quarta-feira, 30 de setembro de 2015

43 – O mistério

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
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Ver o capítulo anterior (42 - O lucro)    




43 – O mistério
Apesar das cartas de chamada, da garantia de que as pessoas tinham emprego e alojamento garantidos e de haver algum fundamento na lei para que os vistos fossem emitidos, as dificuldades eram mais do que muitas. Então, o Levinstone, mesmo contra os seus princípios, teve que seguir o conselho do Jonas, mediante um suborno de 1000€ por cabeça a um funcionários bem colocado, as dificuldades desapareceram. Com os vistos na mão e trabalho lucrativo para as pessoas da aldeia, no terceiro inverno fizeram-se 5 viagens que somaram 160 jovens e algumas dezenas de crianças o que implicou um investimento ligeiramente superior a 600 mil €. Mas foi um bom investimento pois os lucros aumentaram de 10000€ por semana para 35 mil € por semana.
No quarto Inverno, movidos pela ganância do Levinstone, do Goldman e do Dacosta, a chegada dos jovens acelerou ainda mais. O Sr. Costa saia da Aldeia na segunda feira de madrugada, pernoitava na estalagem e, na terça feira à noite chegava à cidade onde os jovens e algumas crianças embarcavam na carruagem de carga. Depois, voltava para a aldeia onde chegava na quinta - feira à noite, começando imediatamente a preparar a viagem da próxima segunda-feira.
As pessoas partiam no comboio da teça-feira à noite e, na quinta-feira, quando chegavam à fronteira, estava lá o Sr. Dessilva à espera, para o caso de haver algum problema. Depois, seguiam até Amesterdão na companhia do Sr. Dessilva que tratava do embarcar das pessoas no transatlantico. Tudo feito de forma célere para que pudesse estar na fronteira na quinta-feira seguinte.
Semana após semana, a aldeia perdia 32 jovens e algumas crianças, sempre mais do que 10, que se iam reunir com os pais.
O Dacosta já geria um prédio inteiro, com mais de 20 apartamentos e estava a negociar outro. O Levinstone, além da construção civil, tinha expandido os seus negócios para a metalomecânica e o Goldman tinha crescido enormemente estando agora a fornecer fardas para a polícia.
Os lucros eram enormes pelo que, mais e mais pessoas foram sendo chamadas, a ponto de as viagens se terem prolongado pela Primavera, pelo Verão e, novamente, pelo Outono e novamente pelo Inverno sem interrupção. Saiam tantos jovens a ponto de, na Aldeia, praticamente deixar de haver pessoas com idades entre os 20 e os 30 anos. O Estalajadeiro, o chefe da estação, o funcionário da imigração, o Levinstone, o Goldman e o Dacosta parece que tinham encontrado uma mina de ouro.
Uma certa quinta-feira, o Dessilva estava na fronteira e, quando chegou o comboio, ficou estranho de não vir atrelada no fim a carruagem de carga que deveria trazer os jovens em transito para a América. Foi falar com o chefe da estação alegando que estava à espera de uma carga que não tinha chegado.
– Realmente, eu sei que todas as semanas vem uma carruagem com carne de porco salgada cujo destino é Amesterdão e o destinatário é o Sr. Newman Dessilva mas hoje, estranhamente, não veio nada. Acho estranho até porque o meu colega costuma sempre mandar um telex a anunciar que a mercadoria foi verificada não precisando de ser vista e hoje não disse nada. Deixe que eu mando um telex ao meu colega da estação onde a carruagem costuma ter origem.
Passado um pouco, veio um funcionário trazer um papelinho ao Sr. Dessilva com o telex que tinha chegado e que dizia apenas que “O fornecedor, o Sr. Costa, não apareceu. Vieram hoje dois almocreves à estação dizer que estão à espera que o Sr. Dessilva venha para tentar resolver o problema grave que aconteceu com a mercadoria.”
O Dessilva ficou preocupado. “O que será que poderá ter acontecido? O mais certo é que as pessoas tenham sido interceptadas à chegada da aldeia do Norte e reenviadas para o Monte. Tenho que partir imediatamente.”
Quando o Dessilva chegou à Cidade, ao descer os dois almocreves que vieram da aldeia tentar encontrar o Sr. Dessilva viram-no do fundo da estação e desataram a correr.
– Sr. Dessilva, Sr. Dessilva, Sr. Dessilva, graças a Deus que veio – gritaram os almocreves enquanto corriam para junto do Dessilva. Neste momento criou-se um certo rebuliço pois os almocreves não podiam entrar no cais de embarque antes de receberem ordem.
– Calma, calma, estou aqui, as malas estão aqui dentro – disse o Dessilva com a mão no ar também para acalmar as restantes pessoas.
– Sr. Dessilva, Sr. Dessilva, aconteceu uma tragédia, uma tragédia terrível. Aconteceu o pior – gritaram ainda à distância os almocreves. Os outros almocreves, com os burros, também se foram aproximando a passo ligeiro da carruagem do comboio onde era preciso ir buscar as malas dos outros passageiros.
– O quê, o que estão para aí a dizer? – É que, como as viagens estavam a correr tão bem, o Dessilva já se tinham esquecido da contínua ameaça que pairava sobre as pessoas da aldeia.
– Mataram quase todas as pessoas da aldeia, ainda fugiram algumas para o monte mas a maior parte morreu, nem o Padre Augusto escapou!
Como as outras pessoas que estavam no cais ouviram a conversa, gerou-se um burburinho “Mataram quem? Quem é que morreu? De que aldeia está ele a falar?”
– Isto não é nada, estes meus carregadores estão a delirar, estão com muita febre e já não comem há vários dias pelo que não dizem coisa com coisa – e, em simultâneo piscou o olho aos almocreves a quem disse baixinho, pensando mesmo que estavam a delirar, “Chiu que esta gente não pode ouvir isso que estão a dizer, vamos falar ali para o fundo. Moços, carreguem as malas e vamos lá para fora.”
O Dessilva não acreditou em nada do que os almocreves tinham acabado de dizer querendo apenas saber o que tinha acontecido, porque a viagem não tinha sido feito e onde estava o Sr. Costa.
– Já lhe dissemos Sr. Dessilva, não houve viagem porque mataram as pessoas- O Sr. Costa está de cabeça perdida, anda pelo monte à procura da Menina Dulcinha que não se sabe se está vivo ou morta. Precisamos da ajuda de alguém pois, neste momento, as pessoas que conseguiram fugir andam perdidas pelo monte, centenas, sem terem abrigo nem o que comer.
– Arranjem então os burros para partirmos imediatamente para a estalagem que ainda temos muitas horas de viagem.
– Mataram tanta gente, velhos novos e crianças – não se cansavam os almocreves de repetir como que em estado de transe.
– Isso não pode ser, vocês estão a confundir, mas vocês viram isso? Viram alguém morto?
– Bem, nós não, pois não chegamos a ir à aldeia. Depois de termos deixado as pessoas no comboio, fizemos a viagem de retorno com o Sr. Costa e, já no meio do monte, encontramos pastores que nos disseram para não voltarmos para a aldeia porque tinham-na destruído e matado quase toda a gente. O Sr. Costa não acreditou pelo que nos aproximamos um pouco da aldeia para vermos o que se tinha passado mas, no entretanto, cruzamos com muitas pessoas que vinham a fugir e tivemos medo. O Sr. Costa continuou viagem sozinho a ver se sabia notícia da filha.
– Eu não me acredito, onde é que estão essas pessoas que fugiram?
– Estão no monte Sr. Dessilva. O Sr. Dessilva precisa fazer um milagre para que não morra toda a gente, são precisos cobertores e comida.
– Só posso actuar de+pois de saber o que realmente aconteceu, Temos, tenho, que ir até lá para ver com os meus próprios olhos.
“Claro que poderia ter havido uma ataque e que poderia ter havido mortos mas quase todas as pessoas? Isso era impensável, era impossível, matarem milhares de pessoas sem mais nem menos? Aquela notícia tinha que estar exagerada e em muito.” – pensou o Dessilva.
Chegaram à estalagem já noite fechada. O Dessilva tentou saber notícias junto do estalajadeiro. Realmente dizia-se que tinha acontecido algo na aldeia do Monte mas ninguém tinha visto nada. Eram um diz que disse de que tinham matado “quase todas as pessoas”. Mas não havia confirmação de nada.
No dia seguinte, ainda o Sol não tinha nascido, o Sr. Dessilva partiu com os dois almocreves em direcção ao Monte. Partiram mesmo sem a protecção de pastores imaginando que a veio da viagem encontrariam alguém com cães.
Apesar de não acreditar de que tivesse acontecido uma tragédia como a relatada, o Sr. Dessilva, decidiu que “à cautela, vamos levar cobertores para podermos passar a noite ao relento e mantimentos que dêem para 5 dias, suficientes para a viagem de ida e de volta.”
Quando chegaram ao cimo do monte, ainda não eram 12h, avistaram ao longe um rebanho de ovelha com dois ou três pastores. O Sr. Dessilva tirou uma luneta do bolso para tentar descobrir se os pastores eram realmente da aldeia. “Vamos ao encontro deles que são dos nossos, assobiem-lhes!” Como os pastores estavam já na encosta, passado pouco mais de meia hora, deu-se o encontro com o primeiro pastor.
– Então o que se passou lá em baixo? – perguntou o Dessilva.

