quarta-feira, 30 de dezembro de 2015

Será que Adão e Eva existiram mesmo?

E ao sexto dia, Deus criou Adão e Eva.
Agora que estamos no Natal que representa o renascimento da Humanidade, ou o Chanucá que representa o renascimento do Templo, é hoje o dia certo para discutir a questão do nascimento da humanidade.


O Génesis, primeiro livro da Tora, o livro sagrado dos Judeus, transcreve no final da Idade do Bronze um conjunto de histórias que circulavam oralmente pelo Crescente Fértil desde o Neolítico. Todos conhecemos este livro porque foi, posteriormente, incorporado na Bíblia (no Corão e no Livro de Mormon).
Sendo uma composição de historias transmitidas oralmente, apresenta várias versões para o mesmo acontecimento.
Para o aparecimento da Humanidade, existem duas versões:
"E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; homem e mulher os criou" (Gen 1:27).

E outra versão um pouco mais romanceada:
"E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra, e soprou em suas narinas o fôlego da vida; e o homem foi feito alma vivente." (Gen 2:7) "E da costela que o Senhor Deus tomou do homem, formou uma mulher, e trouxe-a a Adão."(Gen 2:22)

Interessante notar que, pela minha investigação (não muito aprofundada) em Hebraico antigo, Adão é a primeira letra e Eva a ultima letra da palavra que representa Deus. A evolução linguística da junção de Adão com Eva deu a nossa palavra "Avé" da oração Avé Maria (que quer dizer "Deus está com Maria") e Jeová (nas Testemunhas de Jeová). Para nós, a palavra Deus resulta do deus grego Zeus.
Fazendo uma paráfrase para o Português, estará escrito no Génesis qualquer coisa parecida com "E Adãoeva criou Adão e Eva à sua imagem e semelhança".

Hoje sabe-se que Adão e Eva eram pretos, que a cobra era a sogra do Adão e que Deus falava Crioulo.

Se andarmos para trás.
Se os pais tiverem mais de dois filhos, ao andarmos para o passado, cada vez haverá menos pessoas. Supondo que desde sempre, em média, cada 10 casais tiveram 21 filhos então, Adão e Eva foram criados há apenas 450 gerações, isto é, há apenas 10 mil anos e, a partir dai, descenderam todos os 7300 milhões de humanos que hoje somos.
     2 * (21/20)^451,28 = 7300 milhões
 
E o que nos dizem os cromossomas?
As nossas células têm 46 cromossomas que os filhos herdam dos pais, metade de cada um. Em particular, nós homens herdamos o gene Y do nosso pai.
Quer isso dizer que eu, sendo um homem, herdei o meu cromossoma Y do meu pai, do pai dele, do pai do pai dele, e por ai fora até Adão.
Mas o meu cromossoma Y não é exactamente igual ao do Adão bíblico porque sofreu mutações ao longo dos milénios.
O cromossoma Y é parecido com um fecho de correr com 60 milhões de "dentes" que têm uma de quatro cores possíveis. E, de vez em quando, acontece uma mutação nos dentes que se transmite à criança e, depois, aos seus filhos, netos, etc. para todas as gerações futuras.
Vamos imaginar que o D. Afonso Henriques, na concepção, sofreu uma mutação no seu gene Y, vou-lhe chamar H. Então, todos os seus descendentes homens e apenas esses é que terão hoje essa mutação. Se o D. Dinis tivesse tido uma outra mutação (D. Dinis é descendente de D. Afonso Henriques), vou-lhe chamar D, então, os descendentes de D. Dinis terão hoje as mutações H e D e os seus "primos" apenas terão a mutação H.
Como todos os homens partilham no cromossoma Y muitos genes e como se sabe a velocidade de mutação, podemos traçar um caminho evolutivo de cerca de 200 mil anos entre um individuo que viveu no sodoeste de África e todos os homens hoje vivos. Olhando para o cromossoma Y, podemos afirmar que todos nós homens descendemos de um único e mesmo homem.


 Adão "nasceu" no sudoeste africano há cerca de 200mil anos e, há cerca de 50 mil anos, os seus descendentes saíram de África para colonizar o Mundo (ver)
 

Mas onde fica a Teoria da Evolução das Espécies!
A Ciência afirma que as espécies não foram criadas por Deus como diz o Génesis mas evoluem num contínuo temporal. As mutações vão acontecendo, o ambiente vai seleccionando as melhores e, da mesma forma que vão aparecendo raças de cães, umas espécies acabam por aparecer a partir de outras espécies. Por exemplo, o cromossoma Y também existe nos macacos. 
Diz ainda Darwin que uma espécie nunca tem origem em apenas dois indivíduos mas sempre numa população. Então, se não podemos descender todos de apenas um casal de humanos, em Adão e em Eva, como é possível que todos tenhamos parte substancial do nosso cromossoma Y que é igual em todos os homens?

Tem a ver com a Estatística.
Vamos imaginar que naqueles 150 mil anos que a humanidade viveu em África, durante essas 7500 gerações, havia 2500 mulheres e 2500 homens que se cruzavam entre si. Então, mesmo que cada um  desses "homens iniciais" tivesse um cromossoma Y diferentes, porque alguns dos homens não tiveram filhos homens, em termos estatísticos, as "versões" foram-se extinguindo ao longo do tempo. Por exemplo, os meus pais tiveram 6 filhos, 3 homens e 3 mulheres mas, como nenhum de nós tem filhos homens, o cromossoma Y do meu pai não vai sobreviver (até ver ...). Já na forma do meu avô paterno, o risco do seu cromossoma Y desaparecer é menor porque tenho alguns primos que têm filhos homens.
Assim, mesmo havendo inicialmente 2500 Y's diferentes e 5000 pessoas e não apenas duas, passados 150 mil anos, todos os 2500 homens teriam cópias de apenas um dos cromossomas Y originais.
Para haver 2500 homens em reprodução, juntamente com as crianças, haveria entre 15 mil e 20 mil humanos. 

n.homens<-2500
n.geracoes<-7500
#Inicialmente, cada homem tem um Y diferente
Y<-sample(1:n.homens,n.homens,replace=TRUE)
#Passam n.geracoes
for (i in 1:n.geracoes)
    Y<-sample(Y,n.homens,replace=TRUE)
#Distribuição dos cromossomas sobreviventes ao fim das n.geracoes
table(Y)/n.homens

Até poderia haver mais pessoas.
Mas, se em populações separadas, o efeito seria o mesmo. Comparando com os crastos portugueses da Idade do Ferro, poderia haver clãs com 100 casais reprodutores que só esporadicamente trocariam homens com outros clãs.


Será que, analisando o nosso cromossoma Y ficamos a saber de onde viemos?
Mesmo sem fazermos qualquer análise existe a certeza de que os nossos antepassados maternos e paternos viviam, até há pelo menos 100 mil anos atrás, em África (e todos nós temos parentes africanos mais próximo na nossa ancestralidade).
Depois, analisando o cromossoma Y ficaremos a saber onde estava o nosso "pai" há 10 mil anos ou há 30 mil anos, em que continente vivia, se era preto (se vivia em África), branco (se vivia na Europa) ou amarelo (se vivia na China). Podemos até traçar o seu percurso desde Adão, ao longo dos milénios, até nós.


Afinal, o Adão bíblico existiu e está dentro de nós.
Mas nos nossos 75kg, só herdamos 1,5kg de Adão sendo que herdamos o resto do resto da humanidade.
É que o cromossoma Y só contém 2% dos nossos genes. Por isso, não vale a pena preocuparmos-nos em saber de onde vêm esses 2% de nós quando os outros 98% vieram de todas as outras partes do Mundo.

