Em 1929 houve uma crise económica muito grave, a Grande Depressão.
Hoje, quem sabe economia sabe que a grande depressão foi uma pequena crise económica que foi amplificada por o modelo de controlo do sistema monetário não ser adequado (na altura, a política monetária era manter fixa a quantidade de moeda em circulação "fora do banco central"). No então, um país "bem governado" só poderia aumentar a quantidade de moeda em circulação se o banco central adquirisse ouro para funcionar como contra-valor das notas.
Só posteriormente, com Muth (1961) e Phelps (1968), é que se compreendeu verdadeiramente que a quantidade de moeda em circulação contabilisticamente "fora do banco central", tem de aumentar durante as crises de forma a manter a quantidade de moeda a circular na economia constante conseguindo-se assim a estabilidade dos preços.
A estabilidade dos preços é fundamental para "estancar" a crise porque há uma dificuldade em ajustar os salários nominais, em termos de euros, para baixo (aquilo que tentou o Passos Coelho).
Vejamos o mecanismo de amplificação que aconteceu em 1929.
1 = Quando há uma crise económica motivada por um choque adverso na produção (por exemplo, uma seca, um cataclismo natural ou uma guerra), há menos produção.
2 = Se há menos produção, as pessoas têm de consumir menos.
Se tenho duas garrafas de vinho e uma parte-se, tenho de beber metade.
Se no ano passado comi 4 maçãs por dia porque a minha árvore deu 1460 maçãs, se este ano só deu 1095 maçãs, só posso comer 3 por dia.
Esta é uma verdade irrefutável mas, na opinião dos sábios catedráticos de economia, apenas em quem não sabe nada de economia.
3 = Para as pessoas consumirem menos, há duas possibilidades:
3.1 = O poder de compra dos salários vai diminuir (o que levou a cabo o Passos Coelho).
3.2 = A taxa de juro vai subir (o que aconteceu no mercado).
Deixar a taxa de juro subir é errado porque destrói o investimento.
Ao subir a taxa de juro, diminui o investimento o que traduz que as pessoas estão disponíveis para consumir o capital. Mas isso destrói a capacidade produtiva do ano seguiste.
Se um agricultor precisa guardar 100 kg de sementes para a safra seguinte, havendo um ano de seca, tem de dar prioridade a guardar os 100 kg de sementes mesmo que para isso, nesse ano passe fome de cão.
Quando há uma crise, aumenta o receio das pessoas.
A generalidade das pessoa vê a moeda como um activo real, tal e qual como se fossem bens. Então, quando há uma crise:
4 = As pessoas, à cautela, guardam mais dinheiro, notas, do que é normal.
5 = Ao guardarem moeda, apesar de a quantidade de moeda em circulação "fora do banco central" ser a mesma (e dependente da quantidade de ouro em reserva), passa a haver menos quantidade de moeda em circulação na economia (parte da moeda está parada no colchão).
6 = Se a quantidade de moeda a circular na economia diminui, então, a moeda fica mais valiosa o que é a mesma coisa que dizer que os preços dos bens e serviços vai diminuir, é a deflação.
O problema da deflação é que os salários não diminuem em termos nominais.
As pessoas refilam, fazem manifestações, greves e incendeiam carros.
Se os preços diminuem e se os salários se mantêm, então:
7 = O poder de compra dos salários aumenta durante as crises!!!!!!!!!!!!!
Mas durante a crise as pessoas têm de consumir menos porque há menos produção!!!!!!!
aumentar o poder de compra dos salários vai contra o que é necessário para estabilizar a economia.
Agora vem a multiplicação da crise.
Se o poder de compra dos salários aumenta e os preços diminuem, então:
8 = As empresas vão à falência o que leva a despedimentos, ainda menos produção, mais queda de preços e maior amplificação da crise até à destruição total.
O que sabemos hoje.
O Banco Central tem de manter a estabilidade de preços, custe o que custar porque não é possível descer os salários em termos nominais e subir a taxa de juro é destrutivo da economia.
Sabemos também que, se for entendido pelas pessoas que o governador do banco central tem a mais pequena dúvida quanto a controlar a inflação, esta dispara imediatamente para níveis estratosféricos.
Como exemplo, na figura seguinte mostro a taxa de inflação implícita no PIB para a Argentina onde se observa que, em 2000, a taxa começa a subir lentamente de cerca de 10%/ano até que atinge 50%/ano em 2020 e, depois, dispara atingindo um máximo mensal de 1430%/ano em Dezembro de 2023.
Em 10 de Dezembro Javier Milei entra para presidente da Argentina e, mantendo a quantidade de moeda controlada, em Setembro de 2024 a inflação já só foi de 51%/ano.
4 comentários:
Bem explicado.
Ainda falta aí toda a questão da oferta e da produção.pois se só aumentamos moeda,sem que q produção aumente,temos inflação já para não falar que a Economia é dinâmica.Por exemplo, quando se estuda o déficit público em Economia,há a chamada a equivalência ricardiana, isto é,despesa de hoje é imposto amanhã. Portanto estes sábios nem que estão a vendar banha da cobra, mas jogam no curto prazo e na miopia nas pessoas. E voltando a moeda,a teoria moderna de economia diz que se os bancos centrais forem completamente independentes,a inflação e as variações na moeda são temporárias e que impacto na economia tenderá a ser zero. Claro se o professor for neo keynisIano não concorda com esta última parte
Tantos anos depois e o Professor ainda vai defender Passos Coelho? Mas não aprendeu nada?
Políticas pró cíclicas em tempo de recessão transformam uma recessão numa depressão e foi isso que também aconteceu com Herbert Hoover.
O Professor é alguém minimamente inteligente como é que ignora por completo os efeitos de histerese? Além claro das graves implicações sociais de destruir o poder de compra das pessoas. O próprio FMI veio reconhecer que estava errado e o Professor ainda faz apologia do Passos Coelho. Não admira que tenha sido despedido
As políticas pro cíclicas podem a médio prazo gerar depressão.isso era a sisntese keynesiana neoclássica.hoje em dia está ultrapassada.hoje falamos mais em ciclos reais,expectativas,ajustes micro da economia,ajustes entre sectores com diferenciais de produtividade…
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