segunda-feira, 22 de janeiro de 2024

É bonito dar mais aos mais jovens mas isso obriga a dar menos aos mais velhos.

Há 30 anos o Buchanan jr. deu uma palestra na minha faculdade.

Estava eu a começar a minha vida profissional e, para comemorar os 40 anos da fundação da faculdade, convidaram o prémio Nobel da Economia James McGill Buchanan Jr.

Buchanan é um "utilitarista" já que vê a decisão económica como o resultado da agregação das decisões do indivíduo que, de forma racional, procura a maximização do seu nível de vida (a utilidade individual), princípio que já vem do século XIX (são os liberais clássicos Jeremy Bentham; John Stuart Mill; Henry Sigdwick; Condillac; Jean-Baptiste Say e David Hume). 

A inovação de Buchanan é romper com a ideia de que o eleito procura maximizar o bem-estar do eleitor mas antes que temos uma dupla maximização em oposição. Por um lado, o votante escolhe o candidato que, em esperança, lhe vai maximizar o nível de vida e o político faz promessas e escolhe, uma vez eleito, políticas que também vai maximizar o seu nível de vida (e não o nível de vida dos votantes).

Cada candidato procura, com promessas, induzir o eleitor a votar nele sendo que não existe forma de obrigar o candidato, uma vez eleito, a cumprir as promessas. Haverá então um "mercado de promessas" em que as promessas têm de garantir "tudo a todos" mas mantendo-se razoavelmente credíveis porque tal não é possível.

Quando se corta um bife maior para um, tem de ser cortar um bife menor para outro

As promessas convencem porque o eleitor pensar "de forma parcial".

Há uma "public choice" em que o governo (indirectamente, a sociedade que elege o governo) faz a distribuição do PIB de acordo com uma "ética". Como a distribuição não tem impacto significativo no nível do PIB (a distribuição é um jogo de soma nula), para haver mais para uns, obrigatoriamente,  haverá menos para os outros.

Desta forma, quando o governo aumenta os salários dos polícias, os polícias melhoram mas isso tem um impacto negativo em todas as pessoas que não são polícias.

Quando se aumentam os médicos, os não médicos pioram; quando se melhoram os professores, os não professores pioram; quando se melhoram os jovens, os não jovens pioram.


Claro que os políticos tentam convencer o eleitor que é possível dar tudo a todos.

Para isso, vão  buscar "aos outros" os recursos para dar tudo a todos (menos aos "outros" a quem vão tirar tudo mas esse "outro" é de tal forma vago que ninguém se identifica como prejudicado).

Dizem que o "outro" é  "a grande finança controlada pelos judeus", os "corruptos que desviam milhares de milhões", a "economia não registada que foge aos impostos". É a linguagem dos esquerdistas (e cada vez mais dos direitistas) de que o "outro" á a corrupção, o grande capital, os bancos, as instituições europeias e os estrangeiros.

Como as pessoas não sabem nada de economia, também existe a promessa de que o "outro" é o "crescimento económico". Prometem um caminho "lógico" sem qualquer evidência ou lógica económica que leva cada política a mais crescimento económico e, dai, a mais receita fiscal e melhores condições de vida para todos.

Salários dos polícias maiores => Menos crimes => Mais crescimento económico 

Salários dos professores maiores => Melhor ensino => Mais crescimento económico 

Salários dos médicos maiores => Menos doença => Menos baixas => Mais crescimento económico 

Mais investimento público => Mais empresas capitalizadas => Mais crescimento económico 

Com mais crescimento económico, haverá mais salários e pensões para todos


O que disse o Buchanan jr. em 1993.

Comparando com os USA em que os estados do interior estão cada vez mais despovoados, a liberdade de movimentação dos trabalhadores no espaço económico europeu irá levar, inevitavelmente, ao despovoamento dos países periféricos de que Portugal faz parte.

E é isso que está a acontecer, qualquer pessoa no seu perfeito juízo, vai trabalhar onde tiver melhores salários. Os meus primos trabalham indiferenciado, na construção civil como "ajudantes", e uma carrinha pega neles no domingo à noite, leva-os para o centro da Europa, França, Alemanha, Áustria, Holanda, Bélgica ou Luxemburgo, trabalham 12 horas por dia, todos os dias, durante três semanas e voltam na carrinha para descansar uma semana.

