quarta-feira, 9 de setembro de 2015

37 - O navio

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
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Ver o capítulo anterior (36 - Amesterdão)    


37 – O navio
Chegou a hora de embarcaram no transatlântico.
– Quando chegarem a Nova York, terão pessoas à vossa espera e já têm trabalho e casa onde morar. Claro que nem tudo serão rosas, que muitos problemas irão surgir na vossa nova vida mas, se nos dias de maiores dificuldades se lembrarem do sofrimento de quem ficou para trás, tudo será ultrapassado. Não se esqueçam também que o António segue viagem para vos ajudar a resolver esses problemas e também contem com as pessoas da confraria americana para vos ajudar – disse o Dessilva.
– Viva aos Sr. Dessilva – gritou alguém no meio do grupo e todos gritaram Viva.
– Entrem então no navio que as lágrimas já me estão a atacar os olhos!
Decorridos 14 dias, o navio chegou a Nova York. Foram saindo aquelas mais de 5000 pessoas, primeiro as da 1.ª classe, depois as da 2.ª classe e, finalmente, as da 3.ª classe. O processamento dos imigrantes demorava tempo porque tinham que passar, primeiro, pela alfândega, depois pela consulta médica a ver se não eram portadores de alguma doença infecciosa e, finalmente, pelos serviços de imigração. Uma coisa que notaram é que saberem inglês lhes tinha facilitado. e de que maneira. todo o processo. Compreendiam as tabuletas, as ordens dos oficiais e podiam perguntar coisas às pessoas que por lá passavam. As pessoas estiveram lá horas e horas à espera de ver se tudo estava em ordem, depois de um dia e uma noite inteira naquele processo, quem estava mais preocupado era o António que, metendo conversa com uma afro-americana, tipo de pessoa que ele nunca tinha visto, muito gorda que limpava o chão, viu uma oportunidade para sabe, antecipadamente, se alguém os esperava do lado de fora.
– A senhora, se faz favor, podia-me ajudar um pouco? Em princípio está um senhor lá fora à nossa espera mas, como não temos tido contacto com ele, não temos a certeza se ele estará ou não. A senhora, como tem livre-trânsito, podia fazer-nos o favor de ir lá fora e perguntar se alguém se chama Sr. Jonas do Zenão?
– Oh meu senhor, não é preciso eu ir lá fora para saber que realmente esse Sr. Jonas está à vossa espera. Ele até dormiu lá fora no chão, em cima de um cartão. E está não só ele À vossa espera como também umas 20 pessoas, homens, mulheres e até crianças. Devem ser muito vossos amigos pois, enquanto esperam, cantam e de dançar de alegria.
– Mas como é que a senhora sabe que são essas as pessoas que estão à nossa espera?
– Isso é muito fácil. Quantas pessoas é que pensa que existem em Nova York vestidas de preto dos pés à cabeça, com chapéu e os homens de barba comprida? Eu nunca vi uma coisa assim, até as crianças estão vestidas de preto e com um chapeuzinho.
– Muito obrigado minha senhora, muito obrigado, nem sabe como me deixou mais descansado.
O António chamou à atenção todos os seus companheiros de viagem para lhes dar as boas notícias.
– Companheiros, atenção, tenho boas notícias, a senhora com quem eu estive a falar disse-me que estão lá fora várias pessoas à nossa espera. Aleluia que o Sr. Jonas está mesmo à nossa espera e com uma comitiva.
Os oficiais dos serviços de saúde pública chamaram o António para lhe dar uma palavrinha.
– Bom dia, depois desta noite de sofrimento eu tenho uma má notícia para lhe dar, desconfiando que possam sofrer de tuberculose, o senhor e os seus companheiros vão ter que ficar duas semanas em quarentena. Se neste tempo a temperatura de alguém subir, terá que voltar para trás.
– Mas Sr. Oficial, nós somos magros mas não por termos qualquer doença, lá na Europa de onde vimos, termos uma vida muito dura. Por isso, pode confiar que não temos tuberculose. E acontece que temos lá fora pessoas à nossa espera que, concerteza, lhes podem dar a morada onde os serviços de saúde pública nos podem seguir. O senhor não quer fazer o favor de falar com eles?
– OK, vou então lá fora falar com eles. E como é que os encontro?
– É muito fácil, segundo já obtive informação, vai ver umas 20 pessoas pessoas parecidas connosco mas todas janotas, com roupas novas e bem tratadas. Não tem nada que enganar. Daqui a uns dias já seremos iguais a eles, vai ver.
O oficial foi lá fora e ficou convencido pelo que libertou as pessoas. Também a sua vontade não era grande pois ter pessoas em quarentena implicava custos. Quando as pessoas chegaram ao exterior dos serviços de imigração, a alegria foi muito grande, viam-se pessoas que, havia minutos, eram desconhecidas, abraçadas umas às outras e a chorar de alegria.
