domingo, 30 de agosto de 2015

34 - O comboio

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
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Ver o capítulo anterior (33 - A estalagem)    




34 – O comboio
Da aldeia até à cidade ainda eram 40 quilómetros mas que, havendo uma estrada de terra batida, que, apesar de por vezes subir, não era nada comparável ao que tinham vivido na travessia da montanha. Também, por ser ao longo do vale, a neve era muito menos, não mais de 10 cm. Assim, apesar de estarem com os corpos cansados da travessia da montanha feita na véspera, mesmo parando várias vezes para beber chá quente, para comer qualquer coisa e para dar de beber e comer aos animais, pouco depois das 18h chegaram às portas da cidade, onde pararam para comer pois, a partir dai, os burros voltariam à aldeia e haveria menos oportunidades para recarregar as energias.
O comboio seria, se viesse à tabela, às 22h mas convinha chegar com tempo porque ainda não tinham bilhetes, o que, depois do que viveu na estalagem, preocupava o Dessilva. Comeu às pressas e disse para o António “Vou à estação comprar os bilhetes. Anda comigo e vocês fiquem aqui e só avancem quando o António vos vier chamar.” .
O camaninho para a estação ainda demorava 20 minutos a bom caminhar, tempo durante o qual o Dessilva foi planeando uma estratégia. A ideia seria o Sr. Dessilva ir sozinho comprar os bilhetes e, depois, avisar o António para que fosse chamar as outras pessoas.
Chegando à estação, o Dessilva dirigiu-se à bilheteira “Boa tarde, precisava comprar bilhetes em terceira classe para a Estação Central de Amesterdão para o comboio das 20h00. Quanto é que custa cada bilhete?”
– Boa noite meu senhor, estou a ver que o sr. não é daqui pois, porque já faz noite, é boa noite.
– Boa noite, realmente o Sr. tem razão, eu não sou daqui, sou americano e lá, boa noite é depois das 20h.
– Pois eu vi logo. Mas diga então o que o trás cá.
– Precisava de bilhetes de comboio, em terceira, adultos e crianças, quanto é o preço?
– Deixe ver aqui no preçário, bilhete para Amesterdão, Estação Central, vendo aqui, deixe ver, custa, custa, aqui está, um adulto 103,40€ e uma criança até aos 12 anos custa 51,70€. Quantos bilhetes pretende o senhor?
– Pretendo 32 bilhetes de adulto e um bilhete de criança, tudo em terceira classe, e aviso que também temos alguns embrulhos.
– Não tem problema nenhum pois na carruagem de 3.a classe tem sempre espaço suficiente para as pessoas e para as malas e, se vier cheio, mando meter mais uma carruagem. 32 bilhetes de adulto e um de criança, deixe-me fazer a conta, 32 vezes 103,40 mais 51,70, são 3360,50€. Mas isto é alguma excursão?
– Sim, sim, é uma excursão a Amesterdão – Tirando uns maços de notas de um bolso  – Tem aqui o seu dinheiro, três de 1000 dá 3000 mais 20, 40, 60, .... 340, 360 euros e ainda uma moeda de 50 cêntimos para fazer a conta certa.
– Tome então os 33 bilhetes. Desejo-lhes muito boa viagem para si e para os seus companheiros.
O Sr. Dessilva meteu os bilhetes ao bolso, saiu da estação e, no sítio combinado, lá estava o António “ António, já tenho os bilhetes, vai chamar as pessoas”
– E quanto é que custaram?
– Isso agora não interessa, precisamos é meter as pessoas no comboio.
O António foi o mais rapidamente que conseguiu “Vamos, vamos, podemos avançar para a estação, o Sr. Dessilva já tem os bilhetes”.
Assim que aquelas pessoas se tornaram visíveis, a cidade criou-se um certo reboliço. Alguém entrou na estação a gritar “Chefe, chefe, vem aí uma multidão de fulanos do monte com cães e burros e parece que pretendem apanhar o comboio.” Ouvido o aviso, o chefe dirigiu-se rapidamente à porta central para fechar a estação mas as pessoas já lá estavam “O que é que pretendem daqui?”
O António que ia à frente tomou a palavra “Queremos embarcar no comboio que vai para Amesterdão.”
– Isso não vai ser possível, não vale a pena entrar na estação porque a bilheteira está fechado porque já não há bilhetes, o comboio que vem aí vai cheio. Se não têm bilhete, não podem entrar, vão-se embora e venham cá na próxima semana a ver se há bilhetes.”
– Mas Sr. Chefe, então deixe-nos entrar porque nós temos bilhete para embarcar no comboio que vem aí, para o comboio das 20h00, já compramos e pagamos os bilhetes na 3.a classe e o Sr. Chefe prometeu que havia lugar e que, mesmo vindo o comboio lotado, que seria acrescentada uma carruagem – atacou o António num tom amigável mas firme.
– Mostre-me então esses bilhetes, mostre-mos pois eu sei bem que não lhe vendi nenhum bilhete, ainda não estou assim esquecido. Se não lhe vendi nenhum bilhete, como pode estar a dizer que os tem? Mostre-me então esses bilhetes? – O António apontou para o Sr. Dessilva.
– Aquele senhor é o nosso terratenente, estamos aqui por conta dele pois vamos trabalhar para as suas terras, ele vem aí, vai já ver que tem os bilhetes para que nós possamos embarcar no comboio que vai para Amesterdão.
– Não pode ser, o Sr. aí, venha aqui se faz favor que este homem está a levantar uma calúnia sobre o senhor. Diz ele que o senhor comprou bilhetes para estales todos, se calhar, até para os burros! Diga-lhe que isso é mentira, que comprou bilhetes mas para montanhistas que hão-de chegar a qualquer momento.
– Não, não, Sr. Chefe, para os burros não mas, realmente, eu ainda há pouco estive na bilheteira a comprar 33 bilhetes, lembram-se? Estão aqui na minha mão e são para mim e para essas pessoas, são pessoas que vão trabalhar nas minhas terras – disse o Dessilva em voz muito baixa quase ao ouvido do Chefe.
– Isto não pode ser, o senhor enganou-me, estas pessoas não podem embarcar junto com os outros passageiros, não pode ser, eu vou ser despedido, venha alí que eu devolvo-lhe o dinheiro.
Enquanto caminhavam, o Sr. Dessilva disse “Não, não, não pense nisso, estas pessoas vão ter que embarcar juntamente comigo pois preciso delas nos meus campos”. No entretanto, o Sr. Dessilva pegou numa nota de 10€ e juntou-lhe mais uma nota de 20€, depois outra e entregou as 3 notas ao chefe da estação que, olhando para um lado e para o outro, as meteu discretamente no bolso.
– Ai que a minha vida vai começar a andar para trás – e ficou a pensar em voz alta com a mão na cabeça – mas não podem entrar neste comboio de maneira nenhuma, se alguém o sabe, serei logo despedido. Bem, o melhor que posso fazer é metê-los numa carruagem de carga, não tenho outra hipótese, vou mandar pôr palha para que se possam deitar durante a viagem Entrem naquela carruagem de carga ali ao fundo o mais discretamente possível, vão por este caminho com os burros e entrem pela porta que tem lá ao fundo directamente para linha de forma que ninguém os veja e os burros, nem pensem em metê-los na carruagem. O sr concorda com isso? O Sr., dou-lhe um lugar na primeira classe.
– Se não consegue fazer melhor, aceito a carruagem de carga.
– Então, o Sr. fique aqui para confirmar que, quando o comboio chegar, eu mando atrelar a carruagem. Tenho ali uma boa carruagem, que tem aquecimento a lenha que vai dar para o aquecimento e para poderem fazer chá ou café para beber durante a viagem que ainda vai ser longa. Vamos ver se escapo desta confusão. E que faço aos burros?
– Com os burros não tem que se preocupar que são para ficar, só preciso  que me indique um sítio onde se possam abrigar para passar a noite?
– Podem ficar no coberto que tem do lado de fora da estação, lá ao fundo. Mas que partam antes do Sol nascer para que ninguém os veja pois não quero ter problemas.
Aquela pequena multidão e os burros perderam-se logo na escuridão. Foram até a referida carruagem onde os embrulhos que os burros levavam foram sendo carregados. Os embrulhos eram pequenos, tinham algumas peças de roupa e alguma coisa para se comer na parte da viagem que faltava. Alguns homens foram ao armazém indicado pelos ferroviários buscar uns fardos de palha para dar de comer aos burros e para poderem passar a noite de forma mais confortável. “À cautela, encham também este pipo de água e levem-no pois a porta vai ficar fechada por fora até à fronteira e pode acontecer que o comboio precise parar pelo caminho por causa do nevão.” disse o chefe que, estranhamente, se tinha muito empenhado em viagem se tornar num sucesso.
No entretanto, o Sr. Dessilva tirou do bolso um papel e uma caneta e encostou-se a escrever uma carta. Depois, meteu-a num envelope e entregou-a um dos pastores que o acompanharam no monte. “Vais levar esta carta para o Sr. Costa. A viagem, como viram, está-se a complicar pelo prevendo que, quando chegarmos à fronteira, as coisas ainda vão piorar muito. Por isso, vou ter que seguir viagem até Amesterdão. Hoje, vão ter que pernoitar no coberto que existe ao fundo da estação, já falei com o chefe da estação e podem ficar aí, não é nada de especial mas sempre dá para abrigar da neve. Comam que ficam aí com alguma coisa. Amanhã partam cedo e, à noite, vão pernoitar na mesma estalagem onde passamos ontem a noite, já está tudo pago, o estalajadeiro ainda vos vai servir uma sopa quente, dar palha para os animais e alguns mantimentos para que possam voltar a casa. Agradeço-vos e desejo-vos boa viagem.
– Igualmente Sr. Dessilva, que para chegar a Amesterdão vai precisar mais da sorte do que nós – disseram os carregadores e os pastores.
O embarque correu bem. O Comboio chegou, atrelaram a carruagem de carga onde estavam as pessoas e, no fim, o Sr. Dessilva também entrou na carruagem, para ficar junto dos seus. Como combinado, veio o chefe da estação que entregou um papel al Sr. Dessilva.
– O Sr. faça favor de levar este recibo do frete da carruagem.
Sr. Dessilva olhou e dizia “Carruagem de carga para Amesterdão, 547,50€”
– Então, tenho que pagar esta quantia?
– O Sr. deixe ficar pois já pagou os bilhetes que não vai usar. A viagem vai correr bem, já enviei um telex para que a carruagem possa seguir até à fronteira sem ser mais verificada.
A carruagem foi fechada e selada por fora para que ninguém sentisse curiosidade de a abrir.

