segunda-feira, 18 de junho de 2018

A mobilidade social tem duas faces

Demora 125 anos a sair da pobreza. 

Foi este o resumo das notícias sobre um relatório da OCDE. 
Primeiro, vamos compreender este número.
Peguemos nas pessoas que conhecemos e vamos meter 1/3 em cada uma das 3 classes em que as famílias se dividem, "mais pobres", "médios" e "mais ricos".
Depois, andemos 125 anos para trás, até ao ano de 1893, e tentemos indagar se os avós/bisavós dos nossos conhecidos pertenciam ao mesmo grupo que ela pertencem actualmente.
O "125 anos" traduz que, decorridas 5 gerações, 50% das pessoa que em 1893 eram "mais pobre" hoje os seus descendentes são "médios" (e 50% continuam "mais pobres").
Noutra perspectiva, a cada geração, 100 famílias "mais pobres" dão origem a 87 famílias "mais pobres" e 13 famílias "médios" 

O que é ser "mais pobre"?
É um conceito relativo de forma que um "mais rico" em 1893 até vivia muito pior que um "médio" de agora (por exemplo, o dentista arrancava os dentes a frio!!!).
Assim, apesar de os "mais pobres" estarem condenados a gerar "mais pobres" isso não quer dizer que não há progresso e melhoria nas condições de vida.

O reverso da medalha.
Se os "mais pobres" têm dificuldade a passar a "médios", isso traduz que os "médios" também têm dificuldade a passar a "mais pobres" (porque, em cada grupo, há sempre 33.3% das pessoas).
Assim, política que favoreçam o "ascensor" social terão o efeito perverso de favorecer o "descensor" social.

Razões para a pouca mobilidade social.
Há diversas razões/hipóteses.

1) Razões orgânicas/genéticas.
Vamos supor que uma pessoa consegue gerar rendimento elevado porque tem alguma característica genética particular seja inteligência, beleza ou jeito para o desporto.
Vamos supor que essas características se transmitem geneticamente aos seus filhos (filho de peixe sabe nadar).
Vamos supor que "pessoas com mais sucesso" têm filhos com outras "pessoas com mais sucesso".
Então, os filhos de famílias de sucesso acima da média vão também ter sucesso acima da média, perpetuando-se as famílias no escalão de rendimento.

2) Razões económicas.
Por sorte, uma família teve sucesso e acumulou fortuna (por exemplo, Cristiano Ronaldo).
Ao transmitir o património aos seus filhos, mesmo que estes não tenham grande capacidade, vão continuar ricos.

3) Razões sociais.
O grupo defende-se da entrada de outros (favorecimento).
Assim, quando há necessidade de contratar um trabalhador, vão escolher alguém do seu grupo de rendimento. Como os ricos estão em lugares melhor remunerados, vão contratar os filhos de outros ricos que vão ter melhores salários que os filhos dos "mais pobres" com igual capacidade, perpetuando os grupos sociais.
Também a ideia de que os mais ricos não casam com mais pobres e os ciganos não gostarem que haja casamentos fora da etnia são barreiras social.

Acredito que a Sara Sampaio vá ter filhas bonitas

1 comentários:

Anónimo disse...

Boa noite professor. Será que me podia explicar '"Noutra perspectiva, a cada geração, 100 famílias "mais pobres" dão origem a 87 famílias "mais pobres" e 13 famílias "médios"'? Já fiz uns cálculos e não consegui perceber os valores. Obrigado.

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