segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Carlos Guimarães Pinto - economia real, financeira e monetária

O Carlos escreveu um artigo no ECO.

O Carlos é o fundador da Iniciativa Liberal, apesar de não o conhecer pessoalmente, sou professor na escola onde o Carlos estudou e, por isso, responsável pela sua "ignorância" em assuntos de economia.
Apesar de  ser uma pessoa de grande valor tenho que falar do artigo que escreveu (Pinto,C G, 13 Ag 2020, "A grande redistribuição", ECO) e onde mostra muita confusão de conceitos e bastantes erros de análise.
Esses erros não são óbvios, antes pelo contrário, da mesma forma que não é óbvio que a Terra ande à volta do Sol pelo que vai ser difícil explicá-los num texto curto mas vou tentar o meu melhor.


Aviso
O Carlos foi um extraordinário aluno de licenciatura e é um excelente aluno no curso de doutoramento sendo, com total certeza, muito melhor do que eu fui ou poderia ter sido, medido por qualquer parâmetro.
Assim sendo, podem pensar que o que ele escreveu é mais verdade do que eu escrevo aqui mas, nesse caso, continuarão a viver na escuridão da ignorância.
Pensem neste ditado popular (que acabei de inventar): "Se a ovelha manca não dormir a sesta, acabará por comer mais que as outras."
Este ditado é uma paráfrase da história da lebre e da tartaruga e pretende mostrar que, mesmo os mais inteligentes, se não pensarem nos problemas, acabam por apresentar explicações não satisfatórias para a natureza que nos rodeia.
O Golias, sendo o homem mais forte do Mundo, facilitou e acabou derrotado pelo David.

Não vou identificar essa confusão ponto por ponto, vou antes clarificar os conceitos.
Para compreendermos a economia temos que a ver como uma cebola com 4 camadas.
No interior da cebola temos a Economia Real que tem a parte da Produção e a parte da Distribuição.
Uma economia primitiva tem apenas estas duas camadas. A maior-parte das disciplinas (senão na totalidade) de um curso de economia trata apenas destas duas camadas, da "economia sem moeda" em que o "a unidade de valor" é a referência a um dos bens produzidos na economia.
Na parte de fora da cebola temos a Economia Nominal formada por duas outras camadas, a Economia Financeira e a Economia Monetária.

1 = A Economia Real.
Apesar de a Economia real ter duas faces (a produção e a distribuição), primeiro, tem que haver produção e, só depois, é que pode haver distribuição.

1.1 = A produção.
Para haver produção tem que haver Trabalho e Recursos Naturais.
A quantidade de recursos naturais é fixa pelo que, para haver aumento da produção, as pessoas têm que trabalhar mais horas.
Na economia mais simples que existe, a economia caçadora-recolectora, o trabalho são as horas que os caçadores correm atrás dos animais e que os recolectores colhem fruto e plantas. Os recursos naturais são o território com os animais e plantas que nele vivem e crescem.
Se num determinado dia apenas pode haver aumento de produção se as pessoas trabalharem mais, sendo aplicado parte do trabalho na domesticação de animais e plantas e na construção de máquinas, muros, casas,  a produção nos dias futuros vai aumentar sem haver necessidade de aumentar as horas trabalhadas.
Esta actividade de melhoramento da economia no futuro denomina-se por Investimento e a sua acumulação chama-se Capital.
Para haver investimento (que melhora o nível de vida futuro), é necessário piorar o nível de vida no presente (obriga a que haja Poupança de bens de consumo que é usada no investimento em bens de capital).
Para os alunos poderem vir a ganhar um salário maior no futuro, têm que fazer sacrifícios hoje (estudando e indo a aulas aborrecidas) para aumentarem o conhecimento, o capital humano.

A Produção é diferente da Riqueza.
A produção é um fluxo, tal como a água que corre num rio medida em m3 por segundo. Assim, as unidades da produção são unidades físicas por hora, por exemplo, um homem recolhe 10kg de maças por hora.
A produção pode ser de "bens de consumo" (um homem recolhe 10kg de maçãs por hora) mas também pode ser de "bens de investimento", (um homem planta 5 macieiras por hora).
A produção total é a soma do total produzido de "bens de consumo" e "bens de investimento".