Afinal, pensou o Sr. Dessilva, o chefe tornou-se bastante colaborativo o que é estranho pois só lhe dei 50€. Mas a razão não foi esse. É que, uma vez o comboio partindo sem os 33 passageiros, o chefe iria anular os bilhetes e, descontando os 547,50€ da carruagem, meter ao bolso os 2813€ da diferença.

Capítulo seguinte (35 - A volta)

quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Vamos defender o fim das quotas da Sardinha

Será que o sistema de quotas para a Sardinha (Sardina pilchardus) deve acabar?. 
Sendo eu liberal, defendendo que as pessoas devem ser livres de fazer o que bem lhes der na cabeça, tenho que defender o fim das quotas de pesca. 
Se no passado não havia quotas e, mesmo assim, o mar tinha peixe, tenho que ver o que, no entretanto aconteceu para que, hoje, haja quotas da sardinha. 
Sei que, se conseguir uma argumentação em favor do fim das cotas, voltarei a ser famoso pois todas as associações de pescadores vão puxar por este meu texto.
Amanhã mesmo, este texto será abertura nos telejornais.

O problema é o nosso mar ter pouco peixe.
Portugal tem uma imensidão de mar mas que é pouco produtivo. Concentrando-me nas 200 milhas das águas continentais (360 mil km2, estimativa minha) que são as águas mais produtivas, pegando na média dos últimos 45 anos de pescado descarregado nos portos portugueses, anualmente foram descarregas 235 mil toneladas (dados do INE) o que dá uma produtividade de 235/360 = 650kg por quilómetro quadrado e por ano de mar. 
Isto é muito pouco, a produtividade do nosso melhor mar é de 0,65 gramas de pescado por cada m2 por ano.
Fala-se muito que o problema do nosso Mar é a UE ter obrigado a abater os barcos, mas o problema não é esse é a falta de produtividade que resulta da falta de Fósforo das nossas águas.

Fig. 1 - E eu que nem gosto de peixe!

O problema não é a falta de barcos mas sim a falta de Fósforo.
A cadeia alimentar dos mares começa na fotossíntese que se pode resumir esquematicamente na equação seguinte (não estequiométrica):
      CO2 + HNO3 + H3PO4 + H2O + Algas + Luz ->  C106H263O110N16P + O2
Se o  dióxido de carbono, CO2 , e a água, H2O,  não faltam nos oceanos, já os nitratos, HNO3, e o Fósfato, H3PO4, são raros no nosso mar o que leva a que as algas tenham dificuldade em crescer.  
Como as algas são comidas por uns bichinhos pequeninos (o zooplancton) e os bichinhos pequeninos são comidos pelos peixes, havendo pouca produção de algas, haverá pouca produção de peixes.

Como funciona o stock de peixe.
Os peixes, tal como os humanos, nascem uns a partir dos outros. 
Numa espécie de bacanal (mas sem vinho) juntam-se milhares de peixas com milhares de peixes, fazem sexo à distância descarregando para a água os óvulos e os espermatozoides que nadam à procura de óvulos dando, os que são fertilizados, origem a uns peixes muito pequeninos. 
No caso da sardinha, uma só sardinha liberta 60000 óvulos. Se a sardinha viver 8 anos, terá libertado durante a sua vida cerca de 500 mil óvulos. Pensando que cada sardinha adulta pesa 80g, se todos os óvulos de uma sardinha dessem uma sardinha adulta, não haveria problemas com os stocks porque cada casal daria origem a 40 toneladas de peixe. Podiam-se pescar todas as sardinhas pois bastaria que escapassem 3 tonelada de sardinhas para se pescarem no ano seguinte 90 mil toneladas.
O problema é que a fertilização falha muito e os peixinhos são muito comidos por outros peixes.