Finalmente, existe o "problema" neardental.
Há quem defenda que parte dos europeus, talvez 5%, veio do Homo Neardentalense.
Mas isso é uma esperança de fazer os europeus diferentes dos outros homens e não tem qualquer correspondência com a realidade.
Realmente, se partilhamos cerca de 98% dos nossos genes com os chimpazés (e 99,8% com outro qualquer humano distante), também devemos partilhar a grande maioria do nossos genes com o homo neardentalense.
Mas o certo é que nenhum humano herdou o cromossoma Y do homo neardentalense (ou alguma  das nossas mitocôndrias que são coisas que herdamos  da nossa mãe que herdou da mãe dela, etc.)
Se não herdamos nenhum gene do cromossoma Y nem das mitocôndrias, porque acreditar que herdamos outros genes?

Não, só podemos ter origens diferentes.

Pedro Cosme Vieira

sexta-feira, 25 de dezembro de 2015

A geringonça e os tratados multilaterais

OK, o Costa diz que salvou o Banif.
E que, mais não fez que obedeceu às nossas obrigações para com os nossos parceiro da Zona Euro.
Mas eu estive a ouvir o Jorge Tomé, e fiquei convencido da seriedade do homem.
Segundo as suas contas o Banif não estava positivo em 200 milhões €. Assim, a posição do Estado adquirida por 825 milhões € ainda poderia valer cerca de 125 milhões€.
A injecção de 2200 milhões € é apenas um problema contabilístico que resulta de os activos não adquiridos pelo Santander Totta terem sido desvalorizados em 66,7%. Com o tempo, como esta desvalorização é artificial, não será preciso nenhum, ou quase nenhum, do dinheiro das garantias.
Mas hoje, dia de Natal, não era bem sobre isto que eu queria escrever mas sim sobre um e-mail que recebi com duas ideias para dinamizar a nossa economia.
O problema destas ideias é que têm problemas: violam acordos internacionais que assinamos. Não podemso dar subsídios nem isenções fiscais a empresas que estejam no mercado em concorrência com outras empresas. Podemos dar à Santa Casa da Misericórdia um subsídio para tratar dos velhinhos mas já não podemos dar subsídio às empresas portuguesas que fabricam fraldas para acamados.

1ª Proposta - Taxa de IRC Proporcional ao Impacto da Empresa
Em vez de diminuir ou aumentar a taxa de IRC para todas as empresas, criava-se um sistema em que a taxa de cada empresa fosse baseada em "pontos".
A empresa ganharia pontos positivos se tivesse um impacto positivo na economia (contratasse mais gente, se exportasse mais, se investisse mais em R&D, etc.)
Por outro lado, a empresa ganharia pontos negativos sempre que o seu comportamento fosse negativo para a economia (por exemplo, a ideia socialista da rotação excessiva de trabalhadores, muitos recibos verdes, etc.)
Na hora de calcular a taxa de IRC a pagar, se o saldo dos pontos fosse positivo, a taxa de IRC baixava:
  Taxa de IRC = 20% -Pontos
 
2ª Proposta - "Incentivo Fiscal a Investimento Directo Estrangeiro"
Para atrair investimento estrangeiro, oferecer isenções fiscais a empresas exportadoras criadas por investimento directo estrangeiro.
A duração da isenção de IRC e a validade do visto iriam variar conforme os seguintes factores: postos de trabalho criados, valor monetário do investimento, peso de R&D (Investigação e Desenvolvimento), e localização (quanto mais no Interior, melhor).
Para grandes investimentos feitos no Interior, sugiro que a isenção máxima pudesse vigorar durante mais de uma década, ou até duas, no caso do Interior mais profundo. Assim depois poder-se-ia anunciar internacionalmente que Portugal oferecia isenções de IRC que duravam até 20 anos, o que certamente atrairia a atenção dos investidores estrangeiros.

E para que servem os tratados multilaterais?
Imaginemos a famosas Taxinha inventadas pelo Costa que iria incidir sobre todos os estrangeiros que entrassem em Lisboa de Avião ou de Barco. O problema do Costa é que existe um tratado com os nossos parceiros europeus de que isso não pode ser feito, não pode ser aplicada uma taxinha baseada na residência da pessoa. Claro que podemos rasgar esse tratado mas, depois, a Espanha vai inventar uma taxinha de 100€ sobre todos os veículos estrangeiros que cruzarem o seu território! Todos os carros, camiões e autocarros portugueses que vão para a França teriam que pagar essa taxinha!
Também não podemos atrair empresas estrangeiras oferecendo-lhes reduções de IRC pois, o reverso, seria a Espanha retaliar convidando as empresas portuguesas a ir para o lado de lá da fronteira.
Então, uma redução de IRC tem que se aplicar a todas as pessoas e todas as empresas.
Não se pode ter bom tempo na eira e chuva no nabal!

Feliz Natal e Bom Ano Novo (é o que diz o texto em chinês). 
Se fosse agora, até fruta do Jorge Nuno viria da China.

Pedro Cosme Vieira

sexta-feira, 18 de dezembro de 2015

Será que o Passos Coelho vai cair?

Hoje é o primeiro dia do resto da legislatura.
O PCP tem em cima da mesa um projecto de Lei em que são repostos integralmente os funcionários públicos cortados no governo PS do José Sócrates, coisa que o actual PS de Costa, seu parceiro de geringonça de governação, já anunciou que vai votar contra.
Se o PSD votar a favor a proposta de Lei do PCP, esta passa o que colocará problemas ao governo do Costa, demonstrando a instabilidade da geringonça.
O que será que vai fazer o Passos Coelho?

O que fazemos no Presente, tem influência no Passado.
Quando eu digo isto aos meus alunos, estes ficam confundidos, discutindo acaloradamente que isso não pode ser. É impossível que o que fazemos hoje tenha alguma influência no que fizemos no Passado porque isso já é passado.
Mas a Ciência Económica precisa como pão para o boca de que isto seja verdade.
Na discussão que levou ao derrube do XX Governo Constitucional, este "facto científico" esteve em discussão e o Costa apenas avançou para o derrube porque acreditou que isso não é verdade.

O que pensou o António Costa.
O CDS quer cortar 100,
O PSD quer cortar 80,
O BE, PCP e demais querem cortar 0.
Então se eu, Costa, apesar de ter perdido as eleições e não ter feito acordo com o PSD, se propuser cortar 70, os meus parceiros da coligação (BE, PCP e demais) vão votar contra mas o PSD vai votar a favor pois a alternativa é zero, muito pior.
Depois, os BE, PCP,... vão votar a favor do corte dos 70 porque a alternativa é "o governo da direita".

O que disse o Passos Coelho.
Nem pense nisso Sr. Costa.
Mesmo que o PS proponha cortar 80, nós votaremos contra.
E se o PCP propuser cortar zero, à revelia do PS, nós votaremos a favor.
Como nós vamos fazer assim, a sua geringonça governativa não tem qualquer viabilidade.
O Costa não acreditou na ameaça e avançou. Deu por escrito ao Cavaco garantias de estabilidade governativa porque acreditou que o PSD iria viabilizar as propostas do seu governo.

Hoje, chegamos ao Futuro.
Se o PSD votar contra a proposta do PC (ou se abstiver), a ameaça cai por terra e a previsão do Costa concretiza-se.
A partir de hoje, o PSD ficará refém do Costa cujo governo terá todas as condições para se transformar numa coligação de bloco central mas com o PS a malhar no PSD.
O futuro será o CDS+PCP+BE+ ... a votar contra o governo (46 votos), o PS a votar a favor (86 votos) e o PSD a abster-se (89 votos).
Passos, tens que mostrar coragem e votar sempre contra o PS e a favor das propostas de Lei do PCP que forem contra o PS pois, caso contrário, vais durar pouco tempo à frente do PSD.
Diz-te quem teu amigo é, o Rio já, esta semana, mostrou as garras.