– O Sr. Dessilva nem vai acreditar, mataram toda a gente e levaram as ovelhas e tudo de valor que havia na nossa aldeia. Neste momento só lá estão os militares que vieram do Vale.

Capítulo seguinte (43 - A destruição)

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Como estão as sondagens

As "sondagens móveis" já têm mais de 5000 repostas.
Pegando nas sondagens móveis da Intercampus e da Católica, a primeira conclusão que tiramos é que há um aumento médio de um deputado por dia para o PSD+PP.

Fig. 1 - Evolução da vantagem do PàF em deputados (assumindo que +1pp se traduz em +116/44 deputados)

Depois, pegando na média das sondagens.
Todos os dias são inquiridas cerca de 250 pessoas o que, nas duas consagens, dá mais de 5000 pessoas. Pegando nos resultados médios, temos:
         PSD+PP = 39,6%
                 PS = 34,0%
Assumindo uma amostra com 5125 respostas válidas com 27,1% de "abstenção ou não sei" e 60% de resposta ao telefonema, estes resultados traduzem os seguintes intervalos (probabilidade de 95%):
      PSD+PP = entre 37,9% e 41,3%
                   = entre 100 e 109 deputados

              PS = entre 32,4%e 35,7%
                   = entre 85 e 94 deputados

     Diferença = entre 2,8 pp e 8,3 pp
                   = entre 7 e 22 deputados

A probabilidade de maioria absoluta.
Mesmo assumindo que o PSD+PP ainda vai aumentar 5 deputados, é muito remota a probabilidade de conseguir os 116 deputados.

A maioria absoluta obriga a uma alteração estrutural.
Nas sondagens móveis, as pessoas que dizem irem-se abster ou que não sabem responder está na ordem dos 27% enquanto que, nas legislativas de 2011, a abstenção esteve em 41,93% + 2,66% de votos em branco (total de 44,59%).

As sondagens não votam.
O Passos Coelho está com medo (e o Costa com esperança) que, nesta diferença de 20 pontos entre os que respondem nas sondagens e, no final, vão votaram haja uma grande maioria de pessoas que dizem ir votar no PSD+PP.
Se for ao contrário e apenas nesta condição,o PàF terá maioria absoluta.

Pedro Cosme Vieira

domingo, 27 de setembro de 2015

42 - O lucro

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
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Ver o capítulo anterior (41 - A notícia)    




