domingo, 20 de novembro de 2011

A inflação é um fenómeno puramente monetário

A moeda é apenas o lubrificante da economia

As pessoas pensam que ter dinheiro é ter riqueza mas não é assim.
O dinheiro serve apenas para facilitar as trocas por ser um referencial de valor (que permite comparar os preços relativos dos milhares de bens e serviços existentes) e uma reserva de valor que permite "guardar" o valor dos bens e serviços desde a hora que os vendemos até à hora em que compramos outros bens e serviços.

Por exemplo,
Eu trabalho hoje 8 horas e recebo 50€ em dinheiro como um armazenamento do valor do meu trabalho.
Amanhã posso meter 33 litros de gasolina descarregando o valor do meu trabalho (entregando as notas) para o gasolineiro.
Depois, o gasolineiro descarrega o valor do meu trabalho (enviando as notas que lhe dei) na compra de gasolina à Petrogal.
A Petrogal descarrega o valor do meu trabalho para a Arábia Saudita (em troca por petróleo).
A Arábia Saudita descarrega o valor do meu trabalho para a Alemanha (em troca por um Mercedez)
A Alemanha descarrega o valor do meu trabalho para Portugal (em troca de uns sapatos).
O sapateiro descarrega o meu trabalho para os impostos (em troca de o filho estar a estudar).
O Governo já tem outra vez dinheiro para me pagar o dia de amanhã.

Fig. 1 - Guardava o valor do meu trabalho de uma semana numa nota de 500€ que depois usava para a menina guardar o valor do seu trabalhinho de 30 minutos. Ai que dentes lindos.

As notas vão circulando pela economia mas são sempre as mesmas.
As notas são importantes como mecanismo de lubrificação da economia mas não são elas próprias valor. O valor do dinheiro consiste no valor dos bens e serviços que podemos comprar com ele.
Se deixar de haver bens ou serviços (por exemplo, se houver uma guerra) o dinheiro perde valor porque não há o que comprar.
É como o cartão de pontos do Continente: se o supermercado não tiver nada para vender, os pontos não valem nada.

E se não houvesse notas?
Notas e dinheiro não são a mesma coisa. Na teoria económica o dinheiro divide-se em
     Inside money que apenas existe em termos contabilisticos e
     Outside money que são as notas e as moedas.
Por exemplo, em termos de inside money, no fim do meu dia de trabalho, fica registado na contabilidade do meu banco "+50€". Quando eu for meter gasolina, com o cartão multibanco, a contabilidade do meu banco lança na minha conta "-50€" e lança "+50€" na conta do gasolineiro.
E por aí fora.

Funciona tudo na mesma.
Mas as notas são o meio tecnologicamente mais barato de fazer dinheiro. Se imaginarmos o interior de África onde circulam Dólares Americanos (na candonga), vemos que o inside money obriga a uma sociedade mais organizada.
Mas a tendência é a mudança. Com a internet pode existir inside money nesses países esquisitos mas localizado noutro local. Por exemplo, via internet fazem-se transferências no meio de África entre contas bancárias localizadas no Luxemburgo ou no Mónaco.

Já estão a ver a importância de haver offshores?
Permite que pessoas localizadas em países onde nada funcionatenham uma forma segura de ter um pé-de-meia.
No meio da República do Congo, em plena guerra civil, um camponês qualquer pode colocar de lado 50€ numa conta offshore.
Pode vir a ser o finaciamento da educação dos filhos. Ou, depois de ter que abandonar a sua terra, vir a facilitar-lhe o recomeço da vida.

Mas há a história da "circulação da nota" que paga dívidas.
A minha história é inspirada nas da internet em que a nota parece, ao circular, melhorar a economia (paga dívidas).
A conclusão está errada porque não é a nota que circula mas é o valor do meu trabalho que viaja pelo Mundo. Se eu não trabalhasse, se o gasolineiro não tivesse gasolina, se a Petrogal não tivesse petróleo, etc. a nota de 50€ não fazia nada.
Já se imaginaram no meio do deserto, sozinhos, com uma nota de 50€? Para que é que isso serviria?

