Existem recursos naturais.
E a fronteira tecnológica é a forma de produzir o máximo valor possível para os consumidores a partir dos recursos naturais existentes.
Se, por exemplo, os recursos naturais são batatas, bacalhau e couves, a fronteira tecnológica é fazer o prato mais saboroso possível (e que, consequentemente, tem o maior valor para os consumidores).
Em termos micro-económicos, a fronteira tecnológica ensina-se com quantidades mas em termos macro-económicos, como o produto é a agregação de bens e serviços diferentes, ensina-se a "preços de mercado".
Em termos micro-económicos, produzem-se toneladas de batatas com terra, trabalho e água enquanto que em termos macro-económicos produzem-se milhões de euros de produtos agrícolas com terra, trabalho e água.
Em termos macro-económicos, a fronteira tecnológica traduz-se pelo nível do PIB per capita.
Depois, temos os países.
A fronteira tecnológica aumenta ao longo do tempo por causa das descobertas. Quando a fronteira aumenta, o PIB per capita também aumenta.
Mas as descobertas obrigam a um esforço de investigação pelo que tendem a acontecer nas regiões que estão na fronteira tecnológica. Digamos que é como uma equipa de futebol. Um jogador, mesmo que médio, tem maior probabilidade de ser campeão nacional se jogar no Porto, Benfica ou Sporting do que, mesmo que fosse o Messi ou o Ronaldo, ser campeão nacional no Arouca ou no Rio Ave.
Até meados do Séc. XX, a fronteira tecnológica estava no Norte da Europa (Reino Unido, França, Holanda, Bélgica, Alemanha). Depois, passou para os USA.
A medição do crescimento do PIB tem "problemas" em apanhar as inovações.
O PIB é medido em quantidades ao preço de mercado pelo que tem dificuldades em incorporar melhoramentos na qualidade dos bens e serviços quando os preços e as quantidades se mantêm. Vamos supor que um computador faz 1000 operações por segundo e tem um preço de 100€. Surgindo outro computador que faz 2000 operações por segundo com o mesmo preço de 100€, o PIB não sofre alterações.
Observa-se que o crescimento americano é estável e próximo de 1,9%/ano.
Fig. 1 - Evolução do PIBpc dos USA a preços de 2015 (dados: Banco Mundial)
A convergência para a fronteira tecnológica.
Quando acontece uma inovação no país da fronteira tecnológica, há dificuldades em que esta seja copiada mas parte dela difunde-se seja nos bens importados (ao comprarmos um computador mais poderoso, incorporamos na nossa economia parte da inovação tecnologia de fabricar computadores) ou nas máquinas (com máquinas mais evoluídas, conseguimos produzir mais mesmo não dominando a tecnologia de fabrico das máquinas).
Com o tempo, a tecnologia acaba por ser copiada mas, nessa altura, o país da fronteira tecnológica já está mais à frente.
Por exemplo, em 2003 as empresas mais avançadas do mundo conseguiram (o que parecia impossível) meter num chip um milhão de transístores por mm2. Actualmente, decorridos 20 anos, qualquer país consegue produzir chips com uma densidade de 1 milhão/mm2 mas a fronteira tecnológica já vai nos 300 milhões/mm2.
Vejamos algumas convergências.
Vou usar a evolução do PIB per capita, a preços constantes, dos USA como medida da fronteira tecnológica e relativizar as outras economias a esta grandeza.
Em termos de economias desenvolvidas, o Reino Unido mantém 80% do nível americano, a Europa (Alemanha, França, Itália e Espanha) convergiu 20 pontos e o Japão convergiu 40 pontos e, desde 1990, estão a divergir (a Europa perdeu 10 pontos).
Digamos que a Europa se está a deixar ficar para trás (os países mais desenvolvidos da Europa já está abaixo de 60% do nível de desenvolvimento dos USA).
A convergência mais notável é a Koreia do Sul que passou de 5% para 53%, aproximando-se do nível do Japão de dos 4 europeus.
