terça-feira, 15 de agosto de 2023

Deixem as trotinetes circular nas vias rápidas sub-urbanas

Cada vez mais aparecem vídeos com trotinetes a circular em vias rápidas.

Cada vez há mais vídeos de pessoas a circular em vias rápidas de trotinete eléctricas (incluindo a Ponte 25-de-abril) o que traduz que há uma necessidade social de que este tipo de vias possam ser usadas pelas trotinetes.

Os arquitectos que desenharam o alargamento das cidades imaginaram que um peão não pode percorrer mais do que 5 km, por exemplo, um peão demora 6 horas a percorrer os 24 km da A5 entre Alcabideche e Lisboa. Desta forma, houve grandes investimentos na construção de vias com piso óptimo mas apenas para carros. 

Com a trotinete (e a bicicleta) eléctrica tudo ficou diferente pois galgam-se 24km em apenas 60 minutos (a 25km/h), tão rápido como o autocarro.

Uma viagem diária de ida e volta Alcabideche-Lisboa de trotinete ficaria mais cara do que usar o transporte público mas, se contabilizarmos o tempo de casa até ao transporte público e do transporte público até ao local de trabalho, seria bastante mais rápido usar a trotinete.


E a segurança?

Eu já circulei em estradas nacionais com muito trânsito e estreitas, por exemplo, a EN109 entre Aveiro e o Porto, a Estrada da Circunvalação EN12 em volta do Porto e a EN1 entre Oliveira de Azeméis e Arrifana.

Também já circulei em vias com perfil de via rápida, EN223 entre Arrifana e a Feira, e já pensei circular na auto-estrada A1 (para medir a perigosidade) mas ainda não tive coragem.

E não senti nenhum perigo especial nos milhares de quilómetros percorridos. Mesmo nas pontes da EN109 que são estreitas (não têm berma), os carros respeitaram sempre a minha segurança.

Penso ser possível permitir que as trotinetes circulem nas vias rápidas com segurança.

Fig. 1 - Quando passa no pórtico das portagens será que apita?

Se hoje passasse a ser permitido circular nas vias rápidas!

Haveria pouco movimento, nunca mais de uma trotinete por minuto mas, com o tempo, as pessoas iriam ganhar confiança e passaria a haver muito mais.

Até penso que, no espaço de um ano, haveria bastantes pessoas a atravessar a Ponte 25 de Abril.


A trotinete tem a vantagem do custo ser menor.

Cenário 1 = 46km/dia, uma pessoa

Este cenário é "adequado" para o carro (17000km/ano) e "longo" para a trotinete (4 viagens diárias de 11,25km).

O custo da totinete (0,065€/km) é 40% do custo do automóvel (0,175€/km).

O tempo de viagem é 30 min para a trotinete e 12 minutos para o carro.


Cenário 2 = 15km/dia, uma pessoa

Este cenário é "curto" para o carro (5500km/ano) e "adequado" para a trotinete (4 viagens diárias de 3,75km).

O custo da totinete (0,065€/km) é 25% do custo do automóvel (0,25€/km)

O tempo de viagem é 10 min para a trotinete e 10 minutos para o carro.


Tem a vantagem de poder ser transportada no transporte colectivo.

Para viagens maiores de 10km, a trotinete pode ser transportada no comboio ou no autocarro. Bem sei que a generalidade dos autocarros o proíbe (por exemplo, a Flexibus) mas é um erro que irá, mais dia menos dia, ser corrigido (não há qualquer razão para ser proibido meter uma trotinete num autocarro).


Tem a vantagem de ser "amiga do ambiente".

Como apenas usa electricidade, há a possibilidade de ser carregada com um painel solar.

Um painel solar com 1m2 é mais do que suficiente para carregar uma trotinete que percorra 20km/dia.


Mas a principal vantagem é não precisar de estacionamento.

Fazer uma viagem de carro é mais caro mas é mais cómodo (principalmente quando chove e o percurso é superior a 10km). O problema é, principalmente nas cidades, o estacionamento.

Por exemplo, em Lisboa, estacionar um carro 8 horas na Zona Vermelha (que cobre as "avenidas novas") tem um preço de 12,80€ e na Zona Preta tem um preço de 24€/dia (e é preciso estar sempre a "renovar" o estacionamento).

A trotinete pode ser "carregada" para o local de trabalho e, se necessário estacionar no exterior, ocupa muito pouco espaço (cabem 40 trotinetes num lugar de estacionamento para carros).


Vamos agora às vias rápidas sub-urbanas

Vou pensar numa via rápida com 3 faixas de rodagem.


1) A berma da estrada fica dedicada para as trotinetes/bicicletas.

A berma com um mínimo de 3 metros de largura e a velocidade mínima de circulação de 20km/h (para não haver aglomerações).


2) A faixa mais à direita fica para carros mas com uma velocidade máxima de 50km/h.

Limitar a velocidade da faixa mais à direita funciona como transição de velocidades 80/50/25.

Limitar a velocidade não diminui a capacidade de tráfego pois esta via vai continuar a ser utilizada nas horas de maior tráfego rodoviário (nas horas de congestionamento). 


3) Nas saídas e entradas os carros têm de estar particularmente atentos.