O Ouro é uma moeda supranacional
Para se sair da economia de sobrevivência foi obrigatório que os agentes económicos aceitassem uma moeda. Como na antiguidade não se sabia nada de Economia e não havia FMI nem bancos centrais, o Ouro surgiu como moeda por evolução natural.
A princípio o Ouro era um bijuteria estranha porque não oxidava e, com o tempo, foi-se tornando unidade de valor, meio de reserva e meio de troca.
O seu valor derivava, pensavam os antigos, de ser um bocadinho do Deus Sol. A Prata era um bocadinho da Deusa Lua.
Ainda hoje o Ouro é aceite por todos os Estados como uma moeda supranacional.
Existem actualmente cerca de 170 mil toneladas de Ouro disponíveis das quais 30500t são reservas dos bancos centrais (fonte: World Gold Council). Sendo a produção de 2350t/ano então, a quantidade de Ouro disponível aumenta cerca de 1.4%/ano.

O Cavaco não sabe nada. 
É incrivel como uma pessoa que se diz economista sabe tão pouco. Mas eu conheço mais professores catedráticos de economia que não sabem nada de economia. Eu sei pouco mas fico boquiaberto.
O Cavaco nem dá conta que está a defender ideias dos equerdistas.
Com tanta ignorância é impossível fazer o povo compreender como se deve governa um país de forma eficiente.
Agora imaginem o que o Passos sabe de economia. Se não fosse ele ler este blog, estavamos pior governados que os da Venezuela.
Eu penso que é culpa dos alemães. Daquele alemão, o dr. Alzheimer.

O valor da moeda é um valor especulativo
Apenas troco o meu trabalho pelas notas porque antecipo que amanhã consigo trocar essas notas por 33 litros de gasolina.
Se eu imaginasse que amanhã eu não conseguia comprar nada com os 50€, eu não aceitava trocar o meu trabalho pelas notas.
Contrariamente ao que anunciam os esquerdistas, a economia existe porque todos nó somos especuladores.
O Duarte Lima especula que, se rezar uma Avé Maria todos os dias, vai para o Céu.
Especulo que, se depositar dinheiro num banco, daqui a 5 anos tenho lá o dinheiro mais os juros.

A velocidade de circulação da moeda.
Vamos imaginar que eu recebo o ordenado ao fim do dia e que o gasto ao longo do dia seguinte seguinte. Então, em média vou ter 25€ no bolso.
Se recebo no fim do mês 1500€ que vou gastando ao longo do mês seguinte, em média terei 750€ no bolso.
A relação entre o PIB do país e a quantidade de moeda em circulação chama-se "velocidade de circulação da moeda".
Comparando o PIB mundial com a quantidade de outro disponível, existem 380$ por cada grama de Ouro. A 55$/g, temos uma velocidade de circulação do Ouro de 7 trocas por ano.

Se o dinheiro fosse inside money, a velocidade de circulação da moeda poderia ser infinita (a soma de todos os saldos ser zero) ou ainda maior! (a soma de todos ser negativo). 

A emissão de moeda
O BCE, o soberano, é monopolista na emissão de notas e moedas.
Emitir notas dá muito lucro. Por exemplo, produzir uma nota de 500€ custa cerca de 20€. Então, "vender" uma nota de 500€ dá um lucro de 480€ ao BCE.
Dos 480€ de lucro, o BCE fica com 8% (38.40€) sobrando 441.60€.
Este dinheiro é entregue, proporcionalmente à dimensão das economias, aos países.
     Portugal recebe 12.01€ (2.50%)
     A Alemanha recebe 129.91€ (27.06%)
     Malta recebe 0.43€
A Alemanha recebe mais dinheiro porque a maior parte das notas são "vendidas" a alemães.

Se a velocidade de circulação da moeda fosse infinita, em toda a Zona Euro apenas haveria em circulação uma moeda de 1 cêntimo.

O que fazem os países com o dinheiro?
O BCE emite cerca de 50 mil milhões € por ano recebendo Portugal recebe cerca de 1.1 mil milhões € por ano.
Os países gastam esse dinheiro pagando salários, pensões e fornecimentos de bens e serviços.

Finalmente, já podemos ir à inflação.
As pessoas têm dificuldade em compreender como a moeda se liga à inflação. Eu posso explicar um pouco como isto funciona porque trabalhei no meu mestrado nisto (com o ex- sr. ministro das finanças) que demorei 6 anos a concluir.
Vou ter que dividir o mecanismo de transmissão em termos microeconómico (expectativas adaptativas) e em termos macroeconómicos (expectativas racionais).

