sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Santo Aleixo vai expulsar os PIIGS

Em 1980, Santo Aleixo do Mendigos era uma pequena aldeia no meio de um grande descampado.
O seu povo era calado e respeitador da paz e silêncio dos vizinhos. Pareciam alemães.
A uns quilómetros da aldeia e no meio do descampado, viviam 5 familias de ciganos denominados por PIIGS (as familias Patruscos, Ionescos, Ilinescos, Garranos e Santaneiros).
Nos acampamentos o povo cantava, os cães ladravam, as crianças gritavam, as mães berravam, os pais davam tiros de caçadeira para o ar. Era barulho dia e noite.
Certo dia o patriarca foi à aldeia e voltou com uma novidade.

 - Estive na aldeia e é um silêncio, uma calma, um respeito pelos vizinhos. É verdadeiramente repousante. Se fossemos viver para lá até ganhávamos saúde.

Cada um disse:

 - Aqui é uma barulheira terrível, uma falta de respeito. Vamos para a aldeia senão, qualquer dia mato estes gajos todos.

Fig. 1 - Tocavam disto dia e noite

O processo de convergência
O patriarca foi falar ao Presidente da Junta e lá lhe contou que estavam fartos de barulho e que se queriam mudar para a aldeia.
Então, pensando que a união ia melhorar o comércio na aldeia, o Junta e os PIIGS assinaram um tratado com 5 condições:
    1.ª condição. Os PIIGS mudam o acampamento 1 km para mais próximo da aldeia.
    2.ª condição. Enquanto se ouvir barulho na aldeia, os PIIGS ficam aí.
    3.ª condição. Quando se deixar de ouvir barulho, os PIIGS avançam mais 1 km. 
    4.ª condição. Quando os PIIGS encostarem à muralha podem passar a viver na aldeia.
    5.ª condição. Uma vez dentro da aldeia, nunca mais precisam sair.

Fig. 2 - Foi assinado um tratado mas que não era para cumprir

A evolução da situação
Os PIIGS foram-se aproximando e em 2000 passaram a viver dentro da aldeia.
A princípio parecia estar tudo a correr bem mas, com o tempo, os PIIGS começaram a pôr a música um pouco mais alta.
O Junta foi falar com o patriarca para ver se ele reduzia de novo a música.

- Vocês estão a querer mandar em nós só porque somos ciganos. A nossa cultura é fazer barulho. Nós não somos alemães.

Retorquiu o Junta:

- Mas homem, vocês vieram para cá para gozar do silêncio e agora estão a perturbar a paz. Vamos ter que um procedimento por incumprimento do tratado.

Veio o procedimento por incumprimento que não deu em nada 
No dia de S.to Aleixo a música tinha tocado até tarde e os PIIGS usaram esse precedente.
Então, o procedimento por incumprimento foi arquivado.
Depois de não dar em nada, os PIIGS compraram cães que começaram a ladrar toda a noite, violas para tocar dia e noite, voltaram aos tiros e a atirar lixo para tudo que era sítio.
E começaram-se a queixar ao Junta do barulho e da desarrumação.
Que a Aldeia tinha que lhes insonorizar as barracas porque não podiam viver assim.

- Mas homem, vocês é que têm que deixar de fazer barulho. Vocês quando vieram para cá disseram que não queriam barulho e não estão a respeitar isso.

- Lá está você, imperialista, explorador sanguinário, mercado sem rosto, está a querer mandar em nós, uma cultura milenar. Nós não somos alemães

Fig. 3 - Podes ser muito boa pessoa mas não aguento mais os teus berros toda a noite.

E agora? 
Não há outra solução que não seja rasgar o artigo 5.º do tratado e expulsar os PIIGS de volta ao descampado.
Como é possível convencer os PIIGS que são eles que fazem o barulho?
Por um lado dizem querer silêncio mas, por outro lado, berram toda a noite.
A única solução é pô-los a andar.

