do aumento dos salários à economia.

Momento zero.
O salário é 100€/dia e existem 100 trabalhadores (total de salários de 10000€/dia).
Os lucros são 5000€/dia.
Então, o total do rendimento na economia é de 15000€/dia que é distribuido por consumo e por investimento.
Por simetria, a produção total é de 15000€/dia (o rendimento é sempre igual à produção).

Passo um.
O salário aumenta 20% para 120€/dia.
Há quem diga que aumentando o salário´, os trabalhadores produzem mais porque ficam mais motivados. Vou considerar essa hipótese mas, naturalmente, esse aumento tem que ser menos que proporcional ao aumento dos salários porque, por redução ao absurdo, se fosse mais que proporcional então, o lucro máximo do produtor seria com  salários de valor infinito, o que não se verifica.
Vamos supor que a produção aumenta 10% por trabalhador.
Agora, pensando que é proibido despedir, mantêm-se os 100 trabalhadores que passam a receber 12000€/dia. Apesar de os trabalhadores produzirem mais 10% (produção total de 16500€/dia), os lucros vão diminuir para 4000€/dia.
Apesar da produção ter aumentado, não há aumento de emprego porque essa produção resulta de cada  trabalhador produzir mais (esforçam-se mais).
Os trabalhadores ficam a viver melhor (+20% de rendimento) mas os detentores de capital ficam a viver pior (-20% de rendimento).

Passo dois.
Como os lucros diminuiram (a remuneração do capital), a quantidade de capital na economia vai também diminuir.
Agora, apesar dos trabalhadores estarem mais motivados, havendo menos capital, a produtividade dos trabalhadores vai diminuir (por hipotese, os 10%) voltando a produção aos 15000€/dia iniciais.
Como os salário são 12000€/dia, os lucros reduzem-se ainda mais (para 3000€/dia) o que reduz ainda mais o nível de capital da economia.

No final
Esta "espiral recessiva" que resulta desta dinâmica de redução da intensidade em capital leva leva ao desemprego pelo desaparecimento das empresas.
Apenas as empresas dos sectores mais rentáveis vão resitir (potencialmente, as monopolistas) pelo que no equilibrio final vamos conseguir ter salários de 120€/dia à custa de apenas 50 pessoas terem emprego. Apesar de estas pessoas terem melhorado o seu nível de vida, o global da sociedade ficou pior (o nível total de rendimento diminui para 9000€/dia).

  
Fig. 3 - Mas, na final, lá está ele (mas como espectador).


Então os salários têm que descer até zero?
Não porque 1) as empresas tiram benefícios em ter trabalhadores, 2) existe concorrência pelos trabalhadores mais produtivos e 3) o trabalho é um bem escasso.
Se o salário for muito elevado as empresas vão à falencia mas se for zero, as empresas não conseguem contratar nenhum trabalhador pelo que o seu lucro será zero. Então, o equilíbrio será um salário próximo da produtividade do trabalho.
Será tanto mais próximo da produtividade do trabalho quanto mais concorrencial for o mercado de trabalho.

Como vão evoluir os salários com o tempo?
Se o salários estiver abaixo da produtividade do trabalho, as empresas aumentarão os seus lucros se contratarem mais trabalhadores. Então, num mercado concorrencial o que vai determinar a dinâmica do salários é a taxa de desemprego (que é inversa da taxa de empregos vagos).
Se a taxa de desemprego for elevada (acima dos 5%) a diminuição dos salários motiva as empresas a contratar mais trabalhadores o que faz reduzir a taxa de desemprego e aumentar a produção e o rendimento.
Se a taxa de desemprego for baixa (menos de 5%) o aumento dos salários motiva mais pessos a trabalhar o que aumenta a proução e o rendimento.

E porquê 5% de desemprego?
Em teoria o mercado de trabalho está equilíbrio quando todas as pessoas que querem trabalhar têm um emrpego e as vagas estão todas preenchidas. Mas porque o mercado de trabalho é muito heterogénio, a medição prática do equilíbrio de mercado (a taxa de desemprego) não consegue medir este "ponto zero".
Na prática existem sempre pessoas desempregadas e empresas com lugares que não conseguem arranjar trabalhadores. O que se observa é que quando a taxa de desemprego está abaixo de 5% (este limite varia de país para país e chama-se NAIRU) existe uma tendencia para o aumento dos salários e, no caso contrário, há uma tendencia para a redução dos salários.

Fig. 4 - O burro dá prejuizo não só quando come demais como também quando come de menos.

Vamos agora olhar para o SMN.
O SMN não afecta (muito) o salário médio da economia pelo que, na tradicional visão do  trabalho como um bem homogénio, não tem qualquer efeito no mercado.
Mas, da mesma forma que existem pessoas pequenas e outras grandres, umas pessoas  produzem numa hora de trabalho mais riqueza e outras produzem menos riqueza.
Se o mercado de trabalho for concorrencial, os trabalhadores terão um salário semelhante à sua capacidade de criar riqueza, uns terão salários mais elevados e outros um salário mais reduzido.
Havendo a imposição legal de pagar, no minimo, um determinado salário, as pessoas que produzem menos que esse valor não conseguirão arranjar emprego.

O SMN parece defender os menos produtivos.
Todos os anos eu pergunto aos meus alunos qual a razão de exitir o SMN.
Quase ninguém consegue arranjar uma justificação mas há semrpe alguém que diz
- Para garantir um rendimento minimo às pessoas menos produtivas.
O problema é que isso apenas aconteceria se o emprego estivesse garantido (como em Cuba).
De facto, o SMN faz com que as pessoas menos produtivas fiquem com rendimento zero.

O nosso SMN está muito elevado.
O que diz se o SMN está alto não é a comparação com outros países (ou região) mas apenas a comparação com a produtividade dos trabalhadores de cada país (ou região).
Então, o SMN tem que ser comparado com o PIB per capita do país (ou região).

Fig. 5 -  Evolução do SMN relativamente ao PIB per capita (dados: PorData, cálculos e grafismo do autor)

Bem sei que é impossivel viver com 485€/mês.
E muito mais dificil é viver em MArrocos com 75€/mês.
O problema é que se o SMN for maior que 35% do PIBpc (44% com a TSU do empregador), muitas pessoas serão atiradas para o desemprego de longa duração e torna dificil as pessoas sem experiencia (os jovens e quem precisa mudar de sector de actividade), arranjar emprego. Como actualmente o SMN com TSU está nos 55% do PIBpc, é preciso descer este custo.
O FMI tem martelado muito neste ponto e, como vamos precisar da sua ajuda por mais uns anos, a menos que a taxa de desemprego diminua rapidamente para valores próximos dos 10%, não vamos poder fugir desta questão.
O SMN pode diminuir por duas vias:

1) Diminuição do SMN para 403€/mês (valor de 2006).
(O SMN deveria acabar mas obriga a uma revisão do Art. 59.º- 2 /a da Constituição)
Como provavelmente o tribunal constitucional vai dizer que é impossível descer o SMN abaixo de 420€/mês (IAS), terá que haver uma alteração na TSU para respeitar este limite.
 485€/mês representam 431.65€/mês para o trabalhador e 600,19€/mês para o empregador.
403€/mês representariam um custo de 498.71€/mês para o empregador.
Então, reduzindo o SMN para 420€/mês, a TSU do empregador teria que descer 5pp (para 18.75%).
Para financiar esta medida, a TSU dos trabalhadores tem que subir 0.25 pp.