Como são determinas as quotas da sardinha.
O que dizem os especialistas é que existe uma percentagem máxima do stock que pode ser pescado sob o risco de os peixes acabarem. No caso da sardinha, não poderá em cada ano ser pescado mais de 20% do stock.
No início do período de pesca, as autoridades das pescas e do mar estimam a tonelagem que existe (e a idade das sardinhas) e atribui para pesca uma percentagem do total existente. Se, por exemplo, existem 300 mil toneladas de sardinhas então, poderão ser pescadas 60 mil toneladas. Já se houver 100 mil toneladas, só poderão ser pescadas 20 mil toneladas.
Se a idade média das sardinhas for pequena, a quota diminui.

Mas antigamente não havia quotas!
Coloquemo-nos no antigamente e imaginemos que existiam 300 mil toneladas de sardinhas no nosso mar.
As sardinhas formam cardumes, vamos imaginar um valor médio de 100 toneladas por cardume. Neste caso, teríamos 3000 cardumes espalhados pelos 360 mil km2 da nossa placa continental o que, em média, faria com que a distancia média entre cardumes fosse de 11 km.
No antigamente os barcos eram pequenos, com uma máquina a vapor, não havia sonar, as redes eram pequenas e não havia rádio. 
O barco saia para o mar às cegas e, para encontrar sardinhas, tentavam ver o comportamento das gaivotas e outros indicadores mas era um processo de tentativa e erro. 

Estão a imaginar 
A dificuldade em encontrar as sardinhas? 
Depois, quando era descoberto um cardume, o barco não conseguia pescar os peixes todos porque era pequeno e as redes também e não podia avisar os outros pescadores (não havia rádio). 
Agora imaginemos que um ano o stock de sardinhas diminuía para 100 mil ton. Neste caso, a distância entre os cardumes aumentava para 20 km o que faria com que fosse muito mais difícil encontrar e pescar as sardinhas.
Então, este sistema às cegas não tinha necessidade de quotas porque era estável: 
Se havia mais stocks => era mais fácil encontrar as sardinhas => pescava-se mais
Se havia menos stocks => era mais difícil encontrar as sardinhas => pescava-se menos

Depois veio o sonar.
Com o sonar, o barco detecta muito facilmente todos os cardumes. É só sair ao mar, ligar o sonar e carregar o barco.
Agora, mesmo que o stock seja menor, basta aumentar a potência do sonar para logo pescar as poucas sardinhas que existem. E, se o sonar não for suficiente, ainda há os aviões de reconhecimento e os satélites.

Mas os pescadores dizem que vêm sardinhas no mar.
Vêm sardinhas porque usam o sonar. Se desligarem o sonar, não vão ver sardinha nenhuma.

Fig. 2 - O cheiro das sardinhas a assar faz-me lembrar a minha infância.

Aquele programa que da Discovery da pesca do atum rabino.
Depois da descoberta das redes de pesca porque será que aqueles bacanos pescam o atum com uma cana de pesca?
É que a pesca do atum rabino com rede está proibida.
Seria muito mais eficiente usar redes mas isso levou à quase extinção da espécie. Então, tiveram que ser proibidas.
Agora, não existem cotas mas apenas para os barcos que pescarem com cana, linha e anzol.
E porque será que, quando o peixe se aproxima do barco, o arpoeiro não se atira à água?
Porque é proibido pescar atum rabino estando dentro de água. 
O arpejador pode-se atira à água mas tem que arpoar o bicho enquanto ainda está fora de água (a voar). Se atingir o peixe estando já dentro de água, é crime, vai preso e paga uma multa terrível.

Fig. Nos finais dos anos 1960 pescavam-se a nível mundial, 2,2 milhões de toneladas de sardinha por ano e, nos anos 1980, as pescas passaram para 13 milhões de toneladas por ano, o que levou ao esgotar dos stocks (fonte).

Afinal, é possível defender o fim das quotas da sardinha.
E é simples, basta acabar com:
   i) O sonar, 
   ii) As redes de cerco, 
   iii) A informação a partir dos aviões e dos satélites de reconhecimento, 
   iv) A comunicação via rádio
   v) Os motores a explosão (meter os barcos outra vez a andar a vapor).
Assim, já posso defender o fim das quotas da sardinha mas, penso, que nenhuma associação de pescadores vai querer esta solução.

A culpa é do progresso tecnológico.
Se deixarmos os pescadores actuais pescar todas as sardinhas que encontrem usando o sonar e as redes de cerco, num prazo máximo de 5 anos, não haverá uma única sardinha no nosso mar.

E os peixes do mar não são dos pescadores.
Os pescadores não são os donos do mar nem das sardinhas que lá nadam. Os donos somos nós, todos os portugueses, mesmo os que vivem no meio da serrania.
E, muito menos, as sardinhas são propriedade dos pescadores actuais.
Por isso, mais nada pode ser feito do que impor quotas e o governo tem que as defender por todos os meios.
Se os actuais pescadores acharem que não é rentável ser pescador, têm que mudar de profissão.
Também eu queria muito ser caçador de elefantes no Alentejo mas, por não ser rentável, tive que mudar de profissão.

Fig. 3  - Também acabaram os capadores de porcos!

Pedro Cosme Vieira

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

33 - A estalagem

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
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Ver o capítulo anterior (32 - A cumieira)    