Fig. 2 - A inflação nestas boobies foi um excelente acontecimento

Conversavam dois amigos  
- O meu filho fez o mestrado em Economia em 2 anos e o teu filho anda lá há 6 anos. Deve ser muito burro.
- Não pá, ele já me explicou, ele é muito fino. Quando o meu filho chega a um exame faz o que sabe. Mas, no fim, se não estiver tudo certo desiste para estudar mais. Quando o meu filho vier da FEP vai saber mais que o Cavaco.

A inflação na microeconomia (expectativas adaptativas)
Um industrial de sapatos tem 500 pares à venda numa loja a determinado preço.
O sapateiro repõe 100 pares por semana e o stock mantém-se nos 500. Quer dizer que, em média, as vendas são 100 pares por semana.
De repente, o Estado, com o dinheiro obtido pela emissão de moeda, começa a comprar 10 sapatos por semana. Então, semana após semana, o stock começa a diminuir.
O sapateiro, vendo o stock a diminuir, tem duas hipóteses

H1. Aumenta a produção 10% mantendo o preço.
O aumento da produção implica um aumento dos custos unitários de produção porque os trabalhadores, para fazerem horas extraordinários, querem mais salário.
Os esquerditas, comunas, broquistas, keynesianos acreditam que é isto que vai acontecer.
Mas o aumento da produção vai reduzir o lucro porque. Por um lado, os trabalhadores querem mais salários e, por outro lado, os fornecedores vão querer aumentar os preços.

H2. Aumenta o preço 10% mantendo a produção.
O aumento do preço em resposta a um reforço da procura nunca leva à diminuição do lucro.
Como o nível de produção é o mesmo, é antecipável que os preços das matérias-primas e da mão-de-obra vão-se manter.
Os direitistas, clássicos acreditam que é isto que vai acontecer.

Sob espectativas adaptativas vai haver um período transitório.
Em que os trabalhadores não são conta que os preços estão a subir pelo que mantêm o salário nominal.
Então, o erro leva a que o salário real diminua transitoriamente e que o PIB aumente.

Fig. 3 - Evolução do PIB com expectativas adaptativas

Fig. 4 - Evolução dos preços com expectativas adaptativas

Se as expectativas fossem adaptativas faria sentido usar a emissão de moeda como um intrumento de estabilização da economia ao longo do ciclo económico:
Nas crise o Governo emitia mais moeda como defendem os esquerdistas no qual se inclui o Cavaco.

Fig. 5 - Estabilização económica com emissão de moeda (se as expectativas fossem adaptativas, se)

A inflação na macroeconomia (expectativas racionais)
O efeito transitório acontece porque os agentes económicos estão enganados, principalmente os trabalhadores.
Como à primeira qualquer um cai mas à segunda só cai quem quer, quando os trabalhadores observam uma emissão de moeda, antecipam logo que os preços vão subir pelo que querem um aumento imediato dos salários.
Os fornecedores de bens e serviços igualmente pelo que deixa de haver período transitório.

Emitir de moeda é igual a cobrar um imposto
O governo, ao emitir moeda, adquire bens e serviços. Como a produção não aumenta (porque ninguém se deixa enganar), o povo tem acesso a menor quantidade de bens e serviços.
É o Crowding Out.
Os povos ignorantes não sabem desta equivalência (o Cavaco, o Louçã e milhões de parolos) pelo que preferem o aumento da inflação.
Os povos sábios (como os filandeses e os alemães) sabem desta equivalência e preferem pagar impostos.

É impossível ter povos que preferem inflação a pagar impostos, os latinos, na mesma zona monetária de povos que preferem pagar impostos a ter inflação, os bárbaros.

Pedro Cosme Costa Vieira

11 comentários:

Anónimo disse...

O que é mais difícil de perceber neste post é de quem são as mãos que aparecem na Fig. 2. Pode-nos esclarecer, Senhor Prof.?

Anónimo disse...

tiro lhe o chapeu pelo post
depois vou ter que ler mais devagare melhor mas tou a gostar e devia me agradecer porque a ideia disto foi minha. se tiver alguma duvida envio
muito obrigado senhor professor

mgomes disse...

