segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Emigração. O Passos Coelho disse o evidente.

Queremos pertencer à Zona Euro?
A condição necessária para pertencermos a uma Zona Monetária é que haja mobilidade nos factores de produção onde se inclui o factor trabalho e flexibilidade nos preços onde se incluem os salários.
Por isso, quem defende que temos que pertencer à Zona Euro está a defender que os salários podem diminuir em termos nominais e que as pessoas têm que emigrar.
Não se pode querer sol na eira e chuva no nabal.

O Seguro ao defender que o PPC minta é como o outro.
Quem quer ser guiado por cegos?

Que fazer aos professores?
Há pessoas que querem ser professores e que tiram cursos via ensino.
Mas o Estado não tem obrigação de arranjar emprego para toda a gente. Nós não somos Cuba.
e toda a gente sabe que  o sistema público de ensino não pode contratar mais professores. Não é que mais não melhorassem o ensino mas não há dinheiro para isso.
Se os salários dos professores actuais descessem para metade, era possível contratar os 50 mil que estão desempregados.
O sindicato que proponha isso: o Estado contrata mais mas mantém-se a massa salarial global.
Mas quem está não quer abdicar do muito que tem e que acha sempre pouco para dar algum aos que não têm nada.


O meu colega de cadeira é extraordinário.
o JC foi um aluno de licenciatura extraordinário, fez um mestrado brilhante, tem o doutoramento concluído e dá aulas melhores que as minhas. No entanto, leva para casa 325€/mês.
Apesar de salário ser muito baixo (menor que o SMN), o que mais o desgasta é o contrato ser por 6 meses.

Diz o Lucas
O Robert Lucas é o pai dos Novos-Clássico que defendem que o Estado deve-se retirar da Economia.
Os comunas dizem que o Lucas é o pai e o Milton Freedman a mãe de todos os neo-liberais.
O que o Lucas identificou é que não há desemprego em absoluto.
O que existe é uma desadequação entre as expectativas dos trabalhadores quanto ao salário e o que o empregador pode pagar pelo trabalho.
Tenho a certeza absoluta que se o salário de professor começasse nos 500€/mês e o 10.º escalão (o topo da carreira) fossem 1000€/mês, deixava de haver professores desempregados.
Garanto em absoluto que, quem quisesse dar aulas, não precisava emigrar.

A minha colaboradora doméstica
A Olga é enfermeira com especialidade em oftalmologia. É bom porque a minha mãe foi operada aos olhos e ela põe-lhe as gotas com todo o rigor.
Na Ucrânia tinha emprego e estão-lhe sempre a mandar cartas a pedir que volte ao anterior posto de trabalho que era num hospital publico de uma terra qualquer.
Na Ucrânia não há desemprego no sector público. Quem quiser, não falta emprego.
Professores, médicos, enfermeiros, engenheiros, calceteiros, varredores, não falta emprego.
Se alguém quiser emigrar para a Ucrânia, não falta emprego.
Mas para ganhar 80€/mês.
Aposto que já lhe passou a vontade.

Pedro Cosme Costa Vieira

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Os bancos têm que ter lucro, também é para nosso bem.

Porque as pessoas poupam?
Existe uma poupança quando compramos bens duráveis (denominados bens de equipamento ou de capital).
Por exemplo, compramos um frigorífico por 500€ que dura 10 anos. Então, no ano da compra consumimos em "serviços do frigorífico" 50€ e poupamos 450€. Em cada um dos 9 anos seguintes consumimos 50€ em "serviços do frigorífico".
Também existe poupança quando constituímos um stock de bens de consumo.
Finalmente, existe poupança quando aumentamos o nosso saldo no livro (quando aumentamos o nosso saldo bancário).

Para que exista poupança no livro.
Para que exista poupança na economia, o banco tem que constituir um stock, comprar bens de equipamento ou emprestar o nosso activo a alguém que o faça.
O saldo no livro não é, em si, uma poupança.
Se o Pereira emprestar o dinheiro a alguém que compra e consume os bens, na economia não haverá poupança.

Vamos ficar velhinhos.
No futuro todos vamos ficar velhinhos e sem capacidade para trabalhar.
Agora que somos produtivos, temos que poupar porque especulamos que no futuro ainda vamos estar vivos precisando de comer sem termos rendimentos.