33 – A estalagem
Quando chegaram às proximidades da aldeia do Norte, já estava escuro, o Sol já se tinha posto fazia bem mais de uma hora, o ar estava frio e cortante e tinha começado a nevar um pouquinho. Pensando que as 30 pessoas iriam assustar o estalajadeiro, o Dessilva gizou uma estratégia que passava por negociar as condições do alojamento em degraus, primeiro um estábulo e só depois, se possível, uns quartos. Também era fundamental que o estalajadeiro já tivesse recebido a encomenda postal enviada pelo Jacob a partir de Amesterdão com os salvo-condutos necessários para que as pessoas pudessem fazer a viagem.
O Dessilva seguiu para a aldeia sozinho. Passando pelas casas olhou para um lado e para o outro e foi pensando para si “A aldeia tem algumas casas novas mas, tirando isso, está tal e qual como há 40 anos atrás”. Foi andando e descobriu a mesma estalagem onde tinha estado havia tantos anos. Entrou e, naturalmente, não reconheceu ninguém, naquela noite o senhor que hoje estava ao balcão ainda não deveria ser nascido. 
– Boa noite Sr. Estalajadeiro, chamo-me Newman Dessilva e penso que recebeu uma encomenda postal que me é dirigida!
– Boa noite, então o senhor é que é o Newman da Dessilva, tenho, tenho, recebi um pacote que lhe é dirigido, tenho-o mesmo aqui debaixo do balcão, faça favor mas dê-me também para cá 5€ pelo trabalho que tive e pelo depósito.
– Com certeza – O Dessilva tirou da carteira uma nota de 20€ e entregou-a ao estalajadeiro –Já está na sua mão mas não precisa dar-me já o troco que ainda vamos fazer negócio.
­– Negócio como?
– É que eu preciso de um local para pernoitar.
 – Se precisa de um local bom e barato para pernoitar, veio mesmo ao sítio certo. Temos o quarto perfeito, uma coisa feita mesmo à medida da sua fineza pois vejo, pela roupa, que é montanhista. Arranjo bom e barato, por 25 €, com boa cama, boas áreas e casa de banho com água quente e ainda tem direito a jantar, não falta aqui variedade e, amanhã, pequeno almoço com tudo do que há de melhor aqui na aldeia, pão fresquinho, chá, leite, queijos de ovelha, cabra, vaca e de mistura, enchidos e doces de todo o tipo. Vai ver que é barato, 25€ com os 5€, já só tem que me dar mais 10€.
– Então, vai mesmo ser aqui que eu vou pernoitar, mas o negócio ainda não acabou. O que eu também pretendo é um local para abrigar os animais que me acompanham e que deixei à entrada da aldeia, 20 burros que carregam as minhas tralhas, 8 cães que me defenderam dos lobos e, naturalmente, ainda as pessoas que os conduzem.
– Sim, isso arranjasse, tenho um bom curral mesmo à porta da aldeia, faço-lhe 5€ por cabeça o que inclui lenha para aquecer água pois, com este frio, não é bom dar água gelada aos animais, e ainda ração para eles encherem o bandulho. Se fosse cliente conhecido, fazia-lhe uma atenção mas, não o conhecendo, leva com a tabela, nem mais nem menos, 5€ por cabeça.
Aquele preço era para regatear, o mais certo é que ficasse nos 2€ mas o Dessilva não o iria fazer pois ainda tinha o problema de ter que arranjar um local para que as pessoas pudessem passar a noite.
– Eu conheço esse seu curral pois já aqui estive faz mais de 40 anos mas o Sr. não me pode conhecer pois é novo de mais e nenhuma memória reconheceria uma cara 40 anos depois! Na altura meti lá 250 ovelhas!
– Pois diz muito bem, eu nem 40 anos tenho, nesse tempo era o meu pai que Deus já lá tem que era o estalajadeiro. Mas ter estado aqui há 40 anos ainda não o faz cliente habitual.
– Aceito então os 5€ por cabeça.
–  Óptimo – disse o estalajadeiro com cara de ter feito um grande negócio – 30€ a somar a 28 vezes 5€ dá, deixe-me fazer a conta aqui na lousa, 170€, já me deu 20€, faltam 150€! – Já havia muito tempo que uma noite não rendia tanto dinheiro e, muito menos, quase apenas pela renda do curral.
O Dessilva foi a um dos bolsos interiores do casaco, tirou um maço de notas e começou a passar notas de 20€ para cima o balcão que ia contando em voz alta “20, 40, 60, 80, 100, 120, 140, 160, cá estão 160€, com os 20€ que já lhe dei, soma 180€.”
  Tenho então que lhe dar 10€ de troco.
– O melhor ainda não pois ainda temos que continuar o negócio! é que também estou acompanhado por umas pessoas que levo para trabalhar nas minhas terras que ficam longe daqui, mais para Norte, é que por aquelas terras não existe gente que preste para para trabalhar pelo que, constando-me que havia gente forte por estes lados, vim buscar 31 jovens e uma criança. Naturalmente, também vou precisar de um local onde possam passar a noite e ainda uma sopa quente.
– Bem, como o senhor chegou do Monte, primeiro, vou ter que ver quem são essas pessoas, se forem quem eu penso, vai ser impossível fazer essa parte do negócio. Mas, primeiro, temos que tratar dos animais e, depois, vamos tratar das pessoas que o acompanham.
Porque já estava noite, o estalajadeiro acendeu um lampeão e lá foram os dois homens a apanhar neve que se estava a tornar cada vez mais espessa “Isto ainda se vai transformar numa noite de tempestade” – disse o estalajadeiro para manter conversa com o cliente – “É este o curral que lhe digo, como vê, isto é bastante grande, como disse, até já o conhece por dentro sabendo que cabem aqui mais de 250 ovelhas”. Era mesmo aquele o curral onde, há mais de 40 anos, o Sr. Dessilva tinha pernoitado na sua fuga da miséria. As lágrimas vieram-lhe imediatamente aos olhos.
– Passa-se alguma coisa senhor?
– Não, não, não é nada, é o vento frio que me fere os olhos.
– Pode então, pode dizer aos carregadores para meterem aqui os animais e que também podem pernoitar junto deles. Agora, onde é que estão essas tais pessoas que o acompanham para que as possa ver?
– Estão às portas da aldeia, são uns 250 m daqui.
– Vamos então até lá para ver o que posso fazer.
Quando chegaram às pessoas o lampião pintou um quadro deprimente de que o Dessilva, por já estar habituado, ainda não tinha dado conta. Era um magote de pessoas todas vestidas de forma andrajosa, roupa preta cheia de remendos, suja da viagem, com mantas também remendadas enroladas pelo corpo e a tapar a cabeça, os homens com barbas compridas e, uns com um chapéu e outros com um gorro pretos, encebados, e as mulheres com um lenço a tapar quase toda a cara, todos muito magros, só mesmo pele e osso. As pessoas estavam encostadas aos burros a tentar uma protecção contra a agrura do tempo. “Mau, isto está mau, não vai ser possível resolver o seu problema, os burros, os cães e os carregadores meto-os no curral porque já fechamos negócio mas o resto não, não posso mete-los na estalagem, os vizinhos matavam-me se soubesse que eu os metia dentro de portas, incendiavam-me a estagem nunca mais teria nenhum cliente” e, virando costas, voltou para a estalagem. O Sr. Desilva só disse “Vamos conversar” e seguiu o estalajadeiro de volta à estalagem. Quando reentraram o estalajadeiro foi claro “Não posso meter em minha casa animais fazendo de conta de que são pessoas. São animais cheios de pulgas e de piolhos, devia-me ter sido verdadeiro, ter-me dito que precisava de abrigo para animais, burros, cães e de outra espécie.”