Esta semana estive na farmácia.
A Cátia lá estava, mais magra, ainda mais jeitosa mas não é sobre isso que eu vou falar.
Eu fui lá comprar Sertopic e estava lá uma senhora que queria falar pelo que atacou logo com "Isso é para os fungos, é para os pés, eu apanhei isso no chinês, comprei lá uns sapatos, foi disso, apanhei os fungos no chinês!"
- Bem - disse eu - não apanhou isso no chinês mas sim nos pés. Mas no meu caso não é para os meus pés é para a minha ..., para a comichão ..., como é que hei-de dizer isto ... é para a minha ... mãe.
Muito me tenho rido com esta confusão de linguagem.
E a Cátia só se ria.


Pedro Cosme Vieira

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Como será o Mundo em 2115?

Para comemorar 10 anos, a fundação Champalimaud ...
organizou uma conferencia para tentar-se prever como será o mundo daqui a 100 anos.
Estavam lá pessoas importantes com, por exemplo, um ex-presidente da república português e outro brasileira, mas as ideias que apresentaram foram muito pobresinhas. Falaram do presente e mal.
O problema do debate é que o futuro não se prevê mas constroem-se o que faz com que as únicas pessoas que conseguem dizer algo sobre o futuro são os escritores de ficção.
Primeiro, alguém escreve um romance sobre um futuro longínquo onde coisas hoje impensáveis vão ser realidade. Depois, pela positiva (vamos fazer isto) ou pela negativa (isto nunca poderá acontecer) as pessoas vão-se esforçar para que o futuro aconteça.
Houve grandes nomes mas um dos mais importantes foi George Orwell com os seus Triunfo dos Porcos (1945, uma sociedade totalitária nascida da boa ideia de que, no futuro, seremos todos iguais) e 1984 (1949, outra sociedade totalitária nascida da ideia de que a informação irá acabar com todos os problemas do Mundo).
Se hoje existem limitações à recolha generalizada de imagens em espaço público, tal deve-se ao George.

Será o Futuro sair do caminho que estamos a trilhar ou seguir em frente?

Mas será que, nos próximos 100 anos o Mundo vai mudar assim tanto?
O problema é esse, é que ninguém prevê que aconteçam mudanças radicais.
Olhemos para há 100 anos, para 1915. É certo que estávamos a sair da Grande Guerra, havia fome generalizada pelo mundo, já circulavam automóveis pelas nossas estradas, os aviões davam os primeiros passos, o telégrafo era o único meio de comunicação rápida à distância, não havia auto-estradas nem televisão, morriam muitas crianças, mas, de facto, apesar de ter havido mudanças quantitativas  muito importantes, em termos qualitativos, a  vida não era diferente da que é agora.
Já naquele tempo as pessoas sofriam de neura, tinham problemas com os colegas de trabalho, os comunas queriam tomar o poder, havia necessidade de pagar impostos e as mulheres queixavam-se repetidamente de dores de cabeça.
Se o futuro do Mundo não for construido, ficará exatamente igual ao Presente, não faz sentido chamar pessoas intelectualmente limitadas para nos indicar o caminho pelo qual podemos ir.
Como já escrevi um livro de ficção, vou poder avançar alguns pontos onde penso que haverá pequenas mudanças.

Já D. Mafalda dizia ao D. Afonso Henriques que lhe doía a cabeça e assim será daqui a 100 anos.

A procriação.
Nesse meu romance proponho que, como no futuro ninguém vai querer ter filhos, a comunidade terá que criar pessoas, como já previsto no Admirável Mundo Novo de Aldous Huxley, 1932, num processo industrial. A questão que levanto é diferente da de Huxley porque me concentro na questão dos direitos de quem ainda não existe, da questão ética de ser imposto um contrato, com direitos e obrigações, a quem ainda não nasceu e que não nascerá se esse contrato não for "assinado" em nome da  futura pessoa. Quais são as condições que é aceitável impor a quem ainda não nasceu?
Em 50 anos, no Mundo o número de filhos por mulher desceu 50% e, no caso português, a redução foi ainda maior, de 60%.

O aquecimento global.
Não quero saber se o planeta está a aquecer ou a arrefecer, se o Mar vai subir ou descer pois tudo serão oportunidades para uns e ameaças para outros. Por exemplo, foi o final da última glaciação (a Wurm) que aconteceu há 18 mil anos que a humanidade (o homo sapiens, nós) conseguiu suplantar o Homo Deardenthal e pode, assim, invadir a Europa. Depois de 50 mil anos em que o clima foi altamente frio, em que a maior parte da América do Norte e da Europa estava coberta por milhares de metros de neve, incluindo Portugal, o gelo foi-se embora e o nível dos oceanos subiu 100 metros.
Esse aquecimento generalizado inundou o que hoje é a Grande Barreira de Coral (nas costas da Austrália) e tornou a Inglaterra uma ilha.
Há 5,6 milhões de anos, o Mediterrâneo chegou mesmo a secar! e tudo continuou como se nada tivesse acontecido (MSC).
Assim, se o mundo aquecer mesmo que sejam 10ºC, não é por isso que a humanidade se vai extinguir.

E a extinção das espécies?
Isto é uma discussão importante.
Todos os seres vivos têm por base informação genética. Mas, estranhamente, cada espécie não tem um conjunto único de genes mas apenas uma combinação particular.
Assim, os genes que eu tenho e que me programam para que eu seja como sou, existem espalhados um pouco pelos outros seres vivos mas em combinações diferentes.
Por exemplo, hoje falamos muito da extinção K-Pg de há 65 milhões de anos onde 3/4 das espécies de plantas e animais desapareceram, incluindo os dinausauros mas, primeiro, foi esta extinção que permitiu o aparecimento dos mamíferos onde nos incluímos e, segundo, as plantas e os animais representam uma pequena fração das espécies vivas (e que são depositárias de quase todos os genes criados ao longo de milhares de milhões de anos) pelo que a recombinação dos genes deu origem a outras espécies de plantas e de animais.
Mesmo que 99% das espécies de plantas e animais que conhecemos desaparecessem da face da Terra,  pelo menos 99,99% dos genes sobreviveria pelo que, rapidamente (em menos de 100 milhões de anos), novas espécies complexas tomariam o lugar das extintas.

O Mediterrâneo secou há 5,6 milhões de anos!
A passagem de Gibraltar fechou e o Mediterrâneo secou, descendo o seu nível 4000m (MSC).
E este grave acidente deu origem a uma cadência de acontecimentos que, algures na África Austral, fez com que alguns macacos se tenham tornado mais espertos e transformado em hominídeos.
Talvez!

A energia.
O que me "preocupa" é que o nível de vida está muito dependente do acesso barato a energia. Aos preços actuais, cada habitante da Terra consome uma média de 2,3 KW e cresce 1,5%/ano. Se a tendência de crescimento se mantiver, em 2115, cada pessoa irá precisar de 10 KW de energia, cerca de 200000 kcal por dia que equivale a 50 kg de madeira por ano.

O efeito fotovoltaico.
A capacidade dos fotões criarem um corrente elétrica foi primeiro observada em 1839 (por Becquerel que construiu a primeira célula solar), foi teorizado em 2005 (por Einstein, de que resultou ganhar o Prémio Nobel de 1923) e, até aos anos 1950, não passou de uma curiosidade científica.
Em 1992 a potência instalada atingiu 100 MW (o equivalente à potência nominal de 1/10 de uma central nuclear) e, desde então, tem multiplicado por 10 a cada 7 anos, estando actualmente em 233 000MW (o equivalente à potência nominal de 250 centrais nucleares).
A boa notícia é que, segunda uma lei empírica, cada vez que a potencia instalada aumenta 1000 vezes, o custo diminui 10 vezes (Lei de Swanson).
A boa notícia é quem juntando as duas tendências, vemos que o custo das células fotovoltaicas diminui cerca de 8%/ano, a má notícia, é que, além da células fotovoltaicas, existem outros custos que não diminuem assim tão depressa.
Claro que o problema da potencia instalada solar é que, em média, só há 6 horas de luz solar por dia e o rendimento da transformação anda nos 10% pelo que dos 233 00MW resultam apenas o equivalente a 5 centrais nucleares.


