quarta-feira, 12 de maio de 2021

Será razoável colocar paineis solares na albufeira do Alqueva?

Parece boa ideia colocar nas albufeiras barcaças com painéis solares.

A ideia não é má de todo mas é preciso comparar os custos.

A vantagem das barcaças é não ocuparem terreno mas têm um custo superior (de instalação e a manutenção) além de terem que ficar quase na horizontal o que se traduz por uma eficiência diminuída (uma média de 5,5kwh/dia por kw nominal).

A instalação dos painéis solar em terra firme utiliza terrenos mas os custos são menores e têm maior rendimento (uma média de 9,0 kwh/dia por kw nominal).

Para uma produção média diária de 10000 MWh (já vou explicar este valor), na albufeira será precisa uma potência nominal de 1800 MW e ocupar 130 km2 que é cerca de metade da área máxima da albufeira (que corresponde à totalidade da área de verão). Em terreno firme será precisa uma potência nominal de 1100 MW e ocupar cerca de 200 km2 que são 20 mil ha (apenas serão ocupados 60km2 pelos painéis e 70% ficará espaço livre entre os painéis).

No caso de Alqueva, os terrenos circundantes à barragem são praticamente estéreis e existem estudos que mostram que a instalação dos painéis solares é compatíveis com a pastorícia de ovinos com vantagem porque a sombra protege os animais.

Fig. 1  - Uma ideia do que são 200 km2 nas vizinhanças de Alqueva, ocupados a 30% com painéis solares.


A EDP anunciou a instalação de 4MW nominais na barragem.

Dizem eles que vão ocupar 40 mil m2 e investir 4 milhões € (ver).

É um investimento de 1000€/kw nominal o que é pelo menos o dobro do investimento necessário em terra firme, mesmo contando com a renda do terreno.

Pelos vistos, custa mais do dobro fazer a barcaça do que pousar os painéis em terra firme.

Dá que pensar que se está a deitar fora dinheiro dos contribuintes em algo que parece barato mas que não é.


O porquê dos 10 000 MWh diários.

A barragem do Alqueva (à cota máxima de 152m) tem, mais abaixo, a barragem de Pedrógão (à cota máxima de 84,8 m) que armazena água que pode ser bombada para cima quando há excesso de energia na rede e turbinada para baixo quando há falta de electricidade na rede.

A capacidade do sistema de armazenamento do sistema é de exactamente 10000MWh.

Então, a energia solar produzida durante o dia (potencialmente a 0,012€/kwh) pode ser integralmente utilizada a bombar água de Pedrogão para Alqueva e  produzir electricidade durante as horas em que não há luz solar.

Actualmente, a capacidade máxima de produção de Alqueva é de 520 MW, pode funcionar à potência máxima durante 16 horas por dia.

O sistema solar-Alqueva-Pedrogão será capaz de fornecer 10% de toda a energia eléctrica consumida durante a noite.

 

A curto-prazo vamos ter excesso de capacidade.

Na Austrália já estão com excesso de capacidade de energia eléctrica produzida com origem solar (ver). E hoje, entre as 6h e as 9h tivemos mais produção em renováveis (que se usa ou se destrói, sendo paga na mesma porque está garantido!) do que consumo.

 

Fig. 2 - Produção com fonte renovável e consumo de electricidade, 12/05/2021 (fonte: REN)


Devíamos usar o dinheiro da bazuca para ligar a nossa rede eléctrica ao Norte da Europa (que não tem produção solar) mas somos governados por mentecaptos que só querem ver comboios a passar e ilusões à volta do hidrogénio.

Somos mesmo governados por mentecaptos em que os maiores dois são o Pedro Nuno Santos e o João Galamba. Mais valia meterem duas mulheres nisso que sempre têm mais senso prático.

Fig.3  - Nem para arrumadores de comboios servem.

6 comentários:

Helena Tomé disse...

Barcaças à deriva nunca serão uma boa ideia. Há que acrescentar os custos do sistema de comando adotado, manual ou físico. E o preço das barcaças, que não sei se são coisas baratas e nem sequer se se produzem, pelo menos em Portugal. É minha convicção que qualquer coisa que flutue é dispendiosa e justifico com aquilo que vejo: mesmo em Miami os barquinhos de recreio estão no cais, paradinhos. Os iates, tal como as casas de madeira de que tanto se fala atualmente, têm elevados custos de manutenção. Quem conheço que tenha comprado casa de madeira logo se arrependeu pelos gastos que tem de suportar para a casa não virar um palheiro, e ainda viveiro de bicharada vária. O meu pai tinha um barco na ria de Aveiro porque era o seu pai era rico e pagava as contas. O meu pai nunca viu uma e daí a ideia de que ter um barco era coisa de somenos.
Depois há os gastos associados à degradação dos materiais que recebem os raios solares. Se forem de vidro, vai-lhes acontecer o que aconteceu no deserto californiano onde o Arnold Schwarzenegger mandou contruir uma grande central. Está tudo em cacos. E a temperatura da água da barragem?
Não consigo imaginar que haja alguém de bom senso que mande encher o Alqueva de barcaças produtoras de energia. É conversa, graças a Deus.

Helena Tomé disse...

https://www.greentechmedia.com/articles/read/americas-concentrated-solar-power-companies-have-all-but-disappeared

Helena Tomé disse...

Imagens muito bonitas do deserto que não querem destruir

https://www.basinandrangewatch.org/Ivanpah-Wildflowers.html

McManager disse...

Caro professor, faria sentido usar energia solar para desalinazar água do mar e com essa água alimentar albufeiras existentes para produção
de energia, consumo humano e produção agrícola? Surgiu-me a dúvida se um sistema deste tipo não poderia resolver dois problemas: mais energia renovável e mais água em zonas como o alentejo onde tb há mais sol. Obrigado

Silva disse...

O que é preciso é diminuir a necessidade de consumo de energia e a melhor maneira de ser efectuada é através da implementação imediata de reformas estruturais:

Abolição do salário mínimo
Liberalização dos despedimentos
Abolição dos descontos

Seguem-se outras reformas estruturais

Helena Tomé disse...

Boa ideia, McDonald's, isto é, McManger. Com tanta água no mar, há que desalinizar. Há também que evitar comer certos produtos ditos alimentares para não sobrecarregar as contas do Estado.

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