– Deixe-se disso homem, que aqueles burros, cães e homens são seres que me servem e de que preciso seja como carregadores ou arrendatários nas minhas terras, não quero saber se têm pulgas, piolhos ou carraças, o que eu quero saber é que se ficarem ao tempo, vão morrer e quem fica com o prejuizo sou eu. Por isso, se ainda há bocado me disse que fazia 5€ por cabeça de cada animal e agora diz que são todos animais, fazemos então esse preço, burros, cães e outros animais, tudo a 5 € por cabeça. São 20 burros, 8 cães, 5 carregadores, 2 pastores, 31 trabalhadores e uma criança, soma 67 cabeças, a 5€ dá 335€, mais os 30 €, são 365€ de que já lhe dei 160.
O estalajadeiro ficou calado por uns segundos e o Dessilva aproveitou este silêncio. Sem deixar o estalajadeiro pensar uma resposta, foi novamente a um dos bolsos interiores do casaco, tirou outro maço de notas e começou novamente a passar notas de 20€ para cima o balcão que ia contando em voz alta “180, 200, 220,  ...” por ali fora até fazer 380€, “Cá estão 380€, ainda tem que me dar 15€ de troco.”
Ao ver os 220€ em cima do balcão que somavam aos 160€ dos animais, o estalajador estremeceu e, apesar da linguagem corporal dizer que ia aceitar, no último segundo recuou.
– O senhor sabe que eu não sou homem de voltar com a palavra atrás mas não vou poder aceitar, dinheiro é dinheiro mas os meus vizinhos vão-me matar.
– Mas espere aí porque ainda não acabei. É que os burros, cães e carregadores vão voltar para trás, 35 cabeças fazem mais 175€, com os 15€ que tem que me dar de troco, são mais 160€. E pago já o retorno – continuando com o maço de notas na mão – 400, 420, 440, 480, faz 500€, agora não pode dizer que não. E se esta primeira viagem correr bem, se estas pessoas forem mesmo trabalhadores como ouvi dizer, mais viagens se seguirão e o ponto de apoio será sempre aqui. 
Finalmente, o estalajadeiro ficou cego com o dinheiro, “São 500€, é muito dinheiro, vai-me safar o mês e, no futuro, mais 500€ poderão cair-me no bolso” pensou ele.
– Bem, realmente, apanhou-me a palavra e eu não sou homem de voltar com a palavra atrás. Faço-lhe então por 500€ e aguardo o retorno dos animais e dos varregadores – esticou a mão que foi rapidamente apertada pelo Sr. Dessilva para selar o acordo.
O Sr. Dessilva vendo que o negócio ainda não estava bem firme, passou ao ataque "Então agora, por favor, mande o seu moço abrir a porta do curral que está um tempo de cortar à faca".
– Vou lá eu mesmo pois o moço pode dar com a lígua nos dentes. Vou eu mesmo tratar da palha para os burros e para que as pessoas se possam deitar. Vou também arranjar lenha para que possam aquecerem água para os animais e para fazerem um chá pois devem estar cheios de frio e de sede. Sabe senhor, há bocado eu posso ter sido um bocado duro mas fui colhido um pouco de surpresa por aquele aspecto deplorável e vou-lhe mesmo confessar, quando aparecem pessoas dessas por aqui as pessoas escorraçam-nas como se fossem a peste. Mas agora estou a ver que o senhor é boa pessoa e, para ter atravessa o monte para as ir buscar, o que não é nada fácil, mostra que precisa mesmo destas pessoas lá nas suas terras. Se não fosse ver em si um homem sério e de bom coração, deixava que passassem a noite ao tempo, não queria saber. O Sr. deve ser mesmo bom coração para pagar 500€ para que essas pessoas não fiquem ao frio, outro qualquer não se importaria e, se morresse algum, paciência,  muitos mais no Monte.
– É que eu penso que, no fundo, também são criaturas de Deus.
– Tem toda a razão. Por isso, também lhes vou mandar uma panela de sopa de feijão que a minha mulher tem ali feita e pôr outra ao lume para fazer mais pois as pessoas pareceram-me com necessidade de comer algo quente.
Atendendo a que lá fora a neve se tinha transformado numa tempestade, se não fosse o abrigo, concerteza que morreriam pessoas. Com as barrigas cheias com a sopa quente, as pessoas ficaram como novas. “Se nós comessemos sempre assim, ficávamos gordos como o porco no dia da matança” era o que mais se ouvia. As pessoas encostaram-se umas às outras em cima da palha e, dado o cansaço, imediatamente adormeceram profundamente como se estivessem num hotel de luxo. O Sr. Dessilva não chegou a usar o quarto, decidiu passar a noite “Com os arrendatários” mas sentiu-se melhor do que se estivesse no quarto de um rei. E como fizeram jeito as mantas.
Na manhã seguinte, pelas 6h da madrugada, os burros começaram a anunciar o dia zurrarando sem parar. Como eram 20 e estavam dentro do cural juntamente com as pessoas, tornou-se impossível que alguém continuasse a dormir. Lá se levantaram todos, puseram água a aquecer para lavar a cara e também para fazer um café turco. Mais broa de milho, chouriço e queijo de ovelha que ia nos alforges dos burros mas, desta vez, também havia uns ovos acabadinhos de cozer “Oferta do estalajadeiro”.
– O Sr. Dessilva é um autêntico anjo que nos apareceu. Olhe aqui, olhe aqui Sr. Dessilva – apontando para uma das pessoas – Veja aqui o Joaquim que ontem estava quase morto, veja como ele já arrebitou, está como novo, diz que não se lembra como veio aqui parar, a última coisa que se lembra é de ter passado o buraco no muro da aldeia!
– Bondi dia Joaquim, realmente ontem estavas mais para lá do que para cá mas não te envergonhes que é próprio da doença das alturas. Vai-se acumulando líquido nos pulmões e no cérebro e, se a pessoa não descer, acaba por morrer afogada. Mas eu também sabia que, depois de descermos e deixando passar uma noite bem dormida, isso ia ao sítio. Meninos, vamos apressar que ainda temos uns 50 km até à cidade e temos que chegar lá no máximo às 18h pois às 20 h passa o comboio que nos há-de levar a Amsterdão e precisamos de tempo para organizar a compra dos bilhetes.
– Mas o Sr. Dessilva vai connosco para Amsterdão? – Perguntou o António.
– Eu não pensava ir, como te disse, tinha planeado esperar aqui que os carregadores voltassem de vos levar à cidade e, nessa altura, retornar à aldeia com eles. Mas, vendo o que aconteceu aqui, vocês não vão conseguir chegar lá sem a minha ajuda, não vão conseguir embarcar no comboio quanto mais passar a fronteira. Pode ter custado muito atravessar a montanha mas o caminho ainda vai no princípio, é que é mais dificil atravessar o precoceito das pessoas do que as agruras do cume do monte. – Virando-se para as pessoas – Vamos lá meninos, vamos a carregar os burros que está na hora de partir.
À saida o sr. Dessilva ainda deu uma palavra ao estalajadeiro.
– Agradeço-lhe muito a sua hospitalidade e espero que esta sua hospitalidade se repita no futuro pois, se estes se mostrarem trabalhadores, ainda vou precisar de levar mais.
O estalajadeiro acenou positivamente com a cabeça e apertaram a mão.