A riqueza é um stock, tal como a água de uma barragem que é medida em m3.
As unidades de riqueza são unidades físicas, por exemplo, o Sr. João é dono de 100 macieiras.
Tal como um rio pequeno pode alimentar uma grande barragem (o Rio Guadiana tem um caudal de 80m3/s e a barragem do Alqueva tem uma capacidade de 4 150 milhões m3 correspondente a 1 ano e 8 meses de fluxo), uma pessoa com pouca produção pode ter uma grande riqueza (que foi acumulada ao longo dos séculos).
Não podemos confundir nível de produção com nível de riqueza porque são em unidades diferentes.
Será como dizer que o Rio Guadiana é maior que o Rio Douro porque a Barragem do Alqueva (no guadiana) tem capacidade de 4150 milhões m3 e a barragem de Lever-Crestuma (no Douro) tem capacidade de apenas 110 milhões m3.


Imaginem esta situação.
Dois automóveis cruzam na estrada, um Toyota que circula a 160km/h (unidade fluxo) e um Nissan que já percorreu 300 mil km (unidade de stock).
Será que podemos afirmar que o Nissam é mais rápido que o Toyota?
Não porque kg/h não são comparáveis com km.
O João planta 10kg macieiras por hora (fluxo) e a Ana tem 1000 macieiras (stock).
Será que podemos afirmar que a Ana é mais rica que o João?
Não porque macieiras/h não são comparáveis com macieiras.

A poupança, o investimento e o capital.
O João planta 10kg macieiras por hora (fluxo), colhe 10 kg de maças por hora (fluxo) e tem 100 macieiras (stock).
O João tem disponíveis 50h de trabalho por semana.
Então, pode aplicar todo o seu tempo a colher e comer maças (500 kg de maçãs por semana) mantendo as mesmas macieiras ou dedicar parte do seu tempo a plantar macieiras (10h/semana) diminuindo o consumo  (de 500kg para 400kg por semana) e aumentando o número de macieiras (de 100 para 200 macieiras).
O consumir menos traduz poupança e o plantar árvores traduz investimento o que vai fazer aumentar o capital.

1.2 = A distribuição.
Uma vez havendo produção, é necessário distribui-la pelas pessoas.
Este problema é difícil de resolver porque há pessoas que não produzem (as crianças, os doentes, os mais velhos, os malandros), cada pessoa tem diferente capacidade de produzir (uns são mais fortes, outros mais inteligentes) e os gostos das pessoas são diferentes (uns preferem 5 camisas e 2 calças e outros 3 camisas e 3 calças).
Não existe uma "regra moral" que diga como deve ser feita a distribuição pelo que sociedades diferentes têm entendimentos diferentes quanto a definição de "distribuição justa".
No limite "inferior", a distribuição é igualitária (dividir o total produzido atribuindo a mesma quantidade a cada cabeça) e no limite "superior", cada pessoa apropria-se de tudo o que produz.
Estas "distribuições limite" não são possíveis porque têm problemas que não vou discutir aqui por falta de espaço mas interessa fixar que as "esquerdas" defendem distribuições mais igualitárias (independentes da capacidade de produção de cada pessoa) e as "direitas" defendem distribuições menos igualitárias (o rendimento ser dependente do mérito de cada um).

A distribuição é separada da produção.
Interessa vincar que primeiro surge a produção e só depois é que é possível haver distribuição.
Será uma decisão colectiva a sociedade estar mais na direcção do "limite inferior" (o caso da Europa Ocidental) ou do "limite superior" (o caso dos USA).
Existem teorias que dizem que as pessoas com maior rendimento poupam mais e que, por isso, nas economias igualitárias, a poupança é menor mas estas teorias não estão confirmadas pela realidade.
O que se sabe é que há bens e serviços que apenas as pessoas com maior rendimento consomem (por exemplo, literatura, teatro, vinho do porto de 10 anos) e que, por isso, a estrutura produtiva de uma economia igualitária é diferente da de uma economia com assimetria de rendimento.
Mas, apesar de a estrutura ser diferente (por exemplo, diferente proporção de bens de investimento//bens de consumo), o nível de produção não sofre alterações por haver diferente assimetria na distribuição da riqueza produzida.
Tanto faz haver mais ou menos ricos, haver mais ou menos assimetria na distribuição da produção porque, no concreto, o nível de produção vai ser o mesmo, vai dar tudo igual ao litro.

