domingo, 9 de agosto de 2015

28- A caixa

Crime e Redenção 
Pedro Cosme Vieira
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Ver o capítulo anterior (27 - a lista)    




28 – A caixa
– O Sr. Dessilva vai ter que me desculpa mas é que eu tenho falado um pouco com as pessoas que foram seleccionadas e começa-se a instalar a dúvida que o Sr. Dessilva consiga mesmo arranjar o dinheiro para financiar a viagem e, pior do que isso, para ajudar no sustento das crianças que vão ficar aqui connosco. Se para a viagem já é preciso muito dinheiro, numas contas por alto, como esses 30 casais têm mais de 100 crianças pequenas, considerando os 20€ por mês que o Sr. Dessilva falou, vão ser precisos 2 mil€ por mês que é muito dinheiro – disse o Sr. Costa durante o jantar.
– Sim Costa, eu contar crianças e ser 117 que ir receber dinheiro.
– O Sr. Dessilva vai-lhes perdoar porque são pessoas que já sofreram muito, mas, apesar de estarem entusiasmadas com a possibilidade de terem uma nova vida na América, as pessoas estão com receio do que possa acontecer às crianças, vou-lhe mesmo rasgar o segredo de que há quem fale que o Sr. Dessilva as vai vender aos turcos como escravos.
– Eu imagino que sim Costa, mas eu já pensar no tudo, precisar de dinheiro para um ano.
– Em tudo como? Isto das crianças vai custar muito dinheiro! Será que esse dinheiro vai cair do Céu como o Maná caiu no deserto? O Dessilva desculpe a minha pergunta, mas um ano são 30 mil €, onde pensa que podemos arranjar esse dinheiro?
– Dinheiro não ter problema, Costa não ter fé no Dessilva. Eu sair no barco e ficar minha caixa para desalfandegar em cidade. Parecer coincidência mas me mandaram dizer que chegou no aldeia do Vale o mala. Amanhã, Polícia Vieira trazer caixa de manhã, vai ver, caixa chegar, problema de dinheiro acabar. Costa não ter fé, esperar amanhã. Agora acabar de comer e dormir.
No dia seguinte, o Sr. Dessilva levantou-se tarde pois aproveitou para descansar do esforço que teve a estudar as candidaturas. Tomou um longo banho preparado pela D. Celeste e, depois, tomou um calmo pequeno almoço ao ar livre, por baixo da ramada que Sr. Costa tinha à porta da cozinha. Quase a chegar à hora do almoço, o Sr. Costa estava na oficina preocupado com o nervosismo das pessoas. Mas, de repente, a Sr.a Celeste apareceu a anunciar ao Sr. Costa que o Polícia Vieira estava à porta a perguntar pelo Sr. Newman Dessilva.
– Sr. Costa, chegou a tal caixa do Sr. Dessilva e o Polícia Vieira disse que a caixa era pequena mas que deveria ter algo importante porque, além de ser muito pesada, chegou na diligência guardada por um homem enviado da cidade que fez questão de que a polícia tomasse conta dela e a guardasse até a entregar ao destinatário. Será que traz lá dentro o dinheiro?
– Acho difícil, onde é que o Sr. Dessilva ia arranjar os 30000€? Mas vamos ter esperança mesmo que mínima. Vá depressa procurar o Sr. Dessilva para lhe dizer que está cá a mala, é que estou a ferver de nervoso.
A Sr.a Celeste lá foi a correr – Sr. Dessilva, Sr. Dessilva, chegou a mala.
O quintal era pequenino. O Sr, Dessilva estava sentado numa pedra a fumar um cigarrito. – Já vou Sr. Celeste – levantou-se e arrancou em lento como se fosse um caracol.
– Que passar Celeste? Ainda não ser cedo para almoçar?
– Não é isso Sr. Dessilva, é que chegou a tal caixa que o Sr. Dessilva falou que vai resolver todos os problemas. Está lá em baixo acompanhada pelo Polícia Vieira.
– Exactamente Sr.a Celeste, exactamente, dessa caixa eu estar na esperar mas agora ter que acabar cigarro. Por favor, chamar Sr. Costa para ver caixa.
A Sr.a Celeste foi a correr à oficina chamar o Sr. Costa mas, pelo contrário, o Dessilva parecia um caracol.