Fig. 1 - Amo tanto a minha mulher que, para a poupar para quando for velhinho, carimbo esta

Podemos ter um desastre.
Podemos perder o emprego (e ficamos sem rendimento), termos um acidente automóvel (e temos uma despesa não antecipada). Podemos ainda ficar doentes (sem puder trabalhar perdendo o salário).
Ao especular que existem estes riscos, pomos de lado uns activos.

Queremos comprar no futuro algo muito dispendioso.
Queremos comprar um bom carro ou uma casa e precisamos de ir juntando dinheiro para depois podermos fazer esta compra.

O negócio do Pereira, o cantineiro, tem-se expandido.
O Pereira fornece um leque reduzido de serviços bancários (depósitos, transferências e algum crédito) mas, por serem serviços imprescindíveis, tem cada vez tem mais clientes.
Os serviços do Pereira são "criação de dinheiro".
O saldo do livro foi crescendo e, de forma correspondente, a mercadoria no armazém. Mas o Pereira começou a ver que o armazém já tinha coisas de mais.
Então, há uns anos, decidiu abrir conta no Entreposto da Cidade.
Quando o fazendeiro "Costa" (que tinha um saldo no Entreposto de 250000$00") mandou abrir conta ao Pereira para pagar 10 contratas, o entreposto lançou no livro:
    "Pereira, 10 contratas x 1000$00 = +10000$00, Saldo = +10000$00"
    "Costa, 10 contratas x 1000$00 = - 10000$00, Saldo = +240000$00"
Depois, quando o Pereira mandou carregar 100 sacas de farinha, o Entreposto lançou no livro:
    "Pereira, 100 sacas farinha x 10$00 = -1000$00, Saldo = +239000$00"

Neste momento o Pereira tem um saldo de 5 000 000$00 no livro do Entreposto que pertence, indirectamente, aos seus clientes.

E se houver uma cheia.
Os clientes do Pereira poupam principalmente porque a aldeia é no Vale do Zambeze que tem risco de cheia.
No passado ficavam na miséria e muitos morriam no ano seguinte de fome.
Agora o Pereira arranjou uma maneira de resolver o problema.
Como o saldo do livro não está todo materializado em mercadorias no armazém mas antes no livro do Entreposto, havendo uma cheia, parte dos saldos está a salvo.

Aqui entra o seguro e a diversificação do risco.
Ao ter saldo no livro do Entreposto, o Pereira tem grande parte das poupanças dos seus clientes a salvo dos problemas locais. Uma cheia, uma guerra, uma doença, uma seca ou uma calamidade qualquer.
Como na Cidade não há cheias, quando acontece qualquer problema o Pereira repõe as mercadorias no seu armazém e salva a situação.
Nessa altura já os clientes podem usar o saldo para refazer as cubatas, repor o gado morto e comprar farinha para se sustentarem até terem novas culturas.
Haverá perdas, mesmo o Pereira perderá tudo o que tem em armazém, mas uma parte substancial da poupança está segura.
Mas o Pereira tem que evitar ter perdas pois, caso contrário, com o tempo vai à falência.

E se o Pereira for à falência?
Será uma tragédia.
Mas os clientes do Pereira não têm capacidade de diversificar o risco de cheia pois não têm volume de negócio que permita ter conta no livro de Entreposto.
Então, os clientes preferem que o Pereira cobre uma margem pelos seus serviços e tenha lucro a haver um risco de ir falência.
O Pereira, para seu bem e dos seus clientes, vai cobrar 1% em cada movimento para cobrir os riscos do negócio.
Uma contrata passará a ser lançada
   "Joaquim, contrata = +1000$00, seguro = - 10$00, Saldo = + 980$00"
Uma transferência (seguro pelo mandante) será
  "Manuela, Trans J = -500$00, seguro = - 5$00, Saldo = + 480$00" 
  "Jozefa, Trans M = +500$00, seguro = 0$00, Saldo = + 500$00"

Fig. 2 - "Pagar as dívidas é uma coisa de crianças" (Sócrates, o Caloteiro)

É o risco a principal razão para existir Spread na intermediação bancária.
Se nós emprestarmos os nossos activos a alguém, corremos grande risco de os perdermos pois a maioria das pessoas é caloteira. e os depositantes não querem risco.
O Banco especializou-se em avaliar a capacidade das pessoas pagarem o que devem. Por outro lado, têm serviços jurídicos que penhoram os bens das pessoas devedores.
Então, nós emprestamos os nossos activos ao banco a 2%/ano (denomina-se taxa passiva) e ele empresta-os a outras pessoas a 5%/ano (denomina-se taxa activa).
É a margem do banco, o Spread.
Se o banco não executar os caloteiros,  nós perdemos os nossos depósitos.