42 – O lucro
Os meses foram passando e tudo foi correndo bem. Um dia, decorridos já quase 6 meses desde que chegou a segunda fornada de europeus, depois do almoço, o Levinstone apareceu na ourivesaria do Sr. Jonas.
– Boa tarde Jonas, então como vai essa vida?
– Boa tarde Levinstone, a que devo esta honra? Apareceres por aqui assim sem aviso está-me a deixar um pouco preocupado! Será que se passa alguma coisa com os europeus? Será que voltaram os problemas?
– Não, não, nada disso, está tudo a correr muito bem. Eu passei por cá apenas para conversar um pouco contigo sobre o investimento que fizeste na viagem e também queria saber se tens tido notícias do Dessilva.
– Sim, tenho tido, sente-se bem por lá, já lhe perguntei quando pensa voltar pois está-me a fazer falta aqui mas ele está muito apegado às pessoas que lá vivem, diz que sofrem muito.
– Pois o António também me tem dito que há por lá muita miséria.
– Pois até pode ser assim mas não vejo o mais que possamos fazer. Tu com o Goldman e do Dacosta já fizeram um grande investimento e ainda estão a mandar 3000€ por mês para ajudar as crianças. Eu e o Dessilva também tivemos que fazer um grande esforço financeiro para que estas viagens pudesse ir para a frente. Por isso, penso que não há nada mais que possamos fazer!
– Sim, não podemos fazer mais nada, para mim não é tanto a questão financeira mas já não tenho idade para ter mais dores de cabeça. Mas eu vim aqui não foi para falar dos que vivem na aldeia mas sim para falar do teu investimento e das pessoas que estão cá. Estive a falar com o Goldman e decidimos devolver-te o dinheiro que meteste no projecto, tu e o Dessilva.
– Darem-nos os 100 mil €?
– Sim, sim e com 25% de juros. Também pensamos em aumentar o salário que estamos a pagar aos nossos irmãos europeus, é que estamos com remorsos de lhes estarmos a pagar tão pouco ... Mas, como tu és o promotor da vinda das pessoas, tenho que te vir perguntar o que achas desta nossa ideia.
– Mas vocês não me podem pagar e aumentar os salários pois têm primeiro que recuperar o vosso investimento! As pessoas quando vieram para cá foi com a condição de terem esse salário durante 5 anos e ainda estamos muito longe dos 5 anos!
– Mas nós já recuperamos o investimento e já temos 125 mil € para te pagar.
– Mas recuperaram o investimento como? Mas que investimento?
– Os 225 mil euros que metemos no projecto!
– Não pode ser! Vocês já recuperaram o capital que meteram no projecto?
– Está totalmente recuperado, temos 125 mil euros para te dar e ainda mais 100 mil euros para o nosso lucro. Pensei que já o soubesses! Cada semana, estamos a ter um lucro na ordem dos 10 mil €. Por isso é que te vim dizer que te queremos devolver o dinheiro que tu e o Dessilva meteram no projecto.
O Jonas ficou calado durante longos segundos, a pensar, olhando para o ar, abanando a cabeça, franzindo os olhos.
– O que dizes Jonas? Toma lá o cheque dos 125 mil €. Então, não dizes nada?
– Não, não, não, não, estava aqui a pensar, esta tua informação colheu-me totalmente de surpresa, é que eu nem tinha pensado nisso Como, depois de teres feito muitas contas, tinhas dito que o salário não poderia ser maior, imaginei que irias demorar os 5 anos a recuperar o investimento e que, portanto, por agora estarias sem dinheiro!
– Sim, mas enganei-me nas contas, o investimento já está recuperado e já tivemos o lucro que esperávamos ter. Por isso, comecei a sentir remorsos por estar a ter um lucro tão grande à custa dos nossos irmãos europeus!
– Pois, mas o meu pensamento é diferente, se estes vieram com a obrigação de trabalhar com este salário, assim devem continuar, vocês não os podes aumentar.
– Mas assim vou ficar ricos à custa deles!
– Isso não é para aqui chamado, eles comprometeram-se a determinadas condições e, se tu estás a ter lucro, também poderias estar a ter prejuízo, foi um negócio que fizeram. Além do mais, tu ficas risco mas eles também ficam contentes por terem sido resgatados da miséria. A questão que eu estava agora a pensar é que, sendo assim, já há dinheiro para podermos mandar vir mais uma fornada de pessoas. O Dessilva disse-me que há muitas pessoas na aldeia que querem vir para cá e essa margem de lucro tem que se manter porque é um incentivo para que tu te esforces para que essas pessoas possam vir.
– Mas, Jonas, não podemos mandar vir mais ninguém! Como é que vamos convencer os da imigração? Se foi difícil arranjar autorização de entrada para os 64 que cá estão, agora, não vamos conseguir os vistos de entrada.
– Estás a ver o que eu estava a dizer? Já desanimaste! Agora imagina que, se vocês investirem esses 225 mil € na vinda de mais 64 pessoas, se te esforçares a arranjar o visto de entrada, o teu lucro vai duplicar! Eu quero é que te esforces e que, mesmo que movido pela ganância, mandes vir mais pessoas, os rapazes para ti, as raparigas para o Goldman.
– Oh Jonas, amigo, mas eu não faço ideia de como vou convencer os da imigração!
– Eu, conhecendo-te como conheço, sei que vais encontrar uma solução, se for preciso, suborna-os! Não me interessa, vira-te como puderes que o lucro está à tua espera, do Goldman e do Dacosta. Leva o cheque de volta e trata de mandar vir mais gente.
– Eu não tinha pensado assim! Se achas que eu tenho direito a esse lucro, vou então falar com o Goldman e com o Dacosta, vou ver as obras que há por ai a ver se arranjo trabalho para mais homens! Pelo Dacosta, penso que não haverá problema com os apartamentos mas não sei se o Goldman terá capacidade para meter as mulheres, já está a trabalhar de dia e de noite. Vou então falar com eles.
O Levinstone foi pela rua em direcção à obra a matutar no problema moral de estar a enriquecer à custa dos irmãos europeus. “Vou falar com o António a ver o que ele diz”.
– Boa tarde António, preciso colocar-te uma questão.
– Boa Tarde Sr. Levinstone, espero que não seja nenhum problema cabeludo!
– É um problema mas não desses que estás a pensar. Quando o Jonas e o Dessilva nos pediram para vos mandar as cartas de chamada, propusemos o salário de 3,50€/h para os homens e 2,50€/h para as mulheres porque imaginamos que a vossa capacidade de trabalho seria pouca. Acontece que, agora, achamos que vos estamos a explorar e, por isso, tínhamos pensado em vos aumentar o ordenado!
– Isso não me parece problema nenhum Sr. Levinstone, isso é uma óptima notícia!
– Sim, mas agora vem o problema. Como sabes, o Jonas, juntamente com o Dessilva, foi o promotor da vossa viagem e, por isso, é ele que tem a última palavra. Assim, fui falar com ele e, estranhamente, ele é contra!
– É contra? Mas isso não o afecta em nada! Porque razão é o Sr. Jonas é contra essa ideia?
– Argumentou ele que, havendo muitas mais pessoas na aldeia que querem vir para cá, que vocês foram os escolhidos mas que poderiam ter sido outros, que é vossa obrigação trabalhar a esse salário para que a margem de lucro me incentive a mandar vir mais pessoas da aldeia. O que é que pensas disto?
– Antes de poder responder, preciso saber se, no caso de o Sr. Levinstone nos aumentar, manda depois vir mais alguém.
– Não, nem pensar nisso, já tenho dores de cabeça que cheguem e não vou conseguir arranjar os vistos na imigração!
– E, se mantiver o nosso salário, manda vir mais pessoas?
– Bem, sabes como é a ganância humana! Se mantiver a margem de lucro que o contrato me permite ter, talvez ganhe ânimo, talvez me esforce para que venham mais pessoas. Até já estou a pensar em arranjar um sócio e procurar uma nova obra onde possa meter as pessoas.
– Então Sr. Levintone, não tenho dúvida nenhum. Mantenha os nossos salários como estão no contrato e esforce-se para que os nossos irmãos possam vir porque, lá na aldeia, estão a sofrer muito. Nós temos um contrato consigo de 5 anos e, tanto nós como todos os outros que mandar vir, iremos cumprir esse contrato até ao último dia. O Sr. Levinstone não tenha remorsos disso pois, se está a ganhar dinheiro, para nós e para todos os que vai mandar vir, o ganho é muito superior.
– E achas que, se arranjássemos vistos, quantas pessoas haverá na aldeia a querer vir?
– Meu Deus, mesmo com as condições impostas pelo Sr. Dessilva, nós fomos escolhidos de entre mais de mil candidatos! Se o Sr. Levinstone puder mandar vir mais 64 pessoas, ainda ficam centenas e centenas à espera sem poderem vir. Mas se não conseguir mandar vir 64, que venham os que for possível, nem que seja uma só pessoa já será melhor do que nada!
– O problema vai ser arranjar os vistos, vou falar com o Goldman a ver o que ele pensa.
– E eu queria também pedir uma coisa ao Sr. Levinstone que talvez o deixe aborrecido.
– Diz lá António, estou aqui para ouvir a ver se é possível.
– Gostávamos de mandar vir algumas das nossas crianças. Já cá estamos há mais de um ano, temos dinheiro para o bilhete, emprego, casa e, por isso, penso que já podemos mandar vir alguns dos nossos filhos. Eu também mandava vir o meu filho  mais velho, falei no talho e eles empregam-no. Se o Sr. Levinstone falasse com os seus sócios e achassem bem, mandávamos vir algumas crianças.
– Mas António, isso vai custar dinheiro, a viagem das crianças menores que 12 anos é só meio bilhete mas, depois aqui, vai ser preciso o alojamento e a alimentação!
– Se o Sr. Levinstone autorizar, nós cá nos arranjaremos, a minha nora fica a tomar conta das crianças. 
– Eu não vejo porque não hão-de vir, vou então também tratar disso, para que também possam vir algumas crianças.

