Eu já fui do CDS.
Lembro-me que quando tinha 9-10 anos, nos anos do PREC, por influência dos meus pais que tinham muito medo do comunismo, eu era do CDS. Não sabia nada do que era ser CDS ou comunista apenas que os nossos vizinhos eram comunistas e as nossas famílias eram inimigas.
Neste últimos 45 anos, o CDS sempre foi um partido parlamentar, uma vez cabendo num táxi e outras num mini-bus mas lá se foi aguentando. Agora, na fase do táxi, as sondagens indicam que nas próximas eleições legislativas vai deixa de ter representação parlamentar.
Se já outros partidos nasceram, foram parlamentares e desapareceram (o exemplo mais recente é o PRD que chegou a ter 45 deputados em 1985), será que estamos a assistir ao último suspiro do CDS?
De onde vêm as ameaças ao CDS?
Em política, a classificação Direita-Esquerda vem do tempo do Imperador Napoleão Bonaparte no final do Sec. XVIII, em que os apoiantes do "Imperador e de Deus" estavam sentados à direita e os que se opunham estavam sentados à esquerda. Desde então, muita coisa mudou.
Na nossa Assembleia da República, o BE, PCP, PS e PAN estão do lado esquerdo enquanto que o PSD, CDS, IL e CHEGA estão do lado direito.
A dicotomia Esquerda-Direita pode já não fazer sentido mas o CHEGA e a IL ao sentarem-se do lado direito, próximo do CDS, foi entendido pelos eleitores que votavam no CDS que estes partidos também defendem os "valores da Direita", seja isso o que for.
As ameaças ao CDS vêm do próprio CDS!
Em termos de missão, todos os partidos defendem o mesmo, o crescimento da economia, empregos com elevados salários, o fim da pobreza, da exploração do homem pelo homem, a igualdade, a felicidade humana, o ambiente, o fim das guerras e do sofrimento mas isso não basta. Vejamos os detergentes para a roupa, todos garantem que tiram até as nódoas mais difíceis, são amigos do ambiente e têm um óptimo preço mas não são iguais! São diferentes na embalagem, líquido/pó/pastilha, na cor, na dosagem, no aroma e no preço. Desta forma, clientes que pensam coisas diferentes quanto à lavagem da roupa têm por onde escolher.
Os partidos são iguais aos detergentes para a roupa. Apesar de serem todos iguais na missão, é preciso que sejam entendidos pelos eleitores como diferentes. Cada eleitor é diferente naquilo que pensa (o que se chama espectro político) e os partidos têm, em termos de "táctica de jogo", de defender políticas concretas capazes de captar eleitores localizados no espectro não ocupado.
Ninguém sabe o que o CDS defende.
O CDS perdeu o seu espaço no espectro político.
O que é que a Cristas defendia?
O que é que o Francisco defende?
Ninguém sabe. Apenas sabem que o CDS é um partido de direita e que é contra o governo de esquerda.
O que diz o Adolfo Mesquita Nunes sobre a forma de evitar a extinção do CDS?
Diz aquilo que todos dizem e que até o PCP defende:
O CDS tem que descobrir "como pôr a economia a crescer, criando riqueza para famílias e empresas; e como fazê-lo sem deixar ninguém para trás, apoiando quem precisa" pois "o PS não é bom a resolver problemas (...) É nisso, e só nisso, que o CDS tem de concentrar-se, focar-se. (...) Tudo o mais é distracção, tudo o mais serve o propósito do radicalismo e do populismo"
Mas uma coisa é "descobrir como por uma vaca a voar" outra coisa é saber como se faz a vaca voar.
Uma coisa é "descobrir como por a economia a crescer" outra coisa é avançar com as políticas concretas que vão fazer a economia crescer.
E essas políticas concretas não existem.
É um detergente da roupa que promete lavar impecavelmente e que é muito melhor que os outros mas, desenrosca-se a rolha e não tem cheiro, não tem cor e parece simples água.
Detergente líquido para a roupa que limpa mais limpo, é amigo do ambiente, não alérgico e que é muito melhor que todos os outros detergentes.
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