Em 2020, a Intel cotava a 55USD e hoje cota abaixo de 20USD.
Em 3 anos a Intel perdeu 64% do seu valor o que é contrário ao senso comum de que a explosão nas compras de sistemas de AI iria levar a Intel a valorizar-se. Mas aconteceu que em 2020 a Intel tomou uma decisão estratégica que os políticos anunciam e financiam e que parece verdadeira mas que está completamente errada.
Essa decisão estratégica chama-se "reindustrialização".
Em 2020 a Intel apresentou o Roadmap para se tornar novamente a líder tecnológica.
Pressionado pelo discurso políticos de que a América tem de se reindustrializar, e que também ouvimos em Portugal, a Intel aceitou subsídios estatais para correr atrás da TSMC.
Claro que é intuitivo que a industria tem elevado valor acrescentado e que, portanto, um país para ser rico tem de ter uma industria muito forte.
É intuitivo mas está errado porque a indústria tem baixo valor acrescentado.
Estranhamente, o valor está nos serviços, no desenho das coisas, e não na industria que produz as coisas.
Vejamos um exemplo.
Vou pegar no processador Intel CoreTM i9-14900K que tem um preço de 558€ e ocupa uma área de 257 mm² no node 10nm.
A TSMC cobra cerca de 8000USD por uma bolacha de silício de 300mm no node 10 e tem um rendimento na ordem de 210 chips o que dá 38USD por chip.
Juntando o empacotamento e o transporte, no preço final do processador, a produção industrial tem um peso de apenas 10% ficando 90% para o design e comercialização.
Se pegarmos no processador Intel Xeon Platinum 8470 produzido no node 7, tem um preço de 9902.54€ na Worten e um custo de produção industrial na ordem dos 200USD, 2% do preço de venda.
A Intel (e a Europa) tem de se concentrar no design e deixar a indústria para quem sabe.
Em 2020 a AMD estava cotada exactamente nos 55USD e hoje está nos 135USD.
Manteve-se no design e valorizou.
A Intel, pensando nos subsídios e no canto da sereia de que a industria é que dá vantagem competitiva, meteu-se na industria e afundou.
Será que ninguém compreende que em Economia o senso comum, normalmente, está errado?
Vou ainda mostrar um gráfico sobre o impacto do Brexit no Reino Unido.
Li um comentário em que alguém, muito educadamente, pediu que eu dissesse alguma coisa sobre o impacto do Brexit. Somando que hoje se vive por lá uma mini-guerra-civil, aqui vou eu.
Fui buscar dados sobre o PIB per capita do UK, USA, Norte da Europa (França + Alemanha + Holanda + Bélgica + Luxemburgo + Áustria), calculei a média de cada série e fiz um gráfico da evolução.
O UK estão com 79% do PIBpc dos americanos e o Norte da Europa com 72%.
Quanto à evolução, nos últimos 40 anos tem estado tudo mais ou menos igual, um crescimento de 2.1%/ano antes de 2008, uma perda de 10% na crise do subprime e, desde ai, o crescimento reduziu para 1.4%/ano.
Nos últimos 3 anos, os USA estão a responder melhor à pandemia do Covid-19 e o UK está igual aos países do Norte da Europa.
Não foi a bala de prata que 52% dos votantes tinham esperança mas também não causou o dano que 48% dos votantes tinham receio.
Tudo igual.
A economia tem destas coisas, tirando governos que governam verdadeiramente mal, as forças do equilíbrio tendem a que seja mais importante a proximidade geográfica e cultural do que ter mais ou menos IRC ou mais ou menos incentivos ao arrendamento jovem.
1 comentários:
Ótimo resumo sobre o Brexit. Os dados vem ao encontro da minha estimativa. Obrigado pelo esclarecimento.
Mas tenho dúvidas quanto à conclusão. Para tudo estar igual, a evolução económica do UK e dos demais países deveria justapor-se a dos USA. O gráfico demonstra que começam a divergir desde o referendo, que pode não ser a causa única, mas penso ser um sintoma da causa principal. E a situação atual indicia um incremento na divergência.
De facto, a bala de prata revelou-se uma fratuléncia dos 52% de votantes influencisdos pelos vendedores de banha da cobra, com o mau cheiro agora a ser suportado pelos outros 48% dos britânicos, e pelos 100% de europeus. A evolução era totalmente expectável.
É caso de se enviar o seu gráfico aos catalães (sem desconsiderar outras paragens), que andam a fomentar discussões semelhantes. Vão todos ficar muito mais ricos a repor fronteiras, controles aduaneiros e despesas com guardas fiscais, para de seguida, mais pobres, inchar o peito de orgulho patriótico enquanto perseguem alguém a quem atribuir culpas. A mini-guerra civil tem aqui a sua expressão.
Bom trabalho.
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