2 = A Economia Nominal.
A economia nominal apenas vai existir sobre a economia real e não produz nada nem tem nada que se possa consumir (bens e serviços) mas apenas um registo contabilístico do que existe na economia real.
É perfeitamente possível haver uma economia sem parte nominal mas o contrário é impossível.
A Economia Nominal é uma "titularização" da economia real e existe como uma camada sobre a Economia Real para "diminuir os custos de transacção" e, desta forma, aumentar a eficiência económica, o que leva ao aumento do nível de produção.
A economia nominal começa por denominar todos os bens e serviços da economia real em unidades monetárias, no nosso caso são os euros. Essa denominação chama-se o Preço.
Por exemplo, os telemóveis têm um preço de 120€/unidade e as laranjas um preço de 1,20€/kg.

A produção a preços de mercado.
A produção de uma economia é muito diversificada sendo impossível agrega-la em quantidades.
O preço é uma quantidade nominal e permite a comparação de bens e serviços diferente.
Então, havendo um preço para cada bem ou serviço produzido na economia, podemos calcular o PIB- Produto Interno Bruto como a soma dos preços de todos os bens (multiplicados pelas quantidades).
Se hoje se produziram 100 telemóveis e 1000kg de maçãs e amanhã se produzem 100 telemóveis e 500kg de maçãs, então, a produção aumenta de 13200€, 100x120 + 1000x1,2, para 13800€, 110x120 + 500x1,2.
O total que se produz numa economia é a soma de todos os bens e serviços produzidos durante um ano ao preço a que são transaccionados no mercado (também poderá ser referenciado a um trimestre ou a um mês). Desta forma já é possível somar alhos, bugalhos, cebolas, pepinos, massagens, automóveis, telemóveis, aulas e toda a diversidade que é produzida e transaccionada no mercado (caso contrário, não tem preço, como o tempo que os pais despendem a cuidar dos filhos).
Quando os preços aumentam, o PIB nominal aumenta sem haver aumento da produção pelo que, para se poder comparar a evolução da produção real ao longo dos anos é preciso retirar ao PIB Nominal o efeito da subida dos preços (a famosa Taxa de Inflação).

2.1 = A Riqueza nominal = a Economia Financeira.
A riqueza real é o número de macieiras mas a riqueza nominal tem duas formas de ser calculada.
Por um lado, pode ser o Preço de cada macieira a multiplicar pelo número de macieiras (a óptica do passado, usada pela contabilidade).
Se o preço de cada macieira é 100€, quem tiver 100 macieiras, terá 10 mil € de riqueza contabilística.

Por outro lado, pode ser o que as pessoas pensam que as macieiras vão produzir no futuro (a óptica do futuro, usada pela economia financeira).
Vamos imaginar que cada macieira vai produzir, especula-se, 100kg por ano e que as maçãs vão ser vendidas a 0,05€/kg. Então, em cada um dos anos futuros, a macieira vai produzir 5€.
Expeculando que a macieira durar para todo o sempre e a taxa de juro for de 5%/ano, então, a macieira vai "valer" 100€, calculado dividindo 5€/ano por 5%/ano:
Valor Actual da Macieira = 5/5% = 100€/macieira
A riqueza financeira será de 100€/macieira*100 macieiras = 10 mil €.

A óptica do futuro cria a Economia Financeira.
Na óptica do futuro, havendo alterações nas expectativas (no que as pessoas pensam sobre o futuro quanto à produção de maçãs, o preço das maçãs e a taxa de juro), também haverá alterações na riqueza sem haver qualquer alteração na economia real.
São apenas alterações nas expectativas, no que as pessoas pensam sobre o futuro e nada sobre a realidade.
Se se antecipar que a taxa de juro vai descer para 4%/ano, a riqueza aumenta instantaneamente para 12,5 mil €, 100*5/4%, sem haver qualquer alteração na quantidade de macieiras nem no nível de produção.
Este aumento de riqueza não terá qualquer impacto na economia real.
A Economia Financeira é a titularização dos activos, sejam capital ou bens e serviços futuros ou derivados sobre estes titulos, em que os títulos criados "ganham vida" e passam a ser tratados como se fossem bens.

