terça-feira, 3 de outubro de 2023

A Direita portuguesa está de cabeça perdida.

Como todos sabemos, há países mais ricos e países mais pobres.

Os países são mais ricos porque as pessoas produzem, com uma hora de trabalho, bens e serviços com mais valor.

Claro que os casos do Luxemburgo ou da Suíça não são replicáveis porque são pequenos países bem localizados. E os casos do Kuwait ou da Noruega não são replicáveis porque têm muito petróleo. 

Sim, é verdade que há países que foram bafejados pela sorte e outros pelo azar.

Mas mesmo pegando apenas em grandes países semelhantes (os 28 países com mais de 50 milhões de habitantes), há uns onde se produzem mais bens e serviços e com mais valor. Na tabela seguinte mostro desses 28 os 7 mais ricos e os 7 mais pobres, com Portugal no meio, em percentagem do PIB per capita relativamente ao americano.

Para não falar na miséria da Etiópia no na República Democrática do Congo (fui apelidada racista e fui despedida por mostrar estes números), em Portugal, cada pessoa produz em média 1/3 do valor que uma pessoa produz nos USA.


Mas porque há esta diferença?

A diferença não pode estar numa política qualquer fácil de alterar. Se, como diz a Direita Portuguesa o, nosso atraso económico relativo de devesse ao nível elevado de impostos, seria muito fácil resolver esse problema, bastava uma penada de tinta a baixar os impostos e já ficávamos tão ricos como os USA.


A diferença resulta da cultura.

Não confundamos cultura com conhecimento ou, de forma mais pomposa, nível de capital humano.

Se hoje o nosso PIBpc é 34% do americano, para nos aproximarmos, temos de trabalhar de forma diferente. Se fizermos sempre o mesmo e da mesma maneira, em 2024 vamos produzir o mesmo que produzimos em 2023.

O problema é que a forma como produzimos hoje parece à generalidade das pessoas que é a correta. Se hoje há um PDM, uma legislação do trabalho, umas cadeiras na universidade ou um funcionamento de um hospital, as pessoas que estão a realizar as tarefas não aceitam que alguém lhes venha dizer que é preciso melhorar.

Cada um é o melhor professor, o melhor médico, o melhor sindicato, a melhor universidade, o melhor sistema de transportes públicos e a TAP é a melhor empresa do mundo.

Até pode ser mas, para haver crescimento económico de 3%, para o ano cada um tem de ser ainda melhor em 3%.

Se hoje um agricultor produz 100000 kg de milho,  para o ano tem de produzir 103000 kg de milho e no ano seguinte 106090 kg de milho. Se não conseguir aumentar a produção de milho por limitações biológicas, terá que diminuir os custos de produção em 3%/ano ou passar a produzir bens que têm mais 3%/ano de valor.


A cultura dos países pobres é contra a mudança. 

Vou dar dois exemplos que estão relacionados e que são o tema do ano, a habitação.

Um metro quadrado de construção destinado a habitação tem um determinado valor, cerca de 2€/m2/mês. Mas esse mesmo metro quadrado, se localizado em zonas que captam turistas, tem um valor de 10€/m2/mês. Então, para nos tornarmos mais ricos, as pessoas que moram nessas zonas têm de se deslocar para zonas que não captam turistas.

Do outro lado, um terreno aplicado em floresta ou agricultura produz 0.003€/m2/mês enquanto que aplicado em habitação produz 1€/m2/mês de valor, 300 vezes mais. Então, para nos tornarmos mais ricos, a habitação tem de ter prioridade face à agricultura e a floresta.

Simples e necessário para ficarmos mais ricos mas vemos todos os dias pessoas a gritar contra esta mudança, cada vez PDMs mais restritivos, cada vez mais proibições à expansão do turismo.


Vou dar um passo à Madeira.

A proposta da Iniciativa Liberar era "baixar impostos" quando deveria ser "temos de ver formas de liberalizar a economia e a vida das pessoas com o objectivo de longo prazo de diminuir a despesa pública e, consequentemente, dos impostos".

A proposta do CHEGA era "baixar o RSI" quando deveria ser "temos de ver formas de integrar as pessoas mais pobres na economia com o objectivo de longo prazo de diminuir a pobreza e, consequentemente, das pessoas que recebem RSI".