2) Aumentar o horário de trabalho máximo para 45h/semana.
Esta medida será totalmente voluntária.
Apesar das mentes simples (leia-se, esquerdistas) afirmarem que se a Lei aumentar o horário máximo de trabalho os patrões vão obrigar toda a gente a trabalhar mais tempo,  isso não corresponde minimamente à verdade.
Da mesma forma que a maioria das pessoas tem um salário mais elevado que o SMN, também muitas pessoas trabalham menos que o horário máximo de trabalho.
Aumentando o horario de trabalho em mais 1h/dia, os trabalhadores menos produtivos em termos horários podem compensar essa falha com mais tempo de trabalho.

O melhor é aumentar o horário máximo de trabalho para 45h/s.
Esta é a minha opinião porque é mais silenciosa (só trabalha mais quem quizer), não prejudica ninguém (com o aumento da TSU de quem ganah mais) e é socialmente mais justa porque faz com que as pessoas menos produtivas façam um esforço para se integrarem na sociedade.
Obriga apenas a uma pequena alteração no Art. 203.º-1 do Código do Trabalho.

O horário máximo de trabalho deve acabar.
Há muita regulação do horário máximo de trabalho sem utilidade para ninguém.
Muitas vezes as pessoas querem trabalhar (por exemplo, nas actividades sazonais agricolas ou do turismo) e não podem porque a Lei proibe extender o horário de trabalho.
Também há profissões em que o dia a dia de trabalho é pouco exigente. Se pensarmos os empregos em que o trabalhador apenas responde a crises (por exemplo, bombeiros ou seguranças noturnos) podendo estar a maior parte do tempo a dormir (e, por vezes, em casa), é aceitável imaginar que o trabalhador possa estar 24h/dia ao serviço.
Por todas estas razões, a Lei deveria deixar de se preocupar com isto pois nenhuma empresa quer trabalhadores horas e horas a fio porque isso diminui a produtividade horária.

fig. 6 - É preciso descomplexar o Código do Trabalho

Pedro Cosme Costa Vieira.

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

O Carrilho e os direitos adquiridos

Os direitos adquiridos sempre me fizeram confusão.
Na minha aldeia havia maridos que batiam nas mulheres. Por mais estranho que pudesse ser, esses homens eram tão simpáticos ou mais que os outros e não batiam em mais ninguém. 
Também penso que todas as crianças da minha geração sofreram violência dos país. Eu sofri porque via-me sem alternativa: quem me sustentaria se eu fugisse de casa? Além disso os meus ir-me-iam buscar onde eu estivesse.
Seria então esta a razão para as mulheres não conseguirem escapar da violência doméstica?

As mães avisavam as filhas.
Eu falava pouco pelo que ouvia muito. Uma das coisas que mais se dizia era que "bater na mulher" e "ser borrachão" era hereditário. Então, mesmo enquanto criancinhas pequenas as mãe avisavam as filhas para não dar conversa aos filhos desses:
- Minha menina não fales para aquele porque quando menos deres conta ele vai achar-se com direitos sobre ti e não te larga mais. Vai-te transformar a vida num inferno. 

Fig. 1 - A vitima de violência esconde os factos porque sente envergonha

Mas porquê?
Se a necessidade, o amor aos filhos ou a pressão religiosa e social não permitiam que as mulheres se libertassem, a questão que discutia comigo mesmo era o que teria feito aqueles homens ganhar o domínio sobre outra pessoa a ponto de terem o direito de as bater. 
Como podia o sentimento que chamavam de amor evoluir para cenas de pancadaria?
Porquê bater naquela pessoa e não noutra qualquer? 
Eu conclui que era um amor próprio egoísta. Seria uma vergonha a mulher ir à sua vida. Antes destruir o canário que o deixar ir cantar para outro lado.

O Carrilho acha que adquiriu direitos sobre a Bárbara.
O avô paterna da Barbara é da minha aldeia ("o Pelão") tendo uma mercearia/tabernazita ao funda da descida da Igreja. Talvez por causa disso o Carilho acha ter legitimidade para assumir a figura do marido tirano.
O problema é que a Barbara é uma mulher adulta, independente e vive no Sec. XIX tendo  todo o direito a levar a sua vida como bem intender.
Não gosta do Carrilho, ponto final. Como é que uma mulher bonita com 40 anos e uma vida profissional de sucesso pode gostar de um velho, feio, que destila ódio e sem qualquer encanto? Só por grande amor, o que não existe.
Pode acontecer a Bárbara, que não acredito, beber até cair, tomar 30 comprimidos para dormir e ter amantes mas isso é uma problema dela e de mais ninguém. Se o Carrilho não gosta disso, tal como não gosta da Odete Santos, só tem que se afastar e ir à sua vidinha.
O que se passou na cabeça de burro do Carrilho para assumir a Bárbara como um direito adquirido seu?
Será que o Carrilho está preocupado com a saúde da Bárbara?
Não, é o bullying.

Os filhos pertencem às mães.
No antigamente a decisão de ter um filho era partilhada entre o pai e a mãe porque resultando do acto sexual um feto, estava implícito que dai resultaria uma criança. Então, o acto sexual tinha implícita a decisão de partilhar a criança que, em probabilidade, resultava.
Mas actualmente a decisão de ter um filho é totalmente da mulher pois, depois de engravidar, pode dirigir-se a um centro de saúde e terminar a aventura. Agora decisão de ter uma criança não é tomada no momento do coito mas é totalmente da responsabilidade da mulher, tomada no seu silêncio no momento em que sabe que está grávida.
É semelhante aos direitos de autor. Quando escrevemos um texto com coisas que observamos nos nossos amigos, os direitos de autor pertencem-nos porque somos nós que decidimos que coisas vamos incluir no texto. A obra não nasce das coisas que existem por aí mas da decisão de incluir isto e não aquilo. Como disse não sei quem, a escultor não é de quem fez o bloco de pedra mas daquele que decidiu que parte do bloco era para sair.
Com um filho é igual. Apesar de o pai ter responsabilidade genética no feto (tal como o texto composto por coisas dos nossos amigos) como é a mãe quem decide que fetos vão dar origem a crianças  (tal como somos nós que decidimos que factos ficam no nosso texto), são elas as verdadeiras "donas" das crianças.

E quando são os país chamados ao assunto?
Só devem ser chamados quando as mães o entenderem e apenas quando isso for no melhor do interesse da criança.
Nunca o Carrilho ou qualquer outro homem pode dizer "eu quero ver as crianças porque tenho esse direito". Não tem direito algum mas apenas a obrigação de olhar por eles no melhor do interesse das crianças.

Fig. 2 - Nunca nos podermos esquecer que cada criança resulta da decisão de uma mulher.