Difícil de entender para quem não é economista.Mas,uma pergunta: o meu amigo foi aluno do Teixeira dos Santos,o maior coveiro do país depois de Sócrates?E que me diz dele? Não é pior do que o Cavaco,que,este,ao menos,vinha avisando para o descalabro das contas? Eu votei Cavaco,por isso o assunto interessa-me.Também não havia mais em quem votaasse!

Anónimo disse...

Ensinar aos alunos temas de uma ciência inexacta, imprevisível e aleatória, como é o caso da economia, é muito mais fácil do que ensinar português. É ou não é verdade?

Económico-Financeiro disse...

1. As mãos, infelizmente, não são minhas. Eu não uso aliança.

2. Realmente o Anónimo pediu este post. Agradeço até porque faz parte da minha explicação da razão d "o BCE não pode salvar a Italia".

3. No Post "de quem é a culpa ..." eu digo que é do TS. Votou Cavaco e fez bem. Mas o Cavaco odeia o PPC e isso tolda-lhe o raciocínio. Actualmente é esquerdista.

4. Todas as ciencia são exactas. A Economia também é uma ciência exacta. A questão está na definição de "ciência exacta".
Por parecer "senso comum" é muito dificil ensinar Economia. Quando eu vejo os professores dizerem tanta asneiro, fico preocupado.
Eu sempre fui aluno de 10 a Português pelo que não sei como se ensina.

pc

Anónimo disse...

a sua tese de mestrado é sobre o que? é doutorado?

Económico-Financeiro disse...

O meu trabalho pós-graduado é sobre preço.
O mestrado é sobre "a moeda e os preços nos ciclos económicos".
O meu doutoramento é sobre "preços com informação imperfeita".
São trabalhos aborrecidos de ler que estão algures on-line.
pc

Francisco disse...

Apesar de tudo é importante frizar que há muitos tipos de moeda possível e que aquilo que se permite aos bancos fazer ou não fazer altera substancialmente tudo o que escreveu anteriormente. Dai que sabendo muitos dos males que a especulação financeira intrudoz nos mercados, ou as maroscas de estados, políticos, financeiros, banqueiros, economistas e até do merceeiro da esquina podemos criar tipos de moedas diferentes que não permitam tudo isso de que falou. Uma coisa é certa a moeda mercadoria é mais dificil de enganar... O Euro não é uma moeda como as outras, e o Sr.deveria saber disso, mais ela é controlada por alguém e esse alguém sabe que com aumento de inflação lá se vai qualquer coisa....

alf disse...

É o primeiro sítio onde encontro explicado o mecanismo de produção de moeda na europa.

No entanto, ainda tenho uma dúvida: o BCE empresta dinheiro aos bancos; que dinheiro é esse? É o dinheiro que imprime?

Ou seja, o BCE imprime dinheiro e entrega aos países? ou imprime dinheiro e empresta à banca, os países funcionando apenas como uma espécie de accionistas dos BCE com um capital correspondente à sua quota do dinheiro que o BCE imprime?

Agradeço o esclarecimento.

Económico-Financeiro disse...

Estimado Alf,

O BCE tem milhões de notas em armazém. Mas essas notas não contam para nada, estão "mortas".

Quando é necessário emitir mais notas na economia, o BCE vai ao armazém e usa as notas "mortas" para comprar títulos da dívida pública que estão no mercado.

Assim, dá-lhes vida passando a haver no circuito económico mais notas (e menos dívida pública).

Os broquistas dizem que o BCE poderia comprar desta forma a dívida pública toda mas seria, em termos reais, um confisco porque foi emitida a taxa de juro fixa prometendo-se que a inflaçãos seria de 2%/ano e não se respeitaria essa promessa.

No fim do ano, o BCE pega nos papeis da dívida pública e queima-os.

Assim, o lucro de emissão da moeda vai para o soberano.

pc

Económico-Financeiro disse...

Estimado Bruno,
Em termos microeconomicos, um mercado de um bem equilibra pelo preço que é determinado pelo encontro da procura com a oferta.
Em termos macroeconomicos o mercado agregado equilibra pela taxa de juro.
Do encontro da procura agregada com a oferta agregada resulta a taxa de juro e não a taxa de inflação.
A taxa de inflação é determinada no mercado monetário pelo encontro entre a oferta de moeda e a procura de moeda.
Um abraço, pc

Enviar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Best Hostgator Coupon Code