Façamos umas contas.
A luz solar tem 1,0kwh/m2 de potencia. Com um rendimento de 10% e 6h de luz por dia, daqui a 100 anos serão precisos 400m2 de painéis solares por cada pessoa então vivente.
Como os painéis têm espaço entre eles para a sombra, apontemos para 800 m2/pessoa
Se, nesse tempo, houver a mesma população que agora, 7300 milhões de pessoas, haverá necessidade de 3 milhões de km2 de painéis solares dispostos num território com 6 milhões km2.
Uma Europa Ocidental com 730 milhões de pessoas precisará de uma área de 600 mil km2, menos de 10% da área do Deserto do Saara.

Nada do que eu disse é radicalmente diferente do que conhecemos.
Daqui a 100 anos, as pessoas continuarão a andar de automóvel, a viajar em aviões Airbus e Boeing, a beber Coca Cola e Pepsi, continuará a haver Vinho do Porto, Queijo Camamberg, controle do álcool,  fumadores, drogados e as mulheres continuarão a tomar aspirina para aplacar as dores de cabeça.
Vamos imaginar que qualquer um de nós tinha a capacidade para adormecer hoje e acordar daqui a 100 anos. Passado um mês, já nem dávamos conta das mudanças que tinham acontecido entre 2015 e 2115.
Ou será que a minha imaginação é fracota?

Pensando melhor, provavelmente, em 2115 as mulheres boas vão ter este aspecto!

Pedro Cosme Vieira 

sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Porque será contraproducente aumentar o Salário Mínimo?

O Costa prometeu aumentar por decreto o SMN de 505€/mês para 600€/mês.
O argumento é que, desta forma, vai aumenta o rendimento dos trabalhadores o que vai fazer aumentar a procura interna, a produção das empresas para responder a essa procura acrescida e, finalmente, o emprego. Mas, de facto, nada disto vai acontecer o que se torna obvio fazendo uma simples redução ao absurdo.
Se o aumento por decreto do SMN aumentasse o nível de vida das pessoas e reduzisse o desemprego, todos os países aumentariam o SMN para 10000€ por dia deixando de haver desemprego.
Se isto não parece viável, tenho que explicar o que existe na Economia que evita que funcione este argumento do sábio do PS que agora é Ministro da Economia.

Primeira verdade.
Quando éramos pequeninos, quando nos púnhamos a jogar futebol no recreio da escola, era evidente que uns de nós tínhamos mais jeito para a bola que outros.
Também em termos de capacidade de criar valor numa hora de trabalho, uns de nós geram mais valor e outras geram menos valor.
Se aceitamos que uns têm mais jeito para a bola e outros menos sem isso nos diminuir, também temos que aceitar a verdade económica de que uns geram mais valor e outros menos sem nos sentirmos diminuídos.
Em termos estilizados existe uma distribuição do valor que criamos numa hora de trabalho. 
Sem perda de arranjarem melhores valores, olhando para os dados do INE da produtividade, avanço com uma produtividade média do trabalho de 1000€/mês e um desvio padrão de 500€/mês.

Segunda verdade.
As empresas têm por fim o lucro e, por isso, só empregam uma pessoa se o incremento no lucro for positivo. Então, apenas se uma pessoas tiver uma produtividade superior ao salário corrente na empresa é que irá conseguir emprego.
Se o salário que o FC Porto paga por um avançado é de 50 000€/mês, como a grande maioria de nós não consegue, com uma bola nos pés, gerar este valor, nenhum de nós tem hipóteses de vir a ser empregado do FCP como pontas de lança.
Se uma pessoa gera menos valor que o SMN, então, nunca irá conseguir arranjar emprego, excepto como funcionário público!
 
Terceira verdade.
O SMN não tem qualquer impacto nas pessoas que têm produtividade elevada.

Fig. 1 - Há pessoas com maior e outras com menor produtividade

E quantas pessoas vão perder o seu emprego?
Assumindo uma produtividade com valor médio de 1000€/mês e um desvio padrão de 500€/mês e que a inflação vai ser de 1,6%/ano, então, o aumento do SMN para 600€/mês em 4 anos vai reduzir o nível de emprego em 160 mil postos de trabalho.

Fig. 2 - Será que vou perder o meu empregosinho?

Como fiz a conta.
Passando os 600€/mês a preços de hoje dá 563€/mês
Percentagem de trabalhadores cuja produtividade entá entre 505€/mês e 563€/mês => 3%
População activa (5,3 milhões) vezes 3% dá 156 mil

Pedro Cosme Vieira

sábado, 21 de novembro de 2015

A adopção pelos gays e a PMA

Na Biblia, a criança é descendencia de quem a registar.
Vejamos o que diz no Livro do Génesis, capítulo 38.
Judá casou-se com Hira tendo tido 3 filhos homens, o primogénito Er, o Onã e o Selá.
Er casou-se com Tamar mas morreu antes de ter filhos.
Então, Judá obrigou Onã a "carregar" na cunhada viúva para que o seu irmão Er tivesse descendência.
Onã, sabendo que a descendência não havia de ser para ele mas para o irmão; quando "carregava" na cunhada, derramava o sémen na terra.

Mas eram parentes!
Como é sabido,  cerca de 10% das mulheres e 10% dos homens não são capazes de ter filhos. Como na sociedade antiga o ter filhos era uma bênção de Deus, seria pena uma mulher não esgotar todas as possibilidades de ter filhos. Então, havia a figura da remissão que era um parente próximo "carregar" a mulher de um parente que não tivesse filhos, caso em que a estatística diz que em metade dos casos dava resultado.

Há muitas mais passagens na Biblia.
Eu não sou um "doutor da igreja" (nem tenho fé) mas um conjunto grande de passagens parece indicar que Deus considera que o adoptado é descendência do adoptante.

Mas vamos à adopção por pessoas do mesmo sexo.
Eu sou um cientista e, por isso, queria saber se existe algum estudo científico que garanta que uma criança criada por dois pais do mesmo sexo resulta num adulto significativamente diferente de outro adulto criado por dois pais de sexos diferentes.
     H0: 2 pais de sexo diferente
     H1: 2 pais do mesmo sexo
como, tanto quanto sei, não existe tal estudo, a argumentação das pessoas contra a adopção gay não é argumentação mas apenas preconceito.

Mas H0 nem será essa.
     H0: Criança institucionalizada na Casa Pia
     H1: 2 pais do mesmo sexo.

Não vejo porque não.
Se há crianças institucionalizadas, casais cujo um dos membros tem filhos sem se saber quem é o outro pai, ou outra razão qualquer atendível, não vejo porque a criança não pode ser adoptada por duas pessoas do mesmo sexo.

É meu filhinho, sai à minha mulher

A Procriação Medicamente Assistida.
Sou totalmente a favor da liberalização total. Da mesma forma que podemos ir fazer ao dentista o que nos apetecer, também quem quiser ter filhos seja por que meio for, deve ter total liberdade para isso mais porque temos um enorme défice populacional.
Em Portugal e demais países europeus nascem 0,6 filhas por cada mulher quando, para manter a população, deveria nascer uma o que se traduz num défice de 50 mil crianças por ano.
Agora que sabemos que as crianças não são uma criação de Deus mas uma obra da Natureza, está na hora de nos deixarmos dessa divinização bacoca do acto da concepção.
Defendo mesmo que deve ser permitido o uso de mães de substituição sem qualquer regulação e, para isso, até pedi uma alteração legislativa muito mais avançada que a que os esquerdistas pretendem aprovar agora. 
Já não pedia mais do que adoptarmos para Portugal a legislação dos Estados Unidos da América que não são nem um país libertário nem selvagem.
Por isso, podem avançar com isso.

