terça-feira, 26 de junho de 2018

O turismo, as cidades e os nativos

Fui viver para a cidade do Porto há 35 anos. 
Foi no dia 15 de Outubro de 1983, quando entrei para a universidade.
Nesse tempo, havia muitas casas degradadas, muitas famílias a viver em quartos minúsculos e em casas velhas.
Havia ainda famílias "ocupas" de casas velhas e degradadas do tempo dos retornados de África.

Com o passar dos anos.
As principais faculdades também saíram do centro da cidade, principalmente a faculdade de engenharia e a faculdade de ciências.
Os cafés foram ficando vazias, as velhotas deixaram de ter clientes para os quartos e foram morrendo.
As famílias foram abandonando as condições de vida degradantes e deslocaram-se para casas melhores nos subúrbios.
As casas foram fechando e a degradação foi tomando cada vez mais o centro da cidade.

Depois veio o turismo.
Foi um processo lento que se começou a notar com a "primavera árabe".
Começaram, primeiro, a aparecer meia dúzia de estrangeiros na baixa, depois vieram os barcos Douro acima, os cruzeiros, os voos low cost, os hosteis e a cidade foi-se transformando para mais dinamismo.
As casas começaram a ser recuperadas ao ponto de hoje, quando dou o meu passeio semanal pela baixa, ter continuamente que atravessar de passeio para passeio por causa das obras.

Vamos ao problema das rendas.
Por causa do congelamento das rendas, os contratos antigos tinham rendas ridículas.
Bem sei que os esquerdistas não sabem nada de economia mas, por uma questão de racionalidade económica, esta situação tinha que ser corrigida. Não era para defender os donos das casas mas apenas por racionalidade económica.

Como se faz um país mais rico?
Este é um problema económico central à economia. Vejamos as condições que levam a um país ser o mais rico possível.

Primeiro) O valor atribuído às coisas vem das pessoas.
Bem sei que a Natureza tem direito a existir fora da vontade dos humanos mas o valor económico das coisas resulta directamente do interesse que as pessoas, nós, temos nelas. Esse valor pode ser indirecto (podermos vender as coisas a alguém que tem maior interesse nelas do que nós).


Segundo) Cada pessoa é diferente e, por isso, atribui valor diferente às coisas.
Todos temos gostos diferentes, uns gostam da cor vermelha, outros azul e outros ainda verde.
Há pessoas que gostam de casas viradas para a rua e outras preferem o sucesso das traseiras.

Terceiro) A riqueza é máxima se cada coisas ficar com a pessoa que lhe atribui maior valor.
Vamos imaginar duas pessoas, o João e a Maria, e dois bens, um carro e uma mota.
O João atribui o valor de 10000€ ao carro e 15000€ à mota e a Maria atribui o valor de 5000€ à mota e 10000€ à mota.
Imaginemos que o João é dono do carro e a Maria da mota, a riqueza total será 15000€ = 10000€+5000€.
Agora, se trocarem ficando o João a mota e a Maria com o carro, a riqueza total aumenta para 25000€, 15000€+10000€.

O sistema de preços de mercado
Faz com que as pessoas que atribuem mais valor a uma coisa vai ficar proprietários dessas coisas.
O conceito de valor que a pessoa atribui está ligado, naturalmente, à restrição orçamental de cada pessoa.

Oh riqueza, será um desperdício acabares na cama de um homem que adore mulheres gordas

Vamos ao que interessa.
Se uma velhota atribui o valor de 100€/mês a uma casa velha (até porque não pode pagar mais).
Se um turista atribui o valor de 1000€/mês por essa mesma casa velha depois de reabilitada (vamos supor que reabilitar a casa implica uma amortização de 400€/mês).
A senhora velhota sair e dar lugar à reabilitação vai ajudar os pedreiros e aumentar a riqueza do país.

E o que fazer à velhota?
Terá que arranjar outra casa cuja renda seja de apenas 100€/mês.
Se esta senhora não conseguir arranjar, não querendo nós transforma-la numa sem abrigo, aqui entra o Estado com os bairros sociais.

O que o Estado pode fazer.
Vou começar por tocar num ponto que ninguém se tem lembrado, as cérceas.
O centro das cidades, além dos centros históricos que interessa preservar como memória histórica, existem grandes limitações ao que se pode construir em temos de volumetria e altura.
Estas limitações são um "direito público" que podem ser "privatizadas" com o mesmo impacto que teria vender terrenos novos.
Se, por exemplo, as cércea passar de 5 pisos para 12 pisos, sem necessidade de aumentar as infra-estruturas como as ruas, tubagens de água, saneamento, electricidade, fibra óptica, a área disponível para construção mais do que duplica.
Claro que (e essa é a razão para existirem) os conservadores (de esquerda e de direita) irão dizer que vamos destruir as cidades e que, com isso, vamos acabar com o turismo mas tal não corresponde em nada à verdade. Se em Nova York os prédios mais pequenos têm 20 pisos e os intermédios têm 50 pisos e é uma das cidades com mais turismo do mundo, ...

Os prédios mais pequeninos de NY têm 20 pisos e os médios entre 30 e 50 pisos.

O que eu defendo.
Nos centros históricos até deixo que se mantenham as cérceas actuais que, no caso do Porto, até são bastante razoáveis (por exemplo, a rua dos Mercadores tem uns 5 metros de largura e prédios com 20 metros de altura) mas, fora destes centros e onde o impacto visual é praticamente nulo, duplicava ou triplicava as cérceas actuais. 
Esses aumentos seriam por venda de direitos, 50% para as autarquias e 50% para o Estado central.
Assim, seria algo positivo para os donos dos imóveis, para os nativos (mais oferta de habitação), para os turistas (mais área para alojamento e mais trabalhadores no sector do turismo) e para as pessoas das outras regiões (a venda dos direitos seria receita pública).
Se o preço das casas nas cidades andar nos 1500€/m2 e a construção custar 750€/m2, tal traduz que o aumento da cércea poderá ser vendido por 750€/m2 o que traduz um potencial enorme para aumentar a riqueza do nosso país.
Mas penso que somos, enquanto eleitores, conservadores de mais para isto sendo mais popular o discurso demagógico do combate aos despejos das velhinhas.


Só um bocadinho do Bruno de Carvalho.
Caiu e está com um esgotamento nervoso.
Aconselhava a ir ao Bruxo de Fafe pois também acredito que está a ser vítima de bruxaria.
Tem que levar "defumações, encruzilhadas e rezas de contra-fogo para banir Lúcifer" senão, nunca mais volta a ser presidente do SCP.

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