Os ecologistas defendem que só podemos andar a pé.
Dizem essas pessoas que deveríamos viver próximo dos locais de trabalho, laser, estudo, etc. de forma a ser possível deslocarmo-nos apenas a pé.
Também os bens e serviços que consumimos também deveriam ser produzidos próximo de nós para não haver necessidade de os transportar.
Isto não faz qualquer sentido porque as pessoas têm gostos e capacidades diferentes e dão valor à diversidade de bens e serviços. Além disso, há bens que têm de ser obrigatoriamente produzidos longe de nós como, por exemplo, as bananas (que precisam de calor) e os cereais (que precisam de vastas pradarias que apenas existem no "novo mundo").
Se existem 100000 marcas e modelos de vestuário, não é possível costurar todos no mesmo local. Bem sei que o Mao Tsé Tung defendia "um mesmo modelo, do mesmo tamanho e da mesma cor, feito do mesmo material para todos" mas a uniformização dos modelos não é o caminho para a felicidade das pessoas (que é o que a sociedade como um todo deve procurar).
Também a existência de economias de escala obriga a que certos bens sejam produzidos num local e distribuídos para todo o mundo. Todos nós já ouvimos falar dos processadores produzidos em Taiwan e na Coreia do Sul e utilizadas nas máquinas feitas um pouco por todo o mundo.
Também bens como "ver a Torre Eiffel" e "comer peixe grelhado à beira mar" apenas são localmente produzidos (ver com os próprios olhos a Torre Eiffel obriga a deslocar a Paris).
Também as discotecas não podem ficar no mesmo local em que as pessoas dormem!!!!
Se alguém for feliz em ver ao vivo o seu "clube do coração", mesmo que viva no estádio, vai ter de se deslocar porque metade dos jogos são em locais distantes (como equipa visitante).
Para sermos felizes, as pessoas, bens e serviços têm de se deslocar.
Parece estranho eu "perder tempo" a explicar que somos mais felizes se nos pudermos deslocar e se os bens e serviços se deslocarem mas, na mente dos ecologistas, isso não é claro.
Tentei ensinar a alunos de letras, que todos ganhamos se exportarmos bens de "tecnologia intensiva" para África e importarmos de lá bens "de mão de obra intensiva". Não só nós europeus ganhamos (teremos acesso a bens pouco sofisticados a preços baixos) como ganham os africanos por terem acesso a bens de elevada tecnologia que não são capazes de produzir.
Perguntei-lhes também porque quando vamos ao supermercado existem 100 marcas diferentes de detergente da roupa. Acontece que umas pessoas preferem cheiro a lavanda e outras cheiro a sabão. Também na gelataria há gelados de chocolate, de morango, baunilha e pistácio e vende-se de tudo. Isto traduz que as pessoas são diferentes nos gostos, preferências e capacidades.
Chamaram-me neo-colonialista, racista, xenófobo e fui despedido!!! Sim é verdade, ser professor em Portugal é hoje tão perigosa como o ser no Irão estando a diferença apenas no facto de as "verdades" em Portugal não serem as mesmas que as "verdades" no Irão.
Vamos ao que interessa, à movimentação das pessoas.
As pessoas não têm bem noção disso mas a primeira "invenção" nos transportes foi a domesticação do burro que aconteceu há cerca de 7000 anos na África Oriental, para os lados da actual Etiópia / Sudão.
O burro foi uma grande inovação porque pode transportar um passageiro (ou uma carga de 60kg, ainda hoje o café se mede em "sacas" de 60 kg) a uma velocidade idêntica à de um humano, 4 a 5 km/h.
Claro que podem dizer "um humano consegue caminhar 60km num dia, exactamente a distância percorrida por um burro" mas a frase está incorrecta, deveria ser dito "há alguns humanos, poucos e bem treinados, que conseguem percorrer 60km num dia, de longe a longe" enquanto que, em cima de um burro, qualquer pessoa consegue percorrer essa distância, todos os dias.
Fig. 1 - Pedi ao Gabinete de Mobilidade da Câmara Municipal de Lisboa para meter uma ciclovia por baixo da linha de comboio da Ponte 25 de Abril.
