terça-feira, 12 de setembro de 2023

Baixar os impostos é um erro, temos é de baixar a despesa pública

Da extrema esquerda à extrema direita, todos defendem a diminuição dos impostos.

Todos sabem que odeio o António Costa pelo que diz, desonestamente, sobre o trabalho do Passos Coelho. Mas, actualmente, parece que é o único que ainda tem um bocadinho, poucochinho, de tino.

Da esquerda à direita, ao mesmo tempo que defendem a diminuição dos impostos, defendem o aumento da despesa pública (em mais salários, mais funcionários públicos, mais serviços, mais comboios, mais TGVs, mais TAPs, mais EFACECs, whatever) 

Também defendem a diminuição dos preços e o aumento dos custos (mais salários, mais direitos, mais dias de férias, mais compatibilização com a vida familiar, whatever).

Isto é apenas populismo, não bate a bota com a perdigota porque os impostos têm de andar no mesmo sentido que a despesa pública.

Se não se reduz a despesa pública, não se podem reduzir os impostos.

Será que só há mentecaptos na cena política portuguesa?


Não há evidência que indique que diminuir os impostos melhora a economia.

É apelativo e parece fazer sentido que baixando os impostos, as pessoas ficam a viver melhor. O pior é que os impostos são quem paga a despesa pública e não havendo impostos, não há como pagar a despesa pública.

Comparando com a vida de cada um, os impostos funcionam para o governo como os salários que pagam as nossas despesas. Se o nosso salário diminuir, deixamos de ter como pagar as despesas (ou vai para calote).


Fui ver os dados.

Peguei nos dados do Banco Mundial para os 20 anos entre 2002 e 2021 e calculei a variação da década 2002-2011 para a década 2012-2011 da despesa pública, dos impostos e do PIB per capita.

Consegui 128 países onde vive 61% da população mundial.

Usando WOLS obtive a seguinte estimativa:

    Crescimento = 0,45 - 0.04 Despesa_Pública + 0.02 Impostos

Isto traduz que, em média, se a despesa pública DIMINUIR em 1 ponto percentual do PIB, o crescimento económico AUMENTA 0.04 pontos percentuais em 10 anos.

Se os impostos AUMENTAREM em 1 ponto percentual do PIB, o crescimento económico AUMENTA 0.02 pontos percentuais em 10 anos.

Isto não é nada, 4% ou 2% a mais ou a menos em 10 anos numa média de 42%, mas o sinal é contrário ao que apregoam os "especialistas da TV".

Tanto dá, não é por mexer no total dos impostos e da despesa pública que um país se vai desenvolver.


Não pode ser!!!!!!! Os dados só podem estar errados.

Não pode ser mas é. Os países que, entre a década de 2002-2011 e a década de 2012-2021 diminuíram a despesa pública e aumentaram os impostos tiveram maior crescimento económico (um poucochinho) do que os outros.

Isto é exactamente o contrário do que os nossos partidos querem fazer!!!!! 

Anunciam que aumentando a despesa e diminuir os impostos, Portugal se vai tornar o país mais desenvolvido do Mundo.

Só podem estar malucos.


Isto tem a ver com o défice público ser veneno puro para a economia.

Quando aumenta a despesa ou diminuem os impostos, a diferença é o défice que vai para dívida.

O défice público dá, no curto prazo, a sensação de que estamos a viver melhor mas essa melhoria é feita a crédito que, mais tarde, é preciso pagar com juros.

É como meter as despesas para o "visa". No momento sabe bem aos mentecaptos mas, depois, vai ser um sufoco pagar não só a dívida como os juros.


Portugal tem uma dívida pública astronómica e é agora que tem oportunidade a amortizar.

Portugal deve actualmente  (dados de 31 de Julho de 2023 do Banco de Portugal) 281 mil milhões de euros e mais de metade desta dívida foi feita pelo Sócrates em 5 anos (entre 2008 e 2012).

Desde a intervenção da Troika, a dívida pública aumentou a uma média de 6 mil milhões de euros por ano.

Em termos relativos, em 1999, a nossa dívida pública era 55% do PIB, em 2006-2007 estava em 73% do PIB e em 2020 atingiu o recorde de 135% do PIB.

Esta dívida não é boa para a economia porque retira capital às empresas. Com o governo a pedir todos os anos 6000 milhões de euros, as empresas não conseguem arranjar financiamento. 

Fig. 1 - Evolução da Dívida Pública Portuguesa (dados, Banco de Portugal, M€)


Agora que a receita fiscal aumentou e a despesa pública está mais ou menos controlada, e não se veêm manifestações a pedir a diminuição dos impostos, está na hora de amortizar a dívida pública para, quando vier a próxima crise, o governo poder acomodar a normal descida dos impostos (em IVA, ISP, TSU) e aumento da despesa (em subsídios de desemprego, RSI).


Os partidos da oposição de direita têm de estudar onde se pode cortar a despesa pública.

Não é, como uns, dizer que os impostos das empresas são muito altos e, depois, querer combater a evasão fiscal. Se não fosse a evasão fiscal os impostos sobre as empresas ainda seriam maiores!!!!!!!!!

O que é preciso é cortar na despesa pública, acabar com os TGVs, as TAPs, as CARRISes e STCPs, reduzir a despesa por aluno na escola pública (sim, cada aluno custa 7200€ por ano o que é uma enormidade) e no máximo de coisa que seja possível.