Fig. 3 - O banqueiro persegue os seus devedores a mando dos seus depositantes.

O que paga o Spread.
1. Cobre o risco de o devedor não pagar. Todos os anos o banco tem que guardar parte do Spread para cobrir a eventualidade de um devedor falhar.
2. Cobre as despesas de funcionamento. Os funcionários, a electricidade, as rendas dos imóveis, etc. têm custos que têm que ser pagos pelos clientes do banco.

3. Depois fica o lucro para remunerar o capital.
O negócio bancário é de muito elevado risco porque emprestam dinheiro a 50 anos sobre casas em que há grande probabilidade de os devedores ficarem desempregados e o valor das casas cair drasticamente.
Emprestam a empresas que abrem falência à força toda.
Emprestam ao Estado Português que está em bancarrota.
Mas os depositantes querem ter a certeza que o banco nunca abre falência.
Então, o Banqueiro tem que ter 10% (mais ou menos) do total de depósitos em capitais próprio. Se alguém não pagar, paga o Banqueiro do seu capital.
Isto é muito dinheiro, por exemplo, o BCP tem 6500 milhões de Euros de capital e ainda tem que o reforçar.

O capital do banco é capital produtivo.
As pessoas pensam que o capital que o Banqueiro tem são notas mas não é assim.
Esse capital está materializado em máquinas nas fábricas, televisores nas casas das pessoas, carros, camiões, pontes, estradas, hospitais, etc.
O Banqueiro ao emprestar a uma empresa para ela comprar uma máquina é, em termos económicos, o dono da máquina.
Em termos contabilísticos é apenas dono do dinheiro, mas isso é um artificio da contabilidade.
É como ter 1000$00 no livro. De facto, o cliente tem sacas de farinha e litros de óleo no armazém.

O Sérgio (e a maioria das pessoas)
Pensa que os bancos não produzem nada e, mesmo assim, têm "mais lucro que quem realmente produz ou cria riqueza palpável através de produção de bens e serviços".
Mas, em termos económicos, os meios de produção são, em parte, do Banqueiro e, noutra parte, dos depositantes do banco.
Na economia, considerando todas as máquinas e todo o capital, em média, 20% pertence aos empresários, 8% pertence aos banqueiros e 72% pertence aos depositantes.
Do total dos lucros da economia, 8% tem que ir para os bancos.

Quanto maior o lucro do banco, melhor para os depositantes.
O capital, para fazer face à inflação e ao risco, tem que ser remunerado a uma taxa de pelo menos 10%/ano. No caso do BCP, são, no mínimo, 650milhões de € por ano.
Se os bancos não tivessem capital, não precisavam ter lucro mas o risco de falência seria muito grande e os depositantes não querem bancos desses.
Um banco que tenha um rácio entre o capital próprio e os depósitos de 10% e um lucro de 10% do capital próprio tem o risco de falir na ordem dos 0.1%/ano.
Se estes rácios começarem a diminuir, o risco de perdermos os nossos depósitos começa a aumentar.
Se temos os bancos A e B que pagam 2%/ano de juros e têm 10% de capitais próprios. Se o banco A tem 3%/ano de lucro e o banco B tem 13%/ano de lucro, o melhor é termos o nosso dinheiro no banco B.
O banco B tem muito menor risco de vir a falir.

Todos os anos abrem falência muitos bancos.
Nos últimos 20 anos em Portugal faliram as Caixas Agrícolas, o BPP e o BPN (salvo a minha fraca memória).
Se o Banco A oferece 3%/ano e o banco B oferece 2%/ano como remuneração dos depósitos o que está a ser dito é que o risco de o banco A falir durante o próximo ano é mais 1% que o risco do banco B falir.
De facto o banco A não está a pagar mais juros. Nós estamos é a "comprar" um produto com mais risco.