Por exemplo, o dono das 100 macieiras titulariza-as criando 1000 "Acções Macieira".
O detentor de cada Acção Macieira vai receber, todos os anos, a produção das macieiras vendida ao preço de mercado a dividir por mil.
Agora, o dono das 1000 acções macieira (já me esqueci que ele é dono das 100 macieiras) vai vender 499 acções pedindo o preço de 10€/acção. Se houver pessoas que queiram poupar e que especulem que o "valor" das acções é mais do que 10€/acção (pensem que a produção, o preço e a taxa de juro futuros são favoráveis), o proprietário das acções vai conseguir vender os seus títulos a 10€/acção.
Depois, se a expectativas quanto ao futuro induzir que a taxa de juro vai diminuir, a produção ou o preço das maças vão aumentar, o "valor" das acções irá aumentar ficando as pessoas mais ricas.
Mas o número de macieiras é sempre o mesmo não tendo esta riqueza nominal qualquer efeito sobre a economia real.

Existem muitos "produtos" financeiros.
As acções são os mais simples (a titularização e divisão do capital em pequenas partes) mas existem produtos complexos que usam as acções como "substrato", por exemplo, os futuros ou as opções sobre as acções.
Também existem produtos financeiros sobre bens (por exemplo, a venda de bens que ainda não existem e cuja entrega será feita no futuro).
E ainda existem misturas e remisturas de activos financeiros, com seguros e opções de compra e de venda pelo meio.
Mas interessa revincar que estes produtos financeiros não têm impacto directo na economia real, apenas indirecto pela diminuição dos custos de transacção.
Nem tem impacto na economia real uns terem mais riqueza financeira e outros menos.

2.2 = A Economia Monetária.
A moeda é um instrumento financeiro que titulariza os bens e serviços que o seu detentor vendeu no passado e que lhe vai permitir comprar bens e serviços no futuro (onde se incluem activos financeiros e moeda estrangeira).
Se alguém tem no bolso notas e moedas no valor de 10 mil€, isso traduz que, no passado, trabalhou (recebendo salários), vendeu bens e serviços (recebendo o preço) e comprou bens e serviços (pagando o preço) e que a soma dos salários com os preços que recebeu subtraindo os preços que pagou deu 10 mil€ positivos.
Estes 10 mil € permitem que, no futuro, a pessoa compre 10 mil € de bens e serviços.
Uma nota é como uma acção de uma empresa com a diferença de que o "valor" da acção "condensa" todos os rendimentos futuros da empresa (a dividir pelo número de acções) e a nota condensa o "valor" de todos os bens e serviços que podemos comprar com essa nota no futuro.

A super-neutralidade.
A quantidade de moeda ou o seu aumento ao longo do tempo não tem qualquer impacto na economia real  (no nível de produção nem na distribuição) mas apenas influencia os preços e, portanto, a produção nominal.
Portugal tem aproximadamente 25 mil  milhões de Euros e se passasse a ter 50 mil milhões de Euros, as pessoas passariam a ter mais dinheiro no bolso mas o que se produz e consome seria exactamente igual, havendo apenas uma alteração nos preços.
Se hoje uma empregada doméstica tem um salário de 6,00€/h passaria a ter 12,00€/h.
Se hoje o café tem um preço de 0,75€/chávena, passaria a ter 1,50€/chávena.
Se hoje a renda de uma casa é de 500€/mês, passaria a ser de 1000€/mês.
Ficaria, em termos reais, tudo na mesma.

O Banco Central.
A função do Banco Central é APENAS manter a estabilidade dos preços.
Se o Banco Central aumentar a quantidade de moeda na economia, funcionando como um bem qualquer, o valor da moeda diminui o que traduz que haverá aumento proporcional dos preços.
Como o aumento generalizado dos preços prejudica a capacidade de as pessoas compararem os preços dos bens e serviços e, desta forma, aumentam os custos de transacção, o Banco Central deve manter os preços o mais estável possível, isto é, a inflação deve ser o mais baixo possível.
No caso do Banco Central Europeu, a taxa de inflação (que mede o aumento anual dos preços), deve ser próximo de 2%/ano.

