sexta-feira, 15 de março de 2013

A sistema de eleição papal e o marasmo

Sempre que se inicia a eleição de um novo Papa, olhando para o sistema de eleição (votação repetida sem exclusão de ninguém até um ter 2/3 dos votos), parece que vamos ter que esperar dezenas de anos até a montanha parir alguma coisa.
Mas, decorridas apenas 4 ou 5 voltas, habemus papa
Porque será que, de um sistema que parece totalmente incapaz, resulta rapidamente uma eleição?
Fig 1 - Habemus papa há muitos anos

Poderá a eleição do Papa demorar para sempre?
Em linguagem científica a questão é
Terá o procedimento de eleição papal uma solução não trivial em tempo finito?

A governação da Igreja é uma oligarquia.
O papa classifica-se a si próprio como monarca porque o seu poder vem directamente de Deus (segundo ele). Como o papa não tem filhos, fica o problema de Deus, repetidamente, ter que escolher um novo papa que é ultrapassado pelo voto dos cardeais (os "príncipes da igreja").
De facto, o regime de governação da Igreja é uma oligarquia onde cada papa é eleito pelos cardeais nomeados pelos antecessores aos quais vai acrescentado novos cardeais eleitores até ao limite de 120 (cerca de 1 por cada 10 milhões de fieis).
Esta oligarquia é republicana porque qualquer homem (independentemente da posição dos seus familiares) pode ser eleito papa, é piramidal e não é representativa (os do patamar inferior não influenciam significativamente a escolha dos do patamar superior).


Fig. 2 - O poder da Igreja é uma oligarquia piramidal com 1 eleitor por cada 10 milhões de fieis.

Mas vamos ao que interessa.
C1) Qualquer homem solteiro pode ser eleito Papa mas, por norma, os elegíveis são os cardeais eleitores.
C2) Apesar de número de eleitores ser uma decisão do papa, desde 1973 que está voluntariamente limitado a um máximo de 120 (actualmente, são 115).
C3) O papa tem que ser eleito com mais de 2/3 dos votos dos cardeais (actualmente, 77).
C4) A eleição tem um número indeterminado de voltas porque nunca são eliminados os menos votados.
Assim, aparentemente, do processo eleitoral pode nunca resultar numa escolha.
Se, por exemplo, em cada volta se eliminasse o cardeal menos votado (e, no caso de empate, o mais velho), ao fim de 113 votações, já só haveria 2 nomes. Mas, mesmo assim, a situação poderia não ter fim se nenhum dos dois tivesse 2/3 dos votos. Por exemplo, os votos dividiam-se entre o cardeal que defendia o celibato obrigatório e o cardeal que defendia o seu fim.

Mas existe uma condição que torna o processo eleitoral ter solução não trivial em tempo finito.
C5) É que apenas o papa pode nomear novos cardeais.
Então, com o tempo, os cardeais vão atingindo o limite de idade (ou morrendo), diminuindo o número de votantes.
Se o processo de eleição tivesse decorrido durante 10 anos, em 2023 o colégio de cardeais já só teria 50 cardeais com menos de 80 anos, sendo precisos apenas 34 votos para eleger o novo papa.

Este sistema nunca seria implementável numa democracia.
Porque há um número muito grande de eleitores (excepto se o país fosse muito pequeno) e estão sempre a entrar novos eleitores (porque nas democracias a condição de eleitor resulta apenas da idade).

Agora que temos novo Papa, business as usual.
O problema das oligarquias é que não existe alternância de poder.
Apesar de o senso comum achar que a alternância entre PS e PSD é a raiz de todos os nossos problemas, agora imaginem que tínhamos lá o Sócrates para sempre.
As pessoas nunca mudam o seu pensamento apenas havendo progresso nas ideias com pessoas novas, não apadrinhadas pelas antigas.

Quem está no poder apenas escolhe aqueles que pensam como ele pelo que o novo Papa é sempre uma pessoa que pensa como o Papa antecessor.
Naturalmente, o novo Papa veio logo dizer que tudo vai continuar como é há centenas de anos.
     A) Casamento dos padres? Nem pensar.
     B) Ordenação das mulheres? O sítio delas é em casa a criar os filhos.
     C) Os paneleiros e lésbicas mesmo castos? São uma aberração da Natureza.
     E) O divórcio? É uma coisa do Demónio.

Onde diz na Bíblia o que a oligarquia da Igreja defende?
Em lado nenhum e mesmo que dissesse, também lá refere que o povo eleito é o povo de Israel que descende dos 70 da tribo de Jacó!
É claro que todos nós, portugueses, descendemos de alguém da tribo de Jacó mas a maior parte dos católicos por esse mundo fora não descende.

A eleição resulta rápida porque as cartas estão marcadas.
Dentro do colégio eleitoral não há discussão de ideias (manifestos eleitorais) porque todos os cardeais pensam exactamente aquilo que pensava quem os meteu lá.
Estou persuadido que se fizessem uma sondagem aos católicos, uma grande maioria responderia ser  a favor do fim do celibato obrigatório dos padres. Foi muito pior a despenalização do aborto ou o casamento gay e a maioria do povo já acha aceitável.
Mesmos se perguntassem aos padres, ainda se observava uma maioria a fim do celibato mas os cardeais não são representativos das vontades dos católicos.
Mas os cardeais são clones da mesma ideia pelo que, naturalmente, chegam a acordo muito rapidamente.

Quem tem esperança que algo, alguma vez, mude nas ideias papais, que espere sentado.


Fig. 3 - Ao mostrar-te as mamas da minha irmã, estou-te a mostrar as minhas mamas.

Pedro Cosme Costa Vieira

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