Na comunicação social, a Direita tem comparado Portugal usando a Paridade do Poder de Compra.
Resumindo, o que a direita tem afirmado é que Portugal já foi ultrapassado pela maioria dos países da Europa Central que, há 30 anos, eram muito mais pobres do que nós.
Em particular, surgiu nos últimos dias um "estudo" que garante que a Roménia já nos ultrapassou.
Esta afirmação está errada porque a Paridade do Poder de Compra apenas pode ser utilizada na comparação de economias muito diferentes. Assim, quando duas economias se aproximam, em particular, quando o PIB em PPC é semelhante, deixa de ser válido utilizar esta medida.
O que é o PIB?
É o Produto Interno Bruto a preços de mercado.
Obtemos o PIB multiplicando as quantidades de todos os bens e serviços produzidos numa economia pelo preços de mercado de cada um dos bens e serviços.
PIB = Quantidades*Preços
O que é o crescimento do PIB Nominal e do PIB Real?
O crescimento do PIB Nominal obtém-se dividindo o aumento no PIB de um ano para o outro dividindo pelo PIB original:
PIBn2022 = Quantidades2022*Preços2022
PIBn2023 = Quantidades2023*Preços2023
Crescimento do PIB nominal em 2023 = (PIBn2023-PIBn2022)/ PIB2022
Então, o crescimento do PIB nominal inclui não só a variação das quantidades produzidas mas também a variação dos preços.
O crescimento do PIB Nominal obtém-se dividindo o aumento no PIB de um ano para o outro dividindo pelo PIB original MAS USANDO OS PREÇOS DO ANO ORIGINAL:
PIBn2022 = Quantidades2022*Preços2022
PIBr2023 = Quantidades2023*Preços2022
Agora, o crescimento do PIB Real já só inclui a variação das quantidades produzidas.
O que é o PIB per capita?
É a divisão do Produto Interno Bruto pelo número de pessoas.
Se o PIB Nominal português em 2022 é de 242,3 mil milhões de euros e havia 10,467 milhões de pessoas, então, o PIB per capita nominal português de 2022 é:
PIBpc.nominal.2022 = 242300/10,467 = 23149€/ano
Comparar anos distantes é muito difícil
Considerando o PIB Real, a alteração no nível de preços fica anulado mas não ficam anuladas as diferenças nos os preços relativos e nem no tipo de bens que eram/são produzidos. Num exemplo exagerado, hoje produzimos-se computadores e automóveis que há 500 anos não eram produzidos.
Então, torna-se pouco produtivo comparar o nível de vida português em 2020 com o nível de vida em 1500 usando o PIB real.
Provavelmente, o PIB per capita português em 1500 a preços de 2022 não seria na ordem de 200€/ano (produção de 5000kg/ano de milho mais uns legumes por família com 6 pessoas) de que compara com 23000€/ano em 2022.
Comparar países diferentes também é muito difícil
Se os países são muito diferentes, isto é, produzem um conjunto de bens e serviços muito diferentes e com preços também muito diferentes, torna-se pouco produtivo comparar os países usando o PIB real
Se temos um país em que a maior parte da PIB resulta de produção agrícola rudimentar, em que tudo é produzido a força de animais, e outro altamente especializado em serviços, os bens e os preços relativos têm tantas diferenças que não podemos comparar o nível de vida usando o PIB per capita.
É difícil comparar o nível de vida em Moçambique (PIB per capita de 491USD/ano) e na Guiné-Bissau (PIB pre capita de 795USD/ano) com o nível de vida em Portugal (PIB per capita de 24568USD/ano).
Podemos afirmar que que em Portugal se vive melhor do que em Moçambique mas não podemos afirmar que se vive 50 vezes melhor.
Surgiu a Paridade do Poder de Compra para comparar situações muito diferentes.
O PIB nominal é uma medida objectiva, basta multiplicar as quantidade produzidas pelos preços de mercado de tudo o que se produz numa economia.
O PIB real surge para podermos comparar anos diferentes e já tem um certo grau de subjectividade pois assume-se que os preços se mantiveram iguais.
Quando queremos comparar países, com moedas diferentes, temos de arranjar uma taxa de câmbio entre a moeda local e uma moeda de referência, normalmente, o Dólar Americano. Aqui já surge um problema pois a taxa de câmbio está sempre a mudar, havendo necessidade de considerar a mesma taxa de câmbio em todos os períodos de análise.
Para Moçambique, teremos: PIBusd = PIBmetical*0.016
A "taxa de câmbio em Paridade de Poder de Compra" surge para podermos comparar economias muito diferentes.
Esta taxa de câmbio é uma construção e, por isso, contém muita subjectividade e interpretação.
Moçambique tem um PIB per capita em ppc de 1243USD/ano, a Guiné-Bissau de 1855USD/ano e Portugal de 35746USD/ano.
Com toda a certeza, podemos afirmar que em Portugal se vive melhor do que em Moçambique e, em PPC, a diferença é de 29 vezes melhor. Esta relação de 29 vezes continua a ter de ser lida com muita cautela.
Vou então comparar.
Os países a comparar com Portugal são Tchequia, Estónia, Hungria, Letónia, Lituânia, Polónia, Eslováquia, Bulgária e Roménia.
Na comparação, tenho de usar o PIB per capita que, como está denominado em moedas diferentes, tem de ser referenciado (pelo Banco Mundial) a Dólares Americanos. Depois, divido os valores de cada país pelo valor de Portugal.
É verdade que estes países têm crescido muito mais,
Se em 2001-2003 tinham 35% do nosso PIBpc, actualmente têm 80%. Isto traduz que nos últimos 20 anos cresceram, em média, mais 3,2 pontos percentuais do que nós.
Considerando o governo do António Costa, os países passaram de 63% para 80% do nosso PIBpc.
Se crescemos uma média de 0,9%/ano, os países de leste cresceram 4,1%/ano.
Mas não é verdade que tenhamos sido ultrapassados por todos
Fomos ultrapassados "apenas" a Estónia (120%), a Chéquia (114%) e a Lituânia (102%) estando próximos as Eslováquia (88%) e a Letónia ( 90%).Concluindo.
É verdade que a nossa performance económica nos últimos 25 anos é miserável principalmente nos governos de esquerda. Em comparação com os países de Leste, em 20 anos, convergiram de 35% para 80% do nosso PIB per capita.
Mas não é verdade que já tenhamos sido ultrapassados por todos (apenas fomos ultrapassados por 3, Estónia, Chéquia e Lituânia), em particular pela Roménia (em 2022 tem 65% do nosso PIBpc).
Mas é apenas uma questão de tempo.
Continuando o rame-rame PS que temos vivido, tudo concentrado na subida do Salário Mínimo Nacional e no TGV há-de vir, em 2030 já estaremos bem abaixo destes países.
Outra questão é saber o que é preciso fazer e se os actuais líderes da Direita (leia-se Montenegro) são capazes de alterar a tendência de empobrecimento relativo.
Fala-se da "necessidade de profundas reformas estruturais" mas ninguém avança na identificação das estruturas que precisam ser profundamente alteradas porque vão, com toda a certeza, mexer profundamente com os "direitos adquiridos" e com a tendência dos governantes para a estatização de tudo.
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