Capítulo seguinte (34 - O comboio)

domingo, 23 de agosto de 2015

32 - A cumieira

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
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Ver o capítulo anterior (31 - A partida)    




32 - A cumieira.
Recomeçara a subida íngreme, bem mais de 10%, pouco depois das 12h30. 
O filho da Maria José, o Rúben, porque a viagem se tornou dura de mais para uma criança que ainda não tinha 12 anos, ia em cima de um burro. Já o Sr. Dessilva estava-se a aguentar bem para a sua idade, de vez em quando fazia 10 minutos em cima do burro “para não atrasar a marcha” mas, logo depois, caminhava mais outros 10 ou 20 minutos “para não cansar o animal”. De facto, o burro poderia levá-lo mais tempo mas o Dessilva procurava recriar, tanto quanto as suas forças o permitissem, a viagem que tinha feito há mais de 40 anos atrás.
– Realmente, Sr. Dessilva, isto agora custa muito, com as mulheres a começar a ficar para trás. E, realmente, estou a ver pessoas muito mais novas e fortes do que eu a ficar para trás, o que será que lhes está a acontecer? – Perguntou o António que não largava o Dessilva.
– É a doença das alturas a começar a entrar. Vais ver que daqui a pouco vamos ter que meter algumas dessas pessoas em cima dos burros. Isto ataca fortes, fracos, novos e velhos, mulheres e crianças, é um calhar, algumas pessoas resistem melhor e outras pior. Começa-se a cumular liquido nos pulmões e as pessoas deixam de poder respirar, afogam no meio da montanha. E o liquido também se pode acumular no cérebro o que faz com que a pessoa vire da cabeça, temos que estar atentos aos que vão ficando para trás pois podem cair acabando por morrer congeladas.
A marcha foi-se tornando cada vez mais lenta e, quando se ouviram, muito ao de longe, o sino da igreja da aldeia do Monte dar as 16h da tarde, ainda faltava muito mais do que um km para o cume “António, António, onde estás? Quem é que tinha razão? Então demorava pouco mais de uma hora? Onde é que vai essa hora?” O António gritou lá do fundo da fila “Estou aqui, estou aqui a ajudar este jovem, o Sr. Dessilva tinha toda a razão, além de estar a demorar muito mais tempo também a doença da altura está a atacar pessoas que eu nunca pensei.” 
O sr. Dessilva, olhando para trás, disse “Vamos parar um pouco para beber um chá quente e para comer qualquer coisa que já há pessoas a fraquejar, vamos-nos juntar todos aqui. Senhores, tragam broa, mel com fartura e água, é preciso beber muito pois este ar seco e frio, ao mesmo tempo que nos afoga os pulmões, seca-nos a carne.” Nesta altura o frio era tanto e o vento de tal forma cortante que as pessoas, mesmo com as mantas embrulhadas pelas costas começavam a sentir frio. “Se o Sr. Dessilva não nos tivesse obrigasse a trazer as mantas, morreríamos agora de frio” era a opinião geral.
Por causa do frio, todos se encostavam a todos como se fossem pintainhos sem galinha, todos menos o Sr. Dessilva cujo casaco de peles de urso e as botas de pele de rena pareciam dar-lhe uma protecção total contra o frio e o vento. Agora, o Sr. Dessilva ainda tinha um barrete “de pele de castor do Canadá” que lhe cobria, além da cabeça, toda a cara, escapando apenas os olhos que também estavam tapados por uns óculos escuros redondos “esta roupa dava para fazer a viagem ao Polo Norte” disse o  Dessilva. “Eu até podia ficar a dormir aqui uma semana que o frio não me chegava mas vocês, se não bebermos já um chá quente, vão morrer congelados”.
O Sr. Dessilva chamou novamente os burros que carregavam lenha e fez uma fogueira sobre a qual colocou a chaleiras enorme que tinha mandado fazer por encomenda. Encheu a chaleira de neve que derreteu, “Bebam, bebam enquanto está quente que, senão, morrem de frio”. Voltou e voltou a por a chaleira ao lume e a fazer mais chá quente com mel até que já todos estavam satisfeitos e quentes. As pessoas também comeram mais do mesmo, broa de milho, rodelas de chouriço e queijo. “Nunca pensei de, em pouco tempo, ter ficado assim sem energia e tão cheio de sede” diziam as pessoas umas para as outras. “Quem está na aldeia nunca imagina que aqui em cima o tempo é tão agreste” diziam outras pessoas. Aquele chá quente com mel tinha feito milagres nas pessoas que se tornaram novamente energéticas.
Custou atravessar aquele quilómetro final mas lá conseguiram chegar ao cume já um pouco depois das 16h00. O vento era impossível de tolerar, tão forte que zuia, zzzzzzzz, zzzzzz, e arrancava a neve do chão. Por causa da doença das alturas, 5 ou 6 pessoas iam em cima dos burros. Um dos jovens, que ainda há pouco parecia cheio de força e capaz de atravessar todo o mundo de uma só vez, estava mais morto que vivo. “Vês António, o que te dizia? A doença das alturas é capaz de mandar abaixo o que parece forte e fazer revigorar o que parece fraco. Repara como eu vou aqui quase como se nada fosse”. E realmente era impressionante como alguém com 62 anos de idade conseguia resistir enquanto que o Joaquim, um jovem na força da idade, já nem conseguia falar. “Se agora parássemos aqui uma ou duas horas, este já não se safava, afogava, os pulmões estão-se a encher rapidamente de água.”
– O Sr. Dessilva não está a conhecer o Joaquim? Este é o sobrinho do seu sócio, do Sr. Jonas, o filho da Isabel do Zenão!
– Ai é este? Nem o estava a reconhecer. Realmente, lá em baixo, parecia um jovem cheio de força mas aqui em cima foi-se completamente abaixo, está um farrapo. Isto que está a acontecer aqui no cimo do monte com o corpo também acontece na vida com a vontade. Na vida há pessoas que parecem muito fortes mas que, quando apanham de frente com as dificuldades, vão-se abaixo. Vamos, vamos, não podemos parar agora, senão o Joaquim morre-nos aqui. A boa notícia é que depois de passarmos o cume vai custar muito menos porque, a descer, todos os santos ajudam, e a doença reverte.”
Passando o cume, umas centenas de metro à frente o Sr. Dessilva retirou-se do caminho uns 10 metros, olhou para a esquerda e para a direita e ajoelhou-se num local qualquer, igual a qualquer outro, mas que parecia especial para o Sr. Dessilva. “Senhor perdoa-me este crime que eu cometi há mais de 40 anos atrás. Se hoje estou cá é para pedir perdão por todo o mal que fiz e tentar redimir-me desse crime hediondo que cometi com pensamentos egoístas. Ilumina o meu pensamento para que, na medida do possível, me consiga redimir.”
– Então Sr. Dessilva, encontrou algum lugar especial? – Apareceu o António sem que o Dessilva desse conta que, mais uma vez, assustou o Dessilva porque, por momentos, pensou ser o Alberto.
– Ai és tu António? Sabes António, vou-te dizer algo que te vai surpreender, é que foi exactamente aqui que o teu pai morreu. Caiu aqui atingido por uma facada, encostado a esta pedra grande, uma facada directa ao coração quando tentava evitar que roubassem as ovelhas. Tens que te orgulhar do pai que tiveste e que não chegaste a conhecer.
– Mas o Sr. Dessilva tem a certeza de que ele morreu aqui mesmo?
– Sim, tenho a certeza absoluta.
– Mas como pode ter assim tanta certeza?
– Sabes, vou-te confessar, é que fui testemunha ocular desse crime!
– Testemunha como? Testemunha ocular, quer dizer que estava aqui quando o meu pai morreu?
– Sim estava aqui!
– Então, só poderia ser um dos ladrões do gado! Seria por acaso um dos assassinos? Eu acreditaria mais facilmente que Deus não existe do que o Sr. Dessilva foi um dos ladroes que causaram a morte do meu pai!
O Dessilva, num repente, tomou consciência no que tinha dito. Se confessasse talvez  se libertasse dos remorsos que o consumiam havia anos mas a viagem entraria em colapso. Não, a viagem tinha prioridade, isso tinha que ficar para depois, para quando todos estivessem salvos, a redenção só pode acontecer por actos e não pelo arrependimento. Talvez tivesse sido atacado pela doença das alturas!
– Não, não, nada disso, não era isso que eu queria dizer, eu fui testemunha ocular mas não nesse sentido. Eu fui testemunha ocular pelos olhos da Júlia, soube-o pela Júlia que foi a pessoa que descobriu o corpo do teu pai. Foi ela que veio com os cães até aqui e que descobriu o teu pai, e esteve-me a relatar exactamente onde era o local e o que, na ideia dela, tinha acontecido. Fui testemunha ocular na interpretação dos factos que foi feita pela Júlia.
– Ah, testemunha baseada numa recriação de uma mulher que é bruxa e em quem ninguém acredita! Se foi essa a fonte, tanto pode ter sido aqui como noutro sítio qualquer, o Sr. Dessilva não acredite nisso que essa mulher lhe disse!
– Mas porque dizes uma coisa dessas da Júlia?
– Agora que estamos aqui no cimo do monte e que vejo que o Sr. Dessilva é verdadeiramente uma pessoa boa, vou-lhe contar um segredo que não pode ser contado a ninguém. Eu tive 16 filhos dos quais morreram 6 , morreram 2 de tifo e os outros ... nem sei se lho possa dizer.
– Diz, diz, que já estou cheio de curiosidade.
– Foi ela que os matou, matou-me esses 4 filhos sem dó nem piedade.
– Matou 4 crianças assim sem mais nem menos?
– Bem, as crianças nasceram, disse ela, doentes e ela fez um defumadouro qualquer da Terra Santa para que elas se curassem mas, afinal, matou-as. Chegava lá a casa, olhava para a criança e, se desconfiasse que tinham nascido com a doença, dizia que as ia curar e, no fim, matava-a. Essa mulher não tem coração!
Como o Dessilva tinha sido criado na aldeia até aos 20 anos sabia da doença mas, porque teve filhos, não tinha consciência de que alguém matava as crianças que nasciam doentes. E menos lhe passou pela cabeça de que essa pessoa fosse a Júlia que ele tanto amou.
– Deixemos agora isso para trás que temos que acreditar que o que ela fez foi com boa intenção, para o teu bem e das tuas outras crianças, tens que te concentrar é nas 10 crianças que tens vivas e saudáveis. Deixemos o passado no passado. Vamos lá, toca a levantar que temos que chegar à aldeia antes de ser noite e ainda faltam 10 km, vamos lá que já falta pouco, mais duas ou três horas e estamos lá, vamos ver se chegamos antes das 19h para fugirmos do frio da noite. – Assim que chegou às pessoas que estavam deitadas na neve, riu-se – Onde estão os jovens cheios de força que vi hoje de manhã? – e continuou-se rir com grandes gargalhadas – estou a ver que se eu não tivesse preparado a viagem e se não tivesse vindo, metade das pessoas já estaria morta no meio do monte. A juventude de agora não presta para nada!