A nova moda vai ser o "infantário-mala-de-carro".
No dia em que soube que estava grávida, aquela portuguesa da França que tinha a criança na mala do carro pensou que o marido não queria ter mais filhos. Então, adiou a comunicação com o medo de ele lhe falar na terminação do assunto. Depois passou-se uma semana, varias semanas, um mês, vários meses e a criança nasceu. Como não imaginou uma justificação quando chegasse a casa com uma criança, pensou guardá-la na mala do carro um dia ou dois para pensar. Depois o tempo foi passando e o problema foi crescendo.
Temos que pensar que esta mãe não gozou um único dia de licença de maternidade. Que no emprego dizia que ia fugar um cigarro para ir a correr ao carro dar de mamar à criança. Que durante a noite esperava que o marido adormecesse para escapar subreptíciamente para tratar da sua criança.
E mesmo assim tinha que levar uma vida normal.
Não correu bem mas esta mãe é uma vitima das circunstâncias.
Concerteza que se tivesse ido ao centro de saúde, não teria nenhum destes problemas.

Os direitos adquiridos do Mário Soares, do Freitas do Amaral e dos demais velhadas.
O problema é que os direitos adquiridos têm como contrapartida as obrigações adquiridas.
Quando essas pessoas fizeram, em nome do Estado Português, uma Lei que atribuía  reformas futuras "dignas" estavam implicitamente a constituir obrigações pesadas sobre as pessoas que iriam nascer.


Fig. 3 - Eu não sou pior que o Soares que fez leis que lhe garantem e a toda a geração dele reformas milionárias à custa dos jovens actuais.
Back to the future.
Em tese parece imoral que a sociedade tenha prometido aos velhinhos que teriam uma pensão "digna" para agora o Passos Coelho vir cortar uma parte.
O problema é que não foi o Passos Coelho nem ninguém da geração que está a pagar contribuições sociais que prometeu essas reformas "dignas". Foram as mesmas pessoas que estão hoje reformadas que, no passado, prometeram a si próprias que no futuro, agora, teriam uma reforma "digna", e quem viesse que pagasse.
Por isso é que a velhada grita muito pelo Estado de Direito e pela constituição que eles criaram e alimentaram.

Fig. 4 - Sai de ministro das finanças do Sócrates porque achava que os trabalhadores pagavam em demasia para um estado social insustentável mas, agora que me aproximo da reforma, mudei de opinião.


 
Nós vivemos numa cleptocracia.
Dizem que em Angola é uma cleptocracia em que um conjunto de pessoas tomou conta do poder para poder roubar os recursos do país em seu proveito pessoal.
Mas em Portugal também vivemos uma cleptocracia em que uma geração tomou conta do poder tendo criado um conjunto de "direitos adquiridos" baseados num enquadramento legal que obriga toda uma geração a sustentá-los.
Em comparação, é menos grave desviar recursos que vêm do petróleo do que fazer leis irrevogáveis que permitem que a geração que fez essas leis vivam à custa das gerações futuras.

Não será inconstitucional ter a reforma ao fim de 12 anos de trabalho?
Mas os juízes do tribunal constitucional acham que isso não viola o principio da igualdade.
Não interessa mexer no "principio da confiança" nos "direitos adquiridos".

Será constitucional a Segurança Social ir à falência?
A SS é um serviço autónomo equiparado a uma empresa pública. E não existe nada na Constituição que diga que o Estado tem que garantir, com os impostos, a solvência de todos os organismos e empresas públicas.
Então, o Passos pode avançar com a declaração da insolvência da Segurança Social. Neste caso avalia-se o activo (o total de contribuições sociais) e rateia-se pelo activo (as pensões que são "direitos adquiridos" sobre a SS e não sobre o Estado).
Eu já defendi que este rateio deveria ser feita ano a ano. A SS fazia as contas e dizia quanto podia pagar a cada reformado.
Afinal há soluções simples para todos os problemas.
Pedro Cosme Costa Vieira

terça-feira, 8 de outubro de 2013

A polémica em torno de Angola

O Machete pediu desculpas em Angola.
Não se sabe bem se quem pediu desculpas foi o ministro dos negócios estrangeiros em nome do Estado Português ou se foi o Rui Machete, um velhote e que, dado o elevado peso da elevada idade e  dos  31 empregos que abdicou para ser ministro, já não se lembra bem do que diz.
Também não ficou claro se o pedido de desculpas foi feito aos órgãos de soberania angolanos ou às pessoas que estão a ser investigadas.
Mas eu penso que nada disto tem interesse.

Terá a "separação de poderes" sido violada?
A maioria dos órgãos de soberania portugueses, onde se incluem os tribunais, apenas existem dentro do território nacional. Aquele a quem a comunidade de estados reconhece capacidade de representação de Portugal incorpora em si todos os órgãos de soberania. Desta forma, em Angola o ministro dos negócios estrangeiros tinha capacidade legal para representar o Estado Português na sua plenitude, fosse o poder legislativo, judicial ou executivo.
Até pode acontecer que um representante do Estado Português assine um tratado à revelia do seu poder legislativo ou da sua Constituição (como foi o caso da assinatura pelo Sócrates do memorando de entendimento com a troika) mas as implicações internas e externas disso é outro problema.

Por causa desta gafe, a oposição pede a demissão do senhor.
Mas é verdadeiramente exagerado.
Primeiro, o senhor está muito cansado. Tem 73 anos, trabalha há 50 anos e, antes de ser ministro, tinha 31 empregos a tempo inteiro em simultâneo e nem ordenado de ministro recebe porque já está reformado (DN).
Fig 1 - Já não me lembro disso pá. Só sei que muitos dos meus colegas de escola já estão no lar sénior e eu ainda trabalho em 31 sítios.

Segundo, era sua obrigação defender os interesses portugueses.
Se consultarmos a lei orgânica do MNE, vemos no Art. 2.º que  as atribuições do sr. ministro são:

b) Defender e promover os interesses portugueses no estrangeiro;
e) Assegurar a protecção dos cidadãos portugueses no estrangeiro, bem como apoiar e valorizar as comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo;

Não é atribuição do MNE defender os direitos humanos dos angolanos em Angola, o Estado de Direito em Angola, a boa governação em Angola ou a alternância democrática em Angola.
O emprego dele enquanto ministro manda defender e promover os interesses dos portugueses e a protecção dos portugueses em Angola e, para o resto, mandem lá a AMI ou a AI.

Vamos à miséria do Mundo.
Fico com o coração apertado quando vejo na televisão criancinhas a morrer de miséria e jovens cheios de sonhos a morrer afogados a metros das praias italianas.
E quando sei que muita desta miséria resulta de governantes incompetentes e corruptos, fico tão chocado que recito o belo poema de Não Sei Quem:

     Bantú não sabe nadar, yo
     K.J.B. não sabe nadar, yo
     Madnigga não sabe nadar, yo
     Makkx não sabe nadar, yei
     Makkx não sabe nadar, yei


Precisamos acabar com as fronteiras no Mundo
Eu quero ser solidários com essa humanidade que sofre e, por isso, defendo que deveria haver um salário mínimo, assistência no desemprego e na velhice, escola e saúde gratuitas iguais em toda a parte do Mundo. O Seguro é mais comedido pedindo igualdade apenas para a Europa porque viu logo que o nivelamento teria que ser por baixo.
Eu posso defender o fim das fronteiras e que todos os humanos devem ter igualdade de oportunidades independentemente da cor, raça ou religião e isso iria acabar com muita da miséria  no mundo mas o problema é que seria à custa da deslocação de centenas de milhões de pessoas dos países pobres para os mais desenvolvidos.
Aconteceria uma invasão de dimensão bíblica, com mares de pessoas a pé e em barcos artesanais vindas desde os confins da África e da Ásia até à Europa Ocidental.
De um dia para o outro, a população de países como a França ou a Alemanha mais que triplicaria e a nossa atingiria rapidamente os 20 milhões. 
Se Moçambique, um dos países mais pobres do Mundo, tem um influxo significativo de imigrantes, a abertura das fronteiras da UE induziria uma migração mais espectacular que a dos gnus do Serengeti.

