Crime e Redenção
Pedro Cosme Vieira
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Ver o capítulo anterior (9 - A substituição)
10 – O almoço
Em
termos de calorias, a alimentação tinha o pão de milho como um pilar e o caldo
à lavrador como outro. Depois, havia o leite e o queijo das ovelhas e das
cabras, os ovos e frangos da capoeira, a carne do porco e o arenque salgado que
vinham de longe em barricas de madeira e que eram compradas no Vale.
A
preparação do pão de milho, a broa, era feita ao fim da tarde. Juntavam-se 30kg
a farinha de milho com água a ferver e amassava-se a mistura durante uns
minutos. Tendia-se a massa, lançavam-se duas mãos-cheias de sal, peneiravam-se
2 kg de farinha de centeio por cima e juntava-se o fermento que era um quilograma
de massa guardada da amassadura anterior. Voltava-se a amassar tudo e, depois,
faziam-se bolas com cerca de 3 kg que se deixavam 3 horas a fermentar.
Finalmente, metiam-se essas bolas de massa no forno previamente aquecido com
lenha que, depois de fechado hermeticamente, cozia o pão durante toda a noite.
O pão de milho, mesmo não sendo um alimento completo, era barato e, nos tempos
de maior aperto, é a bóia de salvação. Para o sustento de uma semana, um adulto
precisava apenas de 4 kg de farinha que custavam menos de 1€ e, para uma
criança, era preciso metade desse peso. O pão comia-se durante o dia sempre que
a fome apertava, sem mais nada, barrado com banha de porco ou em sopas de café
ou de leite e, durante as refeições, como acompanhamento do caldo à lavrador.
Para
fazer o caldo metia-se uma panela ao lume meia cheia de água com um fio de
azeite, uma talhada de carne de porco salgada, uma cebola cortada às rodelas e
feijão demolhado de véspera. Passada meia hora, entravam na panela as batatas e
as verdura colhidas momentos antes no quintal, tudo cortado ao bocadinhos. Quando
já estava tudo cozido, para engrossar juntava-se uma colherada de farinha de
milho. A carne, depois de cozida, era cortada em tantas fatias quantas as
pessoas na mesa, nunca calhando mais de 30 g por cabeça. Normalmente a refeição
acabava com um pouco de queijo mas, em alguns dias especiais, ainda havia meio arenque
cozido com batatas e couves, tudo regado com um pouco de azeite e vinho azedo.
Para
beber havia a água que se ia buscar à fonte e o vinho carrascão feito de uvas
que se cultivavam um pouco por todas na borda dos campos.
O
almoço começou como era o costume, broa com fartura e caldo à lavrador mas,
como era um dia especial, acabou com um arroz à cabidela em que o frango “morreu
sem ter culpa nenhuma no sucedido”. Também não faltou o vinho tinto “que
aguenta mais tempo no pipo que o branco” e um refresco de limão feito com água
fresca acabadinha de trazer da fonte que distava pouco mais de 100 metros da
casa, mesmo encostada ao moinho.
Para
sobremesa vieram uns figos secos e broa barrada com um pouco de mel de abelha.
Finalmente, a refeição terminou com um chá de erva cidreira acabadinho de fazer
e, para os homens, um cálice de aguardente.
Depois
do almoço, foram todos continuar os seus trabalhos e a Maria Zé foi para sua casa,
juntamente com a mãe, ultimar o funeral do Simeão que seria dali a apenas
algumas horas.
Capítulo seguinte (11 - A multiplicação)
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