Os instrumentos do BCE.
Se os preços estiverem baixos, o banco central tem que aumentar a quantidade de moeda em circulação e, se estiverem altos, terá que diminuir.
O Banco central tem formas de controlar os nível de preço (os instrumentos de política monetária) que podem ser de longo prazo (entrega de notas novas aos governos sob a forma de dividendos, cerca de 0,3% do PIB) e de curto prazo (por exemplo, as operações de open market em que "dá" notas em troca de activos financeiros e vice-versa e a janela de desconto em que concede crédito a uma determinada taxa de juro e vice versa).
Se, por exemplo, o banco central permitisse que as pessoas realizassem pagamentos multibanco com a conta bancária negativa (até -500€), estaria a aumentar a quantidade de moeda em circulação sem emitir notas!!!!

A compra de dívida pública.
Quando, no curto prazo, o banco central decide aumentar a quantidade de moeda em circulação, não a pode dar aos governos para gastar porque, quando decidir diminuir a quantidade de moeda em circulação os governos não terão disponibilidade para devolver o dinheiro.
Então, o banco central entrega notas a privados mediante garantias (empréstimos) ou mediante a compra de activos (compras em open market).
Estas operações são apenas de curto prazo pois, no longo prazo, o banco central entrega notas ao governo para que este as gaste (são denominados por dividendos do banco central).

O Banco Central não tem qualquer efeito na economia real.
Haver mais ou menos moeda em circulação não tem qualquer impacto na economia real.
Vamos supor que aumentar a quantidade de moeda em circulação fazia os países serem ricos. Então Moçambique, que pode emitir quantos meticais quiser, seria um país rico.
Todo o país que tem moeda própria seria rico e não são necessariamente.

Conseguiram perceber a confusão no texto do Carlos?
A confusão vem de a Economia Real ser denominada em Euros e de os "activos" financeiros e monetários também serem denominados em euros.
Assim, pensamos que 20€ de batatas é o mesmo que uma nota de 20€ mas as batatas são produção e a nota é apenas uma realidade contabilística.
Não é fácil lendo um pequeno texto como este ficar a compreender que as camadas nominais são importantes para o melhor funcionamento da economia real mas que a ligação é ténue.
Porque o artigo de opinião do Carlos não faz qualquer sentido?
Confunde Riqueza com Produção, o que não é possível por serem realidades diferentes.
Confunde Moeda e activos financeiros com Produção.
Também confunde Riqueza com Consumo.

O Ruanda é a prova de que liberalismo económico permite que a economia funcione melhor.
O Ruanda é um país pobre perdido algures no meio de África.
É um país que ficou famoso porque, em 1994, mataram-se uns aos outros, talvez uns tenham matado 1 milhão de outros, cerca de 15% da população foi assassinada.
Mas o que interessa é que, antes de 1994, as pessoas tinham no seu Bilhete de Identidade qual era a sua etnia e as empresas e o estado tinham que contratar proporcionalmente de cada etnia.
Referindo Portugal, se os ciganos são 0,1% da população portuguesa, nas universidades teriam que entrar 53 ciganos por ano (em 53 mil alunos novos), o Estado teria que contratar 700 ciganos (em 700 mil funcionários públicos) e a mesma proporção teria que ser observada nas fábricas e nas cadeias!!!!
Em 1994, o Ruanda acabou com a referência à etnias no bilhete de identidade e passou a haver liberdade de contratação.
Se entre 1960 e 2013 a economia cresceu (em termos de PIB per capita) 0,9%/ano, depois da liberalização do mercado de trabalho de 2014, a economia passou a crescer 5,0%/ano.
Antes da crise o PIBpc era de 420€/ano/cabeça e em 2019 já era de 905€/ano/cabeça.
Uma coisa tão pequena (a liberalização do mercado de trabalho) teve um impacto enorme na melhoria das condições de vida dos ruandeses.