Fig. 2 - O meu sonho é começar uma nova vida na Europa, longe dos cornos dos meus primos.

Mas será que ficávamos como estamos?
Se, de repente, fossemos invadidos por 10 milhões de sudaneses, etíopes, afegãos, sírios, iranianos,  marroquinos e colombianos que são vitimas da miséria, guerra e da perseguição politica e religiosa, certamente o nível de segurança e nível de vida no nosso querido país sofreriam dramáticas reduções.
O mais certo era que, tal como os cornos acompanham os gnus, os problemas que afligem essas pessoas viessem para cá, transportados dentro das mesmas pessoas que são hoje vitimas. As guerras religiosas, as máfias, os cartéis da droga, a indústria dos raptos cairiam aqui no meio de nós porque cada pessoa é simultâneamente vitima e agressora. 
Quando estamos na praia, um grau de areia na nossa cabeça não tem mal nenhum mas 50 milhões enterra-nos.

Angola é uma país independente como qualquer outro.
Quando foram as nossas eleições constituintes (25 de Abril de 1974), a população de Moçambique (até 25/06/75) e Angola (até 10/11/75) deveriam ter eleito deputados nessa assembleia porque ainda eram território português. Como "Portugal Ultramarino" tinha mais eleitores que "Portugal Europeu", a maioria dos deputados iria ser africana pelo que "Portugal Europeu" passaria a ser uma colónia de África na Europa. Teríamos o Regime Marxista - Leninista de Partido Único e o nosso primeiro presidente eleito teria sido o Samora Machel que, por um golpe de estado, teria sido substituído pelo José Eduardo dos Santos que perduraria até hoje. 
A promessa da independência serviu apenas para nos libertarmos de territórios que só davam prejuízo excluindo "em passage" essas populações do nosso processo eleitoral.
Agora, temos que tratar Angola como um das dezenas que existem por esse mundo fora onde temos dúvidas sobre a boa governação.

Temos que ser pragmáticos (hipócritas).
A Moral é um conceito relativo porque não tem fundamento nem em Deus nem na Natureza.
Cada sociedade, desde as canibais às vegetarianas, inventou um conjunto de regras morais que, num processo darwiniano, foi evoluindo por tentativa e erro. Então, as sociedades que se tornaram mais fortes pensam que as suas normas morais são melhores que as das sociedades que se tornaram  fracas mas isso não é necessariamente verdade. 
Não é verdade que exista uma moral universal e ainda bem que assim é porque, baseados na relatividade, podemos viver em paz com os demais povos, cada um no seu sítio, eles na miséria e nós na boa vida. Podemos dormir descansados a sonhar com aqueles que são comidos pelos caranguejos porque "os americanos estiveram na Somália para os ajudar e eles responderam a tiro".

Fig. 3 - Não gosto nada do penteado mas era capaz de dizer que era o penteado mais bonito que vi na minha vida, ainda para melhor que o da Ferreira Leite.

Nunca Angola nos deu tanto lucro como agora.
No caso concreto de Angola, os governantes portugueses têm que julgar até que atender, em primeiro lugar, ao facto de terem sido eleitos com o objectivo de melhorar o nível de vida dos portugueses e não do bem estar da humanidade, genérica.
Se somarmos os custos e proveitos da nossas colónias de África, o período colonial deu mais prejuízo que lucro.
Mesmo que, 1945 e 1960, tenha havido algumas transferencias liquidas para o lado de cá, isso tudo ficou no negativo com as dezenas de milhar de soldados que o Salazar obrigou a ir defender o "Império".
Dezenas de milhar de jovens ficaram sem escolaridade para, armados com as carabinas mausers apreendidas à Alemanha no fim da primeira guerra mundial e transportados a pé e a cavalo, irem civilizar à força povos que, à sua medida, eram tão civilizados como eles. 
Agora, porque tem grandes riquezas minerais, Angola tem dinheiro e precisa desenvolver-se em termos económicos. Sem precisarmos de mandar os nossos jovens armados e armas obsoletas, podemos mandar os nossos jovens aplicar as suas capacidades no desenvolvimento de Angola
Por u lado, temos portugueses à rasca que têm competências e, por outro lado, temos Angola com dinheiro que precisa de mão de obra especializada.

Fig. 4 - Metia-se uma bala, dava-se um tiro e tinha-se que meter outra bala. Sempre era melhor que uma catana.
Mas há por lá muita injustiça.
Pois há mas também há noutros sítios do Mundo. Para lembrar apenas alguns, também há muita injustiça na Somália e no Sudão, na República Centro Africana e no Zaire (Congo) e ninguém se preocupa com isso.
No fundo não queremos saber. Queremos gasolina no carro, electricidade na casa, comidinha na mesa e estamo-nos borrifando para os milhares de milhões que vivem pior que nós.
Admiro quem luta, por exemplo, o Rafael Marques, mas não estou disponível para abdicar do meu conforto para defender uma moral da qual (quero ter) tenho dúvidas.

O Ministro dos Negócios Estrangeiros fez muito bem
Em dizer que se trata de um processo burocrático, preencher uns papeis e uns formulários.
Provavelmente essas palavras, que tanto lhe custaram a dizer (acredito eu), fez com que os mais de 100 mil portugueses que vivem em Angola se sintam mais seguros e possam enviar mais dinheirinho para as suas famílias que estão cá.
É pena haver pessoas as sofrer seja em Angola, Sudão ou no Casal Ventoso mas vamo-nos concentrar na Malala que quer dar escola às rapariguinhas do Paquistão, fazer uns discursos sobre a capacidade da escola libertar as pessoas e deixar em paz o que nos pode dar dinheirinho.
Força Machete que isto não foi nada em comparação com os anos que andamos por lá a matar e estropiar inocentes.
Pedro Cosme da Costa Vieira

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

A vitoria derrotante

Analisar resultados eleitorais é uma arte de adivinhação.
Como a vitória é feita de muitos votos individuais, seria preciso ter informação sobre as motivações de cada uma das pessoas (em termos estatísticos) que votou e que deixou de votar para ser possível afirmar o que traduz cada uma das vitórias e das derrotas.
No entanto, existem três regularidades a retirar:
1) Um presidente que se recandidate tem a vitória certa.
2) Um partido que ganhou nas anteriores eleições tem uma elevada probabilidade de voltar a ganhar.
3) A mudança de partido resulta muito de erros (guerras internas) na escolha do candidato.