Ambos, IL e CHEGA, deveria dizer na sua proposta "o nosso deputado representa 1/24 = 4.2% pelo que temos de ter mão em políticas que representem 4.2% do orçamento, 86.3 milhões €". 

Não, queriam ser eles a governar como se tivessem maioria absoluta.

A proposta do PAN foi "Têm de salvar a Cagarras, combater a seca melhorando as levadas e o governo tem de instalar uns painéis solares e comprar alguns carros eléctricos".

Pareceu-me racional o Albuquerque querer fazer uma aliança com o PAN.


Vou dar um passo aos professores.

A Iniciativa Liberar defendia na campanha para as legislativas de 2022, há menos de 2 anos, que as escolas deveriam ser entregues aos professores, privatizadas por 1€, e o Estado pagar uma verba por cada aluno. Agora, vem defender que o Estado tem de pagar mais aos professores públicos!!!!!!!!!!

O PSD vem defender o que é impossível de defender, beneficiar quem berra mais.

O CHEGA também está pela mesma nota.


A solução para os professores é diminuir o custo de ser professor.

E neste sentido, custa-me a dizer porque o odeio, o António Costa está no bom caminho, fixação mais fácil dos professores para não terem de ir para longe e aumentar a flexibilidade da formação dos professores.

Vamos imaginar que uma criança de 18 anos quer ser professora. Actualmente, vai ter de fazer um curso e uma mestrado em ensino. Depois, se mudar de ideias ou se não conseguir arranjar emprego, tem de deitar o curso para o lixo. Ninguém quer contratar uma pessoa que fez um curso de professor mais não seja que a ganhar o salário mínimo, a servir às mesas ou a trabalhar num supermercado.

É um risco muito grande e contrário ao Espírito de Bolonha que defende a flexibilidade do trajecto formativo.

O meu pai foi aos 11 anos estudar para padre, fez o seminário maior no Porto e filosofia na universidade católica de Salamanca, no tempo de Salazar. Mas não chegou a ser ordenado padre porque tinham pessoas a mais. Foi ensinar latim e grego. Passado uns anitos, latim e grego acabaram e arranjou a dar filosofia. Andou ando, e passou a dar história no preparatório e reformou-se aos  70 anos a dar português no preparatório.

Não se pode dizer a um jovem de 18 anos, vais tirar este curso e se não arranjares emprego no ensino, acabou, não tens mais hipóteses de nada, vais ser trabalhador braçal. 


A solução para a falta de médico é aumentar o número de alunos em medicina.

Aumentar os salários não aumenta o número de médicos disponíveis, há os que há.

Na Alemanha, um médico recém licenciado ganha 3300€/mês e, em média, 9000€/mês. É uma loucura pensar que em Portugal poderemos pagar esses salário. Mas esse problema coloca-se ainda mais na Ucrânia ou em Moçambique.

Se em 2023 houve 1554 vagas para o curso de medicina, o governo decretava dizia que as universidade públicas têm de duplicar o número de vagas. Os directores que dissessem "não fazemos" seriam imediatamente destituídos. 

Não há instalações? Fazem-se.

Não há professores? No curto prazo pagam-se horas extraordinárias e, para o longo prazo, contratam-se recém licenciados com média elevada para darem 6h/s de aulas práticas enquanto fazem o doutoramento.


Fica caro a formação médica? 

Aumentam-se as propinas das escolas médicas para 20000€/ano, perdoadas em 5% por cada ano que trabalhem no SNS a tempo inteiro.

Quem emigrar, terá de pagar o custo da formação.

1 comentários:

Helena Tomé disse...

Ou todos os licenciados e mestres que o Estado subsidiou, vão ter de devolver o dinheiro quando entrarem no mercado de trabalho - aprendi isso há pouco.
Com o que ganhava nos primeiros 25 anos de serviço, teria de ter outro trabalho para sobreviver. E o meu mestrado foi pago pelos americanos... enfim, as coisas não são tão simples como isso... países como a Alemanha tiveram um Plano Marshall para "arrancarem" depois da guerra. Foi o seu petróleo! Connosco é tudo um pouco mais difícil, pois além da pesada herança do Estado Novo, ainda tivemos que reintegrar os retornados...

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