O caso português
Nós entramos na Zona Euro porque queríamos taxas de inflação baixas (para ter juros baixos).
No entretanto subimos os salários como se houvesse inflação e não cumprimos nada a que nos tínhamos comprometido.
Agora que estamos em bancarrota gritamos a pedir taxas de inflação mais altas.
Que os alemães não nos deixam mandar na nossa vidinha. Que nos querem colonizar.

Não há paciência.

Pedro Cosme Costa Vieira

6 comentários:

Anónimo disse...

tenho gostado muito de ler este blog. No entanto por vezes fico com algumas duvidas em relaçao a certas conclusoes suas.

Por exemplo esta frase "Nós entramos na Zona Euro porque queríamos taxas de inflação baixas (para ter juros baixos).
No entretanto subimos os salários como se houvesse inflação e não cumprimos nada a que nos tínhamos comprometido."

Mas ao entrar-mos na zona euro, não houve imediatamente uma inflação enorme?
A ideia que tenho é que o preço de alguns produtos duplicou em cerca de 2 anos.

Gostaria que me respondesse, se fosse possivel.

Jorge

Económico-Financeiro disse...

Estimado Jorge,
Não posso mostrar aqui um gráfico mas a inflação foi
1990-94 9.0%/ano
1995-99 2.9%/ano
2000-04 3.3%/ano
2005-09 1.9%/ano
2010 1.4%/ano
apesar de parecer que a entrada do Euro em 2000 aumentou a inflação, nós entramos no Euro muito antes de 2000 pois (mesmo com escudo, já estavamos com cambio controlado). globalmente houve uma redução muito significativa (de 10%/ano para 2.5%/ano).
pc

Anónimo disse...

eu não posso mostrar gráfico nenhum, e também já me disseram que a inflação nos anos em que começamos a usar euros foi de cerca de 3%.
No entanto lembro-me de uma grande subida dos preços de alguns produtos, e já ouvi dizer que isso não ocorreu apenas em portugal, mas em grande parte ou na totalidade dos países da zona euro.
É verdade que quando passamos a usar euros os preços de alguns produtos aumentaram substancialmente em poucos anos?
A ser verdade, gostaria de saber a razão para esses aumentos, já que pelos vistos não correspondem á inflaçao.
Outra coisa que eu gostaria de ver respondida é a seguinte: leio-o muitas vezes a dizer que os salários têm de diminuir e que o salário minimo tem de acabar. Se defende o fim do salário minimo, defende ser possivel pagar-se mensalmente menos de 475 euros por um trabalhador e é imediatamente isso que irá acontecer com alguns trabalhadores. Numa cidade como Lisboa onde dificilmente se aluga um quarto por um preço inferior a 200 euros, quando os transportes publicos deverão aumentar para cerca de 45 euros por passe metro carris e ainda mais para outros tipos de passes. Uma diminuição de salários não superiores a 475 euros, significará definitivamente a escravização legal do ser humano?

Jorge

Económico-Financeiro disse...

Estimado Jorge,

1. Houve preços que subiram e outros que desceram. Por exemplo, os produtos alimentares (farinha, arroz, açucar) desceram muito e os combustiveis subiram muito.
A inflação traduz uma média dos preços que subiram e dos que desceram.
Mas nós notamos mais os que sobem que os que descem pelo que ficou a sensação que os aumentos foram maiores que 3%/ano.

2. A descida dos salários não é literalmente a escravisação mas é algo terrivelmente mau.
A escravização retira a liberdade de o inidviduo decidir a sua vida (por exemplo, emigrar).
O problema é que o que se produz em Portugal não é suficiente para os salários que existem.

Se fosse bom ganhar pouco não haveria milhares de pessoas a morrer todos os anos a tentar atravessar o Mediterraneo.

Mas o salário mínimo não é um problema em Lisboa pois ninguém ganha isso aí. É mais no Norte.

pc

Anónimo disse...

senhor Pedro Cosme Costa Vieira
ciganos são humanos e educados
não seja tão racista.

Económico-Financeiro disse...

Estimado Anónimo,
Muito antes pelo contrário.
Os cigano têm uma cultura diferente e têm todo o direito a vive-la.
Racismo é silenciar essa cultura europeia, rica e milenar só porque não têm país.
pc

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