terça-feira, 13 de fevereiro de 2024

A ideia do Pedro Nuno de os médicos pagarem a sua formação é minha e é liberal.

O liberalismo baseia-se no principio do "utilizador-pagador".

Por força da necessidade cresce das pessoas de cuidados médicos, e por falta de progresso na medicina, há, à escala mundial, falta de médicos.


Por força da falta de progresso na medicina!

Em termos de tendência, cada vez temos melhor qualidade de vida porque se consegue produzir mais bens e serviços com menos tempo de trabalho mas a inovação não acontece em todos os sectores da economia à mesma velocidade.

Por estranho que pareça, a agricultura é o sector onde tem havido mais inovação poupadora de trabalho. Se em 1960 a percentagem de população activa que trabalhava na agricultura era de 41,5% (415 em cada 1000 trabalhadores), em 2023, é de apenas 2,5% (25 em cada 1000 trabalhadores) e, no entanto, produzem-se hoje mais bens agrícolas do que se produziam em 1960.

Por oposição, nos anos 1960 uma consulta médica demorava exactamente o mesmo tempo que demora hoje, 15 minutos, e a ordem dos médicos ainda acha que esse tempo deve aumentar.

Ao não haver inovações na medicina poupadores de trabalho, o progresso nos outros sectores faz com que haja uma crescente necessidade de médicos (e de enfermeiros).


Por força de a medicina estar, artificialmente, cada vez mais complexa.

Quando vamos à nossa médica de família, medimos a pressão arterial, conversamos um bocadinho, pedimos uns medicamentos e são-nos receitadas umas análises clínicas.

Passado uns meses, voltamos lá, mostramos os resultados das análises, conversamos mais um bocadinho, pedimos mais uns medicamentos e, como as análises mostram que está tudo dentro dos valores considerados normais, vamos para casa continuar com a nossa vidinha.

Em pelo menos 95% das consultas, não há qualquer complexidade, está tudo normal.

Se 95% das situações são simples, porque razão, a nossa médica de família teve uma formação universitária que a prepara para as 5% de consultas onde surgem uma questão mais complicada?

Isto é artificial, é uma forma da classe evitar que haja muitos médicos.


Nunca portugal pode pagar os salários que se pagam por ai fora.

Por essa Europa fora, um médico de família ganha em média a 5500€/mês enquanto com outra especialidade ganha uma média de 6700€/mês (14 meses por ano). Portugal não pode competir com estes salários.

Mesmo que as universidades dupliquem o número de alunos formados por ano, os médicos vão fugir à procura de melhores salários.

Esta concorrência internacional faz com que, por exemplo, Moçambique sendo um dos países mais pobres do mundo, tenha de pagar 2600€/mês aos médicos.


A formação médica deveria ser em 3 patamares.

No primeiro patamar, a licenciatura com 3 anos de formação, o aluno aprende situações "normais", o que fazer quanto as análises são normais e o paciente não se queixa de nada. Este patamar permite ainda que o médico faça a triagem e encaminhamento para outros médicos, com a ajuda de ferramentas de Inteligência Artificial. Esta formação é feita em sala de aula, baseado em estudo livresco e com com contacto reduzido a casos clínicos verdadeiros. Os médicos com esta formação serão capazes de resolver 4 em cada 5 situações, casos "normais" de baixa complexidade, e enviar os restantes casos para o médico do patamar seguinte.

No segundo patamar, o mestrado com mais 3 anos de formação, o aluno aprende situações mais complexas mas ainda dentro das "normais", ficando capaz de receber os 20% dos casos encaminhados pelos médicos licenciados e vão ser capazes de resolver uma percentagem elevada, digamos que 4 em cada 5 situações, mas haverá ainda situações "anormais" que precisam de ser encaminhadas para médicos especialistas.

O terceiro patamar, o doutoramento/especialidade com 6 anos de formação, o aluno aprende situações verdadeiramente complexas e específicas, ficando capaz de receber e resolver todos os casos encaminhados pelos médicos mestrados. 


Fui eu quem propões que os médicos devem pagar a sua formação.

Sim, já repetidamente falei sobre isso, tendo sido a última vez em 3 de Outubro passado, no último parágrafo deste post.


Vejamos como o "princípio do utilizador-pagador" resolve o problema da falta de médicos.

Olhando para as propinas da Universidade Católica, cada ano de formação médica tem um custo de 17000€. 

Então, um médico licenciado terá um custo de 50000€ que, amortizado em 40 anos, se traduz numa mensalidade de 130€/mês. Vamos supor que havendo médicos licenciados, o SNS pagava 1500€/mês a cada um. Passaria a pagar 1630€/mês e o médico licenciado "devolveria" 130€/mês ao Estado. 

O médico mestrado terá um custo de 100000€ que se amortiza com 260€/mês. Mais uma vez, este médico mestrado terá um incremento no salários de 260€/mês que vai devolver ao Estado.

O médico doutorado terá um custo de 200000€ que se amortiza com 520€/mês. Mais uma vez, este médico doutorado / especialista terá um incremento no salários de 520€/mês que vai devolver ao Estado.


O médico mantém total liberdade.

Se for trabalhar para o privado ou para o estrangeiro, vai pagar a sua mensalidade tal e qual os médicos do SNS. Esse dinheiro vai ser usado no financiamento das faculdade de medicina, formando mais médicos.


Podemos internacionalizar a formação médica.

Ao haver o princípio do utilizador-pagador, Portugal pode receber alunos de outros países desenvolvidos onde é difícil entrar nas escolas médicas. 

Contrariamente aos riscos (de que os privados mercantilizarem o ensino da medicina), a formação médica pode ser um sector de alto valor acrescentado, com trabalhadores bem remunerados e exportados de serviços, gerador de dinheirinho bom para Portugal.

Então, o senhor professor do que se queixa?


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