Número de filhas por mulher (Banco Mundial)

Outra coisa é a maluquices do aumento do défice público.
Aqui, mesmo que venha a ser um dos beneficiados porque o meu salário vai aumentar, sou totalmente contra porque o peso do estado já é exagerado. 
Metade da nossa economia é Estado, mais do que na China que é, alegadamente, uma economia comunista. 

O que será o aumento do rendimento defendido pelos esquerdistas?
Os esquerdistas fazem-me lembrar quando o Zequinha disse que "o animal que dá o leite é o pacote."
Os esquerdistas também acham que "quem dá rendimento às pessoas é o primeiro-ministro."
Aumentar o salário dos funcionários públicos e as pensões dos velhinhos não é aumento do rendimento das pessoas porque tem que ser financiado com mais impostos que vão retirar rendimento a outros.

Uma mentira repetida muitas vezes torna-se uma verdade.
Foi o Sócrates quem cortou os salários da função pública (no OE2011) e as pensões das pessoas (em 2011 comprometeu-se em cortar 595 milhões € nas pensões) mas os esquerdistas, de tanto repetirem que foi o Passos Coelho, já foi interiorizado pelo próprio Passos Coelho de que foi ele o autor dos cortes.
Mas, além disso, o Passos Coelho não cortou nenhum salário nas empresas privadas que são mais de 80% do total dos trabalhadores.
Se não foi o Passos Coelho que cortou os salários da Função Pública nem dos privados, como pode a esquerda estar sempre a dizer que, agora, vão acabar com os cortes deste governo?

Já compreendi!
Sendo que vão anular os cortes que o Passos Coelho fez e como o Passos Coelho não fez corte nenhum, também não vão repor nada.


Mas, cada vez mais me convenço de que 
o Costa não vai chegar a ser primeiro - ministro nesta legislatura.

Pedro Cosme Vieira

segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Faz 6 dias que o governo está em gestão

Os atentados de Paris retiraram este tema das notícias. 
Claro que os atentados foram terríveis, matar assim pessoas que davam para encher 3 autocarros sem mais nem menos mas penso que, mesmo no meio de tanta selvajaria, os terroristas tiveram um pouco de humanidade.
Imaginemos que os suicidas que entraram no Bataclan levavam um garrafão com 5 litros de gasolina que não custaria mais de 8€! Um bocado de gasolina a arder num espaço fechado e neste momento não estaríamos a falar em 130 ou 140 mortos mas em 1300 ou 1400 mortos.
Penso que não há ninguém, nem os SS dos campos de extermínio, que na hora de carregar no gatilho contra pessoas que nada fizeram de mal não sinta um aperto no estômago. 


Imagem da comitiva de Israel que foi massacrada nas olimpíadas de 1972
 Mas quando há um atentado contra judeus, ... "a culpa é deles que até mataram Cristo"

Mas vamos ao Passos Coelho.
O Cavaco Silva partir para o Arquipélago da Madeira e ninguém o foi ver partir o que, talvez, traduza que vivemos novamente um período de normalidade.
Tecnicamente, temos um governo em gestão desde o dia 4 de Outubro mas não parece fazer qualquer diferença relativamente a um qualquer governo na "plenitude das suas funções".

E o que irá o Cavaco fazer na Quarta-feira?
Assim que o Costa arranjou os "entendimentos políticos" assinados, pensou que iria ao Cavaco mostrar-lhos.
Mas nada aconteceu. Agora, tem lá em casa os papeis assinados mas não sabe o que lhes ha-de fazer.
Agora, tenho a certeza que o Cavaco nunca dará posse ao Costa como Primeiro Ministro mas tenho dúvidas quanto ao que vai fazer. Penso que será uma de duas coisas.

Hipotese 1 => Não vai fazer nada
Vem da Madeira e recolhe-se no Palácio entregue à na sua vidinha. Daqui a uma ou duas semanas, vai numa visita a algum sítio qualquer e um jornalista vai-lhe perguntar "quando é que o Sr. Presidente vai dar posse ao Sr. Dr. Costa?", altura, em que vai aproveitar para dizer qualquer coisa.


Hipotese 2 => Na Sexta-feira vai falar ao país
Na quinta-feira ainda ouve mais umas pessoas, depois fica em meditação e, na Sexta-feira à noite, já depois de os mercados estarem fechados, fala ao país.
 
 
O que o Cavaco vai dizer:
-Atendendo à leitura que fiz dos resultados eleitorais, sendo o Sr. Dr. Passos Coelho é o líder do partido que venceu as eleições, dei-lhe posse como primeiro ministro do XX Governo Constitucional. Recordo que, nunca nos 40 anos que levamos de democracia foi tomada uma decisão diferente. Usando do seu poder constitucional, a Assembleia da República decidiu que esse governo governasse em Gestão. Como, no entretanto, os resultados eleitorais não se alteraram, não encontro razão para rever a minha decisão pelo que, respeitando a decisão da Assembleia da República, manterei o XX Governo Constitucional em Gestão.

Imagem de uma cagarra
A cagarra nada disse que me fizesse mudar de opinião (Cavaco)

Porque será que os esquerdistas não querem reverter a privatização do BPN?
Da EDP, da REN, dos ENVC mas apenas da TAP?
É que a política é como os jogos de futebol, já ninguém se lembra dos resultados do ano passado.
Também, o povo já se esqueceu destas coisas.
Daqui a mais meia dúzia de meses, ninguém se lembrará da TAP.
Pedro Cosme Vieira

domingo, 1 de novembro de 2015

48 - A apresentação

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
______________________

Ver o capítulo anterior (47 - A infância)    