Depois de dizer onde se vai cortar a despesa e depois de a dívida pública estar reduzida a 55% do PIB como nos comprometemos quando entramos na Zona Euro, ai é hora para pensar em cortes de impostos.

Antes, é a prova de que Portugal não passa de um manicómio em auto-gestão.


Vou apresentar aqui uns valores para compararmos.

Taiwan produz os chips mais avançados do mundo, usados nos computadores e telemóveis topo de gama. Em Portugal não sabemos fazer nada e quem sabe tem de se ir embora.

O salário mínimo em Taiwan é de 723€/mês (num salário médio líquido de 1360€/mês) que é inferior ao português de 760€/mês (num salário médio líquido de 1025€/ano) e nós não sabemos fazer nada de sofisticado.

Ao tentar subir administrativamente os salários sem suporte na capacidade do trabalho gerar riqueza, vamos nivelar os salários superiores, das pessoas mais criativas, pelo salário mínimo. Sendo assim, naturalmente que quem tem capacidade para gerar riqueza se vai embora e só fica quem de pouco vale.


Vejamos na carreira académica.

Um professor doutorado com exclusividade recebe líquidos 2000€/mês. Se trabalhar uns 30 anos, sem fins de semana, férias ou feriados e a dormir poucas horas por dia, se publicar uma enormidade de papeis, se orientar centenas de alunos, se engolir muitos sapos e lamber muitas botas, consegue chegar a catedrático (mas tem o risco de nunca abrir lugar) onde passa a recebe líquidos 2660€/mês.

São mais 660€/mês no fim de uma vida de esforço desumano, havendo pelo menos um risco de 50% de, mesmo assim, nunca lá chegar por falta de vaga.

Já estão a ver porque não se criam ideias inovadoras nas nossas universidades, não há incentivos, está tudo nivelado pela mediocridade.


5 comentários:

Jorge disse...

Baixar impostos diminui a receita do Estado e como tal este seria obrigado a diminuir a despesa. Tal como foi no tempo da troika. Se a receita continua a aumentar como tem acontecido desde o 25 abril nunca o Estado terá vontade de cortar na despesa.

Silva disse...

Sim, temos de baixar a despesa pública mas obviamente baixando os impostos.
É muito fácil, mas é necessário vontade/coragem política.
Antes de mais nada é preciso elucidar uma situação, um imposto é uma imposição, ou seja, qualquer lei é uma imposição, ou seja, um imposto.

Faz-se assim

1º - Abolição do salário mínimo
2º - Liberalização dos despedimentos
3º - Abolição dos descontos

Seguem-se outras reformas estruturais ...

Haveria um brutal aumento do investimento.
A despesa pública diminuiria substancialmente com o colapso do Ministério da Segurança Social e quase todas as dependências a ele afectos.
Deixaria de haver muitos processo judiciais relativos ao direito laboral.
etc.


Silva disse...


https://www.sabado.pt/mundo/detalhe/grecia-aprova-semana-de-seis-dias-de-trabalho?utm_source=priberam&utm_medium=referral&utm_campaign=dbi_cruzados&utm_term=det_outras_noticias_cofina&utm_content=record&from_pub=REC

Grécia aprova semana de seis dias de trabalho

Passam a ser legais os contratos para "Trabalhadores de Plantão" que não têm um horário estabelecido pelo que o empregador pode requerer a sua presença a qualquer altura do dia, sem aviso prévio.

Outra das medidas deste projeto de lei, que está a originar a contestação, é que durante o primeiro ano de trabalho o trabalhador pode ser despedido sem qualquer aviso prévio ou remuneração.

Anónimo disse...

1- O Professor não apresenta o R₂ da sua regressão por WOLS. O mais provável é que tenha omitido variáveis explicativas significantes.
2- O Professor escolhe maus períodos de análise e não considera nos impactos as políticas desastrosas do tempo da Troika sendo que a ideia da austeridade expansionista nunca funcionou em lado nenhum e gera efeitos de histerese.
3- O Professor sugere cortar na despesa pública reduzindo o financiamento para formar alunos quando é o capital humano que desenvolve as economias modernas.
4- No post a seguir já fala que sem infraestruturas públicas que são complementares ao investimento privado a economia não se desenvolve, um contrassenso com este post.
5- O Professor só encara o lado dos custos na parte dos salários dos professores e médicos esquecendo-se que com maior poder de compra isso aumenta o consumo privado e gera atividade económica.
6- Talvez o mais grave o Professor parece defender as ideias totalmente erradas e danosas do tempo da troika. Políticas contracionistas pró cíclicas vão gerar uma depressão económica.
7- O Professor não considera que os problemas portugueses resultam do euro não funcionar para Porgugal e que países como a Alemanha geram excedentes e por definição obrigam outros países a incorrer em défices. Também não considera que com esses excedentes tornaram-se em países credores e na desigualdade de poder e conflito de interesses daí resultante.
Resumindo e concluindo a análise que fez neste post é mal cheirosa para ser simpático consigo.

Anónimo disse...

Jorge, as políticas do tempo da troika foram péssimas para os portugueses. O que a Troika fez foi adotar medidas que contraíam ainda mais uma economia que já estava em recessão. São medidas totalmente contraproducentes e geram enormes efeitos de mal estar. O próprio FMI veio reconhecer que estava errado.

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