Estou um bocadinho assustado.
Historicamente, sempre que um país se tornou uma potência, aconteceu uma guerra devastadora. Esse processo histórico está a acontecer com a China.
A China está a ocupar ilhotas à procura de domínio no Pacífico, exactamente o que aconteceu nos anos 1930 com o Japão.
Agora, temos a invasão pela Rússia que vai ser totalmente derrotada se a China não a ajudar massivamente. A ideia escondida da China é trocar a ajuda militar pelos territórios russos da "Ásia profunda".
As ditaduras tomam decisões que não são racionais.
Sempre pensei que a invasão da Ucrânia nunca iria acontecer porque não há nem nunca houve qualquer ganho imaginável para a Rússia pela invasão e anexação da Ucrânia.
Passa-se o mesmo com Taiwan, não há qualquer ganho para a China em invadir e anexar Taiwan (ou a Malásia invadir Singapura). Mas, vendo como me enganei na questão russa, o mais certo é estar enganado e a China ir mesmo aliar-se à Rússia e invadir Taiwan.
Comparando com a Ucrânia, Taiwan tem a vantagem de ser uma ilha mas tem a desvantagem de não ter "profundidade estratégica", é uma cidade costeira (Thaichug+Chiayi+Tainan+Kaohsiung) virada para a China, com 30 km de profundidade face ao mar e 200 km de comprimento ao longo da costa.
Será que os USA vão defender Taiwan?
Defender Taiwan de um bloqueio naval e invasão por parte da China obriga a tomar medidas de força por parte dos USA que representam uma guerra total. Pior ainda, se a China decidir usar armas nucleares.
Será que os USA vão entrar numa guerra total contra a China, possivelmente usando bombas atómicas? Não sei, tenho mesmo muitas dúvidas que os USA vão defender Taiwan.
Esta questão colocou-se nos anos 1950 aos europeus, "Em caso de um ataque nuclear por parte da URSS será que os USA nos vão defender?" Como a resposta foi "não sei" a França, com 290 bombas atómicas, e o Reino Unido, com 235, decidiram pela "independência estratégica": se formos atacados, não estamos dependentes dos USA para retaliar.
Se Taiwan não consegue resistir a uma invasão chinesa e se têm dúvida que os USA entrem em confronto directo com a China para os defender, só lhes resta a "independência estratégica".
O que é uma bomba atómica?
Em termos práticos, há 2 tipos de bombas atómicas, as bombas de Urânio 235 e a bomba de Plutónio 239. Actualmente, em cada 20 bombas atómicas, 19 são de U235 e apenas uma é de Pu239.
A bomba de U235.
O Urânio natural é formado por dois isótopos, 99,3% é U238 que é inerte e 0,7% é U235 que é activo. Uma bomba atómica precisa que se concentre o Urânio a 95% de U235 o que é difícil de fazer e de esconder.
A bomba de U235 tem duas vantagem sendo que a primeira é ser estável (enquanto está armazenada não produz calor) e a segunda é não "abortar" durante a ignição.
A massa crítica de U235 é 52 kg mas, com reflectores de neutrões, essa massa mínima pode diminuir para 20kg.
A bomba de Pu239.
Não existe Pu239 na natureza, sendo necessário produzi-lo em reactores nucleares. Dentro do reactor nuclear, U238 inerte é atingido por um neutrão e transforma-se em Pu239. Depois, é necessário processar o material para retirar o Pu239.
A bomba de Pu239 tem a vantagem de ser relativamente fácil (?) produzir Plutónio mas tem três desvantagens.
A primeira desvantagem é que juntamente com o Pu239 cria-se Pu240 que é muito activo, produzindo muito calor. Assim, o armazenamento é difícil pois é preciso refrigeração constante.
A segunda desvantagem é que, para haver pouco Pu240 misturado no Pu239, é preciso interromper o funcionamento do reactor nuclear a cada 3 meses o que é detectável e muito dispendioso. A forma de resolver isto é usar reactores CANDU.
A terceira desvantagem é que o Plutónio é "muito rápido" o que causa o "abortar" da explosão.
A massa critica de Pu239 é 10kg (e de Pu240 é 40kg).
O que é o "abortar" da explosão nuclear?
Para acontecer a explosão, o material físsil tem que estar compacto. Assim que a explosão começa, o material aquece e expande-se, deixando de estar compacto. No caso do U235 quando a expansão acontece, já a reacção está "muito bem encaminhada" enquanto que no caso do Pu239, a reacção ainda está no princípio.
Com a expansão, a reacção nuclear para.
A bomba atómica de Pu239 tem de conter o material confinado da expansão usando um "super-explosivo" de confinamento.
Taiwan tem muito Plutónio mas ...
Tem uma central de reprocessamento de combustível dos seus reactores nucleares, produzindo toneladas de Plutónio mas é "reactor grade", isto é, tem 80% de Pu239 e 20% de Pu240.
Isto explode mas é impossível de armazenar pois produz muito calor. Para termos uma ideia, 20kg de Plutónio 80/20 (que é uma esfera com 10cm de diâmetro) produz 1000 KW de calor o que é uma enormidade, não dá para refrigerar.
Se fosse eu a mandar em Taiwan, o que faria.
Comprava um território à Indonésia, parte da Papua Ocidental e mudava o governo e todas as instituições criticas para o novo território.
Nesse território, podia-se pacificamente declarar como estado independente e, lentamente, criar infraestruturas e mudar tudo para lá.
Na eventualidade de Taiwan ser invadida, os cidadãos poderiam "fugir" para esse novo território.
1 comentários:
"Sempre pensei que a invasão da Ucrânia nunca iria acontecer porque não há nem nunca houve qualquer ganho imaginável para a Rússia pela invasão e anexação da Ucrânia."
Caro PCV
O ataque à Ucrânia começou em 2014.
Parece-me estranho que não tenha percebido isso.
Também acho estranho que não perceba que as ditaduras tomem decisões bastante racionais (para os seus propósitos).
As democracias é que tomam decisões pouco racionais, especialmente quando a direita está no poder. Quando é a esquerda a estar no poder, o seu objectivo é o de minar e destruir as estruturas da sociedade, não só ao nível económico como ao nível social, moral, político, etc. e fazem-no com grande eficácia e eficiência.
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