PIB per capital do Ruanda, 1960:2019 (dados, WB)

O Carlos cometeu mais uma falhazita!
Os textos que escreve devem mostrar as vantagens do liberalismo do Laissez faire laissez passer e essa ideia não está no texto, pelo contrário.
Se, das forças do mercado, resultar que cada vez mais existem mais ricos (e não necessariamente mais pessoas com baixos rendimentos), é preciso vincar que o Bill Gates ou o Mark Zuckelberg serem podres de rico não prejudica ninguém, muito antes pelo contrário, é a motivação para que mais e mais pessoas criem produtos e serviços que melhoram as nossas vidas.
A riqueza de quem cria coisas novas em nada prejudica seja quem for, antes pelo contrário, criam oportunidades.

7 comentários:

J disse...

Se o banco central Europeu disser que irá comprar divída do Sporting não estará a beneficiar o Sporting em detrimento de tudo o resto?


Não seria uma transferência de riqueza de todos os que pertencem á zona Euro para um grupo muito especifico de pessoas?

De que forma é que se poderia considerar essa intervenção como tendo por objectivo manter a estabilidade de preços?

A FED comprar divida de algumas empresas bolsistas não representa uma transferência de riqueza do todo para uma parte?

O banco central ao imprimir dinheiro não aumenta a produção da economia real mas a forma como usa esse dinheiro altera ou pode alterar o tipo de produção na economia real assim como a forma como a riqueza está distribuída


Anónimo disse...

Duas coisas:
1-Até agora tinha duvidas, mas hoje passei a acreditar que é
mesmo professor. Consegue escrever muito e detalhado sobre
algo que parece obvio. Ficou até um pouco chato chegar ao fim, mas gosto muito dos artigos em geral. aprendo.
( o meu vocabulario é limitado, peço com humildade desculpas). Tb li o artigo de CGP em que ele refere a sua
propria ignorancia politica monetaria e deu-me ganas de mandar um mail, para mostrar tb a minha. nao mandei. por isso deixo aqui o que pensei na altura: a BOLHA, os valores do imobiliario, das acçoes, da "riqueza" podem nao ser concretizaveis.. camadas de cebola e bolha, tb combina bem! Nao é obvio?
2-tentando responder a J (nao levem a mal, se levarem, apaguem!!) Se o BCE comprar divida/acçoes do Sporting, pode nao estar a beneficiar, depende da interpretaçao do mercado, os outros detentores de divida/acçoes podem achar que o clube está tao mal que devem é desfazer-se dos seus titulos.
Transferencia de riqueza nao seria, melhor ler o artigo do prof de novo! A Fed a comprar divida de algumas empresas bolsistas (se o faz com equilibrio) é como o BCE a comprar divida de paises europeus. Veja quanto vale uma APPL ou a Amazon (está a 135 de multiplos de dividendo!! escandaloso,
e parece que continua a subir!). Concordo no geral com o ultimo paragrafo, por isso é que os Holandeses se chateiam, dada a criaçao (ou dávida em euros,mesmo) de divida comum
pela comissao europeia (fique no BCE ou noutros poisos). L.

J disse...

"tentando responder a J (nao levem a mal, se levarem, apaguem!!) Se o BCE comprar divida/acçoes do Sporting, pode nao estar a beneficiar, depende da interpretaçao do mercado, os outros detentores de divida/acçoes podem achar que o clube está tao mal que devem é desfazer-se dos seus titulos."

O banco central ao comprar dívida está a diminuir as taxas de juro dessa mesma dívida, independentemente do que os outros detentores de dívida achem. logo está a transferir riqueza do todo para uma parte.

A compra de dívida de países por parte do BCE tem permitido a países como Portugal, sem crescimento, sem poupança e sem investimento, manter e aumentar os gastos do estado Português. É na verdade mais uma transferência de riqueza do sector privado para o sector público porque permite o crescimento deste último.

PS: O dinheiro recentemente criado não entra em toda a economia ao mesmo tempo. Pensar que toda a economia se adapta imediatamente a esse aumento monetário demonstra muita ingenuidade.

Silva disse...

Mais uma vez foge-se ao que realmente importa que é a implementação de reformas estruturais:

Abolição do salário mínimo
Liberalização dos despedimentos
Abolição dos descontos
...
...
...
...

