O problema da micro-mobilidade é que os decisores políticos andam de carro.
No longínquo 1988 fui mineiro, melhor dizendo, fui "trainee mining engineer" numa empresa sul-africana. Uma coisa que aprendi é que regularmente o engenheiro tem de ir à frente de trabalho usando os mesmos meios de um mineiro pois só assim consegue identificar os problemas destes trabalhadores.
Com a micro-mobilidade (bicicletas e trotinetes) passa-se o mesmo, o decisor político apenas consegue melhorar o sistema global de transportes se utilizar todos os meios que gere.
Vejamos o exemplo do TGV e comparemos com o IC-19.
Os decisores políticos andam a grande velocidade, com batedores em mota, excedendo largamente os limites de velocidade do cidadão normal. Sendo assim, a sua visão está concentrada na velocidade.
Em Lisboa no IC-19 / A - 37 que liga Lisboa a Sintra ao longo de 16 km. Nesta via circulam uma média de 200 mil pessoas por dia (enquanto que entre Porto e Lisboa circulam 20 mil pessoas por dia) que nas horas de ponta demoram bem mais de uma hora a percorrer. Esta velocidade média é menor do que a velocidade de uma viagem em bicicleta ou trotinete e os decisores políticos não se preocupam porque não andam por lá!!
Os autocarros em Lisboa transportam uma média de 400 mil passageiros por dia a uma velocidade média de 10km/h (demora 40 minutos a fazer uma viagem de 7km).
Vamos supor que uma decisão política qualquer diminuía o tempo médio de viagem nos autocarros lisboetas em 5 minutos, isso compararia com a diminuição do tempo de viagem entre Porto e Lisboa em 100 minutos!!!!!!!!
Voltemos à trotinete / bicicleta.
Estive a estudar como poderia ir desde o Porto até ao Arrábida Shopping de trotinete. Estudei mapas e descobri um caminho bom que liga a Rua do Campo Alegre ao shopping (são apenas 1700m).
Do lado Poente toma-se a Travessa de Estrecampos e do lado Nascente toma-se a Rua da Gólgata.
O problema é do lado de Gaia pois o passeio / berma não tem continuação, acaba contra o Rail!!!!
As pessoas correm o risco de andar na via rápida para poderem entrar no passeio já em cima da ponte onde existe uma pequena fresta entre o rail metálico e o rail de betão.
O que pedi à Câmara Municipal de Gaia.
Pedi que faça a ligação entre o passeio/berma nascente da Ponte da Arrábida à Rua Manuel Moreira Barros.
Essa ligação pode ser logo feita no princípio da rua ou por uma rampa o início do viaduto.
Basta cortar uns arbustos, meter uma máquina a nivelar e compactar as terras e despejar um bocado de cimento.
Com muito pouco investimento vai ser possível melhorar em muito a micro-mobilidade na travessia poente do Douro.
A ligação foi interrompida quando há 30 anos a ponte passou de 2 para 3 faixas e nunca mais foi reposta porque, no entretanto, nenhum engenheiro / doutor fez aquele percurso a pé ou de bicicleta.
Falta em Portugal a cultura do decisor "ir ver no terreno", coisa que aprendi com os anglo-saxónicos.
O vereador da mobilidade deveria meter-se numa trotinete.
Fosse em Lisboa, Porto ou na mais remota das terriolas, o vereador deveria meter-se numa trotinete e ir dar uma volta pela sua cidade. Só ai é que poderia ganhar consciência de onde estão os problemas.
Onde está o empedrado que não deveria estar, onde estão os buracos que deveriam estar tapados, onde é preciso colocar parqueamento e locais de carregamento para os micro-veículos (sim, as trotinetes e bicicletas eléctricas também precisam de ser carregadas, não são apenas os carros eléctricos).
Agora tenho uma questão!
Será que as bicicletas/trotinetes podem circular nas vias rápidas?
Vamos imaginar o IC-19 / A-37. Vamos supor que se alargava 2 metros de cada lado e metia-se ali uma ciclovia separada dos carros com um rail de betão. Nas entradas/saídas, metiam-se semáforos.
Talvez fosse possível e seria uma obra muito mais mais barata e importante para diminuir o tempo médio que as pessoas gastam em viagens do que meter milhares de milhões de euros para se poder ir do Porto a Lisboa em 1h15m. Chegados a Lisboa, gasta-se uma ou duas horas a ir da Estação do Oriente ao Rossio.
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