Pode parece estranho, mas a roda só foi descoberta 1500 anos depois da domesticação do burro.
A roda obriga a haver uma estrada pavimentada enquanto que o burro caminha pelo mesmo caminho que o humano.
Antes da roda foi inventada a "carroça de arrasto" que já era um melhoramento importante. Reduz em 75% a carga suportada pelo burro com a perda de haver atrito que, posteriormente, a roda veio a diminuir. Arrastar a carga sobre uma vara (um carro rudimentar) tem muito menos atrito que arrastar a carga e continua a permitir andar em caminho não pavimentado.
O Cantinflas viajava sempre assim!
Fig. 2 - Arrastar a carga em cima de uma vara diminui a carga suportada pelo burro em 75%.
A Câmara Municipal de Lisboa respondeu-me.
Disse que a ponte era da Lusopontes.
A Lusopontes respondeu-me.
Disse que a ponte era da Infraestruturas de Portugal.
A Infraestruturas de Portugal respondeu-me.
Num email extenso tentou provar ser impossível meter uma ciclovia na ponte. Gostei do cuidado tido na resposta, pessoas educadas.
Se a ciclovia não pode ser por baixo por i) ter uma plataforma técnica e ii) a ponte ter de ter 70m até à água.
Fig. 3 - Tabuleiro da Ponte 25-de-Abril.
Mas se reduzissem 0,15cm em cada faixa de rodagem e aproveitassem a margem que ainda existe entre a faixa de rodagem e os cabos de suspensão, cabe uma ciclovia com 1m de largura em cada sentido.
Fui buscar estatísticas ao INE sobre passageiros em 2019 (ver Quadro III.37).
Relativamente aos transportes rodoviários de passageiros, 80% das viagens são urbanas/suburbanas nas quais cada português fez 45 viagens no ano, com um percurso médio de 5,8 km e em veículos com taxa de ocupação de 18,1%.
Em média, um autocarro de 50 lugares leva o motorista mais 9 passageiros! As pessoas pensam que os autocarros andam sempre cheios por causa do "enviesamento do observador": nos autocarros cheios andam mais pessoas (e nos vazios não anda ninguém) pelo que a maioria das pessoas observa que os autocarros andam cheios quando a realidade é o contrário.
Porque andam os autocarros vazios, dão tanto prejuízo e os passageiros estão insatisfeitos?
Porque a pessoa i quer-se movimentar do ponto Ai para o ponto Bi no momento Hi e, como as pessoas são diferentes, esses pontos e momentos são diferentes. O autocarro tem de recolher múltiplas pessoas com necessidades diferentes o que obriga a pessoa a andar a pé até apanhar o transporte e a ter de utilizar um horário que não é o pretendido.
O transporte tem um preço monetário, por exemplo, 0,50€/viagem a que temos de acrescentar um preço "psicológico" por ter que percorrer parte do percurso a pé e por ter que se ajustar ao horário.
Na tentativa de satisfazer os passageiros (diminuir o "preço total" da viagem), tem de haver muitas carreiras e com elevada frequência de passagem o que torna a taxa de ocupação muito baixa e o sistema deficitário.
Porque a trotinete é revolucionária.
1 = É um transporte individual que pode ir exactamente do ponto Ai para o ponto Bi no momento Hi.
2 = Em ambiente urbano é muito rápido. Faz 25km/h enquanto que os transportes rodoviários fazem apenas 10km/h.
3 = Ocupa pouca via. Uma rua normal de cidade de 6 m de largura permite dois sentidos com 3 vias para cada lado, o que acomoda um tráfego de 6 mil trotinetes por hora. Em termos automóveis, a via não permite mais de 500 veículos por hora.
4 = Ocupa pouco lugar de estacionamento. Um lugar de estacionamento de um automóvel ao longo da via tem 2,2m de largura e 6 m de comprimento. Neste mesmo espaço cabem 25 trotinetes e ainda sobram 50 cm para alargar o passeio.
