quinta-feira, 2 de outubro de 2025

Reconhecemos a existência ou o direito a existir do Estado da Palestina?

Estive a ler o discurso do Marcelo na ONU.

O Marcelo começa por dizer que :

Portugal reconheceu formalmente o Estado da Palestina como um Estado soberano com plenos direitos.

Mas não disse onde esse Estado está. Mais à frente, noutro parágrafo, diz:

Sempre defendemos a solução de dois Estados, em conformidade com as resoluções das Nações Unidas e as fronteiras de 1967.

Mas não afirma que o Estado da Palestina existe dentro das fronteiras de 1967 até porque, nessa altura, não havia fronteira entre a Faixa de Gaza e o Egipto (essa faixa fazia parte do Egipto) nem entre a Cisjordânia e o Reino da Jordânia (este território fazia parte do Estado da Jordânia).

Além disso, as "fronteiras de 1967" é um conceito muito vago porque, nessa altura, havia muitas fronteiras entre muitos países que, no entretanto, se alteraram. Teria de especificar "as fronteiras de 1967 entre Israel, a Cisjordânia e a Faixa de Gaza".

Também estive a ler o discurso do Macron na ONU.

Este discurso é semelhante ao de todos os outros

Depois de um introdução, o presidente francês declara:

Chegou a hora. É por isso que, fiel ao compromisso histórico do meu país no Oriente Médio, pela paz entre o povo israelita e o povo palestino, declaro que a França reconhece hoje o Estado da Palestina.

Este reconhecimento tem como objectivo:

(...) preservar até mesmo a possibilidade de uma solução de dois Estados, com Israel e Palestina a viver lado a lado, em paz e segurança.


Mas está a reconhecer o que existe ou o que tem direito a existir?

Penso que se o reconhecimento é do Estado da Palestina, então, esse Estado já está estabelecido. O problema é que o Macron, a páginas tantas, afirma:

Apelo também aos nossos parceiros árabes e muçulmanos que ainda não o fizeram para que mantenham seu compromisso de reconhecer o Estado de Israel e normalizar as relações com ele assim que o Estado da Palestina for estabelecido. Dessa forma, demonstraremos reconhecimento mútuo, o que promoverá a paz e a segurança de todos no Oriente Médio.

Estabelecer é dar princípio a coisa que se torna firme e estável; organizar, instituir, fundar; criar.

Se o Estado da Palestina ainda tem de ser estabelecido então, o Macron não está a reconhecer que o Estado da Palestina Existe mas que tem o direito a existir.

E isso não é nada de novo, já tinha sido declarado em 1947 pela ONU.


E onde vai o Estado da Palestina ser estabelecido?

A única referência é "viver lado a lado" mas isto não especifica onde vai ficar por que "lado a lado" não implica uma interpretação geográfica mas antes significa "conviver em estreita colaboração e companheirismo, compartilhando a vida e os desafios, o que implica apoio mútuo, confiança, entendimento e a capacidade de trilhar um caminho juntos, superando obstáculos em união. O termo vai além da simples proximidade física, focando na presença activa e no compromisso de fortalecer o outro na jornada da vida."

Será um território a destacar do Egipto, Síria, Jordânia, Arábia Saudita, Sudão do Sul ou Indonésia? 

Nada é dito.


A Palestina é a situação diametralmente oposta a Taiwan.

Muitos países reconhecem que o Estado da Palestina existe enquanto que quase nenhum reconhece que o Estado de Taiwan existe.

No entanto, Taiwan é um país totalmente estabelecido, com instituições sólidas, exército poderoso, economia altamente avançada enquanto que a Palestina não existe de todo.

Daqui a nada há mais países a reconhecer o Estado da Palestina do que o Estado de Israel.

Dá que pensar.


1 comentários:

Helena Tomé disse...

É certo que há incongruências, as que referiu, claro, e ainda outra: o referido Estado da Palestina a ser Cisjordânia + Gaza, não será nunca viável sem guerrilha por serem dois territórios separados - é o que acontece a Cabinda, por exemplo, de onde não se pode sair sem coluna militar . Ou Gibraltar, que não exige coluna militar porque Espanha é uma nação civilizada, se não, já teria lançado os britânicos ao mar e que o Reino Unido o reconquistasse (alargando o território 😂).
Quando falam do reconhecimento do Estado da Palestina, estão, no mínimo, a ser hipócritas, não têm como o fazer existir com a situação atual .

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