Capítulo Seguinte (33 - A estalagem)

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

31 - A partida

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
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Ver o capítulo anterior (30 - A facada)    



31 – A partida
Antes das 3h30 da madrugada já estavam todas as pessoas à porta da escola, com as malas e as mantas, todas prontas para partir. Claro que havia pequenas falhas, o Dessilva tinha pedido duas mantas por pessoas mas, porque eram volumosas, almas pessoas trouxeram uma com o argumento de que “a caminhar não faz frio”. Além dos jovens casais que iam começar a viagem rumo à América, estavam muitos familiares e amigos. Também estava o Sr. Dessilva a comandar as operações, o Sr. Costa para, na qualidade de presidente da confraria, fazer um discurso de despedida aos jovens e de agradecimento ao Dessilva e o Padre Augusto para benzer e aspergir toda a gente com fartura de água benta.
– Sr. Dessilva, bem sei que já falamos disto ontem, mas quer mesmo fazer esta travessia do monte? Acha que o seu físico é capaz de dar resposta à sua vontade? – perguntou o Sr. Costa preocupado.
– Sabe Costa, eu já tenho à mostra as rugas e o cabelo branco dos meus 62 anos mas, por dentro, tenho o físico de um jovem. É que lá na América o meu desporto favorito ser a marcha e a caminhada na natureza. Não preocupar que eu já fazer travessias muito mais difíceis do que esta, além disso, vai um burro especialmente para me carregar quando eu estiver mais cansado e o burro é muito mais jovem do que eu – todos se riram –  Não se preocupe que, daqui a 4 dias já eu estar de volta são e salvo.
– Mas olhe que eu sou muito mais novo e não me sentia com energia para fazer essa travessia – respondeu o Costa.
– Mas eu ter o burro que também ser mais novo que amigo Costa – nova gargalhada dos presentes – Vai custar mas nada que eu não aguente. Tenhamos fé em Deus! Então Costa, esse discurso sai ou não sai? É que temos que partir!
– Certo, certo, aqui vai. Hoje é um dia histórico só comparável com a fuga do Egipto que aconteceu nos tempos bíblicos e, neste caso, em vez do Moisés a abrir o mar, tereis o Sr. Dessilva a abrir os longos caminhos que vos vão-de levar a essa nova terra prometida. Tenho a certeza que Deus vos há-de ajudar a conseguir o sucesso e a prosperidade mas peço-vos que nunca se esqueçam de todos nós que ficamos para trás, dos vossos pais, irmãos, filhos, primos, amigos e vizinhos que ficamos encalhados neste fim do mundo. Todos os dias rezaremos por vós e não se esqueçam de também rezar por nós.
– E que também não se esqueçam de mandar uns eurozitos – disse alguém do meio da multidão a que todos responderam com palmas e gargalhadas.
– Siga a viagem – terminou o Sr. Costa a que, quem ficava, respondeu “Que Deus os ajude” e os que partiam “Que Deus nos ajude”. Depois, o Padre Augusto arrancou com umas rezas em latim que ninguém percebeu e água benta com fartura.
As pessoas atravessaram o casario caminhando para Norte, em sentido contrário da porta da aldeia. Saíram do casario, foram pelo caminho que passava na barraca da Júlia e continuaram até ao muro onde, realmente, um bocado tinha sido demolido para deixar as pessoas e os animais passar. A Júlia estava à porta de lampião na mão atenta a ver se via o Dessilva. Quando os seus olhos se fixaram nos do Dessilva estebaixou o olhar como que cheio de vergonha. A Júlia disse em voz baixa mas que o Dessilva ouviu perfeitamente "Newman".
Além dos familiares e amigos, também iam os jovens que, fazendo parte do lote dos 30 casais seleccionados, só poderiam partir na segunda viagem talvez para darem um último recado "Não se esqueçam de que nós".
Quando chegaram ao muro, os pedreiros já tinham aberto uma passagem. Diziam repetidamente “Já podem sair” pois estavam com pressa já que, antes de se fazer dia, o muro teria que estar de forma a que ninguém desse conta que houve ali uma rombo por onde passaram pessoas.
Toda a gente chorava, os que ficavam e os que partiam, como se aqueles jovens se encaminhassem para a escravatura à mão dos turcos ou à morte à mão dos do Vale. No fundo era quase uma morte pois, com quase certeza, nunca mais aqueles jovens voltariam à aldeia, nunca mais aqueles país veriam os filhos que partiam.
Os 30 jovens mais o António, o Rúben, o Sr. Dessilva, os pastores e os carregadores com os burros iniciaram então a marcha monte a cima. Porque o caminho era estreito, as pessoas iam numa fila indiana, um encostadinho ao seguinte mas, com a subida, alguns foram perdendo o fôlego. O Sr. Dessilva ia sempre dizendo “Calma que não podemos deixar ninguém para trás”.
Foram caminhando e, passado pouco mais de hora e meia, entraram no chão plano que existia um pouco acima da aldeia e que tinha sido onde, há mais de 40 anos, o Dessilva tinha visto os 3 pastores a ser mortos lá de cima da meia encosta. “Vamos todos olhar para trás, olhem para esta beleza, o Sol já quase a nascer, a nossa aldeia ali em baixo com as chaminés a deitar fumo. Vejam em fundo o casario da aldeia do Vale e todos aqueles campos planos e férteis que a cercam. Vejam o rio lá ao fundo que cruza o vale, com os barcos à vela, a névoa fina que cobre tudo, tudo caiado de branco pela neve.” Neste momento, as lágrimas vieram aos olhos do Sr. Dessilva “Fixem bem esta imagem na vossa memória porque, para a grande maioria de vós, é a última vez que vêm a nossa aldeia. Quando estiverem na América, não se esquecerem do que sofreram aqui e do sofrimento das pessoas que deixam para trás e que precisarão da vossa ajuda. Nunca se esqueçam disso pois, quando o esquecerem, deixarão de ser as pessoas singulares que são e passarão a ser apenas mais uma no meio de milhões.”