Fig. 2 - PIB pc relativo ao americano das maiores economias desenvolvidas (dados, Banco Mundial)
Quem "copia" fica sempre atrás.
Há a impressão de que a Alemanha, o Japão ou a Koreia do Sul estão ao nível dos USA mas não é verdade. Os USA são a locomotiva e os outros são as carruagens, ficando sempre atrás.
Vamos aos países em desenvolvimento.
Os únicos países que mostram convergência é a China e a Turquia.
A Argentina, a África do Sul e o Brasil divergiram rapidamente (caíram para metade) e o México divergiu mas mais lentamente (caiu de 20 para 15 pontos).
Fig. 3 - PIB pc relativo ao americano das maiores economias subdesenvolvidas (dados, Banco Mundial)
Se pegarmos nos países classificados pelo Banco Mundial como "Sub-Saharan Africa", vemos que não só estão muito longe do país mais produtivo mas essa distância está a aumentar.
Fig. 4 - PIB pc relativo ao americano da "Sub-Saharan Africa"(dados, Banco Mundial)
Faz 50 anos do 25 de Abril de 1974.Dizem os esquerdistas que nos desenvolvimentos muito e não deixa de ser verdade, mas em termos relativos à fronteira tecnológica, estamos mais longe. Aquando da revolução o nosso PIB per capita era 35,5% do PIB per capita dos USA e em 2021 fica pelos 33,7%.
Bem sei que estou a ser invejoso, que o imperialista americano tem todo o direito a crescer mais do que nós, mas fico triste de tantos bombos e foguetório para tão poucochinho. Mas temos de nos habituar a ser pobres.
Afastamo-nos 5 pontos da fronteira tecnológica desde que o Cavaco nos deixou entregues aos esquerdistas!!!!!!!!!
Fig. 5 - PIB pc relativo ao americano de Portugal (dados, Banco Mundial). Comparação entre 2021 e 1974.
Apesar de não haver convergência, a tecnologia favorece todos.
A vida de todos melhora por causa do aumento da qualidade dos produtos. Apesar de nos países menos desenvolvidos não conseguirem produzir computadores, aviões ou telemóveis, importam estes bens de tecnologia elevada a preços relativamente reduzidos.
Também as novas tecnologias estão incluídas nos medicamentos e nas vacinas, produtos acessíveis em todo o mundo.
Por exemplo, o PIB per capita da Guiné-Bissau em 2021 é igual ao que existia em 1970!!!!!!
Parece impossível mas em 1970 a Guiné-Bissau era extremamente pobre, com um PIBpc de 619USD (ainda assim, era mais "rica" do que a China) e em 2021 ainda desceu ligeiramente para 614USD (preços constantes de 2015).
Mas vive-se hoje muito melhor na Guiné-Bissau do que se vivia em 1970 porque há acesso a computadores, telecomunicações, internet, automóveis, bicicletas eléctricas, telemóveis, televisores, geradores de electricidade, medicamentos, vacinas, novas sementes, que não estavam disponíveis em 1970.
Apesar de, em termos de "preços de mercado", o total produzido na Guiné-Bissau ser o mesmo, em termos de qualidade, aumentou sem que o PIB tenha conseguido apanhar esse aumento.
Fig. 6 - PIB pc da Guiné-Bissau (USD de 2015, dados, Banco Mundial).
Vivemos num mundo cada vez mais perigoso.
Fui classificado como fascista porque mostrei os dados do Banco Mundial que indicam que, relativamente a 1974, a nossa economia divergiu da fronteira tecnológica.
Fui classificado como racista por mostrar os dados do Banco Mundial que indicam que os países africanos são pobres em termos do PIB per capita e não mostram evolução positiva em relação à fronteira tecnológica.
Fui classificado como xenófobo relativamente aos brasileiros por mostrar os dados do Banco Mundial que indicam que a economia brasileira tem um crescimento anémico, divergindo da fronteira tecnológica.
Mas apenas mostrei os dados disponíveis no site do Banco Mundial, não foi nenhuma opinião minha.
E estas classificações tiveram consequências graves já que fui despedido.
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