No Porto o Meneses foi derrotado.
Isso não há qualquer dúvida mas não acontece por o Meneses ser exageradamente mau mas antes por ser bastante idêntico (em termos políticos) ao novo presidente da câmara (Rui Moreira).
Apesar de o Rui Rio querer puxar para si parte da vitória, o Moreira, contrariamente ao Rio, é uma pessoa agradável, educada e com uma imagem muito mais polida, um gentleman.
Já são anos demais em que a cidade está associada à imagem de falta de polimeto (Paulo Vallada, Fernando Gomes e Rui Rio).
Penso que o Porto só tem a ganhar com uma pessoa assim polida.

O Meneses tinha uma propostas um pouco alucinadas.
Pontes, viadutos, túneis, recuperações urbanas que nunca surgiriam do papel porque ninguém empresta dinheiro à Câmara do Porto mas aquilo não era nada para fazer. 

Fig. 1 - Está na hora de o Meneses passar a "senador".

Na minha terriola o PS perdeu.
Em Ovar, depois de 20 anos de maiorias absolutas, porque o PS escolheu uma mau candidato (as tais guerras internas) abrindo as portas a uma vitória do PSD.
Eu não tive qualquer influencia nos resultados porque nem fiz campanha nem fui votar.
Não que eu seja contra a democracia mas porque tanto me dava.

A vitória mais amarga foi a de Lisboa.
O Costa teve uma grande vitória local mas uma astronómica derrota nacional.
O Álvaro Cunhal ensinou-nos que nunca uma derrota é uma derrota (dele) nem uma vitória é uma vitória (dos outros). O Costa pode declarar-se vitorioso puxando para si o muito bom resultado que o PS teve em Lisboa mas, à escala nacional, tem que entregar a vitória ao Seguro. Agora, que adaga vai o Costa puxar para retirar o Seguro do seu caminho a caminho de uma potencial vitória nas eleições legislativas de 2015?
Não surgiu uma única voz a pedir a cabeça do Seguro.
O "recuo estratégico" do Costa de há uns meses atrás (no XIX congresso do PS pensou  que 2 anos de travessia do deserto ainda seria muito desgastante) vai-se transformar rapidamente numa aposentação pois a distancia ao plotão da frente está cada vez mais irrecuperável.

Fig. 2 - O PCP ganhou e a Direita perdeu.

Mas serão as politicas dos vencedores diferentes das dos derrotados?
Não há dinheiro, não há vícios.
Olhemos para o Pires de Lima que dizia cobras e lagartos do Álvaro Santos Pereira.
O que o homem fez até agora daquilo que disse ser errado e dever ser suspenso imediatamente?
Nada.
Com os futuros governantes, sejam autarcas, ou ministros, nunca mais haverá a liberdade de gastar sem medida e mandar para endividamento.
Sabendo o mercado que Portugal se endivida se a taxa de juro estiver abaixo dos 7%/ano então, sempre que surge alguém que parece ir-se endividar, a taxa exigida salta logo para esse valor.

Fig. 3 - Eu também prometia isso se tivesse crédito ilimitado.

Pedro Cosme Costa Vieira

sexta-feira, 27 de setembro de 2013

As autárquicas são já no Domingo

Está tudo calmo.
Eu nunca fui muito praticante de eleições e muito menos das autárquicas.
Nas escolas por onde andei, nunca votei. Nas autárquicas, que me lembre, votei uma ou duas vezes mas já nem me lembro quando nem em quem. Nas presidenciais não me lembro de alguma vez ter votado. Votei umas poucas vezes nas legislativas, talvez uma vez no Sócrates e, nas últimas, foi certamente no Passos por me parecer que o nosso país (e eu incluído) estava a ser conduzido para a bancarrota.
Mas a grande diferença relativamente às anteriores eleições autárquicas é que agora tudo está calmo. Tenho presente a tremideira do Guterres que o levou, na noite das eleições, a bater a porta.
Agora já sabemos que na segunda feira o Passos continuará a sua missão faltando apenas saber se o Seguro estará seguro.

Já só faltam 18 meses para as legislaturas.
As sondagens dão vantagem ao PS pelo que, havendo alguém que ambicione a ser primeiro-ministro por essas bandas, está na hora de atacar. Depois das autárquicas já vai ser período pré-eleitoral pelo que, deixando passar este dia, vai ser difícil tirar o Seguro do lugar.

No PS está tudo muito complicado.
O António Costa tem ambição mas iniciar a campanha para primeiro-ministro no mesmo dia em que é eleito presidente da câmara de Lisboa com (previsível) maioria absoluta vai parecer  mal (pelo menos um pouco). Estará o povo de Lisboa a eleger o Fernando Medina para a câmara? Bem sei que o homem estudou na minha escola, já foi eleito deputado e foi secretário de estado do velhote do olhinho fechado mas sempre foi um pau mandado do Sócrates (que, por sua vez, lia discursos que outros lhe escreviam). É um autêntico zero à esquerda.
São pessoas que, sem guião, só sabem dizer "PEC 4".
A vitória (previsível) do Costa coloca problemas ao Seguro pois não vai poder chamar para si o mérito. Vai ser como, numa corrida, um atleta dizer que a grande velocidade de uma bala que lhe vem dirigida à cabeça o vai ajudar a ganhar a corrida. 

Fig. 1 - Lisboa vai ser a bala que vai permitir ao PS ganhar velocidade para as legislativas de 2015.  O problema é que pode acertar-me na cabeça.

O Porto-Gaia está uma confusão.
Porque há muitas guerras dentro do PSD+CDS.
No Porto há um candidato apoiado pelo PSD do Menezes e um independente apoiado pelo  PSD do Rio.
Em Gaia é ao contrário. Há um candidato apoiado pelo PSD do Rio e um independente apoiado pelo PSD do Meneses.
Já se sabe que quem terá maioria será o conjunto destas duas candidaturas faltando apenas saber quem são os presidentes.
Até pode acontecer o PS ganhar a presidência em Gaia mas vai ser com poucochinos votos.
O bom é que o Passos pôs-se fora desta guerra. Ganhe quem ganhar, não interessa a ninguém.
Estas guerras dentro do PSD + CDS não são apenas locais bastando, para ter uma pequena amostra, ouvir a Ferreira Leira para se tomar a temperatura do partido.
O Rio era o António Costa do PSD mas atolou-se de tal forma nos seus medos e compromissos eleitorais autárquicos que perdeu o comboio para o Passos. Claro que ficou danado por o Menesesez ter apoiado o Passos.

E veio o novo chumbo do TC.
Já é constitucional despedir pessoas por extinção do posto de trabalho mas tem que, de entre todos os trabalhadores com capacidades idênticas, tem que ser despedido o trabalhador mais recente. O legislador pensa que os trabalhadores são todos iguais e que o mais antigo, por learning by doing, é mais produtivos. O problema é que nem sempre é assim.
Se uma empresa tem 10 trabalhadores e quer despedir o mais antigo, é obrigada a extinguir todos os postos de trabalho (despedindo os 10). Numa hora cria outra empresa que contrata todos os trabalhadores acabados de despedir menos o tal e que faz um contracto de prestação de serviços.
Isto dá algum trabalho mas vai dar tudo ao mesmo.
Cada vez mais as pessoas estão a trabalhar num sítio, uma fábrica, hotel, ou repartição pública, mas são empregados de outra empresa qualquer, de trabalho temporário ou de prestação de serviços. Como tão bem sabemos, nos nossos hospitais o staff, desde seguranças a médicos passando pelas enfermeiras e senhoras da limpeza, é tudo pessoal de empresas de prestação de serviços contratado à hora ou à peça. 
Essas empresas, tipo Conforlimpa, têm 5000€ de capital social pelo que havendo algum problema, pumba, fecham. 