O Sr. Costa foi rapidamente à porta pensando que já lá estava o Dessilva.
– Bom dia Sr. Polícia Vieira – vendo que o Dessilva não estava lá – que é feito do Sr. Dessilva? A Sr.a Celeste já chamou o Sr. Dessilva? Vá rápido chama-lo.
– Sr. Costa, eu já o chamei mas não me pareceu com pressa nenhuma, Disse que tinha que acabar de fumar o cigarro e veio em marcha de caracol. Vou lá chama-lo outra vez a ver se acelera o passo.
Passados uns minutos que pareceram uma eternidade, lá apareceu o Dessilva puxado numa das mãos pela Sr.a Celeste.
– Bom dia – disse o Dessilva dirigindo-se ao Polícia Vieira e ao homem da carroça que o acompanhava. Em cima da carroça puxada por 1 cavalo estava uma pequena caixa, não teria mais de 60 cm de comprimento por 40 cm de largura e de altura, com 3 fechaduras e ainda embrulhado num cadeado fechado com 5 aloquetes.
– bom dia Sr. Dessilva, trouxe-lhe esta caixa que deve estar cheia de chumbo! – disse o Polícia Vieira para o Sr. Dessilva.
– Antes fosse ouro em vez de chumbo – disse o Dessilva – Sr. Polícia, por favor, aguardar Sr. Costa um minuto para dizer onde colocar caixa.
No entretanto, o Sr. Costa estava a ferver.
–Então o Sr. Policia Vieira traz aí a tal caixa do Sr. Dessilva? Deixe que eu descarrego a caixa.
– Calma Sr. Costa que isso não vai ser possível porque a caixa pesa como chumbo. Vai ser preciso arranjar pelo menos 2 homens e dos fortes – disse o polícia.
– O Dessilva olhou para três homens que passavam no fundo da rua e chamou-os – Aqui, aqui por favor que precisar de ajuda, aqui, ajudem-nos por favor – Os homens aproximaram-se – Poder entrar caixa na casa? Pode pôr caixa no quarto?
O primeiro dos homens a chegar, pensando que a caixa seria muito mais leve, tentou tirá-la da carroça mas sem sucesso. “Irra que isto deve estar cheio de chumbo, realmente vamos ser necessários os três.” Os 3 homens pegaram na caixa e entraram com ela porta adentro. “Por aqui”, “por ali”, “por acolá” ia dizendo o Sr. Costa a guiar os homens e o Polícia Vieira a caminho do destino final da caixa que seria o quarto onde estava hospedado o Dessilva. Como a escada era estreita, viram-se todos aflitos para coordenar a operação. Depois de a caixa estar pousada no chão, as pessoas voltaram a descer pelas escadas acabando na rua. O Dessilva tirou umas moedas da carteira, uma de 2€ para cada um dos homens e uma nota de 5€ para o Polícia Vieira – “Muito obrigado, thank you” e foram-se os 4 mais o cavalo e o seu condutor às suas vidas.
– Eu não me importava de carregar uma caixa destas todos os dias – disse um dos carregadores ao olhar para a moeda de 2€, gratificação que nunca tinha recebido na vida – Foram os 15 minutos em que mais dinheiro ganhei na minha vida – disse outro.
O Costa estava cheio de nervoso, queria a toda a velocidade ver o que a caixa continha – Rápido, vamos abrir a caixa!
– Agora ser hora de almoço. Calma, depois é que vamos ver a caixa.
O Costa como que lhe deu um ataque, tendo ficado todo vermelho mas conteve-se com os seus pensamentos. “O que teria uma caixa tão pequena para ser tão pesada? E porque teria tantas fechaduras e cadeados? E porque não veio a caixa juntamente com o resto da bagagem? O que será que haverá na caixa?”. Por querer resposta rápida a estas perguntas todas, o Sr. Costa comeu rapidamente mas, em oposição, o Dessiva comeu muito mais devagar do que era costume.
– Calma Sr. Costa, calma Sr. Costa que ainda para seu coração. Ter calma, depois de almoço ainda tomar café e fumar cigarro. Estar a pensar porque ser caixa pequena pesada? Será que ter chumbo ou ter ouro?
