segunda-feira, 8 de maio de 2023

Amiga Margarida, bicicletas e trotinetes não são ideologia de esquerda

A Margarida Bentes Penedo escreveu no Observador.
A tese da Margarida é de que as bicicletas, trotinetes e skates não são meios de transporte de passageiros e, muito menos, são bons para a mobilidade. São muito perigosos mas a comunicação social não fala disso.
Não sendo meios de transporte, assume serem uma ideologia de esquerda woke.
Em alternativa, defende os transportes colectivos principalmente comboios e metropolitano.
Vou mostrar que não pode estar mais errada.


Nem a CMTV usa esse filão.
Eu já tive um acidente de trotinete (porque tirei as mãos do guiador).
Mas vamos supor que era verdade que havia muitos acidentes com cabeças esborrachadas.
A CMTV que passa horas e horas à procura da cabeça da vítima do Cadaval, não iria perder cabeças esborrachadas e corpos desmembrados se os houvesse.
Há uns acidentesitos mas nada de grave, levei 3 pontos no sobrolho e fiquei logo como novo.


Margarida, sabe o que é uma ideologia de esquerda?
Existe um espaço público que que é um recurso escasso que tem de ser  partilhado, em condições de igualdade, por todas as pessoas. 
Todos os portugueses têm direito a utilizar esse espaço público, andem a pé, de carro, bicicleta, trotinete, patins ou skate. 
O problema é que o uso é concorrente, isto é, uma pessoa usá-lo prejudica em parte que outra pessoa o use.

A esquerda proíbe, a direita regula.
A esquerda, proíbe a acção individual com o argumento de que se está a defender o colectivo.
As pessoas que se dizem de direita têm sempre de promover a liberdade individual.
Como o uso do espaço público é concorrente, a direita desenha regras que tornem a utilização eficiência, isto é, que a "qualidade de vida" das pessoas seja o mais elevada possível.
A primeira regra é a divisão entre as estradas (para os veículos com rodas) e os passeios (para os peões). 
A segunda regra é a regulamentação dos veículos (velocidade máxima, locais de estacionamento e regras de convivência) e dos peões (passadeiras).


O objectivo estratégico da direita é maximizar a qualidade de vida das pessoas.
Não nos podemos nunca esquecer disto.


Um carro transporte uma pessoa, uma trotinete transporta uma pessoa.
Se todos os portugueses têm o mesmo direito a usar a estrada, uma pessoa que se desloca num monstruoso Jeep Grand Cherokee  tem o mesmo direito que outra pessoa que circula numa trotinete.
Como o Jeep ocupa 10 m2 e a trotinete apenas 0,5m2, a trotinete traduz um uso vinte vezes mais eficiente do espaço público escasso. 


Serão os transportes colectivos eléctricos mais amigos do ambiente?
A Margarida deveria pegar em valores e fazer umas contas.
O Metropolitano de Lisboa gasta, por quilómetro e passageiro, 10x mais energia do que uma trotinete eléctrica e 20x mais energia do que uma bicicleta elétrica.

O metropolitano de Lisboa gasta 0,12kwh/km/passageiro (em 2018/2019).
Peguei no Relatório e Contas do Metropolitano de Lisboa e fui ver quanta energia gasta por quilometro percorrido por passageiro. 
Como o número de passageiros caiu a metade em 2020/2021, vou usar os valores de 2018/2019. O consumo médio de energia é de 102 milhões de KWh por ano para transportar 176 milhões de passageiros num percurso médio de 4,83km. Dá uma média de 0,12kwh/km por passageiro.
Em 2020/2021 gastou 0,17knh/km/passageiro.

Uma trotinete gasta 0,012Kwh/km/passageiro.
O consumo médio retirado da bateria, a uma velocidade entre os 15km/h e os 20km/h, é de 1kwh/100 km. A este consumo, é preciso somar as perdas no carregador (cerca de 20%).
Temos então um consumo que é 1/10 do consumo do metrolisboa.
E as bicicletas elétricas, por causa do pedalar, gastam metade da trotinete. 

E em termos de eficiência (económica)?
Mais uma vez, a Margarida deveria pegar em valores e fazer umas contas.
O Metropolitano de Lisboa tem um custo por km e passageiro de quase 6x o custo da trotinete eléctrica.

O metropolitano tem um custo de 0,24€/km/passageiro.
Em termos de gastos operacionais, são 0,14€/km/passageiro (120M€/ano) e em termos de custos de capital são mais 0,10€/km/passageiro (90M€/ano).
Isto é muito mais caro do que andar de automóvel.

A trotinete tem um custo de 0,043€/km/passageiro.
Vamos a uma trotinete cara, 500€ e somemos 100 euros para pneus e afinações).
Como a trotinete é capaz de fazer 15 mil km, somando as duas parcelas, dá 0,04€/km por passageiro.
A electricidade são 0,012*0,20 = 0,03€/lm/passageiro.
Somando tudo, dá 0,043€/km/passageiro.


Margarida, deixe de ser esquerdista e afirme-se como direitista.
Os transportes de passageiros colectivos públicos apenas existem porque recebem enormes subsídios públicos.
A Margarida deveria defender que essa mamadeira acabasse.
Depois, se os automóveis causam acidentes nas bicicletas e nas trotinetes, tem de se condicionar a movimentação dos automóveis e não o contrário pois ambos transportam um passageiro.

O futuro são as trotinetes pelo que proponho um algoritmo:
Actualmente, a velocidade máxima dos automóveis dentro das localidades é de 50km/h.

A) Meter radares dentro das cidades.
Não interessa ter um limite de 50km/h que ninguém cumpre. É preciso colocar radares dentro das cidades para multar os excessos de velocidade, doa a quem doer.

B) Sempre que as colisões de carros com trotinetes aumentar, diminui-se a velocidade máxima.
Quando um carro colide com uma trotinete, é um choque entre duas pessoas mas quem sofre é quem não tem chaparia para o defender.
Eu já tive um problema com um condutor de um automóvel que não parou numa passadeira e que me  agrediu (Tentou, saiu do carro, avançou para mim e apliquei-lhe logo um morote gari, deve ter ficado mal do cóccis!).
É preciso combater a cobardia de quem tem chaparia.

Enganei-me na Margarida!


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