Capítulo seguinte (43 - O mistério)

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

A determinação do "erro da sondagem"

OK, hoje o Costa vai-se deitar com azia. 
A sondagem da TVI deu PSD+PP = 37,0% e PS = 32,3%
A sondagem da TV 1 deu PSD+PP = 42,0% e PS = 37,0%
Sendo que outra sondagem disse que o PS estava um poucochinho à frente, os leitores devem-se perguntar se podemos afirmar com base nestas duas sondagens de que, o povo português está maioritariamente  com o PSD+PP.

1) Posso já dizer que a vantagem do PSD+PP sobre o PS é significativa a 95%.

2.1)Que a votação no PS está entre 31,2% e 36,2% com probabilidade de 95%;
2.2) Que a votação no PSD+PP está entre 36,9% e 42,3% com probabilidade de 95%;
2.3) E que a vantagem do PSD+PP sobre o PS está entre 1,5 pp e 10,3 pp com 95% de probabilidade

Vamos agora ver como eu pude dar estas respostas a partir das sondagens de hoje.

Anda cá Costa, que nunca passarás de Presidente de Câmara

A perspectiva Clássica.
Neste quadro conceptual, eu assumo que na população ambos os partidos têm os mesmos votos e calculo, depois, a probabilidade de observar uma amostra teórica com uma diferença maior ou igual que a observada na sondagem. 

H0: A percentagem do PSD+PP é igual à percentagem do PS. 
H1: A percentagem do PSD+PP é diferente da percentagem do PS.

Para responder a esta questão tenho que assumir que ambos os partidos têm na população a mesma percentagem dada pela média das sondagens, ponderado pelo número de respostas.

H0: ambos os partidos têm (37,0%+32,3%+42%+35%) / 4 = 36,575%

Agora, tenho que refazer a amostra
Casos válidos = 1024+1027 = 2051
Abstenção e não respostas = (25% + 7%)*1027 + 22,2%*1024 = 556 => 27,1% dos casos válidos
Respostas no PSD+PP e no PS => (2051 - 556) * 36,575% = 547 => 26,7% dos casos válidos
Respostas nos outros partidos = 2051 - 556 - 2*547 = 401 => 19,5% dos casos válidos
Sucessos no telefonema =(59,5% + 61%)/2 = 60,25%

Agora, vou retirar 10000 amostras.
Para isso, vou usar o programa R

Resultado.
A distância de zero aos percentis 2,5% e 97,5% é de 4,2 pontos percentuais.
Como a média das duas sondagens indicam uma vantagem do PSD+PP de 4,85 pontos
    ((37,0% - 32,3%) + (42% - 37,0%) )/2 = 4,85
A perspectiva clássica apenas permite dizer que
Pode-se rejeitar H0 (a hipótese de que ambos os partidos estão empatados) ao nível de sigificância de 5%.

A perspectiva Bayesiana.
Neste quadro conceptual, eu conheço a amostra e vou, num espaço de populações, ver que população poderia dar origem a amostra que tenho.
Apesar de parecer uma perpectiva estranha, só assim posso determinar os "intervalos" das votações dos partidos e da vantagem.

Agora, tenho que refazer o cálculo
Casos válidos = 1024+1027 = 2051
Abstenção e não respostas = (25% + 7%)*1027 + 22,2%*1024 = 556 => 27,1% dos casos válidos
Respostas no PSD+PP => (37,0%*1024 + 42%*1027)*(1-27,1%) = 591 => 28,9% dos casos válidos
Respostas no PS => (32,3%*1024 + 35%*1027)*(1-27,1%) = 503 => 24,6% dos casos válidos
Respostas nos outros partidos = 2051 - 556 - 2*547 = 401 => 19,6% dos casos válidos
Sucessos no telefonema =(59,5% + 61%)/2 = 60,25%

Resultados.
Posso apresentar resultados mais ricos.
O PS está entre 31,2% e 36,3% com probabilidade de 95%;
O PSD+PP está entre 36,9% e 42,3% com probabilidade de 95%;
A vantagem do PSD+PP sobre o PS está entre 1,5 pp e 10,2 pp com 95% de probabilidade
A probabilidade de o PSD+PP estar acima do PS é de 99,6%;
A probabilidade de o PSD+PP estar acima dos 44% é de 0,1%.

As vantagens do uso de métodos de simulação.
É que não preciso saber qual é a função de distribuição da população nem dos estimadores.

Código de R utilizado
#Para a perspectiva clássica
#Primeiro, os dados da amostra retirados da TVI e da RTP1
resp.validas <-2051; perc.resp <- 0.6025; perc.abst <- 0.271

# Vamos determinar sob a hipotese H0: perc.ps = perc.psd.pp
#Percentagem dos partidos num telefonema válido
prob.ps <- 0.267; prob.psd.pp <- 0.267; prob.outros <- 0.195

# Agora, vou repetir a experiencia muitas vezes (vou fazer 10000)
 ps<-0;  psd <- 0
 for (i in 1:10000)
   {
    # Vou telefonar até obter 2051 respostas válidas
    #1 é PS; 2 é PSD+PP; 3 são outros; 4 é abstençao e 5 é chamada não valida
    # vou extrair muitos telefonemas
    amostra<-sample(1:5,2*resp.validas,prob=c(prob.ps,prob.psd.pp,prob.outros,perc.abst,1-perc.respostas), replace=TRUE)
    # Agora, escolho as primeiras respostas válidas até dar 2051
    amostra <- amostra[amostra!=5][1:resp.validas]
    #Guardo as respostas nos 2 partidos maiores
    ps[i] <- table(amostra)[1]
    psd[i] <- table(amostra)[2]
   }

# finalmente, já posso calcular o desvio entre zero e os percentis 2,5% e 97,5%
(sort(ps-psd)[10000-250]+sort(ps-psd)[10000-250])/2/(resp.validas*(1-perc.abst))

# Para a perspectiva bayesiana
#Primeiro, os dados da amostra retirados da TVI e da RTP1
resp.validas <-2051; perc.resp <- 0.6025; perc.abst <- 0.271

# Vamos determinar sob a hipotese H0: perc.ps = perc.psd.pp
#Percentagem dos partidos num telefonema válido
prob.ps <- 0.246; prob.psd.pp <- 0.289; prob.outros <- 0.195