– Vocês vão ser um precioso reforço da nossa comunidade que precisa de braços para se desenvolver – disse o Jonas como cabeça da comissão de recepção.
– Sr, Jonas, eu sou o António Espírito Santo que o Sr. Dessilva escolheu como chefe, disse-me ele, “Por ser mais velho e ter capacidade para resolver todos os problemas que possam surgir”. Não me disse mais nada pelo que eu nem sei bem o que ele quis dizer com isso. Mas, para que o Sr. Jonas possa compreender a sua escolha, mandou-me entregar-lhe esta carta lacrada.
– OK António, o Dessilva mandou-me uma carta a dizer isso e que irias trazer uma carta lacrada com informação sobre este assunto – Nesse momento, o Joaquim chegou-se à frente.
– Peço a sua bênção – e beijou a mão ao tio – O meu pai e seu irmão manda-lhe muitos cumprimentos e disse que tem muitas saudades suas. Eu bem sei que o Sr. Dessilva escolheu o António como nosso chefe mas o tio vai ver que eu sou muito melhor do que ele não só por ser do seu sangue mas também por ser muito mais forte e ser mais jovem. Se é para resolver problemas, estou eu aqui, quem me fizer frente, leva uma marretada que nem sabe de que terra é.
– Bem Joaquim, o Dessilva viu qualidade no António que não viu em ti mas, concerteza, com o passar do tempo tudo poderá mudar, só o futuro é que o dirá. Não imagino as razões do Dessilva para ter tanta certeza na escolha do António mas deixa ver o que diz a carta, deixa-me ver o que ele aqui diz. Com licença.
O Sr. Jonas abriu o lacre da carta, desatou o fio que a atava e abriu a carta que, estranhamente, tinha apenas uma frase escrita.
 “Ninguém o sabia mas o Alberto tinha um filho que ainda estava no ventre da mãe e esse filho é o António.
O Jonas ficou pálido, as lágrimas vieram-lhe imediatamente aos olhos, olhou para o António e, realmente, viu semelhanças com o pai que o Dessilva tinha matado. “Não pode ser” pensou para consigo.
– Passa-se alguma coisa tio?
O Sr. Jonas não ouviu a interpelação do sobrinho, a sua mente voltou ao tempo em que o Abel, Dessilva, lhe apareceu em Amesterdão com os 25000€ e lhe contou como tinha conseguido o dinheiro.
– Passa-se alguma coisa tio? O tio está a ouvir-me? Passa-se alguma coisa?
– Não, não, não, não, isto é de não ter dormido, não sei o que o Dessilva quer dizer com isto, diz que o António é filho do Alberto que eu não me lembro quem era. Mas eu hoje sou rico por causa do Sr. Dessilva ter um olho especial para ver o verdadeiro valor das pessoas e, sendo que o Dessilva escolheu o António é porque, sem qualquer dúvida, é a pessoas mais indicada para a função. Joaquim, desculpa, mas nem que fosses meu filho, e eu tenho filhos, mas nunca eu passaria por cima da palavra do Dessilva. Para mim, uma palavra do Dessilva é mais forte que uma ordem de Deus.
– Mas tio, eu sou seu sobrinho, pense nisso, o António não presta, é um pobre que foi criado sem pai, lá na terra ninguém lhe liga.
– Ouve bem Joaquim, a partir de agora, o António vai representar-vos a todos junto de mim e das outras pessoas. Não comeces já a levantar problemas, estás a ouvir? Não levantes problemas pois o que temos mais por aqui são problemas e não quero que os outros americanos nos vejam com um grupo de malfeitores. Foi muito difícil criar a reputação de que somos sérios e trabalhadores, não vos chamamos para a América para que estraguem a nossa reputação. Agora, a vossa missão é trabalhar. Obedece ao António e não nos cries problemas.

O Joaquim ficou confuso. Se minutos antes o tio tinha dito “quem sabe no futuro”, porque será que aquela frase sem aparente informação tinha feto o tio mudar de opinião ao ponto de ter ficado agressivo? Que coisa estranha mas “Eu vou acabar por dar a volta à situação, eles não sabem do que eu sou capaz. É que afinal eu sou sobrinho dele, sou mais família que o Rúben e ele está-lhe a pagar os estudos em Amesterdão. Como o Sr. Dessilva não tem filhos e o meu tio Jonas praticamente também não, eu ainda vou ser dono de isto tudo.”

Capítulo seguinte (38 - O problema)

1 comentários:

Mar Verde disse...

Deputy PM calls for ‘Mediterranean Shield’ to sink empty smugglers’ ships

Prague, Sept 9 (ČTK) — NATO should start a naval operation in the Mediterranean that should sink people smugglers’ ships and protect the Turkish border, Czech Finance Minister Andrej Babiš said today.

Read more: http://praguepost.com/czech-news/49686-babis-nato-should-sink-ships-in-mediterranean#ixzz3lJsCoJln
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