A Constituição protege os postos de trabalho.
Em teoria. Para proteger mesmo os postos de trabalho, era obrigatório que o Estado pagasse os salários das empresas abrem falência. Era possível mas teria de ser como em Cuba (um salário de 5€/mês mais uns kilos de arroz e farinha).

Fig. 2 - As últimas manifestações contra o governo têm sido tranquilas.

O povo já está convencido.
Berramos, berramos, mas já estamos convencidos que o óleo de fígado de bacalhau faz bem à saúde.
A princípio custa mas ficamos com ossos rijos.
E hoje fico-me por aqui para não vos cansar muito durante o período de reflexão.

Pedro Cosme Costa Vieira

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

A Siria, o Meneses e o transporte "pesado"

A Siria é um problema aparentemente muito complexo.
Porque, de um lado, temos uma ditadura sanguinária que já dura desde 1971 e, do outro lado, temos uma força de combate associada a grupos islâmicos radicais, à famosa Al-Qaeda.
Apesar de ninguém ter a menor dúvida de que já morreram mais de 100 mil pessoas vitimas de bombardeamentos aéreos e matança indiscriminada levadas a cabo pelas forças do governo e que há milhões de pessoas deslocadas e reduzidas à fome e à miséria, o povo é contra fazer-se alguma coisa.

O problema está no nosso egoísmo.
O problema não está na Síria mas está dentro de cada um de nós.
Se, por aqui, quando matam um cão ou um gato fico tocado de emoção (alegadamente),  se o Al-Assad matar 10 ou 20 milhões de pessoas, isso não é problema meu. É como as matanças dos filmes, não me afligem nada. Até pode ser bom para o ambiente matar aquele gentalha toda, arrasar aquilo tudo e transformar a actual Síria numa reserva ecológica.
A Síria não tem petróleo, fala fala mas não partem dali ataques contra ninguém (leia-se Israel), não me faz mal nenhum pelo que aquele regime é bom para mim, é uma situação estável e previsível.

Mas isso também aconteceu em 1939.
Quando na Europa começou a II Guerra Mundial, os americanos borrifaram-se. Depois de terem estado a combater aqui em 1916-18, naturalmente pensavam que nós os europeus não éramos capazes de viver em paz a menos que fosse no cemitério. Por isso, a oposição da população americana a uma intervenção militar na Europa foi massiva.
Mas, vendo que a Europa se estava a auto-destruir a ponto de a União Soviética ir a caminho de a ocupar integralmente, a muito custo e com muitas dúvidas e só depois de os submarinos alemães terem afundado não sei quantos navios americanos é que o Roosevelt decidiu avançar.
Morreram centenas de milhares de soldados americanos na Europa para resolver um problema que não lhes dizia respeito.

Os da Al-Qaeda são mais perigosos que o Al-Assad.
É, mais uma vez, o nosso egoísmo a falar.
O Al-Assad mata gajos de fraldas na cabeça.
A Al-Qaeda mata dos nossos.
Como um dos nossos vale mais que 1000 dos deles, o Al-Assad matar 100 ou 200 mil dos dele e arrasar cidades inteiras lá na terra dele é muito menos grave que a Al-Qaeda ter matado nas Torres Gémeas 3500 dos nossos ou ter atacado os comboios em Madrid.
O meu pensamento enquanto estou sentado no sofá é que os da Al-Qaeda podem transformar a Síria numa zona de refúgio e, partindo dali, atacarem-me directamente e fazerem aumentar o preço da gasolina.
Quero lá saber que ele mate criancinhas, velhinhos ou mulheres gordas. Eu quero mesmo pensar que cada criancinha gaseada hoje é menos um terrorista que aparece daqui a 10 anos.

Fig. 1 - Esta é uma pena rebentar. Manda refugiada para cá.

As politicas de influência.
Mas, mesmo sendo egoísta, resultam vantagens da intervenção militar dos USA.
Primeiro, se o Al-Assad escapar, o povo de lá perto (Arábia Saudita e Koweit) vai ver que o Rússia e a China são perigosos. Então, as alianças terão tendência a alterar-se.
Segundo, acredito que, mesmo sem intervenção americana, o regime do Al-Assad vai cair.
E nesse caso, os combatentes (alegadamente da Al-Qaeda) não têm ninguém a quem agradecer e porque ganham em termos militares por mérito próprio, não precisam dar a voz aos agentes políticos.
Com a intervenção americana, os novos senhores da Síria vão-se lembrar que foram os dos USA que os ajudaram e que os Russos e Chineses os combateram. Então, mesmo que o futuro presidente da Síria venha a ser o Bin Laden ressuscitado, vai pensar duas vezes antes de voltar a atacar o Ocidente.

Fig. 2 - O teu destino vai ser o mesmo do Kadafi: um tiro.
  
Isso já aconteceu no passado.
No Japão ou na Alemanha foi entendido que, no pós-1945, apenas os USA eram capazes de fazer frente à União Soviética. Então, depois de anos de guerra feroz, de um dia para o outro o Japão e a Alemanha tornaram-se fieis aliados dos USA.
Actualmente, os USA estão a ganhar aliados contra os novos poderes.
O Vietname (e restante Ásia) porque sente o risco chinês.
O Egipto,  Arábia Saudita e o Koweit pelo risco iraniano. 
O cão pode ser muito bravo mas, se lhe dermos abrigo e comidinha quente, lentamente vai aceitando as nossas ordens.
Com os povos passa-se o mesmo. Lentamente, ficam influenciáveis em termos políticos, culturais e económicos por quem os ajudou. Como dizem os comunas "aburguesam-se".

Fig. 3 - "On behalf of President Obama and the people of the United States, I congratulate the people of Vietnam as you celebrate your National Day on September 2" (Senator Kerry) !

Alguém se lembra.
Do chavão dos anos 1970 e 1980 de "Antes vermelho e morto?" que se ouvia um pouco por toda a Europa Ocidental?
Hoje, a influência dos USA na Europa Central é enorme porque os americanos, principalmente no tempo do Reagan, lutaram sem vacilar contra o domínio soviético.

Fig. 3 - Os franceses defendiam a acomodação ao domínio soviético

Mesmo sendo egoísta, sou a favor de darem cabo do canastro do Al-Assad.
Porque é preciso estar do lado dos que vão vencer a guerra.
Lembram-se da "Paz de Bicesse" do Durão Barroso? Está-nos agora a dar bons lucros.