Todas as semanas, a carrinha leva uma equipa e trás outra equipa, o que permite que as mulheres e as mães enviem semanalmente a roupa lavada e uma comidinha mais especial. Cada carrinha apoia 36 pessoas.  


Reparemos um exemplo dramático = a Irlanda. 

Em 1840 a população da Irlanda era de 8 milhões de pessoas. Nessa altura, os USA "abriram o West para lá do Mississipi" e permitiram que os irlandeses entrassem livremente no país. Quando chegamos ao fim do século XIX, em 1900, a população irlandesa estava reduzida a metade e nunca mais recuperou. Hoje, apesar de ser um dos países mais ricos do mundo, a população da Irlanda não passa dos 5 milhões de pessoas.

Também dentro da Irlanda, houve o despovoamento dos concelhos rurais, concentrando-se 26% da população na capital e 60% da população na 4 maiores cidade.~

E isto tudo acontece porque as pessoas de forma individual procuram o melhor para elas, dadas as restrições, e o melhor é irem trabalhar no país onde têm melhores condições de vida.


Não é dando mais aos jovens que os fixamos cá mas dando menos!

Em 1988, quando terminei a minha licenciatura fui trabalhar para a África do Sul. 

Nada mais fiz do que procurar o meu interesse individual mas não é sobre isso que quero falar.

Lá, num encontro de engenheiros, conheci um alemão da Namíbia. Como na Namíbia não havia universidades, tinha tirado o curso na Alemanha. Até aqui tudo bem mas parece que esta conversa não faz sentido para o assunto da saída dos jovens. Mas a conversa foi para o que ele iria fazer no futuro, "Para o ano tenho de ir trabalhar para a Alemanha porque o salário que tenho aqui não é suficiente para pagar ao estado alemão a dívida que contrai para estudar".

Pelo que percebi, o fulano não pagou propinas, alojamento nas residências, livros nem alimentação mas ficou a dever todo esse dinheiro ao estado alemão. 


A politica alemã para fixar os jovens em Portugal.

Vamos supor que uma licenciatura + mestrado custa 25 mil € em propinas e o aluno ainda recebe 20000€ para ajudar nas despesas (330€/mês durante 5 anos). 

O aluno não paga nada mas fica a dever 45 mil € ao Estado que vai amortizar num prazo máximo de 40 anos com uma dada taxa de juro. Por exemplo, para uma taxa de juro de 2%/ano, terá uma mensalidade de 120€/mês (incluindo subsídios) ou seja, cerca de 10% do salário.

Em termos contabilísticos, o financiamento das universidades e da Acção Social sai do Orçamento de Estado e passa a ser contabilizado no "Fundo para a promoção do ensino superior".

Eu até metia no fundo o custo com todos os níveis de ensino de forma a haver incentivo para o desenvolvimento das escolas privadas (o aluno não ficará com dívida).

Vamos supor que o aluno decide ir trabalhar para o estrangeiro. Neste caso, vai ter na mesma de amortizar a dívida pelo que Portugal deixa de ter "prejuízo" com a saída do jovem.


E quem não conseguir pagar?

Aplica-se o princípio de que são perdoadas as dívidas às pessoas que não têm rendimentos.


Se não se pode dar tudo a todos, também não se pode tirar tudo a todos.

O eleitor que pensa que "dar aos polícias" não "retira aos não polícias" também pensa que cobrar aos alunos (que saem do país) o custo do ensino prejudica essas pessoas mas não beneficia ninguém.

De facto, beneficia quem fica a trabalhar cá. Ao retirar a despesa em ensino do Orçamento do Estado, a despesa pública será menor e, consequentemente, os impostos serão menos para todas as pessoas.

Digamos que quem emigra vai ter de continuar a pagar um impostos (o "imposto de formação") o que vai permitir baixar os impostos aos jovens que ficam em Portugal sem necessidade de cortar nos mais velhos.


Estive a ouvir um fulano do PSD a falar dos problemas dos jovens = a habitação.

Um professor universitário de economia, fulano magrito, com uma voz fininha, mas que gritava muito. Eu, por acaso, até já falei com ele um minuto, foi-me apresentado e chama-se Hugo Vilares.

Durante 14 minutos, gritou, gritou, contou umas anedotas com cara séria, o Buraconegro riu-se, uma galhofa mas não  referiu como a economia diz que o problema da habitação pode ser resolvido.