# Agora, vou repetir a experiencia muitas vezes (vou fazer 10000)
 ps<-0
 psd <- 0
 for (i in 1:10000)
   {
    # Vou telefonar até obter 2051 respostas válidas
    #1 é PS; 2 é PSD+PP; 3 são outros; 4 é abstençao e 5 é chamada não valida
    # vou extrair mais telefonemas
    amostra<-sample(1:5,2*resp.validas,prob=c(prob.ps,prob.psd.pp,prob.outros,perc.abst,1-perc.respostas), replace=TRUE)
    # Agora, escolher as primeiras respostas válidas
    amostra <- amostra[amostra!=5][1:resp.validas]
    #Agora vejo as respostas nos 2 partidos maiores
    ps[i] <- table(amostra)[1]
    psd[i] <- table(amostra)[2]
   }

#Valor mínimo e máximo do PS
sort(ps)[250]/(resp.validas*(1-perc.abst))
sort(ps)[10000-250]/(resp.validas*(1-perc.abst))

#Valor mínimo e máximo do PSD+PP
sort(psd)[250]/(resp.validas*(1-perc.abst))
sort(psd)[10000-250]/(resp.validas*(1-perc.abst))

#Valor mínimo e máximo da diferença PSD+PP - PS
sort(psd-ps)[250]/(resp.validas*(1-perc.abst))
sort(psd-ps)[10000-250]/(resp.validas*(1-perc.abst))

#Probabilidade de o PSD+PP ficar à frente do PS
margem  <- psd-ps
(length(margem[margem>0]+length(margem[margem==0])/2))/10000

#Probabilidade de PSD+PP ter mais de 44%
resultado.psd<-psd/(resp.validas*(1-perc.abst))
length(resultado.psd[resulta.psd>0.44])/10000

Pedro Cosme Vieira

quarta-feira, 23 de setembro de 2015

41 - A notícia


Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
______________________

Ver o capítulo anterior (40 - A oportunidade)    




41 – A notícia
Na aldeia, apesar de se saber que a viagem estava suspensa “por causa de um problema que o António há-de resolver”, o Dessilva continuava a dar as aulas de inglês como se, a qualquer momento, fosse chegar a ordem de marcha para os 15 casais de jovens que foram seleccionados para a segunda viagem. Todos os dias ao jantar o Dessilva dizia “Amigo Costa, temos que acreditar pois a esperança tem que ser a última a morrer”. No entanto, como o passar dos meses, as pessoas começaram a desconfiar que o “problema” que o Sr. Dessilva tinha referido no dia em que voltou era mais grave do que anunciado e que, o mais certo, seria o António não ser capaz de o resolver. O desânimo minava porque, estando previsto que a segunda viagem seria 6 meses depois da primeira, decorridos já 9 meses ainda não havia qualquer ideia de quando poderiam partir. Além do mais,apesar de o Dessilva dizer continuamente de que “A ordem de marcha vai chegar a qualquer momento”, via-se na sua expressão facial que não ia ser assim.
“Será que falhei na escolha do António? Será que, contrariamente ao que eu avaliei, o António é incapaz de resolver o problema?” pensava o Dessilva.
Mas um dia, ainda o Sol não tinha nascido, alguém bateu energeticamente à porta do Sr. Costa gritando “Sr. Costa, Sr, Costa, tem aqui uma carta da América dirigida ao Sr. Dessilva”. É que o Polícia Vieira, sabendo da preocupação das pessoas, tinha enviado ainda de noite uma pessoa do Vale trazer esta carta à porta da aldeia, a partir da qual, um moço foi a correr levar à casa do Sr. Costa para que o Sr. Dessilva a pudesse ler imediatamente. Foi a Sr.a Celeste que abriu a porta que já estava na cozinha a preparar o pequeno almoço.
– Bom dia moço, o que se passa então?
– Tenho esta carta que chegou hoje mesmo da América e que vem dirigida ao Sr. Dessilva!
– Uma carta! Mas a porta ainda está fechada!
– O Polícia Vieira mandou-a por um paquete!
–Dá-ma então cá e pega 50 cêntimos que eu mesmo a entrego ao Sr. Dessilva.
Mesmo sabendo que o Sr. Dessilva ainda estava a dormir, a Sr. Celeste foi bater-lhe à porta do quarto. “Sr. Dessilva, Sr. Dessilva, acorde se faz favor porque chegou agora mesmo uma carta da América. Devem ser as boas notícias de que estamos todos à espera!”
– Entre, entre Sr.a Celeste, esperemos que sejam boas notícias!
O Dessilva abriu a carta a medo pois poderia ser a dizer que o problema com o Joaquim tinha piorado e que, por mais, mais ninguém poderia partir. A carta era curta e codificada para evitar a intersecção da informação pelas autoridades do Vale:
Amigo Dessilva,
Quando meti os teus 31 peixes no lago, houve alguns que não se adaptaram, batiam contra as paredes e mordiam os outros. Acontece que, uma noite, aqueles a quem chamavas Joaquim, Aires e Órfã saltaram do lago e acabaram por morrer. Agora, como o lago tem capacidade para 64 peixes, vai ser preciso adquirir mais 36. Só é preciso que me mandes a lista dos que queres para que eu os possa adquirir.
Um abraço do teu amigo Jonas
– Graças a Deus que são boas notícias, os jovens vão poder partir e mais do que os previstos, vou ainda ter que ir à lista dos suplentes buscar mais 3 casais! Mas também estão aqui más notícias, o Joaquim, o Aires e a Órfã morreram, não sei em que circunstâncias, mas vai ser preciso alguém avisar as famílias e talvez pedir ao Padre Augusto para que dobre o sino e reze uma missa em respeito pelas suas almas – disse o Dessilva.
– Demos graças a Deus – repetiu a Sr.a celeste - eu trato disso mas antes vou ter que avisar o Sr. Costa!
Quando nessa mesma manhã o sino dobrou a dobrar, toda a gente ficou a saber que morreu alguém pelo que se procuraram informar. Como o Sr. Dessilva nunca falou dos problemas, a notícia que circulou foi que “Houve um acidente na América no qual morreram o Joaquim, o Ariel e a Órfã, paz às suas almas.”
O Sr. Dessilva, depois de confirmar quais as pessoas iriam seguir viagem, escreveu numa carta a lista dos 36 nomes e pediu que alguém, no dia seguinte, a fosse levar à Aldeia do Norte para que no Vale ninguém ficasse a saber que os jovens iriam emigrar.
No dia seguinte bem cedo, dois pastores fizeram-se ao caminho para Norte com o fim de meter a carta ao correio. Também muitas pessoas aproveitaram para enviar notícias para os seus familiares que estavam na América havia 9 meses sem novidades da aldeia. Porque o tempo estava bom, ainda estávamos no princípio do Outono, a viagem correu muito bem. Por 10€, os pastores passaram a noite numa arrecadação da estalagem e ainda comeram uma sopa quente que, com o que levavam, fez um bom jantar. No dia seguinte, antes do pôr do sol já estavam de volta à aldeia.
Nessa noite ao jantar, o Dessilva fez uma proposta ao Sr. Costa.
– Sabe Costa, estou com esperança de esta viagem não vá ser a última e, como já estou a ficar um pouco gasto, vou ter que arranjar alguém mais jovem que acompanhe os jovens na nas próximas viagens principalmente na parte da travessia do monte!
 – O Sr. Dessilva acha mesmo que mais pessoas poderão partir para a América?
– Penso que a pior parte está feita. Estando resolvido o problema do Joaquim, se estes 36 que vão nesta segunda viagem se comportarem bem, conhecendo eu como o Levinstone, o Goldman e o Dacosta gostam de ter lucro, mais pessoas serão chamadas!
– Mas quem são essas pessoas de que o Dessilva nunca antes falou?
– São quem envia as cartas de chamada, financia a viagem e arranja trabalho para os nossos jovens, são pessoas que fazem o bem mas desde que lhes dê lucro.
– E o Dessilva está a pensar em alguém em particular para o acompanhar na viagem?
– Estou a pensar numa pessoa que seria a certa. Essa pessoa está mesmo aqui, é o amigo Costa. Tendo menos 20 anos do que eu, até ter a minha idade ainda vai poder fazer muitas viagens.
– Bem Sr Dessilva, eu até gostava de ajudar mas não sei nada dessa viagem, conheço o caminho do monte, a aldeia do Norte, a cidade mas não conheço mais nada, pouco sei de inglês, acho que não vou ser capaz!
– Eu tenho a certeza que o Costa é capaz, é um homem culto, viajado, negocia em feiras, já lidou com todo o tipo de pessoas e essas falhas que apontou podem ser corrigidas. Primeiro, pode frequentar a escola de inglês e, mesmo nesta primeira viagem sabendo pouco inglês, acompanha-me para ganhar experiência e a confiança das pessoas que já tenho do nosso lado, o estalajadeiro e o chefe da estação. Depois, aos poucos, vai ganhando experiência e vai ver que tudo se tornará fácil.
– Sendo assim, aceito ser o seu aprendiz.
Chegado a Outubro, num dia sem chuva, o Dessilva, o Costa, os jovens, os carregadores com os burros e os pastores com os cães fizeram a travessia do monte. Na aldeia do Norte, o estalajadeiro aceitou, agora sem protestos, que as pessoas as pessoas e os animais passassem a noite no curral do gado, agora por 525€ por haver mais 5 pessoas. Na estação de caminhos de ferro também não houve problemas pois o chefe da estação, sabendo que iria ficar com os mais de 3300€ da diferença entre os 38 bilhetes de 3.ª classe que iria cobrar e o bilhete da carruagem de carga onde as pessoas iriam fazer a viagem, até ficou todo contente, preparou uma carruagem de carga com bastante palha, uma divisão para dar alguma privacidade, fartura de lenha para o fogareiro e reforçou a água mandando meter dois pipos na carruagem. Na fronteira, instruídos pelo chefe da estação, ninguém se aproximou sequer da carruagem e, chegados Amesterdão, tudo correu pelo melhor.