48 - A apresentação
Naqueles dias que decorreram até à reunião da confraria onde o Rúben iria apresentar o seu projecto, as ideias foram evoluindo. Assim sendo, na hora combinada, já estava tudo estudado e pronto a ser exposto aos confrades. Por ser o presidente da confraria, foi o Alberto que abriu a reunião.
– Boa noite amigos confrades, como sabem, há umas dezenas de anos a nossa aldeia que fica na Europa foi destruida, quase todas as pessoas que lá viviam foram mortas, as casas destruidas de forma que hoje, a nossa terra é uma sombra do que foi no passado. Agora, os descendentes dos que tentaram destruir o nosso povo vivem atormentados com esse crime pelo que, para se tentarem redimir deste crime histórico, aprovaram a Lei do Retorno na qual reconhecem o direito a todas as pessoas do nosso povo de regressar à aldeia. Assim, está aberta a possibilidade das pessoas descendentes dos habitantes originais da nossa aldeia ancestral poderem ir viver para lá, com igualdade de direitos com as pessoas do Vale. O problema é que, como todos nós sabemos,  nascem poucas crianças na nossa comunidade, não mais de 40 por ano, pelo que, pensando que as crianças continuarão a vir ao mundo pela decisão dos seus pais, essa lei não terá utilidade prática e que, portanto, a nossa aldeia ancestral estará definitivamente condenada ao desaparecimento. Mas, porque há quem pense de forma diferente, o Sr. Rúben e o Sr. Dr. Cerejeira vão fazer uma pequena apresentação sobre a forma de transformar esta lei aparentemente inútil numa oportunidade para ressuscitar a nossa comunidade ancestral.
As pessoas estavam curiosas sobre o que o Sr. Rúben iria dizer e, por causa dessa curiosidade, a sala estava a rebentar pelas costuras, com mais de 1000 pessoas, a maior parte de pé, e muitas mais ainda lá estariam se coubessem. Depois das palmas, fez-se então um silêncio sepucral.
– Boa noite. Como sabem, nasci na aldeia faz muitos e muitos anos e, por isso, estou a ficar velho e próximo da eternidade. Quando era criança, a miséria era grande, os ataques eram frequentes, o monte pouco dava e o foral era elevado mas, pelo menos na minha memória, éramos uma comunidade viva e onde as pessoas viviam relativamente  felizes e com confiançaa certeza de que o nosso povo perduraria ao longo dos séculos. Mas a tragédia tocou-nos e a grande maioria das milhares de pessoas que viviam na aldeia, mais de 9000, desapareceram de um dia para o outro e as casas e tudo o demais foi destruido. Decorridos estes anos todos há a possibilidade de refazermos aquela comunidade mas, para isso, temos que arranjar milhares e milhares de pessoas o que  parece impossivel já que somos apenas 3000 e nascem-nos apenas 40 crianças por ano. Como nunca me dei por derrotado, penso que para grandes problemas temos que encontrar soluções novas e, com esta máxima, peço-vos que ouçam o que o Sr. Dr. Cerejeira tem para vos dizer sobre como a medicina nos podem ajudar a trazer a nossa aldeia de volta.
– Boa Noite, eu sou médico e o Sr. Rúben incumbiu-me de investigar uma forma de, usando as melhores práticas médicas, propor uma forma de arranjarmos pessoas suficientes para repovoar a nossa aldeia que fica na Europa sem sobrecarregar as nossas famílias. Imaginando que cada jovem que for para a aldeia vai ter um filho, a questão a que tenho que responder é como será possível produzir 4500 jovens. A minha ideia é que esse número seja distribuido ao longo de 30 anos, numa média de 150 jovens por ano. Depois de muito discutirmos, existe uma solução técnica perfeitamente testada e com sucesso garantido que é recolher aqui os gametas dos nossos casais, óvulos e espermatozoides, implantar os embriões resultantes em mulheres de substituição que serão contratadas e viverão num pais africano e, depois, quando tiverem 10 anos de idade, as crianças passarão a viver na nossa aldeia como filhos adoptivos de um casal, 20 crianças por casal. Como será preciso que cada um dos nossos casais tenha cerca de 7 crianças, a única coisa que fica em aberto e para a qual será preciso fazer estudos experimentais, é saber até que ponto é possível duplicar os ovócitos para conseguir, com uma recolha de óvulos, atingir as 7 crianças.
Depois do silêncio, explodiu um borburinho "Mas como será isso possível? Como vai ser possível financiar isso" ouvia-se de várias partes da sala.
– Bem, como já disse, em termos médicos, é completamente possível e em termos económicos, o Sr. Rúben vai-vos dizer como pensa financiar este projecto. Vou então passar a palavra ao Sr. Rúben.
– Obrigado Dr. Alberto, vou então passar à parte do financiamento. Segundo informação recolhida, o processo médico costará cerca de 10000€ e sustentar a criança desde que nasce até atingir a maioridade deve custar 40000€. Assim, serão precisos 50000€ para produzir um jovem. Claro que, para produzirmos 4500 jovens, serão precisos muitos milhões de euros mas, pensando que este investimento vai ser distribuido ao longo de algumas dezenas de anos, será possível arranjar o financiamento necessário. Depois, da mesma forma que o Sr. Dessilva conseguiu financimento para nossa viagem para cá porque nos comprometemos a pagar esseinvestimento com o nosso trabalho, estes 50 mil € vão ser amortizados por cada jovem mediante a entrega de 10% do seu rendimento durante os 50 anos da sua vida activa. Cono todos nós nos disponibilizamos para pagar a nossa vinda para cá, também os nossos jovens terão que pagar esses 50 mil € soubendo que esse é o preço de terem sido dados à vida.
Criou-se novo burburinho na sala. "Mas as crianças vão ser filhos de quem? Será ético obrigar os jovens a pagar a sua vida? E se os jovens não quiserem viver na aldeia? E se volta a aparecer a doença? "
– Calma que eu vou responder a todas as perguntas.
– As crianças vão ser adoptadas, teremos que arranjar casais que se voluntariem para viver em África com as crianças, talvez 20 crianças por casal, para lhes ensinar a nossa língua e serem a ponte emocional e cultural das crianças com a nossa aldeia. Depois, essas famílias vão, depois, viver para a aldeia até que as crianças se tornem adultas. Teremos que discutir se será necessário dizer a cada criança quem são os seus pais genéticos ou se essa informação se irá perder, havendo apenas uma identificação de quem é irmão de quem.
– É difícil imaginar como podemos impor a alguém "Só nasces se pagares 10% do rendimento que vais ter durante a vida". Mas, por um lado, esta imposição não é nada de novo relativamente aos pais que têm um filho pensando que este vai cuidar deles durante a velhice. E quanto à imposição não será algo verdadeiramente obrigatória, mas estou persuadido que todos os jovens irão pagar a sua parte nos custos de terem sido dados à vida.
– Os jovens vão viver na nossa aldeia entre os 10 anos de idade e serem adultos mas a obrigatoriedade para viverem na aldeia não será total. Penso que, tal como nós temos soudades do local onde fomos crianças, os nossos jovens vão mater uma ligação com a nossa aldeia mas, se quiserem vir viver para junto de nós ou para outro local qualquer, não haverá problema nenhum nisso, continuarão a ser um reforço para que o nosso povo perdure no tempo.
– Finalmente, se a doença voltar, não vos vou dizer como o problema poderá ser resolvido mas não podemos deixar de caminhar porque há o risco de cairmos. Quando uma criança nasce há o risco de não corresponder ao que os pais anseiam mas isso não pode fazer com que deixem de ter, de todo, filhos. Vamos indo e vamos vendo.
A discussão continuou até que mais ninguém quis fazer perguntas.
– Sendo que não há mais questões - disse o Alberto - vou então dar por fechada esta reunião. Agora, cada um de nós vai para casa pensar nesta questão, discutir com os seus familiares as vantagens e inconvenientes deste projecto e, daqui a uma semana, vamos proceder a uma votação em que todas as pessoas se vão pronunciar quanto a avançar ou não com o projecto do Sr. Rúben. No caso de o projecto ser aprovado, daremos então início aos procedimentos para que possamos dar início à produção das crianças.

FIM

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

O Passos Coelho vai aguentar o governo em gestão

Esta semana tive "informação" previligiada.
O S, um dos 2 ou 3 amigos que tenho, é amigo de um amigo do Passos Coelho, o E.
O amigo do meu amigo até tem o número do telemóvel pessoal do Passos, desde o tempo em que este era um Zé Ninguém, quando liga para esse número, é o Passos que atende, esteja onde estiver. E falam-se amiúde. 
Esta semana, o meu amigo estava muito desanimado porque o seu amigo tinha ouvido de amigos do amigo que este não se iria aguentar em gestão.
Nessas conversas do amigo do amigo ao amigo do amigo do amigo do amigo, foi garantido que hoje, dia da posse do amigo do amigo do amigo como primeiro ministro, este iria dizer ao Cavaco Silva que o teria que substituir se o seu governo fosse chumbado pelos esquerdistas.



A questão é essa.
Agora que o Passos Coelho tomou posse como Primeiro Ministro, apenas o deixará de ser no momento em que morrer ou que o Cavaco Silva der posse a outro primeiro ministro.
Mesmo que o Passos Coelho fuja para o meio do Pinhal de Leiria, que se esconda naquelas grutas por onde andou o Palito, que se exile no Arquipélago das Berlengas, continuará a ser primeiro ministro enquanto não for dada posse, por sua Excelência o Presidente da República, a um novo primeiro ministro.