Hoje há 10 milhões e portugueses, a mesma população que havia há 20 anos. Como o número de casas não diminuiu, pelo contrário, não parece lógico haver falta de casas.

Mas há.


Primeiro =  Porque as pessoas têm habitações com área maior.

As pessoas querem casas cada vez maiores. 

Por exemplo, quando eu era criança vivia com a minha família de 8 pessoas numa habitação improvisada. Quando jovem, a minha família passou a viver num apartamento "a custos controlados" com 110 m2 (14m2/pessoa). Agora, vivo sozinho num apartamento com 216 m2.

Ocupo hoje 16 vezes mais área de construção do que ocupava quando era jovem.

Apesar de haver o mesmo número de casas, não há casas suficientes porque as pessoas gastam mais área (cada casa tem menos habitantes).


Segundo = As pessoas não podem viver todas no mesmo sítio.

Em criança vivia numa aldeia e agora vivo no centro de uma cidadezinha.

As pessoas ao quererem mudar para os centros urbanos, as casas na aldeia ficam desocupadas. A casa dos meus sogros (Deus os tenha em paz nos seus braços), algures numa aldeia perdida de Viseu, está desocupada há vários anos e, na aldeia, a grande maioria das casas está sem habitantes. Apenas vivem uns velhos cujos filhos estão na França, Suíça, Luxemburgo, Lisboa e Porto.

Não faz sentido ter uma linha de caminho de ferro e várias autoestradas que, a menos de 20 km do centro do Porto, servem milhares de hectares de terrenos classificados como  "área non aedificandi / não edificável".

É preciso dar direitos de construção aos terrenos.


Terceiro = São precisos "trabalhadores deslocados".

Para termos mais habitação a custos controlados é preciso diminuir os custos de produção e, para isso, são precisos trabalhadores com salários mais baixos. 

Um trabalhador deslocado trabalha num país (em Portugal) mas tem contrato de trabalho noutro país (em Marrocos, no Nepal ou no Bangladesh), aplicando-se os descontos e a legislação laboral do país de origem (a TSU vai para o país de origem).

Por exemplo, a UAE tem um total de 9,8 milhões de habitantes dos quais 1.2 milhões são nacionais e 8.6 milhões de "trabalhadores deslocados"; o Kuwait tem 4,3 milhões de habitantes dos quais 1.3 milhões são nacionais 3,0 milhões são "trabalhadores deslocados"; Na Arábia Saudita, 80% dos empregos do sector privado são ocupados por "trabalhadores deslocados" (um total de 14 milhões).

Ouço os esquerdistas dizerem que Israel explora os "trabalhadores deslocados" palestinianos mas não falam dos "deslocados" nos países árabes pelo que a critica também não se deve aplica a Portugal (é um caso específico de Israel).


Vejamos um exemplo.

O trabalhador do Bangladesh tem o salário mínimo é de 105€/mês, horário de 48h/semana e 12 meses de salário por ano. Enviando 23.75% de contribuição para a Segurança Social do Bangladesh, fica num mínimo de 1.15€/h.

O empregador, além do salário e das contribuições, teria de providenciar a viagem de vinda e volta, o alojamento em contentores de obra, a alimentação e a assistência médica e medicamentosa (através de um seguro de saúde).

Todos os países limitam a duração da estadia a um máximo de 36 meses seguidos, com ausência entre contratos de 12 meses.


Direita, isto não é verdadeiramente imigração.

Bem sei que a Direita é contra a imigração porque têm medo de Portugal perder a sua matriz cultural.

Penso pessoalmente que isso nunca irá acontecer por causa da "força das instituições". Por exemplo, o grupo cultural que imigrou em maioria para os USA foi o dos falantes de alemão e hoje quase ninguém fala alemão nos USA. Aconteceu o mesmo no Brasil onde o maior grupo cultural foi o dos falantes de italiano e hoje quase ninguém fala italiano no Brasil.

Mas ao termos "trabalhadores deslocados" com contrato de trabalho no país de origem e com uma permanência máxima de 36 meses, não se coloca esse problema (mesmo que imaginário). 

No caso dos países árabes, nunca é concedida a cidadania mas poderia haver critérios que o justificasse, por exemplo, ao fim de 4 contratos de trabalho sem problemas (15 anos).


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