A crise financeira resulta dos bancos terem lucros pequenos.
Ao haver muita concorrência no mercado bancário, os bancos começaram a cativar clientes de elevado risco de se tornarem caloteiros. Isso fez com que os lucros diminuissem o que degradou o seu capital próprio.
Para esconderem que estavam a perder dinheiro, começaram a sobre-avaliar os activos dos seus devedores (as casas). Quando executavam um cliente, rematavam o imóvel pelo valor da dívida, não reconhecendo perdas.
Quando em 2007 surgiu uma crise normal, começou a faltar liquidez e deu-se conta que os bancos não tinham em "armazém mercadoria suficiente para pagar o saldo dos livros".
Começaram a falir em catadupa. E continuam.

A dívida pública
A dívida pública alemã para contratos a 2 anos anda nos 0.4%/ano.
A dívida pública portuguesa para contratos a 2 anos anda nos 20%/ano.
Isto quer dizer que a probabilidade de, nos próximos 2 anos, o Portugal entrar em bancarrota e não pagar nada é de 30%.
Quem comprar 100€ de dívida pública portuguesa a 2 anos pode, por um lado, receber 140.00€ mas, por outro lado, tem 30% de probabilidade de não receber nada.
Quem comprar 100€ de dívida pública alemã a 2 anos vai receber, de certeza, 100.80€.
Agora é uma decisão de cada um mas não pensem que os "especuladores sanguinários" especulam ficar ricos com os títulos da dívida dos caloteiros.

Fig.4 - É como ter uma mulher simpática. Dá-nos a certeza de que não vamos ser corneados.

Como é camarada Louçã? Agora não te interessa falar?
Até a agência de Rating Chinês desceu o Rating da Zona Euro toda.
Então até os chinocas são especuladores sanguinários?
É que já não há tansos em lado nenhum do Planeta Terra.

Pedro Cosme Costa Vieira

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O cantineiro é um especulador

Neste post o cantineiro, por ser especulador, concedeu crédito de longo prazo. Transformou-se também em seguradora.

Hoje faz 6 anos que o Muzel se casou.
Neste tempo o Muzel teve 5 rapazinhos mas um morreu. Restou 4.
Sempre foi um bom cliente. Gastava, em média, 50$00 de mercadoria por mês e, sempre que o saldo do livro descia abaixo de 500$, o Musel falava ao cantineiro, o Pereira, e lá ia fazer nova contrata.
Mas ontem aconteceu uma tragédia

Pátrão me acuda
Gritou mulher do Muzel ainda o Sol estava para nascer.
- Pátrão me acuda que o Maruéu morreu.
- A Hiena comeu o meu Maruéu durante a noite.
- Me acuda Pátrão que é uma desgraça.
- Minhas criança vai morrer de fome.
- HAAAAAAAAAAAAAAeeeee  ME ACCCCUUUUUDDDDAAAAAAAAAA
O Pereira ainda estava na cama de onde saltou rapidamente e veio cá para fora.
- Manuela (foi este o nome que o Pereira lhe deu no dia do casamento), que desgraça. O Manuel era tão bom rapaz.
- Que desgraça. Aí meu Deus que posso eu fazer agora para acudir a esta tamanha desgraça.
- Tens no livro 600$ mas isso só dá para sustentares as crianças um anito.
- O teu mais velhinho só tem 5 anos. Ai que desgraça.
- Manuela, vou pensar no que podemos fazer.
Entrou para a casita e foi-se sentar na mesa da cozinha.

Fig.1 - Pátrão conta com mim pra tudo que for precisa.