Anónimo disse...

Boa noite:
Novamente para J (réplica):
1)O Sporting poder emitir divida, c/ juro mais baixo é
aumentar riqueza? - a mim parece-me aumentar pobreza (divida).
2) "A compra de dívida de países por parte do BCE tem permitido a países como Portugal...", certo! Mas está a
misturar 2 planos distintos, o financeiro e AS OPÇOES
politicas (e sao legitimas pois, parece que os Portugueses
sao masoquistas e votaram PS e continuam a dar-lhe a
liderança das sondagens). Destas opçoes o BCE nao é culpado!
3)Obrigado por só usar o adjectivo ingénuo, para me
classificar ou ás m/ ideias, em geral chamam pior! Mas eu
nao sou habitué das RS ou cx de comentários... Assim que
tento sempre responder sem argumentos emotivos... Nao sei
onde está escrito que "a economia se adapta imediatamente
ao aumento de euros, etc". Quando a luta entre bancos/correctoras já vai ao ponto de diminuir os metros a que os respectivos servidores estao do NYSE... e estamos
"governados" por algoritmos automaticos, quase sem espaço,
para os traders humanos (o nº que li em tempos era de 60% em
automatico e 40% humano)... Claro que hà adaptaçoes rapidissimas (mais baseadas na analise tecnica) e adaptaçoes
mais lentas - a distribuiçao da informaçao é assimetrica.
4)A palavra (conceito) bolha, é muito escorregadio, porque há
umas dentro de outras, porque há umas intersectadas com outras, porque os instrumentos disponiveis a nivel financeiro podem ser tao complexos que o $ vai acabar em sitios inesperados.... O prof. nao se fez a uma incursao pela
área, que é deveras complicada e talvez mesmo nao perceptivel, (para nós, quero dizer), faltou dizer que muito
dinheiro está movimentado por fora, na shadow bank, de que se houve falar menos curiosamente!
5)nao sei se passa um link mas vou tentar, pois é um excelente exemplo de bolha!
h t t p s ://eco.sapo.pt/2020/08/22/corrida-as-acoes-faz-disparar-preco-da-tesla-e-a-fortuna-de-musk/
6)Para tentar finalizar, pois o meu capital-tempo é muito
curto, deixava uma sugestao de leitura, caso ainda nao o tenha feito e que foi das melhores obras, que li sobre a
questao subjacente ao tema aqui presente, finança x riqueza!
The Ascent Of Money: A Financial History of the World, Niall Ferguson - Realmente alterou a minha forma de pensar o $...
(está editado em português). L.

Portuendes disse...

Um excelente manual de Economia.

Buíça disse...

Há pelo menos duas maneiras de a econonia financeira e/ou monetária ter influência bem dramática na economia real.
Do lado financeiro se há liquidez a mais na economia a expectativa de que as ações da Macieira SA vão subir, seja por se esperar mais consumo ou por se esperar que os juros vãoncontinuar a caír, pode atraír demasiados investidores criando um ciclo vicioso em que as compras de ações são contínuas e no limite os agentes económicos considerem mais rentável comprar ações de maçãs em vez de outros investimentos (incluindo plantar maçãs). É a tal bolha.
Do lado monetário esse contínuo baixar de juros pode exacerbar ainda mais o efeito real, já que chega a ser ainda mais rentável pedir dinheiro emprestado para conprar ações de maçãs. Inclusive para os donos e gestores da Macieira SA, cujo bónus depende da cotação da empresa.
O banco central pode até ficar refém do ciclo vicioso, pois sofrerá todas as pressôes pata continuar a baixar os juros tal a quantidade relativa de riqueza/poupança da economia que está investida em ações. Os custos sociais de rebentar uma bolha são tão mais devastadores quanto maior for a bolha.
E tudo isto tem origem no momento em que a missão do banco central deixa de ser controlar a inflação e passa a ser impedir, com medidas artificiais, falências de empresas e bancos e investidores (e países...) que tomaram decisões imprudentes e em capitalismo perfeito teriam mesmo que falir e ser substituídos por outros mais competentes/racionais.
É aliás esta a objeção principal da Alemanha contra as actuais políticas dos bancos centrais.

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