Para poderem sair, os carros têm de entrar na faixa de velocidade reduzida. Depois, têm de cruzar a "ciclovia" onde os trotinetistas têm prioridade. 


4) Circular contra-a-mão?

Este ponto é discutível. Será que se as trotinetes circularem contra-a-mão (como os peões nas estradas sem passeio) é mais seguro?

Provavelmente sim principalmente nas entradas e saídas pois o trotinetista fica de frente para o trânsito (consegue ver bem se há carros com intenção de cruzar a ciclovia).

Fig. 2 - A faixa mais à direita será de ter carros apenas nas horas de congestionamento.


Para haver progresso, temos de experimentar soluções diferentes.

Para o nível de bem-estar aumentar, a economia tem de crescer que obriga a que se produza mais valor com cada hora de trabalho.

Fazendo sempre a mesma coisa, ensinando sempre as mesmas matérias, respondendo sempre da mesma forma, ficaremos sempre na mesma.


Estamos a andar cada vez mais para trás.

Em 1989, quando comecei como assistente estagiária, ganhava em termos líquidos 105 contos por mês e todos os meus colegas de estudos tinham salários nesta ordem de grandeza, nos 100 contos por mês.

Se corrigirmos pela inflação, sem haver qualquer crescimento do poder de compra, uma assistente estagiária deveria levar para casa 1580€/mês e, se houvesse um crescimento económico de 1%/ano, levaria 2216€/ano.

Actualmente, ninguém conseguem um primeiro emprego a levar 1580€/mês para casa, nem com 5 anos de experiência, e muito menos, levar 2216€/mês.

Uma assistente estagiária hoje leva 1316€/mês para casa, uma redução no poder de compra de 17%.


 Porque é que não paramos de andar para trás?

Porque as pessoas preocupam-se mais em fazer o que já foi feito, em anunciar direitos, em combater quem quer fazer diferente, do que em pensar formas de fazer coisas com mais valor.

Não são os políticos, somos todos (quero-me excluir porque me acho mais uma vítima desses empatas). 


Vou colocar uma pergunta.

O melhor que se consegue fazer hoje, meados de 2023, é colocar 314 milhões de transístores por mm2  (node 3nm) e, em meados de 2012, o melhor que se conseguia fazer era colocar 15,3 milhões de transístores por mm2 (node 22 nm), um aumento de 31,6%/ano.

Agora vem a pergunta. Será que hoje em Portugal temos um nível tecnológico que nos permita, se quisessemos, fazer chips com a tecnologia de 2012, isto é, usar node 22 nm?

Não, nem lá próximo.


Somos capazes de receber uns hospedes e servir umas bebidas numa esplanada.

E não queremos, em termos colectivos, ser diferentes.


As contas.

Cenário 1 = 46km/dia, uma pessoa

Custo do carro.

Um carro "base" novo tem um preço de 12500€

V1 = Percorrendo durante a vida útil 250000km, resulta em 0,05€/km. 

V2 = O combustível são cerca de 1,80€/litro*5litros/100km = 0,09€/km.

V3 = Temos ainda de somar 0,01€/km para pneus e manutenção.

V4 = Acrescentamos os custos mensais fixos. São os 120€/ano de seguro e 110€/ano de IUC. Se o carro durar 15 anos (percorrer uma média de 46km/dia), temos 230*15/250000=0,014€/km.

V5 = Acrescento 0,01€/km para uma taxa de juros de 2.5%/ano.

O custo total são 0,05+0,09+0,01+0,014+0,01 = 0,174€/km.


Custo da trotinete.

Uma trotinete "boa" (por exemplo, a Xiaomi pro 2) tem um preço de 550€ na Sport Zone.

V1 = Percorrendo durante a vida útil 11000km, resulta em 0,05€/km (tanto como o atuomóvel). 

V2 = O combustível são cerca de 0,25€/kwh*1,5kwh/100km = 0,004€/km.

V3 = Temos ainda de somar 0,01€/km para pneus e manutenção (o mesmo que o carro).

V4 = Não tem custos mensais fixos. 

V5 = Pensando que a trotinete fizer média de 46km/dia (dura 240 dias), acrescento 0,001€/kms para juros.

O custo total são 0,05+0,004+0,01+0+0,001 = 0,065€/km.


Cenário 2 = 15km/dia, uma pessoa

Custo do carro.

V1 = Tendo 20 anos de vida útil, resulta em 0,11€/km. 

V2 = O combustível é o mesmo, 0,09€/km.

V3 = A manutenção é um pouco maior mas vou manter o mesmo, 0,01€/km.

V4 = Acrescentamos os custos mensais fixos. São os 120€/ano de seguro e 110€/ano de IUC. Dá 230/20/365=0,032€/km.

V5 = Acrescento 0,01€/km para uma taxa de juros de 2.5%/ano.

O custo total são 0,11+0,09+0,01+0,03+0,01 = 0,25€/km.


Custo da trotinete.

Mantém-se em 0,065€/km


0 comentários:

Enviar um comentário

Twitter Delicious Facebook Digg Stumbleupon Favorites More

 
Design by Free WordPress Themes | Bloggerized by Lasantha - Premium Blogger Themes | Best Hostgator Coupon Code