Na América, a integração correu bem e os agora 64 jovens reforçaram a reputação de que eram tementes a Deus, trabalhadores e dígnos de confiança. O António sentia remorços por ter matado aqueles 3 mas, ao olhar para aqueles 36 companheiros, não deixava de pensar que “se aqueles 3 não tivessem morrido, nunca estes poderiam ter vindo para a América.”

Capítulo seguinte (42 - O Lucro)

segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Todos ganharam menos o Varoufakis

No Domingo foram as eleições Gregas e o Syrisa voltou a ganhar. 
Por causa do Tsipras ter adoptado o caminho da Austeridade, muitos dos deputados do ex-Syriza revoltaram-se, o que obrigou a que houvesse novas eleições para o parlamento grego.
Mesmo com a saída dos revoltosos, o abraçar (contrariamente ao prometido) da austeridade e a perda da "estrela" Varoufakis, o Tsipras conseguiu 145 deputados (contra 149 em Janeiro).

O António Costa já veio colar-se à vitória do Syriza (mas a medo).
Isso mostra porque vai sofrer a maior derrota desde Estalinegrado. 
É que o Costa quer jogar sempre pelo seguro, a semana passada não se revia (nem deixava de rever) no Syriza porque havia o risco de perder mas, agora que se sabe que ganhou, já veio dizer que "abre uma nova oportunidade".
Interessante não falas do Partido Socialista Grego que ficou pelos 6% dos deputados.

Para o Passos Coelho+ Portas também foi uma vitória.
Porque na Grécia, no fundo, o partido "neoliberal e da austeridade" é o Syriza.
Fica assim provado que o povo grego aceitou que não existe nenhum "outro caminho" além do "caminho da austeridade"
Não existe o "bater do pé à Europa" nem um "caminho de emprego e crescimento" alternativo ao "caminho da austeridade neoliberal" anunciado pelos esquerdistas (onde se inclui o PS do António Costa).
Em Portugal, o único caminho será então o "caminho do Passos Coelho."

Na Grécia o partido mais votado tem um bónos de 50 deputados (16,7% do total).
O PS deveria pensar nisso para cá.
Em Portugal, um partido precisa quase 44,5% dos votos o que, dada a dispersão da esquerda, é difícil de conseguir pelo PS. 
Se, por exemplo, 23 deputados fossem atribuídos ao partido mais votado (10% do total), um partido com cerca de 39% já teria maioria absoluta o que melhoraria as possibilidades do PS vir a formar, no futuro, um governo maioritário.
Talvez o melhor fosse que 207 deputados fossem distribuídos pelos actuais círculos eleitorais e, no final das contas, o partido mais votado escolheria, dentro das listas dos deputados, os 23 que queria que fossem cooptados para o parlamento.

O Varoufaquis foi o único derrotado.
Isso só mostra como a sua capacidade é pouca.
Tendo previsto que o Syriza estava acabado, errou completamente, o partido esquerdista que surgiu da cisão e que o Varoufakis apoiou é que não conseguiu eleger um único deputado.

E como vão as sondagens por cá?
A coligação PSD+PP vai definitivamente à frente.
Na sondagem da Católica, somando os dias todos já leva telefonemas para 1617 pessoas das quais responderam 970, declarando 260 o seu voto no PSD+PP e 243 no PS.
Estes números é o melhor que consigo "adivinhar" com a informação publicada.
Agora, vou pegar nestes números e, usando boostraping, ver qual a probabilidade de o PSD+PP estar mesmo à frente (e não em empate técnico).

O resultado foi 97%!
O PSD+PP está com uma probabilidade de 97% de, no dia 4 de Outubro, ganhar as eleições.
Existe uma probabilidade de 97% de acontecer ao António Costa o mesmo que ao Porta Voz do Saddam (Mohammed Saeed al-Sahaf) que, depois de no Hotel Palestina cantar vitória das tropas leais ao Saddam contra os americanos, "foi à casa de banho" para não mais aparecer.
Por falar no Seguro, esse é que vai ter a sua vitória, até pode ter um ataque do coração.

Fig. 1 - Hoje, 4 de Outubro, aconteceu uma estrondosa vitória do Estado Social sobre os neo-liberais de direita (discurso de Costa, antes de "precisar ir à casa de banho").

