A razão está no que aconteceu ao Kuwait.
Já ninguém se lembra mas em 2 de Agosto de 1990 o Iraque invadiu o Kuwait.
Podemos pensar que foi uma invasão como qualquer outra mas não porque neste país vigora verdadeiramente um regime de apartamento já que pela Lei da Nacionalidade de 1959 (Emiri Decree No. 15 de 1959) os nacionais do Kuwait são apenas as pessoas que descendem por linha directa paterna (mesmo que tenham nascido no estrangeiro de mãe estrangeira) de homens que já viviam no Kuwait em 1920 e que mantiveram residência normal até 1959, data da publicação da lei.
Apenas em casos muito especiais a criança pode obter a nacionalidade pela linha maternal se o pai for desconhecido (não declaradamente estrangeiro) ou em caso de morte ou divórcio de pai estrangeiro se a criança viveu no Kuwait desde que nasceu até que atingir a maioridade.
O decreto considera nacionais originais os clãs que estavam estabelecidas no território antes da descoberta do petróleo.
Devido a esta Decreto do Emir, a grande maioria da população é formada por estrangeiros, na altura, principalmente de origem palestiniana.
Assim que o Kuwait foi invadido, foi dada nacionalidade a todas as pessoas que nasceram no território e, de um dia para o outro, a democracia na perspectiva europeia, decidiu pela passagem a república e a instauração de um governo democrático palestiniano.
O que fez a Europa e os restantes países árabes?
Protestou, disseram a frase "protestamos com as palavras mais duras que existem" mas, em concreto, na acção, não fizeram nada. Para os europeus, a maioria da população que nasceu no território tinha decidido de forma democrática pelo que, o melhor para os negócios e para a opinião pública europeia, era aceitar que o Kuwait passaria a ser um estado palestiniano dependente do Iraque.
A Turquia ficou mesmo muito contente, proibindo o trânsito de tropas pelo seu território.
O que fez os USA?
Retalhou tudo o que mexia, milhares e milhares de pessoas, retalhou na "estrada da morte" o exército do Iraque e reestabeleceu o regime monárquico minoritário dos Emires.
No Qatar a situação é ainda pior.
No Qatar não existe uma data concreta definida na Lei mas, em termos práticos, a nacionalidade está ligada em linha paternal aos clãs que já viviam no pequeno território em 1916, quando foi estabelecido o protectorado britânico sobre o território.
Esse reconhecimento consolidou-se durante a vigência do protectorado (1916-1971) e, após a independência, são apenas nacionais qatarianos os descendentes desses clãs e apenas pela linha paternal. A Lei n.º 38 de 2005 apenas formalizou essa situação, mantendo a transmissão da nacionalidade quase exclusivamente pela via paterna, ao passo que a mãe qatariana só pode transmiti-la em circunstâncias muito restritas.
90% da população do Qatar é não nacional.
O número de nacionais qatarianos é cerca de 350 mil pessoas de entre as quais menos de 8 mil têm capacidade física para serem mobilizados para um exército e, com as fraldas que usam, será uma exército tipo geleia. Estas pessoas estão "misturadas" com 2,75 milhões estrangeiros bravos, quase 9 estrangeiros para cada nacional.
Agora, imaginem que os iranianos, palestinianos, iémenitas ou outro qualquer país muçulmano republicano faz uma intervenção militar do tipo que a Rússia fez quando invadiu a Crimeia. A contar com o "direito internacional" e a ajuda europeia, estão fodidos, pura e simplesmente a minoria qatariana que vive na opulência à custa do petróleo e do gás natural deixa de existir.
É que à luz da "moral europeia", esses estrangeiros têm direito a ser nacionais do Qatar porque nasceram no território de pais que já nasceram no território. Como são a maioria, as "democracias europeias" não podem ir socorrer um regime que é altamente minoritário e que apenas sobrevive sobre um regime de apartamento pela exploração da maioria (não têm direito aos lucros da exploração dos combustíveis).
sábado, setembro 13, 2025


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