Durante anos fui defensor da Energia Nuclear mas não mais faz sentido fazer centrais nucleares.
Se decidíssemos hoje fazer uma central nuclear e as pessoas estivessem maioritariamente convencidas que era o melhor para Portugal, com projecto, avaliações de impacte ambiental e construção, não estaria a funcionar antes de 2030.
O investimento total numa central de 1000 MW seria na ordem dos 7000 milhões €. Esse investimento seria então amortizado em 60 anos, resultando um encargo (com taxa de juro de 2%/ano) de 200 milhões € / ano.
Assumindo uma "carga" de 85% do tempo, estamos a falar num custo de 0,03€/kwh a que temos de acrescentar 0,01€/kwh para combustível e funcionamento.
No total, conseguiríamos electricidade a 0,04€/kwh, o que é um valor bastante baixo.
Qual é então o problema?
Esqueçamos o armazenamento dos resíduos e o risco de acidente.
O problema é ser um investimento de longo prazo o que introduz atraso na resposta ao problema de HOJE e introduz risco tecnológico!
Por um lado, apenas haveria produção em 2030 quando precisamos de energia hoje mesmo. Por outro lado, seria necessário pagar 0,04€/kwh até 2090, podendo haver inovações tecnológicas que tornem este valor demasiado elevado.
O risco tecnológico vem dos painéis solares.
Vamos supor que o investimento solar é de X€/KW, que a produção é de 1250h/ano, que a amortização é em 20 anos com uma taxa de juro de 2,5%/ano e que os custos de manutenção são 20%.
Para termos um custo menor do que os 0,04€/kwh da energia nuclear, o valor do investimento terá de ser inferior a 625€/kwh e, por incrível que possa parecer, nos dias de hoje o investimento já é ligeiramente inferior a este valor.
Tenho então que concluir em favor da energia solar.
Pois se hoje o custo solar se compara ao custo nuclear e a tendência do solar é descer, pensando num horizonte temporal até 2090, com toda a certeza que a electricidade produzida com painéis solares vai ficar bastante mais barata que a produzida com centrais nucleares.
Mas a electricidade nuclear é diferente da electricidade solar!
Apesar de electricidade ser sempre electricidade, como bem económico, não é bem assim.
Ambas as tecnologias são "não controláveis", isto é, não é possível o gestor da rede decidir aumentar ou diminuir a quantidade produzida em função das necessidades. Mas as tecnologias são "contrárias", a electricidade produzida numa central nuclear é em quantidade constante ao longo do dia e da noite enquanto que a electricidade produzida com painéis solares só está disponível enquanto há luz solar.
Se houvesse apenas energia nuclear, seria preciso "destruir" energia durante os períodos de menor consumo (durante a noite) enquanto que se um dia houver apenas energia solar, será preciso armazenar energia durante o dia e durante o verão para gastar durante a noite e durante o inverno.
A energia solar obrigará a controlar o mercado do "lado da procura" (quando houver pouca eletricidade, o preço terá de ser superior) porque armazenar energia tem custos.
Uma solução económica e ecológica para armazenar calor para o Inverno.
Os países do Norte da Europa precisam de calor durante o Inverno. Vamos supor uma comunidade com 1000 casas em que cada casa gasta 10kw em aquecimento durante 6 meses. Estamos a falar de 45000 MWh o que é uma imensidão de energia para guardar em baterias (corresponde a 1 milhão de baterias de 45KWh).
Mas podemos guardar toda essa energia num "poço" com 60 metros de diâmetro e 100 metros de profundidade, cheio de granito britado. Durante o Verão e nas horas em que há produção excedentária de electricidade solar, o granito vai ser aquecido a uma temperatura na ordem dos 650.º C. Depois, durante o Inverno, a energia acumulada vai ser utilizada no aquecimento das casas.
Tecnologicamente simples, não utiliza recursos naturais importantes, não tem impacte ambiental significativo e é bastante económico.
É preciso pensar em soluções deste tipo para podermos, no futuro, utilizar mais a energia eléctrica com origem solar pois no Inverno e de noite, não há luz solar.
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