Na conversa, o Cavaco começou por pedir ao Passos Coelho que se aguente?
"O Governo que hoje toma posse tem plena legitimidade constitucional para governar. Conquistou essa legitimidade nas urnas (...) É a força que ganhou eleições que deve formar governo."
"Pode contar com a lealdade institucional do Sr. Presidente da República (...)
competindo agora aos deputados decidir sobre a sua entrada em plenitude de funções."

E, afinal, o Passos respondeu que vai aguentar o barco.
"Tendo recebido dos Portugueses um mandato claro para governar, aqui assumo hoje, na presença de Sua Excelência o Senhor Presidente da República, a responsabilidade indeclinável de respeitar essa vontade expressa pelos Portugueses."
"Todos devem assumir as suas responsabilidades perante os Portugueses (...), que esperam de nós que estejamos à altura das tarefas que nos aguardam."

O amigo do amigo do amigo estava errado.
Afinal, o Passos Coelho vai aguentar o governo, mesmo que em gestão, o tempo que for necessário. Até que o PS se convença que o melhor que tem a fazer é apoiar o Passos Coelho ou até que haja novas eleições.

Hoje estive a falar com um esquerdista, o H.
Um socialista 4.ª classe que, antes do 25-de-abril, esteve exilado em França e que, por isso, conhece bem o PCP.
Depois de eu puxar por ele, mostrou-se com muito pouca esperança relativamente ao anúncio de que o PCP vai assinar um acordo com o PS. Que, já antes do 25-de-abril, os do PCP chamavam burgueses aos do PS, que a ferida é tão grande que acha impossível poder sarar assim tão facilmente.

A coisa vai decorrer assim.
No caso do PS ser chumbado, o Cavaco vai ficar à espera do Acordo dos Esquerdistas.
Enquanto não chegar o acordo, nada mais dirá nem fará.
Como esse acordo nunca irá chegar, a coisa vai-se arrastar.
Depois, das duas uma.

Hipótese 1. O PS continua na sua de formar um governo esquerdista.
Então, o Passos Coelho continuará com o seu XX governo em Gestão..

Hipótese 2. O PS muda de rumo e decide deixar passar o governo do Passos Coelho.
Então, o Cavado dá posse outra vez ao Passos Coelho (para o XXI Governo Constitucional), é novamente apresentado o Programa do Governo ao parlamento e este entra em plenitude de funções.

"[o Governo] está em boas mãos"


Pedro Cosme Vieira

A probabilidade do PàF falhar é de 67%

Todos devem estar com muita curiosidade sobre a minha metodologia.
Como diabo, pensam vocês, o bloggista assassino de refugiados e de imigrantes chegou ao número de 67%? Parafraseando o Jerónio de Sousa, porque não 50% ou 90%?
Mas aqui vai a minha metodologia.

Os nossos credores são pessoas informadas.
Se nós devemos 230 mil milhões €, essas pessoas devem estar muito preocupadas com o desenrolar das coisas em Portugal.
Então, decidir inquirir essas pessoas todas.
Acham que isso é impossível?
Até pode ser mas eu inquiri-as mesmo usando a diferença entre a taxa de juro a 10 anos da dívida pública portuguesa e alemã.
Quando, em meados de Setembro, todas as sondagens davam o PS à frente nas intenções de voto, o spread atingiu 2,07 pontos percentuais e, quando o PàF ganhou, diminuiu para 1,77 pontos percentuais (ver, Fig. 1).
Então, com o PS a liderar o governo, os credores exigem um spread de 2,07pp e com o Pàf é 1,77pp.
.
Fig. 1 - Evolução do spread entre a dívida pública a 10 anos portuguesa e alemã (dados, Ycharts)

São 0,30 p.p.
Não parece muito mas, em, 230 mil milhões e de dívida, são 690 milhões € por ano em acréscimo de juros que teremos que pagar para podermos ter um governo esquerdista, exigem os credores.
A somar aos 600 milhões€ dos salários da função pública, os 700 milhões de € da diminhuição do IVA na restauração e na electricidade e muitas mias coisas, os esquerdistas vão ter que subir impostos, taxas e taxinhas (como o Costa tão bem soube fazer em Lisboa) para pagar mais 690 milhões e em juros.

A probabilidade.
Calcula-se dividindo o actual incremento no spread relativamente aos 0,30pp,
Se hoje o spread é de 0,20pp, então, os nossos credores dizem que a probabildaide de fracasso do governo do Passos Coeçlho (i.e., de o governo do PAssos Coelho ser igual ao governo esquerdista) é: de 
     0,20/0,30 = 66,67%

O efeito Cavaco já se diluiu.
Quando o Cavaco falou, o spread foi lá para baixo mas, no entretanto, a coisa perdeu-se.
Agora, o Cavaco vai ter que mandar outra marretada.
Estou a imagir a última frase da intervenção de hoje do Cavaco:
"Já estudei todos os cenários e garanto que o Costa nunca será primeiro ministro. E recordo-vos que nunca me engano, nunca me arrependo e que raramente tenho dúvidas."

Agora, esta é para responder à pergunta do Camarada Jerónimo
Porque tem que ser o défice de 3% dado PIB e não 4% ou 10%?
Quando se pensou na criação da Zona Euro, havia duas correntes. Na primeira, a tal que os camaradas chamam de neoliberal, queriam uma solução concorrencial enquanto a outra, "os democratas", queriam uma solução do politeburo.

Como seria a solução concorrencial.
Todos os 28 países da União europeia manteriam a sua moeda e o seu banco central mas, qualquer pessoas, residente em qualquer país, poderia fazer contratos e afixar preços na moeda que bem entendesse.
Se, por exemplo, eu quisesse que o meu contrato de trabalho estivesse em Zelotes polacos, se o Pingo Doce quisesse afixar os preços em Marcos Alemães e o Continente em Liras Italianas, o IRS ser pago em Escudos e o IVA em Pesetas, assim seria feito.
Como cada banco central teria a sua política monetária independente, umas moedas teriam taxa de inflação mais elevada e outras moedas mais baixa.
Com o passar do tempo, "a boa moeda expulsaria a má moeda" e, talvez daqui a 50 anos, todas as pessoas usariam a mesma moeda, talvez a moeda adoptada fosse mesmo o nossos querido Escudo.

Como é a Zona Euro.
O politburo decidiu que, desde o primeiro dia, haveria apenas uma moeda, um banco central e uma política monetária (inflação entre 1,9%/ano e 2,0%/ano).

Para haver a mesma política monetária ...
Os países têm que ter todos a mesma dívida pública em percentagem do PIB.
Como o Banco Central usa a dívida pública dos países como colateral nos empréstimos, se assim não for, o BCE está a financiar os países com dívida pública mais elevada.
E, resultou da média das vontades de todos os países fundadores do Euro que a dívida pública teria que ser, no máximo de 60% do PIB.

Para ter 60% de dívida ...
A dívida pública é o acumular dos défices públicos.
Então, fez-se uma conta simples.
Assunção 1 => Se a taxa média de crescimento do PIB nominal for de 5%/ano
Assunção 2 => Para termos uma dívida pública constante nos 60% do PIB
Resultado => o Défice público terá que ser de 60% * 5% = 3% do PIB.

É uma conta fácil.
Bem sei que o Camarada Jerónimo só tem a Quarta Classe das antigas mas é fácil compreender que 60 vezes 5 dá 3.

Mas o crescimento está pior que o antecipado.
É que o crescimento nominal do PIB será menor que os 5,0%/ano previstos em 2002.
Assunção 1.b => Se a taxa média de crescimento do PIB nominal for de 3%/ano
Resultado => o Défice público terá que ser de 60% * 3% = 1,8% do PIB.

