quinta-feira, 15 de setembro de 2022

O problema é que não há gás, logo, não há eletricidade.

No senso comum  a crise resulta dos preços elevados da energia.

Mas a realidade é totalmente diferente, a crise resulta de não haver gás russo.

O ano passado, por cada 100 kwh consumidos na Europa Ocidental, 10kwh foram gás natural importado da Rússia. De repente, a Rússia cortou o fornecimento desse gás natural havendo então necessidade de cortar no consumo.

Temos então que reduzir o nosso consumo de energia em 10% e 40% de consumo de gás.

Não há como dar volta a isto, não vale a pena subsidiar o consumo de energia porque não há energia suficiente para mantermos o nível de consumo do ano passado.


O corte na oferta é ainda superior a 10%.

É que houve redução na produção de petróleo russo (que poderia ser usado em substituição do gás natural) e na produção de fertilizantes de síntese (produzir um kg de nitrato de amónia gasta 1,5 m3 de gás natural).

Já estão a ver porque a UE quer que cortemos 15% no consumo de energia e o Costa foi lá dizer que "Portugal não precisa poupar até podendo substituir a Rússia como fornecedor de gás natural à Alemanha"?


Não será possível arranjar alternativas?

Muito difícil porque é difícil aos outros produtores de energia aumentar de forma tão substancial a sua produção num curto prazo. 

Além disso, aumentar a produção obriga a investimentos de milhares de milhões de euros a amortizar em 50 anos. E se, por exemplo, o Qatar investe 100 mil milhões € a aumentar a capacidade de produção e liquifação de gás natural e, daqui a um ou dois anos, a Europa Ocidental faz as pazes com a Rússia e deixa de comprar o gás ao Qatar? Quem fica com o prejuízo?

Prova de que se procuram alternativa à energia russa é observar-se o aumento explosivo na procura de carvão (e consequente aumento do preço). Em 2019 o carvão foi transaccionado a 62€/ton (e em 2020 a 50€/ton) e nos últimos 3 meses foi transaccionado a 360€/ton, um aumento de 480%.


Como vamos obrigar as pessoas a consumir menos energia?

Existem três soluções possíveis.

1= As pessoas reduzem de forma voluntária o seu consumo (desligam o aquecimento e o ar condicionado, andam mais de vagar e reduzem as deslocações de automóvel, consomem menos produtos intensos em energia como aço e alumínio).

2 = O Estado impõe racionamento. Por exemplo, desliga a electricidade nas casas em que gastem mais de 100kwh / pessoa por mês.

3 = Aumenta-se o preço da energia quer pelas "forças do mercado" quer cobrando taxas adicionais sobre o consumo de energia.


Não se pode subsidiar o consumo de energia!!!!

O preço tem aumentado porque não há energia disponível e as pessoas não querem, de forma voluntária, diminuir o consumo em 15%.

Se não vão a bem, têm de ir a mal, o preço tem de subir até as pessoas se sentirem obrigadas as reduzir o consumo de energia em 15%.


Vamos supor a seguinte situação.

O Costa é o chefe de comitiva de 100 pessoas vão fazer uma viagem pelo deserto com a duração 20 dias. No início da viagem cada pessoa recebe 100 moedas de "1 Neuro", um total de 10000 Neuros.

A água é vendida a 1 Neuro cada litro.

Sendo assim, cada pessoa pode comprar e consumir 5 litros de água por dia.

Começou a viagem e o camião de apoio pensava levar 10000 litros de água quando  apenas levava 9000 litros (houve um erro na conversão de libras para kg).

Ao fim de 10 dias, o condutor do camião deu conta do erro, reparou que já só tinha 4000 litros de água e as pessoas ainda tinham 5000 Neuros na carteira. A solução que encontrou foi aumentar o preços da água para 1,25 Neuros/litro. Desta forma, as pessoas vendo que tinham menos poder de compra, reduziram o consumo para 4 litros por dia.

A ideia do chefe de comitiva foi "Para que não passem sede, vou dar 10 Neuros a cada pessoas".

Mas o que as pessoas precisam é de água no camião, não é de Neuros no bolso pois o problema não é o preço elevado mas sim o não há mais água para consumir.


Não há alternativa à austeridade.

Quando tivemos, em 2008-2011, a grave crise que se chamou do sub-prime/divida soberana, o Passos Coelho pregou que as crises só se podem ultrapassar reduzindo o consumo, isto é, com austeridade.

O Costa gritou que era uma política errada, que dar dinheiro às pessoas iria fazer a economia crescer.

Vamos ver se vai agora aplicar essa máxima que nos últimos 10 anos não se cansou de gritar.

Ainda no outro dia, no Parlamento, gritou "o que a Direita quer é voltar à austeridade" a que totalidade da Direita gritou GASTE-SE COMO SE NÃO HOUVESSE AMANHÃ.

Fig. 1 - Entre meados de 2019 e inícios de 2020, a dívida pública a 10 anos estava nos 0,3%/ano e, em 6 meses, saltou para os 2,78%/ano (tradineconomics). Nem na bancarrota do Sócrates o aumento foi tão rápido.


As pessoas não compreendem como o consumo se liga ao consumo.

Sempre que eu tentei ensinar esta ligação, falhei.

Quando os esquerdistas não compreendem como a economia funciona, atacam-me como se o problema fosse eu!!

E tudo começou com uma pergunta, numa conferência, que fiz há 20 anos ao Louçã "Estuda as crises na Economia Capitalista mas, sendo de esquerda, não deveria também estudar as crises nas Economias Socialistas? Será que por lá não há crises?"

Acabei perseguido e despedido não por ser incompetente nem por ter dito algo errado mas acusado de ser racista, xenófobo e misógino!


Mas vamos ao que interessa.

Se não há gás suficiente para o consumo, o preço vai aumentar o que incentiva os consumidores a gastar menos (e os produtores a utilizar tecnologias mais caras para substituir parte da falta).

Mas globalmente, no conjunto de todos os bens da economia, só há duas soluções.

1 = Os preços todos aumentam (há inflação) mas os salários mantêm-se iguais (diminui o poder de compra).

2 = Os salários aumentam de acordo coma inflação mas a taxa de juro aumenta (aumenta a poupança).

Estranhamente, o efeito do aumento da taxa de juro é igual ao efeito de o salário se manter constante!!!

É que, por um lado, diminuir o poder de compra faz diminuir o consumo e, por outro lado, aumentar a taxa de juro faz aumentar a poupança que é o mesmo que dizer que vai diminuir o consumo.


E se o Costa "compensar" o aumento dos preços da energia e aumentar os salários?

Como não faz nada para que a produção de energia aumente, apenas vai fazer com que os preços da energia aumentem ainda mais. O que o Costa deveria fazer era pedir às pessoas para que poupassem energia, vestindo mais roupa no Inverno.

Ao aumentar os salários (por exemplo, via Salário Mínimo Nacional), vai dar o sinal aos investidores que vem ai o descalabro À moda do Sócrates.


Como é que o Costa vai agora dar a volta ao problema?

Vai ter que fazer o que fez o Imperador Hiroito no fim da Segunda Guerra Mundial (passou rapidamente de guerreiro a pacifista, levando ao suicídio dos "falcões") .

Ver-se livres dos esquerdistas que querem mais e mais e mais como se até amanhã não fizesse mais sentido e rodear-se daqueles que se contentam com menos.

De qualquer forma, temos todos que nos preparar para a austeridade mas com outro nome, talvez, à moda do Putin, "reagrupar as tropas".

É a política real.

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