O Pereira era um especulador
Espectador e Especulador são, em termos etimológicos, a mesma palavra.
São evoluções do vocábulo latino spectator que traduz a visão, a observação de algo.
Em inglês óculos dizem-se spectacles.
Especulador é aquele que vê para o futuro.
Aquele que antecipa como vão evoluir as variáveis económicas.
O Pereira vê no futuro os filhos do Muzel, se sobreviverem, como bons clientes.
Pensa que vão sair todos ao Pai.
Então, magicou, magicou, magicou 
Pegou no livro, leu aqueles balanços, tornou a magicar, magicar e veio cá fora 

Um contrato de crédito
- Manuela, A tua criança mais velha só tem 5 anos. Só pode trabalhar na contrata daqui a 10 anos. É muito tempo.
- Para as tuas 4 crianças não morrerem de fome, tenho que te emprestar 40$/mês durante mais de 10 anos.
- É muito dinheiro.
- Mas eu especulo que teus filhos são como o Manuel pelo que vão ser grandes trabalhadores.
- Vou então propor-te um contrato de crédito.
- Eu empresto-te o dinheiro e, quando as tuas crianças fizerem 15 anos, vão fazer contrata. Cada rapaz tem que fazer  três contratas num total de 12 contratas.
- É um contrato de 8000$00 com uma duração de 15.5 anos.

A Taxa de Juro Anual Efectiva
- Pátrão obrigado. Mas 12 contratas são 12000$00. Me pode fazer conta para me diz a TAE.
- São 6.34%/ano

Fig. 2 - Especulação quanto à evolução do saldo (negativo) da Manuela

Me espilica para que serve o Juro.
- Sabes que eu sou contra explorar os necessitados pelo que nos créditos de curto prazo não cobro juros.
- Até porque eu empresto activos que pertencem aos meus outros clientes a quem não pago juros.
- Mas, neste caso, as tuas criancinhas são muito pequenas e podem morrer ou não querer trabalhar.
- E nesse caso, tu não tens como pagar a dívida pelo que eu fico com o prejuízo.
- Assim, em cada ano e por cada 1000$00 de dívida eu tenho que fazer reservas de 63$40 para o seguro de crédito.
- Se eu não fizer isso, quando alguém não pagar, vou ter que passar o prejuízo para os meus outros clientes.
- Isso não é justo porque não são eles que decidem os empréstimos.
- Vens aqui outro dia chorar mais um pouco e eu explico-te porque os bancos têm lucro.

Aceitar pátrão.
- É justo pátrão. Meus filho vai crescer bém e trabalhar bém mas Muzel morreu e eu não pensei.
- Afinal o juro é justo, pátrão.

Pedro Cosme Costa Vieira

A moeda escritural (sobre o vídeo)

Temos que acabar com os bancos.
O vídeo tem uma mensagem subliminar que é a destruição dos bancos e do livro das mercearias.
É perigoso em termos intelectuais porque se baseia um conjunto de mentiras com algumas meias verdades.
Vou tentar mostrar a des-lógica da argumentação do vídeo.
Primeiro tenho que demonstrar que o dinheiro escritural não tem mal nenhum e não vive em nada da existência do crédito nem está dependente das reservas obrigatórias. Isso é um embuste usado pelos esquerdistas para atacar os bancos.
Para não nos concentrarmos nos bancos, vou falar do livro da mercearia.

fig. 1 - Onde está o mal para a humanidade destas padarias terem livro de registo?

O dinheiro divide-se em Notas e a Moeda Escritural. É Verdade.

Mas a moeda escritural não tem qualquer mal. Nem está dependente da Moeda.

Na literatura inglesa há uma diferença entre Money (dinheiro), que é um termo genérico, e Currency (notas e moedas), que é um tipo especial de dinheiro, as Notas e Moedas e fazem parte do dinheiro mas não só.
Dinheiro é qualquer meio de pagamento e reserva de valor que facilite as trocas.
O cartão de pontos do Continente é dinheiro.

Se o estimado leitor tiver formação matemática e souber inglês será interessante ver  Plosser (1983). É um texto muito difícil de ler mas que torna claro que um economista que "confunda" estes conceitos 28 anos depois da publicação deste artigo, quer enganar o povo.

O dinheiro é a unidade de valor que torna possível comparar o valor relativo dos bens e serviços disponíveis em instantes de tempo e locais geográficos diferentes.
Por exemplo, vou a Paris e vejo uma gabardina por 150€ e vou a Lisboa e vejo uns sapatos por 50€. Então, esse par de sapatos é comparável a 1/3 dessa gabardina.