 As pessoas olharam com a lágrima no olho e seguiram viagem. Caminhar no chão plano, apesar da neve, não foi muito difícil, mais uma hora e já o tinham atravessado de forma que pelas 9h30 já tinham percorrido os primeiros 15 km do caminho, quase metade do percurso. O ar já estava muito mais frio que na aldeia, com as mulheres a tapar a cara com o lenço da cabeça e os homens com as golas dos casacos virados para cima. O Sr. Dessilva decidiu que eram horas de parar para descansar e comer alguma coisa.
– Ponham aqui as toalhas e tragam a comida pois, a partir daqui é que as coisas se vão complicar– disse o Sr. Dessilva. Lá vieram as toalhas, broa, queijo, chouriço, ovos cozidos e, para beber, ia ser um chá quente feito na hora com neve derretida “para aquecer por dentro porque, daqui a pouco, vamos apanhar um frio de rachar.” O Sr. Dessilva sentou-se a comer juntamente com as outras pessoas. Nesse dia não ia vestido de branco. Pelo contrario, levava um casaco escuro, muito grosso de “pele de urso pardo das montanhas Apalaches” Também levava uma botas de “pele de alce do Canadá” e cujos canos altos que iam quase até à cintura estavam presos ao cinto das calças por uma correia "Esta minha roupa é  mesmo quente, é mesmo usada pelos esquimós que são pessoas que vivem no meio do gelo onde até as casas são feitas com blocos de neve." 
As pessoas sentaram-se no chão em cima das mantas e começaram a comer e a beber.
– O Sr. Dessilva até parece que sabia o frio que aqui ia estar. Isto realmente está frio!
– Isto não ser nada, ainda vai piorar bastante, daqui a bocado, quando chegarmos ao cume do monte, aí é que vai ser frio e vento cortante. Mas na América já vivi dias piores em que até os rios congelam.
A paragem só podia ser de 30 minutos pelo que, olhando para o relógio, o Sr. Dessilva começou a apressar as pessoas, “Rápido, rápido, olhei agora para o relógio e o tempo está a passar, já são quase 10 horas, já não vamos conseguir chegar à cumieira às 14h. Vamos a arrumar, vamos que temos que partir pois o tempo não para e ainda temos muito que andar.”
A partir dali a marcha começou a ser cada vez mais difícil não só por causa do frio e do vento crescentes mas porque o caminho se ia tornando cada vez mais inclinado e com neve mais alta.
Passado pouco tempo de marcha o Dessilva deu por si no mesmo local onde há 40 anos viu os do Vale a chegar de baixo, os cães a ladrar, as ovelhas tresmalhadas a balir. Agora, esse dia ganhou outra vez vida, todo esse passado distante como que estava a ser revivido naquele mesmo momento. Olhou para o lado e viu o Alberto e estremeceu “Alberto, estás aqui?”
– Calma Sr. Dessilva, sou eu, o António, será que o mal das alturas já o está a afectar?
– Cheguei a pensar que estava a ter uma visão mas isto não foi nada.
O Dessilva só agora se tinha apercebido como o António era parecido com o pai, pareciam irmãos gémeos.
– Estou a imaginar o ataque em que o teu pai foi morto juntamente com o Abel – disse o Dessilva.
– Mas Sr. Dessilva, dizem que o meu pai não morreu nestes lados, dizem que o meu pai apareceu morto lá mais para o alto do monte, já do lado de lá. Deve ter sido feito prisioneiro e, quando tentou fugir, mataram-no. Todos dizem que o meu pai era uma pessoa honrada que morreu porque lutou com todas as suas forças para que as ovelhas voltassem à ladeia para serem entregues aos seus donos.
O Dessilva abanou a cabeça de forma afirmativa “Sim, sim, tenho a certeza de que era um homem honrado”.
Pelas 12 horas, nova paragem para almoçar “Mas não podemos parar mais de 30 minutos porque já estamos a ficar muito atrasados” – disse o Dessilva
– Mas Sr. Dessilva, desculpe o que eu vou dizer mas a cumieira do monte é já ali, vê-se bem daqui, não faltam mais de 3 km pelo que estamos lá em menos de uma hora.
– António, não penses nisso, agora que o ar está rarefeito e o monte começa verdadeiramente a subir, não vamos conseguir sequer fazer 1 km por hora. Vais ver que não vamos chegar à cumieira antes das 16h, depois vais-me dar razão. As pessoas vão começar a ser atacadas pelo mal das alturas, o ar é tão fraco que alguns vão começar a ter falta de ar, não interessa se a pessoa é forte ou fraca, e até podem perder o juízo. E depois da cumieira ainda temos muito que percorrer do lado de lá e não sabemos até que ponto os caminhos estão transitáveis. Se formos apanhados pela noite desabrigados, vai ser terrível, pessoas vão morrer.
– Vamos então comer rápido e arrancar o quanto antes – disse o António.
O Sr. Dessilva lembrava-se que, naquela vez em que tinha feito aquela mesma subida, também porque levava muitas ovelhas, só tinha chegado ao cume à noite, já quase às 22horas, e apenas o tinha conseguido porque era Junho, quando o Sol se punha muito mais tarde e o tempo era muito mais quente. E ainda acrescentava que, nessa altura, além de ser jovem, tinha o corpo treinado para as alturas, coisa que a maioria dos jovens que estava a fazer a travessia não tinha. As pessoas comeram e beberam o chá dentro dos 30 minutos previstos, levantaram-se, e arrancaram, cada uma ainda com um pedaço de broa de milho com mel “para ir comendo pelo caminho”.
– América, aqui vamos nós.

Capítulo seguinte (32- A Cumieira)

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