Agora vem o Luís Filipe Menezes.
A Lei de limitação de mandatos é caríssima quanto à impossibilidade de haver candidaturas dos dinausauros autárquicos. Mas o Tribunal Constitucional arranjou um argumento razoavelmente válido.
1) A Constituição (par. 1 - art. 50.º) diz que o acesso a cargos públicos (candidatarem-se e serem eleitas) é um direito em condições de igualdade e liberdade.
2) Diz ainda que este direito pode ser limitado (par. 3 - art. 50.º) mas apenas com o objectivo de "garantir a liberdade de escolha dos eleitores e a isenção e independência do exercício dos respectivos cargos".

A Lei proíbe a candidatura.
Mas essa proibição viola a Constituição porque não tem por fim o objectivo do par. 2.
Como os eleitores são outros, não está em perigo a "liberdade de escolha" pelo que o legislador ultrapassou o poder (a liberdade) que a Constituição lhe dá.
Seria equivalente aquela Lei em que o Sol era obrigado a andar à volta da Terra. Como o legislador ultrapassou o poder que a Natureza lhe deu, a Lei nunca foi aplicada.

O problema do transporte "pesado".
Muitos comentadores identificaram sabiamente que o transporte das pessoas é desde a porta da sua casa até a porta do seu destino. Juntando a isto que as pessoas vivem espalhadas pelo território, um sistema de grande capacidade como o metropolitano está condenado ao fracasso porque não consegue fazer o serviço porta-a-porta.
Eu fiz uma pequena simulação com uma cidade rectangular 10km x 30 km, atravessada a meio por uma linha de metro com 25 km e estações espaçadas 2.5km (11 estações).
Imaginando destinos e origens uniformemente prováveis, as pessoas precisam-se deslocar, em média, 21.1km.
Com o metro, as pessoas continuam a precisar de se deslocar 16.4 km à  superfície (assumindo que a pessoa só entra no metro se o percurso à superfície diminuir mais do que 1 km) e mais 6.6 km no meio de transporte. Assim, mesmo com capacidade ilimitada, uma linha pesada e centralizado apenas capta 45% do viajantes e consegue reduzir as necessidades de outros meios de transporte das pessoas em cerca de 20%.

Fig. 4 - Os 23  milhões de Shangai estão espalhados num circulo com 100 km de diâmetro

Finalmente, as taxas de juro.
Dos 5.2% do tempo do Gasparzinho já está nos 7.2%/ano e a subir a uma velocidade maluca.
Isto antecipa que vem chumbo grosso por aí.
Traduz informação que está a ser digerida e que ainda não é do conhecimento público.
Será que o Passos se demitiu?
Será que a Troika nos tirou o tapete?

Vamos imaginar a amortização de um crédito de 150mil€ a 40 anos.
A 5.20%/ano a mensalidade seria de 731.26€.
A 7.20%/ano a mensalidade é de 929.18€.
A nossa divida pública é totalmente insustentável a esta taxa.
Reduzir a nossa divida pública a 60% do PIB em 50 anos, com um crescimento de 2%/ano é preciso um superávite primário de 4.75% do PIB para fazer face a uma taxa de juro de 7.2%/ano, o que é impossível.
O máximo que aguentamos é 4.0%/ano (um superávite primário de 1.5% do PIB).
Estamos novamente na bancarrota, totalmente na mão dos nossos credores.

Já não tenho esperança de receber o Subsídio de Férias
Cada vez mais penso que vai ser preciso declarar o Estado de Emergência.
E aí vai ser mesmo cortar a doer.
  
Fig. 5 - As subidas das taxas de juro ultrapassam as notícias conhecidas (O PIB estar a crescer e o desemprego a cair)

Pedro Cosme Vieira

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Os custos do autocarro

Eu avancei com uns números.
Quando comparei os comboios com os autocarros, avancei que o consumo de um autocarro a 100km/h andaria nos 60 litros aos 100 km. No entanto, um engenheiro da Caetano BUS contactou-me dizendo que os meus números estavam exagerados.
Segundo estudo da Barraqueiro, a frota da Caetano BUS com chassi Scania e 55 passageiros tem um consumo médio em autoestrada de 26 litros aos 100 km o que, numa viagem Porto-Lisboa,  corresponde a 4kg/passageiro de C02 que compara com os 13 kg/passageiro do Alfa (esse valor está no site da CP).
Um autocarro tem emissões que são 1/3 das emissões do comboio. Por isso, não existe qualquer lógica ecológica para o Estado subsidiar os comboios directamente e indirectamente com electricidade abaixo do preço de custo e penalizar (com imposto sobre o gasóleo) os autocarros.

Fig. 1 - A mudança é um processo onde as grandes transformações são a soma de muitos pequenos passos

Vamos agora aos custos.
Uma viagem Porto-Lisboa gasta:
1) Combustível -> 320 x 26 / 100 -> 83 litros x 1.30€/l = 110€/viagem.
2) Portagem classe II -> 50€/viagem.
3) Motorista -> 4 horas x 12.50€/h = 50€/viagem
4) Autocarro -> 50€/viagem.  
O engenheiro disse-me que esses autocarros custam 190mil€+IVA e que, andando sempre em auto-estrada, aguentam 2 milhões de km.
Sendo assim, num contracto de aluguer de longa duração a 10 anos, é possível um preço abaixo dos 2500€/mês, incluindo IVA e seguro de danos próprios no autocarro (t.j real de 4% e 140€/mês de seguro).
Dividindo os 2 milhões de km por 10 anos, dá 52 viagens por mês (6 viagens por semana de ida e volta). Então, o custo do autocarro é cerca de 50€/viagem Porto-Lisboa. 
5) Manutenção -> 15% de 1) + 4) -> 25€/viagem. Corresponde a 1500€ cada 20 mil km.
6) Seguros dos passageiros -> cerca de 5000€/ano -> 16.5€/viagem (0.30€/passageiro).

Custo total -> 300€/viagem -> 5.50€/passageiro.
Sob condição de o autocarro estar lotado (com 55 passageiros), transportar um passageiro tem um custo de cerca de 1.70€/100km.
Neste custo, estão incluídos 70€ de impostos por viagem (40€ de IVA do veículo e do combustível e 30€ do ISP). Então, o custo sem impostos (o custo social) é de apenas 4.20€/passageiro .

Já posso propor preços.
Assumindo ocupação de 70% e uma margem de lucro de 20% (já pago o autocarro),  a 100km/h o preço do bilhete fica nos 9.40€/viagem, 3.00€/100km. A 130km/h, o preço fica nos 10.40€/viagem, 3.25€/100km. Estes preços comparam com os 30.40€ do Alfa (e que dá prejuízo ao Estado)
O preço de uma viagem Braga-Faro (305km) fica nos 18€/passageiro que compara com os 70.30€/passageiro do comboio.