5 = Pode-se facilmente carregar até casa. Comparando com a bicicleta, a trotinete é fácil de transportar no elevador (o comprimento está dimensionado para caber em todos os elevadores) e pode ser transportado mesmo pelas escadas (pesa entre 12kg e 14kg enquanto que a bicicleta pesa mais de 20 kg).
6 = Gasta menos energia que os transportes públicos. O consumo médio de uma trotinete, medido na tomada, é de cerca de 1,5kwh/100km (ao preço de 0,20€/kwh, dá 0,03€/km) o que é equivalente a 0,5 litros aos 100 km. O autocarro gasta cerca de 2 litros aos 100 km por passageiro.
7 = Tem custo total muito baixo.
Eu comprei a trotinete para experimentar a sensação.
Não tinha necessidade nenhuma mas queria avaliar este novo modo de locomoção. Comprei uma marca barata, Awovo pro, que, em termos físicos, é perfeita.
Já posso dizer que sou um trotineteiro experiente pois já percorri 2187km. Nos meus percursos variados, em cidade, em estradas nacionais (Já fiz Aveiro-Ovar, Ovar-Espinho na N-109; Ovar-Torreira, Ovar - São João da Madeira e Oliveira de Azemeis na N-327 e muito mais, só ainda não andei em auto-estrada!) e mesmo em terra batida, aconselho a 100% pneus maciços. Apesar de tremerem um pedaço, é altamente aborrecidas ter um furo a 10km de casa e custa pelo menos 15€ remendar o pneu.
Pensei eu que o "brinquedo" não ia prestar, que eu não me iria conseguir equilibrar em cima da coisa e que não seria possível fazer viagens úteis mas enganei-me completamente.
Faz-se no meio da cidade, mesmo em hora de ponta, facilmente uma viagem de 8km em 30 minutos o que de autocarro demora uma hora e a pé 2h e deixa-nos cansados.
O único problema que tive foi com a bateria mas deram-me uma nova que eu meti em paralelo.
Para quem não quer correr riscos nem experimentar marcas desconhecidas, no meu intender e sem ter experimentado, a melhor solução actual é a XIAOMI Mi Pro 2 que tem boa potência, 300W, muito boa autonomia.
Uma pessoa com 80kg, para entrar em rotundas, vencer as subidas e arrancar no semáforo precisa de 300W. E consegue, com facilidade, atingir 35km/h que é a velocidade máxima aceitável para viajar numa trotinete em segurança (o máximo que fiz foi 40km/h, em piso muito bom, e fiquei assustado).
A autonomia tem de ser "exagerada" porque o vendedor dá valores optimistas e vai diminuir ao longo da vida da trotinete. Por exemplo, uma pessoa que faz um percurso num sentido de 7,5km e tem de voltar sem carregar precisa dos 45 km anunciados pela XIAOMI Mi Pro 2. Os 45 km anunciados são 35 km reais. Pensando que ao fim de 500 cargas a capacidade está reduzida a 50%, estamos a falar de 17km em "fim de vida", uma pequena margem relativamente aos 17km de "fim de vida" da bateria.
Quem fizer 15 km/dia, 6 dias por semana, "esgota" as 500 cargas em cerca de 4 anos. Se a autonomia for menor, também a bateria irá durar menos tempo.
Consegue-se hoje a XIAOMI Mi Pro 2 por 480€ na Worten.
A XIAOMI Mi Pro 2 só tem um problema, é que tem um "rated power" de 300W e nos comboios só permitem o transporte de trotinetes com "potência máxima contínua" de 250 W. Actualmente não há problema pois não está regulamentado como se mede a "potência máxima contínua" e se é a mesma coisa que "rated power" mas ninguém sabe como será o futuro mas não estou a ver o pica a ver o modelo para garantir que a potência é 250W e não 300W.
Não aconselho trotinetes mais potentes.
Mais potencia leva o preço para os 800€ a 1000€ e não compensa porque "é proibido transportar nos comboios", têm muito mais peso (já não se conseguem carregar pelas escadas) e estão muito mais sujeitas a serem roubadas!!!!
Além disso, não é seguro andar a mais de 30km/h. digo isto porque já tive um acidente a cerca de 18km/h e a coisa é perigosa (levei 3 pontos no sobrolho).