O dinheiro é um stock de valor que permite armazenar valor entre os momentos em que se realizam as transacções. Por exemplo, eu trabalho hoje e guardo o valor nos 50€ que recebo. Mais tarde posso usar esse dinheiro para bens e serviços.

O dinheiro é um meio de troca. Ao ser uma reserva de valor torna possível a troca de bens realizada em transacções efectivadas em momentos e locais diferentes.
Por exemplo, vendo hoje uns sapatos hoje em Lisboa por 50€ e recebo dinheiro que guardo. Daqui a uma semana vendo trabalho no Porto por 100€ e recebo dinheiro que guardo. Daqui a um mês vou ao Funchal à passagem do ano por 150€ que pago com o dinheiro que tinha guardado.

O Inside Money - moeda escritural
Em tempos tive um colega cujo pai foi cantineiro no meio de Moçambique. O seu negócio vai-nos ajudar a compreender o que é o dinheiro escritural, a naturalidade do seu aparecimento, que não tem mal nenhum e que não tem qualquer ligação às Notas e Moedas.

O Cantineiro tinha o livro
    - Pátrão, me chamar Muzel Tiruba, querer dar nome pra escrever no livro, pra crasar com mulher gorda.
    - OK. Vais-te passar a chamar Manuel dos Santos. Vou aqui escrever o teu nome no livro e, na próxima  segunda-feira, estas aqui ao nascer do Sol com roupa para 6 meses pois vou-te arranjar uma contrata numa fazenda.
- Pátrão, assim estrará Maruel. Maruel é nome borito.

Abertura de uma conta
O Muzel lá foi e, na volta, o fazendeiro mandou ao cantineiro 50 sacos de farinha, 50 sacos de sal, 200 litros de óleo de palma, 50 quilos de sabão e 50 caixas de fósforos para pagar o trabalho do Muzel.
O Cantineiro colocou preços na mercadoria que somavam 1000$ e acrescentou no livro:
    "Manuel dos Santos, contrata = +1000$00, Saldo = + 1000$00".

Uma compra
A mulher gorda do Muzarel foi comprar uma saca de milho e um saco de sal e o cantineiro escreveu:
    "Manuel dos Santos, 1 saca de milho x 10$00 = - 10$00 , saldo = 990$00"
    "Manuel dos Santos, 1 saca de sal x 7$00 = - 7$00 , saldo = 983$00"

fig. 2 - Mulher do Muzuel é boa
Um pagamento
    - Patrão marca 10$00 na conta do meu vizinho José do Prego porque ele me vendeu um porco.
O Cantineiro acrescentava no livro (o José tinha um saldo de 110$00):
    "Manuel dos Santos, transf JP = - 10$00, saldo = + 973$00".
    "José do Prego, transf MS = + 10$00, saldo = +120$00".

Um empréstimo do cantineiro
Chegou lá a Jozefina Mulata que tinha um saldo de 20$.
- Pátrão me emprestra 100$00 para eu pragar 3 vaca ao José do Prego.
O Cantineiro acrescentou no livro:
    "Jozefina Mulata, transf JP = - 120$00, saldo = -100$00".
    "José do Prego, transf JM = + 120$00, saldo = +240$00".
Para o cantineiro poder conceder crédito tinha que ter saldo no livro (e correspondente mercadoria no armazém).

Um empréstimo do Muzel à Jozefina
Diz o Muzel.
- Pátrão quero emprestar 50$00 à Jozefina Mulata. Execruta.
O Cantineiro acrescentou no livro:
    "Manuel dos Santos, emprest JP = - 50$00, saldo = + 923$00".
   "Jozefina Mulata, emprest MS = + 50$00, saldo = -50$00".

Défice público financiado com emissão de novo dinheiro
O cantineiro tem que garantir que a soma de todo o dinheiro que existe no livro tem uma correspondência em mercadoria. (Essa mercadoria pode estar no seu armazém ou vir a caminho, estar no Entreposto).
O cantineiro meteu-se com um mulata jeitosa e entrou em défice.
Para pagar à mulata, lançou na sua folha +100$00 sem corresponder nenhum movimento negativos ou entradas de mercadorias no armazém.
Então, como tem que ter igual valor em mercadoria e no livro, aumentou os preços de todos os bens que tinha em stock de forma a compensar o aumento da quantidade de dinheiro.
Os preços aumentaram e, de facto, quem deu os 100$00 à mulata foram os outros clientes pela desvalorização do dinheiro que tinham no livro.