Fig. 2 - Um preço baixo indica eficiência na produção

Mas o Passos tem que fazer algumas alterações legislativas.
Para aumentar a eficiência dos transportes públicos rodoviários inter-urbanos é preciso fazer duas alterações ao código da estrada (limites de velocidade e comprimento), rever a lei das concessões dos transportes públicos e permitir o aparecimento de terminais rodoviários nas autoestradas.
1 - Aumentar o limite de velocidade para os 130km/h.
O Alfa faz Porto-Lisboa em 2h45, uma média de 115km/h. O autocarro também poderia fazer esta média se o limite de velocidade máxima aumentar para os 130km/h.
O limite de velocidade dos autocarros nos 100km/h já vem de há muitos anos pelo que está ultrapassado pelo avança tecnológico. Hoje os autocarros têm motores muito potentes e travões ABS pelo que nas auto-estradas e com piso seco o limite de velocidade deveria aumentar  para os 130km/h.
Há uns 20 anos eu andava bastante de autocarro e era normal viajar a 130km/h (e mais) sem haver qualquer problema de segurança. Por exemplo, na Alemanha metade das auto-estradas não têm limite de velocidade e não têm mais acidentes que nas autoestradas dos outros países.
Com piso molhado, a velocidade máxima mantinha-se nos 100km/h.
A 130km/h o consumo de combustível aumenta 30% o que tem um impacto no custo  total de 10% (-> 6.15€/passageiro) mas o tempo de viagem reduz de 3h30m para 2h45m (velocidade média de 90% da velocidade máxima).

2 - Aumentar o comprimento máximo dos autocarros para os 18.6m.
Se os autocarros fossem aerodinâmicos e mais compridos haveria uma redução nos custos por passageiro em mais de 30% (redução do consumo de combustível e aumento do número de passageiros transportados).
O actual comprimento máximo dos autocarros de 13.7 m tem em mente que este veículo circula nas estradas dos anos 1960. Mas nas autoestradas, os autocarros podem ter os 18.6m dos camiões TIR articulados sem qualquer problema de curvar desde que circulem apenas em auto-estradas e IPs.
Interessante que no Brasil (alegadamente mais atrasado do que nós), os veículos rodoviários (articulados) já podem atingir um máximo de 30m (ver) o que permite transportar 4 TEU (contentor de 20 pés).
Um autocarro de 18.60m (com 1.3m perdidos numa frente aerodinâmica) teria a capacidade aumentada em 40% (77 passageiros sentados num piso e 121 passageiros em 2 pisos).

3 - Acabar com o condicionamento (monopólio) dos transportes públicos.
No tempo do Salazar, acreditava-se que os monopólios eram a melhor forma de desenvolver o país (era o condicionamento industrial). Hoje sabemos que isso está errado mas as concessões dos transportes dos anos 1930 ainda hoje se mantêm válidas.
Para agudizar o problema, as estradas para onde as concessões foram atribuídas estão completamente ultrapassadas pelas novas estradas e autoestradas construídas nos últimos 40 anos.
Mantendo-se a Lei dos Alvarás, não é possível haver autocarros nas autoestradas porque competem com os autocarros das estradas nacionais (e com os comboios).
A Lei dos Alvarás dos transportes públicos tem que ser radicalmente revista. Diria mesmo que a lei deveria ser extinta, finito, como fizeram na Lei das Rendas.

4 - Liberalizar o aparecimento de estações rodoviárias.
É preciso permitir o aparecimento de estações rodoviárias nas autoestradas com lugares de estacionamento para centenas de carros (1000 carros precisam de 200 x 75 m2).
Também é preciso que os automóveis dos passageiros possam entrar a partir de estradas secundárias e possam fazer inversão de marcha na auto-estrada.
Também nas cidades, deveria haver ligações entre os sistemas de transportes urbanos (Metro e autocarros urbanos) e os autocarros inter-urbanos.

E como vão as pessoas parar às estações?
As estações vão ficar nas autoestradas onde as pessoas podem chegar de automóvel ou usando outros transportes públicos de ligação. Por isso é que é importante a entrada de automóveis a partir das estradas locais e a possibilidade de inversão de marcha.
Mas, por uma questão de eficiência, deveria ser criado um serviço de partilha do automóvel.

Os custos de um automóvel.
Quem tem um automóvel, quando faz uma viagem apenas faz contas principalmente ao combustivel. Desta forma, o custo padrão para a partilha do automóvel pode ser fixado  nos 0.20€/km, para 3 passageiros, 0.07€/km.

A partilha da ligação.
Nos dias de hoje, com SMS e Internet, os passageiros teriam que fazer marcação prévia dos lugar, dizendo que se disponibilizavam a apanhar outros passageiros ou se precisavam de ser recolhidos.
Quem disponibilizar o seu carro tem estacionamento grátis e recebe 0.20€/km percorrido (a que abate os 0.07€/km do percurso mais próximo entre a sua casa e a estação).
Por exemplo, se de sua casa à estação são 10 km mas acabou por percorrer 15km, vai receber 2.30€.
Um sistema de optimização desenha o percurso dos automóveis disponíveis.
Cada um dos passageiros transportados paga, além do bilhete do autocarro, os 0.07€/km da viagem de carro (considerando a distancia mais curta).
Uma pessoa que faz a viagem Braga-Lisboa (370km) mas que vive a 30km da estação precisando de boleia, pagaria 370 x 0.03 + 30 x 0.07 = 13.20€
O sistema de partilha poderia transferir o lucro de quando há mais de 3 passageiros com os prejuízos de quando há menos que 3 ou o custo da boleia poderia ser variável. Em termos económicos seria melhor o preço variável mas é aceitável um preço igual para todos.

Fig. 3 - Com o desenvolvimento da Internet, a partilha vai ter cada vez mais importancia nas nossas vidas.

Somos culturalmente contra a mudança.
Melhorar o Mundo implica um avaliação continua da forma como fazemos as coisas e a procura incessante de novas formas de as fazer e de novas coisas.
É preciso tentar, experimentar, errar e acertar, corrigir, melhorar e continuar para a frete. Quando outro experimentar e falhar, também temos que compreender que isso faz parte do processo para melhorar o Mundo.
Foi este principio que nos retirou das cavernas que, à data de então, muitos disseram não ser possível arranjar algo mais seguros e confortável para viver.
Este principio deve-se aplicar aos transportes públicos mas também a todas as coisas da nossa vida. Em particular, como sei da confusão que os meus alunos fazem entre o sistema monetário e o mercado de crédito, escrevi um pequeno texto como leitura complementar das crianças.
Mandei isso aos meus colegas que vieram logo com a argumentação clássica portuguesa.
-Ai, nunca se deu nada disso, isso eles vão dar noutra cadeira, desvia-se um pouco do objectivo, ´já dou disto há não sei quantos anos e nunca se falou em nada disto, blá, blá, blá, blá.
Eu vou por o texto online (Fundamentos do Sistema Monetário) para darem uma vista de olhos nestes últimos dias de férias. Requer concentração mas penso ter algum interesse.

Fig. 4 - Se nos esforçarmos, até as pedras acabam por rolar 

Uma homenagem final ao António borges.
Não pelo que ele fez durante a sua vida mas por, já depois de saber que tinha cancro do pâncreas que lhe dava pouco tempo de vida, continuou a trabalhar com a mesma energia de sempre.
Tantas pessoas, como eu, que não fazemos nada por isto e por aquilo,  coisas sem importancia nenhuma, temos que dar todo o mérito às pessoas que, na mais grave da adversidade, esforçam-me mesmo para além das suas energias.
Isto aplica-se também às pessoas que na Síria perdem a vida a lutar por uma sociedade livre e justa.

Pedro Cosme Vieira

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