#Código de R que utilizei. 1 é PS, 2 PSD+CDS e 3 Outros + Não sabe + Não respondeu
total=1617; PS=246; PSD.PP= 290
dados<- c(rep(1,PS), rep(2,PSD.PP), rep(3,total-PS-PSD.PP))

# Simulo por boostraping 10000 sondagens
 ps<-0; psd <- 0
 for (i in 1:10000)
   {amostra<-sample(dados, total,replace=TRUE)
   ps[i] <- table(amostra)[1]
   psd[i] <- table(amostra)[2]}

#Calcula a probabilidade de PSD+CDS ganhar
res <- ps-psd
(length(res[res<0])+length(res[res==0]))/length(res)

Já não existe empate técnico.
O Costa, tal como o Varoufaquis e o PS grego, afundou-se definitivamente.
Vamos ter um governo minoritário mas, com o desmoronar do PS, tudo é possível. 

E a pretalhada?
Não há volta a dar, ou se faz um muro a cercar a Europa Ocidental ou vai ser preciso voltar ao modelo político da Europa do Sec. XIX (a Europa Imperial) em que os diferentes povos tinham direitos diferentes.
Inicialmente, os países sem fronteiras exteriores (Alemanha, Suécia, Austria, Noruega, Finlândia, etx.) começaram a mandar recados mas agora, com os refugiados a baterem-lhes à porta, estão calados.
Hoje já ouvi dizerem "queremos ir para um qualquer país europeu"
Talvez por isso é que o Louçã está calado!
No Império Português eram todos iguais, não havia distinção legal entre brancos, pretos, indianos e chineses  mas, depois, havia "os que nasceram ou têm um antepassado até à terceira geração que nascido na Europa" e os outros.

Fig. 2 - Como diz o povo, a coisa está mesmo preta.

Eu acho graça a história daquele refugiado que apanhou um pontapé.
E que agora vai ser treinador num clube qualquer espanhol.
Mas não foi a Espanha o primeiro país a fazer uma vedação em arame farpado para que os refugiados não entrassem em Ceuta?
Com a chicotada psicológica que se advinha no Benfica ... quem sabe, vir um refugiado de Ceuta!

Fig. 3 -É interessante haver jornalistas espanhóis na Hungria e não haver nenhum em Ceuta.

(22/9) A pedido, aqui vai
Como pediram algo gostosinhos, aqui vai uma imagem de uma campanha publicitária sobre a Praia da Vitória, Estado do Espírito Santo, Brasil (521 km a Norte da ciade do Rio de Janeiro, ver).
Realmente, a água é cristalina.

Fig. 4 - Esta menina vai mostrar os Segredos da Vitória
 
 
Pedro Cosme Vieira

domingo, 20 de setembro de 2015

40 - A oportunidade

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
______________________

Ver o capítulo anterior (39 - O acidente)    




