sexta-feira, 21 de outubro de 2022

Afinal, de que trata a Ciência Económica?

Fala-se muito de Economia e de Ciência Económica mas o que é isso?

Eu fui acusado de ser racista e despedido porque referi numa aula a alunos de letras que nos países africanos as pessoas são pobres enquanto que nos países da OCDE são ricas.

Mas todos sabemos que, apesar de haver pobres nos países da OCDE e ricos em África, o africano médio é pobre (tem acesso a poucos bens e de baixa qualidade) e "ocidental" médio é rico (tem acesso a maior quantidade de bens e de melhor quantidade).

Claro que ninguém se acredita no que acabo de relatar mas aconteceu mesmo.

A Ciência Económica procura compreender porque existem sociedade pobres em oposição às sociedades ricas.

Vamos ver se consigo dar alguma intuição para o problema (o que não é fácil).


1 = O valor resulta dos gostos do consumidor.

Eu entro numa frutaria. 

Eu gosto mais de umas frutas do que de outras o que, em termos económicos, traduz que dou mais valor às frutas de que gosto mais.

O valor sendo subjectivo, está profundamente escondido no nosso cérebro. Desta forma, quando entro na frutaria, ninguém sabe a que frutas dou mais valor. 

Vamos supor que dou mais valor às maçãs do que às pêras. Apesar de à entrada ninguém saber desta minha preferência, quando faço a compra, revelo os meus gostos. 

Vamos supor que as pêras estão a 1,00€/kg.

A) Em termos qualitativos, se as maçãs estiverem 1€/kg, eu ao comprar maçãs revelo que prefiro as maçãs às pêras. Dou mais valor às maçãs mas ainda ninguém sabe quanto mais.

B) Vamos aumentando o preço das maçãs. Se eu comprar maçãs até um preço de 1,50€/kg e se a 1,51€/kg ou mais eu passar a comprar pêras, em termos quantitativos, estou a revelar que o valor que dou às maçãs é 1,5 vezes o valor que dou às pêras.

Se uniformizarmos o valor das pêras como 1, para mim, as maçãs valem 1,5.


2 = Numa economia eficiente, os bens são consumidos por quem lhes atribui maior valor.

Na frutaria há 300 kg de pêras e 700 kg de maçãs que vão ser consumidos por 1000 pessoas, 1kg por pessoa.

Vamos supor que o valor das pêras é uniformizado a 1 e que cada pessoa dá um valor às maçãs relativamente às pêras, por exemplo, 1,32; 1,56; 1,22; 0,96; 0,74: 1,20; 0,85; ...; 1,29; 1,23. Como já vimos, uma pessoa que dá às maçãs o valor relativo de 0,74 compra maçãs quando o preço está relativamente inferior a este valor e pêras quando está superior.

Agora, tenho de atribuir a fruta de forma a ser máximo a soma dos valores individuais. Assim, será óptimo atribuir os 30 kg de pêras às 30 pessoas que atribuem menor valor às maçãs.

Numa simulação que construí no Excel, o valor é uniforme entre 0,30 e 1,70. Se atribuir aleatoriamente a fruta, o valor médio será 1 enquanto que se atribuir as maçãs a quem lhes atribui mais valor, a média será 1,14.


Parece simples mas é muito complicado.

Na simulação, serão atribuídas maçãs a quem lhes dá um valor superior a 0,70. Uma pessoa com valor 0,90 atribui maior valor às pêras mas vai ficar com maçãs pois há menos pêras.

Isto traduz que, se numa fila indiana (será racismo dizer fila indiana?), perguntar às pessoas "Maçãs ou pêras?", a entrega não vai ser óptima pois todas as primeiras com valor inferior a 1 vão querer pêras quando estas apenas devem ser entregues às pessoas com valor inferior a 0,70.

Mas complicado se torna se houver muitas frutas diferentes. Se, por exemplo, houver 100 frutas diferentes, cada pessoa terá um valor diferente para cada uma das 99 frutas (as pêras têm o valor 1).

Desta forma, o socialista que vai entregar as frutas tem de conhecer os 99 valores atribuídos por cada uma das pessoas (havendo 1000 pessoas, será preciso conhecer 99000 valores). Depois, é fácil fazer as contas que fazem resultar da entrega da fruta o máximo o valor possível.

 

E onde entra o dinheiro das pessoas?

No exemplo apenas considero a compra da fruta contra dinheiro mas cada agente económico faz compras e vendas. A maior-parte de nós vende trabalho e compra bens e serviços.

Podemos então estender o problema considerando quantidades positivas (as compras) e quantidades negativas (as vendas).

Uma pessoas decidem vender mais trabalho tendo, assim, mais rendimento que lhes permite comprar mais bens enquanto que outras decidem vender menos trabalho tendo, assim, menos rendimento, comprando menos bens.

A restrição orçamental obriga a que a soma de tudo o que vendemos tenha de ser igual à soma de tudo o que compramos (mais a poupança/endividamento).

A soma das poupanças das pessoas é exactamente igual à soma do endividamento das pessoas. Se alguém poupa, terá que alguém se endividar e vice-versa

 

Mas pode um país ser rico sem produção?

Claro que não.

A produção é um "problema da transformação". A produção é a destruição  de alguns bens (aquisição de inputs) para produzir outros bens (venda de outputs) a que os consumidores atribuem maior valor. 

Vamos supor que uma pessoa dá um valor de 1,00/kg de maçãs, 1,00/kg de açúcar e 1,50/kg de doce de maçã. Então, transformando 1kg maçãs + 1kg açúcar em 2kg de doce de maçã, aumentamos o valor de 2 para 3.

A relação de transformação traduz a tecnologia.

A economia são milhares de milhões de decisões individuais que têm de ser compatíveis



A economia de mercado.
Há milhões de bens e serviços, milhões de processos produtivos e milhões de trabalhadores / consumidores e, para a economia ser eficiente, é preciso conhecer os gostos de cada um relativamente a cada bem e as tecnologias disponíveis.
A única forma de nos aproximarmos da eficiência é havendo um sistema de preços (e salários) onde vão ser compatibilizadas as possibilidades de produção, as tecnologias e os gostos das pessoas.
Para uma economia ser rica é necessário que o mecanismo de preços funcione bem, não havendo preços determinados de forma administrativa pelos governos.

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