Seria melhor o cantineiro cobrar uma margem a cada cliente.
Se o cantineiro lançar movimentos sem contrapartida (criar dinheiro) os seus clientes deixam de acreditar no livro. Um homem ir trabalhar e ficar com 1000$00 na folha e, passado um mês isso não dar para comprar nada, o homem troca de cantineiro.
    - O livro não prestra pátrão, estár roto. Pátrão ter que arranjar outro livro. 
Por isso, é melhor o cantineiro cobrar uma margem conhecida (um imposto) mas manter a credibilidade do livro do que desvalorizar o dinheiro.
Mais ninguém vai acreditar no livro. O cantineiro vai à falência.
É como ir a um restaurante e ter uma intoxicação alimentar. Nunca mais lá voltamos.

Porque não armazenava o Muzel a mercadoria resultante do seu trabalho?
A mercadoria estragava-se e o cantineiro, mandando todas os dias um cliente diferente para a contrata, conseguia ter mercadoria fresca todos os dias.
No total, o cantineiro teria mil clientes, não só os 365 que iam às contratas mas outros que vendiam a estes animais e mulheres (e recebiam no livro), dádivas a familiares ou pedidos de dinheiro emprestado.

Porque será que existem notas e moedas?
O cantineiro é livre de atribuir qualquer preço às mercadorias e ao trabalho.
Tanto poderia averbar 1000$00 ao Muzel e cada saca de farinha custar 10$00 como averbar 100000$00 e cada saca custar 1000$00.
Não tem problema nenhum mas, por um lado, há instabilidade dos preços ao longo do tempo pois o cantineiro pode um dia levantar-se e acrescentar um zero a tudos os valores. Por outro lado, cantineiros diferentes terão preços diferentes e moeda diferente (livros diferentes).
Para fazer um movimento entre dois livros será preciso uma taxa de câmbio.
Para uniformizar os preços, o Governo obriga o cantineiro a ter 10% do saldo de cada cliente no  livro em Notas. Obrigou a que as contas negativas (créditos) também tenham 10% de reservas em notas.
São as reservas compulsivas dos bancos.
Obrigou ainda a, o cliente querendo, o cantineiro dar o saldo do livro em Notas.

As reservas compulsivas apenas servem para tornar os sistema de preços estável.
É intuitivo que o cantineiro ao ter reservas compulsivas já não pode multiplicar os preços e os saldos pois teria que aumentar a quantidade de notas.
Ao reduzir os preços diminuiria as necessidades de notas mas tem que manter os preços compatíveis com os preços dos cantineiros mais próximos de si. Caso contrário, haveria operações de arbitragem.
Assim, o sistema de preços estabiliza e todos os livros passam a ser denominados na mesma moeda.
Pode haver diferenças nos preços e nos salários mas essas diferenças não poderão ser maiores que os custos de transporte.

Onde está o mal do do livro do cantineiro?
Este é o funcionamento do dinheiro escritural e é independente das Notas e Moeda.
O cantineiro e os clientes não têm Notas nem Moedas.
Há alguém à face do planeta Terra que veja algum mal no serviço financeiro fornecido pelo cantineiro?
O cantineiro ao criar dinheiro escritural prejudicou alguém?
Não.
Só melhorou a vida das pessoas e o funcionamento da economia local.
com o livro, os locais podem armazenar valor, fazer transacções em dinheiro, conceder crédito.
É preciso ter uma mente muito torcia para defender que o livro tem que ser proibidos porque cria moeda escritural.

Estas operações antigamente feitas pelo cantineiro são as normalmente feitas pelos bancos.
Qual é o mal dos bancos?
O que é que fazem que cria tanta inimizade nos esquerdistas?
Terem lucro? Também as meretrizes boas têm bons lucros e não vejo os esquerdistas a dizer que devem acabar.
Penso que é por o Mark não perceber nada da parte financeira da economia e os esquerdistas ainda viverem no sec. XIX.
Ou então, querem enganar o povo.

O vídeo é este e está em francês com legendas em português.

Pedro Cosme Costa Vieira

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