40 – A oportunidade
Nessa noite não houve mais barulho e, no dia seguinte, as pessoas levantaram-se bem cedo e foram trabalhar como se nada tivesse acontecido durante a noite anterior, ninguém dizendo uma única palavra sobre o acontecido. Como a janela por onde foram atiradas as pessoas ficava para as traseiras, para um fosso de ventilação, só quando o dia estava alto é que alguém da vizinhança foi à janela e reparou que havia três corpos lá no fundo. Veio a polícia que recolheu pistas no sentido de descobrir de onde teriam caído os corpos o que, por causa das barbas, foi uma tarefa fácil. Bateram à porta do apartamento mas, como não estava ninguém, foram à obra falar com o António.
– Bom dia, o Sr. António Espírito Santo reconhece estas pessoas? – os polícias mostraram-lhe as fotografias dos 3 cadáveres.
– Conheço sim, moram, na mesma casa que todos nós – e apontou para os companheiros que estavam a trabalhar na obra juntos dele – ou melhor, estou a ver que moravam!
– E o Sr. faz ideia do que aconteceu que fez com que estas pessoas, hoje de manhã, tivessem sido encontradas neste estado?
– Não sei de nada Sr.s Polícias, não sei de nada, trabalho muito pelo que tenho o sono pesado, deve ter sido esta noite pois ainda ontem falei com essas pessoas mas, não dei conta de nada. O mais certo é terem sido vítimas de um acidente qualquer, talvez a pôr a roupa a secar e talvez eu já não estivesse em casa. Os acidentes estão sempre a acontecer!
– Mas os vizinhos dizem que a meio desta última noite, no apartamento onde o senhor mora e de onde estas pessoas caíram, houve muita confusão, muito barulho!
– Não sei de nada. Sei que essas pessoas, normalmente, quando chegavam a casa faziam muito barulho e ontem não deve ter sido um dia diferente mas, como já lhes disse, não ouvi nada. Ontem estava particularmente cansado e, como já estava habituado ao barulho, nem dei por nada. É que eu trabalho muitas horas, trabalho aqui 12h por dia, seis dias por semana o que, como podem ver, sendo um trabalho cansativo, quando me deito na cama, adormeço profundamente. Se, por exemplo, me deitasse agora aqui no meio do chão, era capaz de adormecer imediatamente.
– E o que é que as pessoas disseram antes de terem caído da janela? É capaz de me dizer alguma coisa pois as pessoas referem que falaram muito mas que não perceberam nada por falarem uma língua desconhecida!
– Como já lhes disse, eu não ouvi nada, sai de manhã bem cedo sem nada saber e, se não fossem agora os Sr.s Polícias me virem com a notícia, ainda nada saberia.
Depois, os polícias foram falar com os outros homens que estavam na obra tendo mesmo o marido da Órfã, uma das vítimas, dito que, porque ouvia mal, não tinha dado conta de nada, de manhã deu conta que a mulher não estava em casa mas tinha pensado que tinha ficado a fazer o turno da noite. Mais tarde, a polícia falou com a Ana, a mulher do Joaquim, e com a mulher do Aires que também disseram não ter dado conta de nada.
– Como é possível que ninguém tenha ouvido nada? – perguntavam os polícias uns aos outros. Os peritos entraram no apartamento, e ficaram admirados por, havendo 31 pessoas naquele espaço, “ninguém ter dado conta de nada”. “Esta história está muito mal contada, devem estar todos implicados no assunto”. Mas, depois de tentarem recolher indícios de algum crime, não conseguiram descobrir nada. “Se soubéssemos o que os mortos disseram antes de cair, talvez tivéssemos alguma pista mas, como ninguém da vizinhança compreendeu o que foi dito, estamos no escuro.”
Desta forma, passados alguns dias, as mortes tiveram que ser classificadas como Queda Provavelmente Acidental. “Talvez uma pessoa tivesse caído por estar alcoolizada e as outras, também alcoolizadas, procurando saber onde ela estava, tivessem ido atrás.” Não parecia muito plausível mas, por um lado, a cortina de silêncio não permitia pegar em nenhum fio da meada e, por outro lado, também eram apenas 3 desgraçados, imigrantes miseráveis que, se não interessavam aos seus, muito menos interessavam aos americanos. Então, veio o resultado final: “Caso Arquivado”.
Se antes a regra era o barulho e a confusão, desde aquela noite, a regra passou a ser a paz e a harmonia e, no trabalho, os europeus recomeçaram a ser vistos como trabalhadores de confiança.
O António tinha remorsos por ter matado 3 pessoas assim de uma assentada. Pensava do tempo em que eram pequeninas a correr e a brincar pelas ruelas da aldeia, a perseguir e a apanhar borboletas no monte, a pescar nos riachos, como eram inocentes aquelas crianças! Depois, tinha-os visto tornarem-se jovens, cheios de brio, energia e força, nos encontros do “puxar a corda” e a trabalhar, a pastorear as ovelhas e as cabras pelas encostas agrestes, a lavrar o campo. Como dançavam e cantavam nos dias de festa. Recordava-se de lhes ter vendido a carne para os seus casamentos e para os baptizados dos filhos, de os ter como companheiros na escola de inglês, com tanto empenho, tanta esperança num futuro melhor e tudo isso terminou com um grito de 2 segundos.
No fim da semana, o António foi pagar a renda ao Sr. Dacosta, tendo aproveitado para agradecer “a paciência destes últimos meses.”
– Agradeça antes ao Jonas – Disse o Dacosta.
Depois destas palavras, o António não podia adiar mais ir justificar-se junto do Sr. Jonas. “Não sei como isto vai correr, sempre era sobrinho dele”. Mas, apesar do receio, tinha que ir para tentar desbloqueava o problema das cartas de chamada.
– Boa noite, Sr. Jonas, por favor, estive há bocado a pagar a renda e o Sr. Dacosta disse que eu precisava falar consigo, agradecer-lhe o facto de não termos sido despejados por causa do barulho!
– Ai esse homem, o Dacosta! Realmente, há uns meses, ele veio-me dizer qualquer coisa sobre o despejo mas era apenas conversa. Ele até já veio falar comigo, envergonhado, para me agradecer ter-lhe metido juízo na cabeça, era o que faltava, despejar os nossos irmãos com a renda em dia!
 – Muito obrigado Sr. Jonas pela compreensão até porque o seu sobrinho perdeu a vida no acidente!
– Não te preocupes com esse que já é passado, teve uma oportunidade e não a soube aproveitar. Deixemos isso que já passou, olhando agora para o futuro, parece que já está tudo novamente bem encarreirado!
– Pela nossa parte está totalmente encarreirado e por isso é que falamos lá em casa se não seria possível mandar vir os que ficaram à espera de fazerem a viagem. Talvez o Sr. Jonas pudesse com o Sr. Levinstone, o Sr. Goldman e o Sr. Dacosta a ver se seria possível mandar as cartas de chamada e organizar a viagem!
– Da última vez que falei com eles, a coisa estava feia mas está certo, Domingo, depois da missa, vamos os dois falar com eles a ver o que têm a dizer. No fundo, eles têm o dinheiro da viagem empatado na minha mão e não estão a tirar nenhum benefício disso.
No Domingo, como combinado, no fim da missa, o António e o Jonas intersectaram primeiro o Levinston.
– Bom dia Levinston, estava eu aqui a falar com o António a ver se seria possível mandares, como prometido, as cartas de chamada para os que ficaram para trás! Como sabes, eu prometi que poderiam vir 30 casais e ainda só viera 15! – Disse o Sr. Jonas
– Sabes que houve problemas na obra, havia uns fulanos que não faziam nada, roubaram ferramentas e materiais ... aquilo foi um 31.
– Sim Sr. Levinstone, mas como já deve ter sabido, essas pessoas morreram e esses valores roubados já foram repostos!
– Eu sei, eu sei, era isso que eu ia dizer, aquilo foi um 31 mas, desde que ouve o tal acidentem, nunca mais tive problemas, estou muito contente com as pessoas, se esses que estão lá à espera das cartas de chamada forem como os 14 que agora tenho ...
– Garanto-lhe que são trabalhadores, tementes a Deus e cumpridores da sua palavra, dessa espécie não vai aparecer mais nenhum e, se aparecer, vai pelo mesmo caminho – disse o António.
– Se o António me garante isso, podemos então avançar com esses 15 homens, só espero que venham o mais rapidamente possível pois trabalho não me falta desde que seja, como combinado, a 3,50€/h. Como sabe, tenho que pagar a viagem, os papeis e ainda estou a financiar parte das mesadas que o Dessilva entrega às crianças lá na aldeia.
– Eu compreendo, Sr. Levinstone, as condições são essas e, se alguém não as quiser aceitar, fica lá.
– Vamos então falar ao Goldman por causa das raparigas! “Goldman, anda cá! Precisamos dar-te uma palavrinha sobre as raparigas!”
– Que se passa Levinston? Mas que raparigas?
– Estamos aqui a falar em mandar vir as 15 mulheres que estão lá na aldeia à espera da carta de chamada, eu tenho trabalho para os rapazes! Achas que arranjas trabalho as raparigas?
– Se arranjas para os homens, eu arranjo para as mulheres mas gostava de meter um sócio, alguém da confraria que esteja disponível, um jovem que tenha energia pois eu já estou a ficar cansado – disse o Goldman.
– Estou aqui a pensar em nomes – disse o Jonas – naquele rapaz novo, como é que se chama, o filho do, do, do Aaron, o que acabou agora os estudos na universidade, o rapaz vem sempre à missa e é muito dinâmico, penso que te podia ajudar muito até porque tem estudos. No outro dia estive a falar com o pai que me disse a vontade do filho em estabelecer-se, o problema é que não tem dinheiro para investir!
– Dinheiro não é problema porque estou a pensar usar as mesmas máquinas e instalações abrindo o turno da noite. Fica então assim combinado, eu meto as raparigas e logo à tarde vou falar com o Aaron para acertarmos a coisas com o filho. Agora ainda é preciso falar com o nosso outro sócio, temos que falar com o Dacosta para arranjarmos o apartamento “Oh Dacosta! Anda cá que precisamos de ti!”
– Mas que se passa – disse o Dacosta enquanto se aproximava – isso já parece uma manifestação!
– E que estamos aqui a combinar a vinda de mais 15 casais mas precisamos de um apartamento!
– Querem mandar vir 30 pessoas? E porque não 36? Há 4 lugares livres no apartamento actual e arranjo um novo para 32 pessoas, arranjo o apartamento mesmo ao lado, ficam com as entradas encostadas mas o preço terá que ser o mesmo, 1500€ por semana!
– OK, combinado, ninguém está a regatear o preço!
–E ainda tens dinheiro para a viagem? – perguntou o Levinstone ao Jonas.
– Penso que ainda tenho mas deixa-me fazer contas, eu entrei com 50 mil e o Dessilva com outros 50 mil e esse dinheiro está lá para ir pagando as despesas. A viagem de navio custou 3250€ cada um, somou pouco mais de 100 mil. Por isso, ainda tenho quase 100 mil, para 36 bilhetes, realmente, é capaz de não chegar, vocês não poderão arranjar um reforço de 25 mil euros!
– Não tem problema, nós entramos com o dinheiro, vamos fazer assim, eu e o Goldman entramos com 10mil e o Dacosta com 5 mil, concordam?
O Goldman e o Dacosta acenaram que sim com a cabeça.

– Vou então começar a organização a viagem. Agora, tenho outra propostas, vindo estas 36 pessoas, vamos ficar em minoria na confraria. Como agora está tudo calmo, vou organizar um passeio onde nos possamos conhecer melhor! 

Capítulo seguinte (41- A noticia)

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