O Sr. Costa estava a ficar irritado com aquela calma toda mas lá se aguentou. Até que, por fim, depois do cigarro bem fumado, o Dessilva ainda disse “Sr.a Celeste, e o cafezinho?” O Sr. Costa mexeu-se todo na cadeira mas lá teve que aguardar que o americano pusesse o mel “Está um pouco quente, tem que esfriar um minuto”, mexeu vezes e vezes sem conta e, por fim “Já está, Sr.a Celeste o café estava muito bom, onde comprar café tão bom?”
– Irra, que me vai dar um ataque – disse o Costa.
– Sr. Celeste, a conversa fica no depois, vamos então ver o caixa que Costa ainda vai morrer no coração.
Subiram as escadas e entraram no quarto onde o Dessilva estava hospedado. Quando chegaram à caixa, eram precisas 8 chaves para a abrir, três nas fechaduras e 5 nos aloquetes. “Será que o Sr. Dessilva tem todas aquelas chaves?” O sr. Dessilva tirou uma corrente que tinha presa ao cinto das calças que tinha na ponta 2 chaves. Tirou outra corrente que tinha outras duas chaves “Já aqui ter chaves”. Abriu o armário e com uma das chaves abriu um baú, com outra das chaves abriu uma caixa pequena que tinha trazido dentro desse baús, lá dentro havia várias chaves “Dessilva já ter todas as chaves”. Pegou naquelas chaves todos, ajoelhou-se e começou a abrir os aloquetes, um por um. Depois, tirou as correntes e abriu uma fechadura, outra fechadura. Nessa altura em que ainda faltava uma fechadura olhou para o Sr. Costa e interrompeu a operação “Agora Dessilva precisar de ir urinar, Sr. Costa esperar um pouco que Dessilva vir já” O Sr. Costa tremeu de raiva “Arre homem que eu estou aqui que não posso, estou aqui que se não vejo já o que está aí dentro, expludo, abra lá a caixa.” Mas o Dessilva tinha mesmo sentido de humor. “Sr. Costa, tem que ser, estar necessidade, é um minuto, com sua licença” e saiu “Arre, arre, arre, burro, raios partam a caixa” disse o Sr. Costa “Este homem quer acabar com o meu coração”.
O Dessilva voltou, puxou pela chave e abriu a última fechadura. Abriu a caixa e a caixa que já era pequena por fora, por dentro reduzia-se a quase nada porque as paredes eram muito grossas, uns 10 cm, formadas por uma chapa de aço encostada à madeira exterior e também uma chapa de chumbo da parte de dentro. O que sobrava tinha uma pequena caixa em madeira escura com uns arabescos em bronze e osso, uma autentica caixa de jóias.
– Abra logo essa tampa para vermos o que está aí – disse o Costa como se fosse uma criança à espera do Pai Natal.
– Sr. costa saber que quem fez esta caixa ser Jonas, fez com carinho especial para caixa seguir para aqui.
– Sr. Dessilva, depois de abrir, conta-me essas histórias todas. Até já sinto o meu coração a palpitar.
– Mas é preciso esta chave pequenina – Disse o Dessilva. Parou um meio minuto para criar mais suspense e foi à corrente presa ao cinto das calças e retirou uma chave pequena que tinha passado até ai despercebida por ser pequena em comparação com as outras chaves e, com ela, abriu aquela pequena caixa.
– Meu Deus, isso está cheio de maços de notas. O Sr. Dessilva tem aí uma fortuna – De facto, haveria na caixa pelo menos 50 maços de notas de 20€ e cada um tinha escrito no atilho “1000€” – São pelo menos 50 mil€! – disse o Costa.
– Ser mais Costa, ser um pouco mais.
– O Sr. Dessilva desculpe eu estar no outro dia desanimado com a falta de dinheiro mas nunca me passou pela cabeça que o Sr. Dessilva pudesse chegar aqui com uma caixa com tanto dinheiro, Isso é muito dinheiro, nem nunca eu tinha visto tanto dinheiro junto. Agora percebo que tenha tido medo de trazer a caixa consigo e o seu peso e as chaves todas pois, para todos os fins, trata-se de um cofre forte de viagem. Isto é muito dinheiro, isto é uma fortuna.
– Sr. Costa, não levar a mal, mas isto não ser nada. Dessilva ser rico no América, este dinheiro não ser nada no América, América é um colosso.
– Com esta massa toda, realmente, as crianças têm o seu sustento garantido, agora as pessoas vão partir sem qualquer reserva.

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