Há quem diga que este blog foi a semente da Iniciativa Liberal.
E até pode ter sido mas, neste momento, dentro da Iniciativa Liberal há mais guerras internas do que pessoas a pensar o que, de facto, é o liberalismo.
Por exemplo, no outro dia, o chefe do partido disse qualquer coisa como "O Carlos será um bom ministro da eficiência do Estado" mas, estranhamente, não avançou com nenhuma medida que é necessário implementar para reformar o Estado:
Privatizar as escolas, universidades, hospitais, portos e transportes públicos?
Passar essas instituições a ser empresas privadas ou cooperativas?
Quem vão ser os seus proprietários, os professores, médicos, enfermeiros, escriturário, motoristas, estivadores ou vão ser vendidas a empreendedores?
A afirmação da Iniciativa Liberal quanto ao apagou não faz sentido.
Às 11:38 a rede eléctrica ficou vazia, parou tudo o que estava ligado à rede eléctrica.
Vamos supor que eu ia à padaria e a menina me dizia "Não lhe posso vender pão porque estou sem farinha". Será que um liberal poderia dizer "O Estado falhou"?
Claro que não.
Sendo a electricidade um bem como outro qualquer, não compete ao Estado fornecer esse bem às pessoas. Se não há electricidade, tem que se dar tempo ao sistema privado para resolver o problema.
E foi isso que aconteceu e muito bem.
A razão técnica para o apagão.
A electricidade que consumimos usa uma rede partilhada entre Portugal, Espanha e França.
A rede tem milhares de produtores que injectam energia e dezenas de milhões de consumidores que retiram energia. Em cada momento, a potência produzida é exactamente igual à potência consumida.
O problema da tensão constante.
Raciocinando em termos de corrente contínua (que é conceptualmente mais simples), imaginemos que são injectados 1000 KW e são consumidos 1000 KW.
A energia consumida vai ser dada pela multiplicação da resistência do equipamento pela tensão da rede.
Potência = Tensão ao quadrado / Resistência
A resistência é própria dos equipamentos ligados pelo que, no exemplo, a resistência vale
1000000 = 220^2 / Resistência <=> Resistência = 220^2 / 1000000 = 0.484 Homs
Se ligarmos mais equipamentos, a tensão da rede diminui.
Como os equipamentos são ligados em paralelo, há uma redução na resistência, por exemplo, para 0.480 Homs. Se a potência produzida se mantiver constante, a tensão vai diminuir cerca de 1 Volt.
100000 = Tensão^2 / 0.480 <=> (100000*0,480)^0,5 = 219.089 Volts
Se a tensão da rede diminui, há equipamentos que vão ficar estragados.
A correcção tem de ser feita de forma instantâneas. Não havendo tempo para aumentar a produção, a rede está dividida zonas (por exemplo, 1000 zonas) que vão ser, sequencialmente, desligadas até a tensão voltar a 220 Volts.
O sistema de controlo vai garantir que a tensão é 220 Volts ou 0 Volts, nunca mais nem menos.
É comunicado aos produtores a necessidade de aumentar a produção.
Primeiro, as centrais hidroeléctricas respondem em menos de 10 segundos e, depois, as centrais a gás que respondem em menos de 10 minutos.
Entrando novas potencias na rede, passa a haver o risco da tensão passar a ser superior a 220 Volts o que não pode ser pois irá queimar os equipamentos (um pico de tensão). Tem então de ser tudo feito com muito cuidado.
Se se produzir mais electricidade, a tensão da rede aumenta.
Como os equipamentos são ligados em paralelo, há uma redução na resistência, por exemplo, para 0.480 Homs. Se a potência produzida se mantiver constante, a tensão vai diminuir cerca de 1 Volt.
110000 = Tensão^2 / 0.484 <=> (110000*0,482)^0,5 = 230.261 Volts
A Razão está aqui:
Se a tensão da rede aumentar, há equipamentos que vão ficar estragados.
Mais uma vez, a correcção tem de ser feita de forma instantâneas. A solução técnica é haver equipamentos destruidores de energia e que aquecem água de uma barragem.
Este problema é muito grave porque as redes têm interruptores de segurança que desligam os equipamentos e, consequentemente, fazem diminuir o consumo e aumentar ainda mais a tensão da rede.
Por questões de eficiência, acredita-se que não é preciso sistemas de destruição de energia e, a consequência, é poder haver apagões.
1) Excesso de produção -> Tensão aumenta -> Não existe equipamento de destruição da energia
2) Equipamentos desligam por segurança -> Tensão aumenta mais -> A rede entra em colapso.
Lembram-se da 'electricidade a preço negativo'?.
O preço negativo traduz que os produtores pagam para que a sua energia seja destruída. Não podendo parar a produção, a única solução é pagar a quem tem equipamento de destruição.
O problema da fase da corrente eléctrica é ainda maior.
A electricidade é uma onda que oscila 50 vezes por segundo (50 Hertz) entre +220Volts e -220Volts e esta onda viaja a certa de 200 mil quilómetros por segundo. Então, a electricidade quando sai da França e chega a Portugal (depois de percorrer 2000 km), não pode ser ligada à nossa rede porque está atrasada meia onda. Tem então que ser pedido à França "A electricidade que injectas na rede tem de estar meia onda adiantada relativamente à nossa". O problema é que, quando comunicamos com a França o instante de sincronização, as nossas comunicações sofrem atraso!!!!! Um problema complicado de coordenar.
E todas as ligações à rede têm de estar sincronizadas.
A culpa está na optimização.
Em termos estatísticos, a média de uma amostra maior tem uma variância menor. Então, ao termos uma rede maior, os picos de sobre-tensão e de sub-tensão são menores.
Então, reduziu-se o equipamento que destrói energia e o equipamento que aumenta rápido a potência.
A primeira falha resulta de o dimensionamento deste equipamento não estar compatível com o aumento muito rápido de produtores variáveis, solar e vento.
Terá sido por acaso que a rede rebentou num dia de Sol nas proximidades das 12 horas, momento em que a produção solar é máxima?
Não.
A potência injectada aumentou, a tensão começou a subir, não houve forma de controlar a subida da tensão e os equipamentos começaram a desligar.
Imediatamente, as centrais nucleares espanholas entraram em modo de crise, isto é, desligaram da rede.
Acontece que esta tecnologia demora um par de dias a desligar e até uma semana a voltar a ligar a 100%. Dai, ter havido um comunicado da REN que poderia demorar uma semana a repor a situação.
Só não demorou uma semana porque a França ajudou.
Finalmente, para não haver risco de apagão.
Infelizmente, teremos de pagar mais pela a electricidade.
Seja porque há empresas como as siderurgias eléctricas que se disponibilizam, mediante um pagamento, a alterar o seu consumo instantaneamente seja por contruir equipamento rápido e caro que está quase sempre parado, teremos de pagar mais.
E ninguém quer pagar mais quando a eventualidade do apagão se traduziu numa ocorrência em muitas décadas.
É como o risco de cair na rua, talvez fosse bom usar capacete mas como é raro, ...