quarta-feira, 2 de janeiro de 2019

Como estará a evoluir a natalidade?

Um anúncio da Wells anuncia que a natalidade aumentou em 2018.
Dizem eles que "Portugal cresceu como há muito tempo não crescia. Em 2018 estima-se que tenham nascido mais mil bebés do que no ano de 2017, o que representa um crescimento médio de cerca de 100 bebés por mês." 
Eu gosto de mostrar frases destas aos meus alunos de "introdução à escrita científica" para mostrar como podemos escrever coisas bombásticas mas que estão erradas.
A primeira frase, "Portugal cresceu como há muito tempo não crescia" é mentira porque Portugal não cresceu nada, está na mesma com 92212km2, é uma colagem ao governo (que afirma que, com eles, a economia tem crescido como nunca) e é vaga pois não sabemos o que é "há muito tempo". Se para um geólogo, muito tempo são mil milhões de anos, para um velocista como o Obikwelu, muito tempo são 11 segundos para fazer 100 metros.
A segunda frase "Em 2018 estima-se que tenham nascido mais mil bebés do que no ano de 2017" não corresponde à verdade.

A agenda mediática.
À comunicação social interessava dizer que, no tempo do Passos Coelho tudo correu mal, incluindo a redução na natalidade, e que no tempo do Costa, tudo correu bem, com aumento explosivo dos nascimentos.
Como, com o tempo, a natalidade não aumentou, este tema saiu da agenda mediática e dos discursos dos políticos.
Para termos uma população estável nos 10 milhões de habitantes, em 2018 deveriam ter nascido 125 mil crianças e nasceram apenas 86300 crianças. Uma perda na ordem das 40000 crianças e, mesmo assim, está tudo bem.
Reparem bem como as coisas funcionam.
Em 2018 morreram 5 pessoas numa pedreira qualquer perdida no meio de nenhures e foram horas e horas de notícias e de intervenções do Sr. Presidente Marcelo.
Morreram mais de 500 pessoas em acidentes rodoviários e ninguém ligou.
Desapareceram 40000 crianças e ainda dizem "Portugal está a crescer como há muito tempo não crescia."

Vamos aos dados.
Na primeira metade da década de 1960 nasceram 220 mil crianças por ano.
Em 2018 nasceram 86 mil crianças, uma redução de 60%.
Metendo os dados disponíveis no Banco Mundial e no INE para os nados vivos, observamos oscilações conjunturais em torno de uma contínua tendência de redução de 1,65% por ano (ver, Fig. 1).

Fig.1 - Evolução do número de nascimentos em Portugal, 1960:2018 (dados: Banco Mundial e INE)

Relativamente ao aumento da natalidade anunciado em 2017 pelo governo e em 2018 pela Wells, vou ter que ampliar a figura anterior.

Fig. 2 - Ampliação da figura 1 para 2000-2018.

Podemos verificar que no período da crise, 2011-2013, houve uma redução vais violenta que a tendência mas que a recuperação foi pífia, estando ainda abaixo da tendência o que traduz que não houve qualquer recuperação dos "nascimentos adiados".
Em 2018 o número de nascimentos foi inferior em 3000 aos nascimentos de 2012, ano em que a crise foi mais profunda.
Olhando apenas para 2000, é brincar com os números esquecer uma redução de 15 mil nascimentos e concentrarmos-nos numa estimativa muito martelada poder indicar um aumento de meia dúzia de almas.
Os dados do INE dizem mesmo que, nos últimos 3 anos, a natalidade reduziu de 86734 nascimentos em 2016, para 86498 em 2017 e 86303 em 2018 (para 2018, o valor ainda não está fechado).
Mais interessante é que nos 4 anos de mandato do Passos Coelho nasceram tantas crianças por ano como nos 3 anos e tal que já leva o Costa.

A minha previsão para 2019 e seguintes?
Continuará a queda na natalidade.
Como eu costumo dizer atribuindo à sabedoria popular, as pessoas não têm filhos porque é melhor criar um porco do que uma criança porque o bicho, uma vez gordo, dá matança.
Isto só inverterá  quando tivermos, tal como em França têm, uma percentagem razoável de árabes que ainda vêm o "Crescei e multiplicai-vos" como o principal mandamento da Lei de Deus.

Fig. 3 - Venham barcos destas pois nem são mazitas de todo.

3 comentários:

Portuendes disse...

E eu espero que continue a reduzir a população. Para já, não quero, por princípio, ter crianças a nascer para me pagar a reforma (eu tenho de ter a obrigação de a pagar, com descontos que fiz ou com poupanças) - sim, o sistema está mal feito e é vicioso.
Além disso, quem tem filhos são apenas as gentes do bairro, que não tem trabalham e cujos filhos não irão trabalhar, apenas pesar no orçamento e eu a pagar-lhes os telemóveis. Idem, aspas para a imigração que se potencia de gente sem formação adequada e perspectiva de vir para a Europa viver à nossa custa.

Portuendes disse...

Aliás, até concedo que estou parcialmente errado, pois uma população envelhecida como a nossa tende a ser cobarde, acomodada e sem ambições e, para não se afundar, é necessário ter uma geração nova com vontade e empreendedora. Mas isso só vale a pena se a nova geração for como disse atrás, implica que, no mínimo, haja uma política rigorosa e muito controlada de imigração e de natalidade.

Unknown disse...

Bravo!, Dr. Pedro Cosme Vieira. Continue.

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