Aconselho a que experimente.
A minha primeira experiência foi com uma trotinete "alugada" mas que estava desligada. Sim, as trotinetes andam mesmo que não a aluguemos. montei-me em cima de uma de dei ao pé a ver se me equilibrava.
Depois, aconselho a que experimentem uma já eletrificada e que, nos primeiros 500km, andem a uma velocidade máxima de 15km/h.
Finalmente, nunca, em qualquer circunstancia, retire uma das mãos do guiador. Se precisar tirar a mão, pare primeiro pois se não parar, vai malhar no chão com a cabeça (que foi o que me aconteceu).
Fig. 3 - Há muitas coisas que se podem fazer só com uma mão mas andar de trotinete não é uma dessas coisas.
Imaginemos uma cidade 20x10 km2.
Uma cidade rectangular com 20 km de comprimento e 10 km de largura, com as ruas formando uma rede perpendicular.
Fig. 4 - A cidade de Lisboa cabe num rectângulo 20km x 10km
Imaginando que as pessoas estão uniformemente distribuídas pela cidade e que se deslocam de um qualquer ponto A para outro qualquer ponto B, escolhidos de forma uniforme, o percurso médio será de 10km (em 80% dos casos será < 15km).
Se a pessoa caminhar a 4km/h, cada viagem média vai precisar de 2h30m.
Se for utilizada uma trotinete a 15km/h, cada viagem média vai precisar de 40m e em 80% dos casos menos de 1h.
Fig. 5 - Distribuição das distâncias percorridas
Vamos agora meter uma linha de BUS a cortar a cidade.
A linha de BUS vai cortar a cidade a meio no sentido do comprimento, havendo uma paragem a cada 1000 metros. Neste caso, a distância média percorrida a pé reduz-se para 5,5 km e o percurso médio de BUS será de 6,7 km.
Se a pessoa caminhar a 4km/h e o BUS viajar a 15km/h, cada viagem média vai precisar de 1h50m (sem contar com o tempo de espera na paragem).
Para reduzir a distância média percorrida a pé para 1000m, terá de haver 10 linhas de BUS espaçadas 1000 metros entre si. Neste caso, o tempo da viagem média reduz-se para 42m (sem contar com o tempo de espera na paragem), mesmo assim, superior ao tempo da viagem de trotinete porque esta vai evitar andar a pé (vai exactamente deste a origem até ao destino).
Ao haver mais linhas, a frequência terá de ser menor (o tempo de espera na paragem será maior) e a taxa de ocupação acabará por ser pequena, o que encarece o sistema de transportes colectivos.
Eu a mandar, metia uma ciclovia na Ponte 25 de Abril.
Para meter uma ciclovia na Ponte 25-de-abril existem duas soluções técnicas.
Na primeira solução técnica, reduz-se as actuais 6 faixas de rodagem, 3 em cada sentido, para 5 vias mais uma ciclovia com dois sentidos (cada pista com 1,6 m de largura). Esta solução é simples de implementar mas acanhada porque reduz uma faixa de rodagem para os automóveis e apenas permite uma ciclovia com 3,2m de largura.
Na segunda solução técnica, suspende-se sobre o canal do comboio um novo canal com 7,5 m de largura e 3,5 m de altura, o que permite manter as actuais condições de tráfego rodoviário e rodoviário e acrescentar uma ciclovia com capacidade para 12000 veículos por hora.
O canal da ciclovia começaria a descer numa rampa com 6% de inclinação ficando os acessos distantes dos acessos rodoviários à ponte.
O percurso seria de 4km e o atravessamento demoraria de cerca de 10 minutos.
O problema é que não há decisores políticos audazes.
Portugal não cresce porque estamos sempre no mesmo marasmo.
Mais autocarros, mais linhas de metro, mais barcos mas de tudo que meta dinheiros públicos mas nada de soluções audazes e que poderiam fazer a diferença.
Meter uma ciclovia na Ponte 25 de Abril? Preferem falar numa terceira ponte ou num TGV onde vão ser enterrados milhares de milhões de euros.