Fig. 2 -Para termos Euro, as contas públicas têm que ser skynnis

Um abraço Camarada.
Para mim o PCP é como o Sporting. Não gosto mas, quando derrota o Benfica, fico todo contente.
Também não gosto do PCP mas, se arrasar o BE e o Costa, ficarei todo contente.

Fig. 3 - Camarada, dá cabo deles que o meu avô e o meu tio também se chamavam Jerónimo e, dizem, eram f...dos.

É que eu tenho um trauma!
Quando eu era pequenino, a avó da Catarina Martins foi minha professora de piano, a D. Raquel!
Estão a imaginar?
Mais valia a minha mãe ter-me deixado aos cuidados do Bibi!

Pedro Cosme Vieira

domingo, 25 de outubro de 2015

47 – A infância

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
______________________

Ver o capítulo anterior (46 - A técnica)    


47 – A infância
Bem, já avancei muito no projeto – pensou o Rúben – já tenho os bebés algures no meio de África e, agora, preciso pensar o que lhes vou fazer para os transformar em homens e mulheres adultos. Claro que poderia pensar em trazê-los para aqui, para junto de nós, ou para a nossa aldeia na Europa mas isso ficaria caríssimo e, na aldeia, não há pessoas suficientes para o acolhimento de tantas crianças. Também não podem ficar em África pois, depois, não se sentirão parte da nossa aldeia, é que as pessoas são como os peixes, sentem pertença ao local onde foram crianças. A única solução será um misto de lugares, vão viver em África até terem uma certa idade, talvez 10 anitos, para ser económico e, depois, vão para a nossa aldeia até se tornarem adultos para ganharem ligação ao nosso povo. No entretanto, vêm passar uns tempos à América para conhecerem a nossa confraria.
Vou começar por me concentrar na infância. Primeiro, os gâmetas são recolhidos aqui e na aldeia e, depois, em África multiplicam-se os zigotos e fazem-se os pré-embriões que serão implantados nas mães de substituição. Por uma questão de comodidade, todos os pré-embriões serão transferidos ao mesmo tempo o que fará com que os 7 irmãos fiquem com a mesma idade o que, não parecerá natural mas não há nada que diga que causa problemas às crianças. Multiplica-se os zigotos até termos 42 pré-embriões que se transferem para 14 mães de substituição e das quais irão resultar as 7 crianças.
Ser mãe de substituição vai ser um emprego permanente. A mulher recebe um ordenado mensal para ter a criança e tratar dela. Se, no entretanto, quiser prorrogar o contrato de trabalho, irá tentar voltar a engravidar. Assim, as mães de substituição vão poder ter um emprego estável até pelo menos aos 45 anos de idade.
Se vão nascer 150 crianças por ano, haverá 180 mães de substituição que, se as crianças partirem com 10 anos, vão tratar de 1500 crianças com idades variadas. Dá 8 crianças por cada mulher, o que não me parece muito.
Mas as crianças não poderão ser criadas apenas pelas mães de substituição porque vai ser preciso ensinar-lhes a nossa língua e a nossa cultura. Vai então ser preciso que um casal, com espírito de missão, já viver junto delas como seus pais adotivos para não só serem professores como também para serem o elemento de ligação familiar das crianças à realidade que vão encontrar quando forem viver para a aldeia.
A relação dos pais biológicos com as crianças será flexível, tanto podendo de ser pais incógnitos como, no extremo oposto, irem viver em África e, depois, na aldeia com as suas crianças. Como caso intermédio, manterão uma ligação diária com os filhos  biológicos usando a internet.
Em termos naturais, um casal não pode ter muito mais de 20 filhos. Então, o natural será que cada cada casal adote vinte e tal crianças, os filhos de 3 casais biológicos, passando assim a haver a necessidade de que partam para África 7 casais adotivos por ano. Para reduzir o tempo de permanência dos casais adotivos em África, cada um vai receber 20 crianças recém nascidas e outras 20 crianças com 5 anos. Passados 5 anos, levarão as crianças mais velhinhas para a Aldeia e, as mais pequeninas, passarão para o segundo casal adotivo. Se for assim, será preciso haver em África 35 casais adotivos, o que será suficiente para serem, além de pais adotivos de 40 crianças, os professores do ensino básico para todas as crianças em idade escolar.
Para produzir 150 crianças por ano será preciso uma comunidade com 180 mães de substituição, 35 casais adotivos e um total de 1500 crianças, um total de 1750 pessoas. Se fosse para produzir 150 mil crianças por ano, seria necessária uma cidade com 1,75 milhões de pessoas!
Quando as crianças tiverem 10 anitos e a escola primária concluída, os pais adotivos e as suas 20 crianças vão viver para na nossa aldeia como se fossem uma família. Vão frequentar a escola, calcorrear aqueles mesmos caminhos do monte que eu calcorreei quando era criança e, assim, tornar a dar vida à nossa aldeia.
Com 10 anitos as crianças ainda vão a tempo de desenvolver uma ligação forte de pertença à aldeia e já são autónomas o suficiente para que seja possível um casal dar atenção e apoio a 20 crianças. Não vai ser uma família como estamos habituados a ver porque as crianças terão todas a mesma idade e serão, em termos genéticos, filhas de 3 casais diferentes  mas, mesmo assim, vai ser uma família funcional.
– Sr. Rúben. Sr. Rúben ! Por favor, acorde que está aqui o Sr. Alberto para o levar a casa – disse uma das empregadas da confraria.
– Sim, sim, eu não estou a dormir, passei um bocadinho pelas brasas mas estava com o pensamento ativo! Oh Alberto, sobre a conversa que tivemos esta manhã, estive a falar com o Dr. Cerejeira e já avancei bastante, existe uma solução técnica para fazermos as 150 crianças por ano sem haver necessidade que as nossas mulheres tenham que estar grávidas!
– E isso é mesmo possível Sr. Rúben? Não estará a confundir?
– Não, não, disse-me o Dr. Cerejeira que podemos contratar mães de substituição!
– Ah, assim já ouvi falar nisso mas será praticável!
– sim, é praticável, arranjam-se as mães de substituição num país pobre, talvez em África, está tudo pensado!
– Mas isso, provavelmente, vai custar muito dinheiro!
– Custa o que custar e vamos fazer como o Sr. Dessilva fez quando nos trouxe para cá, cada criança vai, ao longo da vida ativa, pagar o seu custo de produção.
– E o Sr. Rúben está a pensar que serão as crianças a pagar a sua vida?
– Exatamente! Vão ser as pessoas a pagar o custo de as darmos à vida, arranjamos quem financie o projeto como se fosse um investimento normal e, depois, as crianças quando forem adultas amortizam esse investimento!
– E acha ético fazer um contrato com pessoas que ainda não existem?
– Claro que sim, calculo que cada criança vai custar 50 mil € pelo que será preciso que paguem 100€ por mês durante 50 anos. Nenhuma pessoa se vai recusar a pagar 100€ por mês sabendo que é para compensar o ter sido trazida à vida.
– E depois o que vai fazer às crianças?
– Já está tudo pensado. Agora, só preciso de combinar com o Dr. Cerejeira para fazermos uma apresentação à confraria. Ficam em África até aos 10 anos e, depois, vão viver na aldeia com um casal adotivo, cada casal vai tratar de 20 crianças.
– Então o Sr. Rúben acha mesmo que isso é possível? Acha mesmo que vamos poder aproveitar a abertura que aconteceu nas mentalidades dos europeus? Acha mesmo que essa lei que aprovaram lá na Europa vai permitir o renascer da nossa aldeia?
– Sim, sim, penso que temos aqui uma oportunidade única na História de repormos o que foi destruído, agora só preciso que marques uma reunião da confraria para que eu possa apresentar o meu plano para que as pessoas possam decidir.
– Concerteza que sim, vou já anunciar essa reunião.

Capítulo seguinte (48 - A apresentação)

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