quinta-feira, 3 de abril de 2025

O Túnel Algés-Trafaria apenas é viável como ciclovia

Não é viável fazer um túnel rodoviário sobre o Tejo.

O principal problema é os carros podem-se incendiar e, para evitar haver milhares de mortes, é necessário um nível de segurança que torna a obra economicamente inviável.

Claro que podem dizer que há países onde foram feitos túneis rodoviários mas, se como bem sabem, o Túnel do Canal da Mancha é ferroviário e, mesmo assim, já teve um incêndio que quase o arruinou (no dia 11 de Setembro de 2008).


As pessoas pensam que é fácil fazer um túnel rodoviário.

Antes de ter estudado Mecânica dos Solos questionava "Se nas minas fazem túneis com facilidade, porque não há a mesma facilidade a fazer túneis rodoviários?".

A diferença está em os túneis das minas: 

      i) Durarem pouco tempo (podem sofrer deformação), 

      ii) Serem de pequeno diâmetro, 

      iii) Os túneis e poços de circulação serem feitos em rocha resistente,

      iv) Controlar-se o risco de incêndio (nas minas não há equipamentos com motores a combustão).


i) A rocha é como a gelatina.

Quando cortamos uma fatia num bolo de gelatina, inicialmente o corte mantém-se vertical  mas, com o tempo, a gelatina começa a descair. Na industria das escavações diz-se que "O terreno está a dar carga".

Quando fazemos uma escavação acontece exactamente o mesmo, começam-se a romper pequenas ligações entre as rochas e mais e mais carga é aplicada na vizinhança do espaço vazio o que faz com que o túnel fique cada vez com menor diâmetro (no caso da rocha ser plástica) e a caírem blocos (no caso da rocha ser menos plástica).

Como no túneis rodoviários é necessário manter a estrutura e a segurança, é necessário uma forte e dispendiosa consolidação  das paredes do túnel. 


ii) Um túnel rodoviário tem um diâmetro muito grande.

Para termos dois sentidos, o túnel tem de ter um piso com 2 + 3.25 + 3.25 + 2 = 10.5 metros e uma altura de 5 metros. com estas dimensões, consegue uma tráfego máximo na ordem dos 1200 veículos por hora em cada sentido.

Se pensarmos que o túnel tem a forma de uma circunferência, esta tem um diâmetro mínimo de (10.5^2+5^2)^0,5 =  11.6 metros. Somando o reforço das paredes, vai para 15 metros de diâmetro de escavação o que é uma enormidade.

Por comparação, uma ciclovia com duas faixas em cada sentido precisa de um túnel com 6 metros de diâmetro e tem capacidade para 3000 trotinetes por hora em cada sentido, podendo ser ainda maior na hora de ponta abrindo três faixas num sentido.

Fig.1 - Um túnel rodoviário precisa de um mínimo de 15m de diâmetro e a ciclovia de apenas 6m.

iii) O túnel vai ter de passar por terrenos de aluvião. 

A profundidade do Rio Tejo contando a água e as lamas, areias e cascalho móveis é na ordem dos 30 metros. Depois, continuamos a ter areia e cascalho sem capacidade de suportar cargas. 

A vantagem é que o túnel pode ser pré-fabricado em secções na Noruega e, escavada com uma draga uma vala no leito do rio, afundadas as secções.

Não parece muito complicado mas, como terá de haver pelo menos 20 metros entre o fundo do rio  e o topo do túnel, teremos uma vala com 2500 metros de extensão, 70 metros de profundidade e 500 metros de largura para a qual  o Rio Tejo está continuamente a arrastar lama, areia e cascalho.  

Fig. 2 - Localização do túnel Algés-Trafaria com a vala a escavar

iv) O risco de incêndio torna o túnel rodoviário muito caro.

Foi anunciado que no túnel apenas poderão circular veículos eléctrico. As pessoas pensam que é para incentivar os veículos eléctricos mas a razão está na segurança.

O combustível tem muita energia específica (um litro de gasolina aquece 5000 m3 a 150.C) e a gasolina é explosiva dentro de um túnel (um litro de gasolina é equivalente a 7 kg de explosivo).

O problema é que os veículos eléctricos também se incendeiam. 

Vamos supor que dois carros chocam na hora de ponta no meio do túnel e há um incêndio. Vão estar dentro do túnel milhares de carros e de pessoa a mais de 1500 metros de distância da saída mais próxima. O ar atinge rapidamente temperatura infernais o que propaga o incêndio aos outros automóveis; o fumo e falta de oxigénio asfixia as pessoa e os bombeiros não podem entrar por causa do congestionamento.


Tem de haver outro túnel de segurança.

Paralelo ao túnel rodoviário, tem de haver um túnel de segurança para onde as pessoas possam fugir.

De qualquer forma, havendo um incêndio, vai haver muitos mortos (todas as pessoas nas proximidades do acidente), milhares de carros vão arder e o túnel vai ruir por causa das altas temperaturas. 

Só o túnel de evacuação de segurança fica mais caro do que o túnel para uma ciclovia com duas pistas em cada sentido.


Faria mais sentido uma ciclovia Barreiro-Seixal-Almada-Cais do Sodré.

Numa sociedade que anuncia ser "amiga do ambiente" mas que o carro é o rei, não faz sentido fazer ciclovias que custei mais do que pintar de vermelho um bocado da via.

Numa sociedade que tem o peão como centro da mobilidade, faz todo o sentido investir dinheiro em ciclovias mas faz mais sentido um túnel a ligar o Barreiro ao Cais do Sodré.

Mas como dizia o meu pai (que a Terra já lá tem), "não vai ser para o meu tempo".


Fig. 2 - A Ligação Barreiro, Algés-Almada-Cais do Sodré serviria muito mais pessoas


Porque têm as secções de ser construídas na Noruega?
Fica muito mais barato construir o túnel na vertical e isso só pode ser feito dentro de água.
A Noruega tem locais de águas muita calmas (os fiordes), com profundidades de mais de 400 metros.
Além disso e por causa disso, tem muita prática neste tipo de construção em betão porque é quem faz a sapata flutuante das plataformas de exploração de petróleo em águas profundas.




Também tenho de falar um bocadinho das tarifas do Trump.
Não vou estar por aqui a dissertar sobre o que a ciência económica diz sobre o assunto, vou apenas fazer algumas  perguntas: 

1 = Se, como dizem os nossos economistas sábios, as tarifas do Trump vão ser pagas pelos consumidores americanos, porque é que do lado de cá do Atlântico há pessoas tão preocupadas (incluindo os  sábios e os comentaristas)?
Será que amam assim tanto os consumidores americanos a ponto de não dormirem só a pensar no mal que o Trump, eleito por eles, lhes está a causar?
Não seria melhor preocuparmo-nos com os moçambicanos que sofrem muito mais?

2 = Porque estamos a pensar retaliar impondo tarifas sobre os bens americanos?
Não irá isso ser pago pelos consumidores europeus?
Será que estamos tão preocupados com os americanos que, em solidariedade, queremos causar igual prejuízo aos consumidores europeus?

Fig. 3 -  Não bate a bota com a perdigota. "Queres que te dê um beijo?"


Vi um cometário interessante.
Que o Montenegro vai ganhar.
Como já saíram sondagens, vou ter de trabalhar os números o que vai ficar para amanhã.

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