Hoje há uma manifestação de professores.
E a coisa que se queixam mais é que ganham hoje menos do que ganhavam há 20 anos. Quer isto dizer que a geração de hoje vai ter um nível de vida pior do que tive a geração dos seus pais, o que vem retirar às pessoas o sonho de que o progresso traz prosperidade.
Pensando no meu caso, esta regra apenas não se aplica porque fiz o doutoramento em 2001 e a agregação em 2007 mas é verdade que o meu ordenado de hoje é menor do que o meu ordenado de há 10 anos atrás. Talvez por causa disso é que tenha decidido ser justo trabalhar cada vez menos :-)
Mas se o governo, o António Costa, diz que a nossa economia está a crescer como nunca, haverá alguma lógica económica para os salários estarem na mesma? Estarão os patrões a explorar os licenciados?
Vejamos que os salários não podem subir porque a economia não cresce assim tanto como anunciam os esquerdistas mas também por causa da mudança na proporção licenciados/não licenciados.
Vamos ao crescimento da economia.
A economia é o agregar de muitas coisas pelo que o comum dos mortais não sabe se a economia cresce ou não. Para saber se a economia cresce é preciso ir buscar estatísticas, no caso, compiladas pelo Banco de Portugal. E o que dizem essas estatísticas é que, no período 2000-2021, o PIB per capita cresceu 0,4%/ano.
Afinal, depois de 2000, altura em que passamos a pertencer à Zona Euro, temos crescido poucochinho. Talvez seja apenas uma relação espúria mas é um facto que o Euro veio acompanhado pela estagnação económica.
Cresce poucochinho mas crescemos qualquer coisinha.
É que comparando 2000 com 2020, crescemos 8,5% pelo que seria de pensar que os salários tivessem também crescido 8,5%.
Alguns cresceram, por exemplo, o salário mínimo em 2000 era de 318,2€/mês e já vai em 665€/mês, mas estes 8,5% foram absorvidos pela alteração da proporção dos licenciados na economia.
Mas a percentagem de licenciados cresceu muito mais.
Em 2000 cerca de 500 mil pessoas tinha licenciatura. Em 2020 cerca de 1500 mil pessoas têm licenciatura ou mestrado.
Vamos supor que em 2000, o salário dos não licenciados era de 600€/mês e o dos licenciados 1500€/mês. O salário médio será então (95% * 600€/mês + 5%* 1500€) = 645€/mês.
Como o crescimento foi de 8,5%, então a divisão da riquesa criada permite um salário médio de 645*1,085 = 700€/mês.
Mas mantendo os salários iguais aos de 2000, a simples alteração da proporção vai mais do que roubar este ganho:
(85% * 600€/mês + 15%* 1500€) = 735€/mês.
Só a alteração da proporção obrigaria a que o salário diminuíssem 5%.
Sabido que os salários dos não licenciados não diminuíram, até aumentaram pelo efeito do Salário Mínimo, os salários dos licenciados teve que diminuir muito mais.
Sabem como poderiam subir os salários dos licenciados?
Se "importássemos" trabalhadores não licenciados e de baixos salários!
Parece estranho afirmar que para melhorarmos o nosso nível de vida precisamos de pessoas "desclassificadas" e não pessoas de grande valia profissional.
Precisamos de pessoas com salários baixos, que realizem as operações necessárias mas de baixo valor acrescentado para que os portugueses licenciados possam auferir melhroes salários e termos melhor qualidade de vida.
Vou dar um pequeno exemplo.
Fala-se muito que as casas estão caras e que não existem trabalhadores disponíveis para a construção civil.
Em Moçambique, cada trabalhador aufere, em média, 26€/mês (dados do INE.M).
Vinha um milhão de moçambicanos para Portugal trabalhar na construção civil, viagem paga, comida e alojamento como têm lá e ainda por um salário 100€/mês.
Ajudávamos os moçambicanos e éramos ajudados pelo seu trabalho.
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